quarta-feira, 18 de setembro de 2024

ARQUIVO PISTA & BOX – JUNHO DE 2000 – 02.06.2000

            E cá estou novamente com um de meus antigos textos, no caso, a coluna que foi publicada no dia 02 de junho de 2000, e o assunto era, obviamente, o favoritismo que Michael Schumacher já estava desfrutando na temporada da F-1 daquele ano, frustrando as esperanças de quem esperava ver uma temporada mais disputada. O time da McLaren, favorito na pré-temporada, não vinha correspondendo ao seu potencial, tendo vários problemas que, aliados à melhor forma da Ferrari, e ao talento de Schumacher, já colocavam o alemão como grande favorito para levar o tricampeonato, e tirar o time italiano de uma longa fila de espera, o que acabou acontecendo no fim da temporada. De quebra, vários tópicos rápidos a respeito de acontecimentos no mundo da velocidade, em especial com a boa forma de Roberto Moreno na temporada da F-Indy, podendo mostrar todo o seu talento, enquanto outros potenciais talentos nacionais tentavam seguir em frente. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais colunas antigas por aqui...

SCHUMACHER PARA O TRI

          Com 4 vitórias em seis etapas, Michael Schumacher é, no atual momento, o líder disparado do campeonato da F-1 2000. O que se previa de uma dura luta entre a Ferrari e a McLaren pelo título da categoria, no momento está parecendo mais uma corrida de apenas um piloto rumo ao título. No caso, Schumacher corre para juntar-se ao seleto grupo de pilotos que fazem parte da galeria dos tricampeões, como Ayrton Senna, Nélson Piquet, Niki Lauda, Jack Brabham e Jackie Stewart.

          A McLaren, favorita destacada na pré-temporada, até o presente momento não conseguiu mostrar a força dos últimos anos. Com exceção de Barcelona, onde os carros prateados venceram sem nenhum problema mais grave, mesmo com o problema de Schumacher com um de seus pneus, em nenhum outro momento Mika Hakkinen e David Coulthard puderam usufruir de tranquilidade nas corridas deste ano. Enquanto isso, a Ferrari, que já tinha mostrado força nos testes, vêm surpreendendo, pelo menos com Michael Schumacher.

          O piloto alemão deu um show em Nurburgring, a segunda corrida até agora ganha pelo alemão em condições de combate real com a McLaren. As outras duas vitórias do bicampeão, em Interlagos e Melbourne, foram mais devido a problemas com a McLaren, que acabou quebrando muito, do que propriamente à pilotagem arrojada de Schumacher, mas essa situação parece agora estar mais estável, com o time de Ron Dennis a mostrar finalmente a fiabilidade de se esperar do time de Woking.

          E a perda de duas vitórias potenciais para Schumacher pode custar muito caro. Praticamente 18 pontos separam o piloto alemão da Ferrari de Mika Hakkinen, o primeiro piloto da McLaren, na classificação do campeonato. Com 6 etapas disputadas, Michael Schumacher já tem 46 pontos na classificação, pontuou em todas as corridas, tendo como pior resultado o 5º lugar de Barcelona. Enquanto isso, seus adversários na corrida ao título, Mika Hakkinen e David Coulthard, tiveram problemas de fiabilidade com seus carros, além de uma desclassificação por irregularidades na asa dianteira. A regularidade de Schumacher até este momento do campeonato, por si só já é uma tremenda vantagem contra a McLaren.

          A coisa fica ainda mais complicada para Hakkinen e Coulthard se levarmos em conta que, nos últimos dois anos, a McLaren iniciou o campeonato de forma arrasadora, e a Ferrari, mesmo em desvantagem, ainda conseguiu esboçar uma reação com Michael Schumacher, a ponto de levar a decisão, que deveria ser apenas entre os pilotos dos carros prateados, para o final do campeonato, embolando a disputa. Resumindo: se em desvantagem, o alemão já significava problemas, mesmo quando a McLaren dispunha de um cacife técnico superior, imagine agora que a Ferrari está, na pior das hipóteses, no mesmo nível da McLaren? Nesse contexto, o talento de Michael Schumacher é o fator de desequilíbrio, assim como Ayrton Senna metia medo nos adversários, mesmo quando estava ao volante de um carro menos competitivo, pois todos sabiam do que o brasileiro era capaz.

          Para piorar a situação na McLaren, a Ferrari praticamente só tem um de seus pilotos na luta pelo título. Rubens Barrichello vem fazendo uma boa temporada, levando-se em conta que esta é a primeira vez em que dispõe de um carro de ponta. Contudo, o brasileiro tem ficado à sombra de Michael Schumacher no time italiano. Quando se esperava uma reação mais forte do piloto brasileiro, como em Silverstone, onde Rubens deu a primeira pole-position do ano para a Ferrari, um problema mecânico fez Barrichello abandonar a prova, que liderava com certo controle, e ver a vitória da prova britânica cair no colo do time inglês. Com um certo equilíbrio de resultados na McLaren, apesar de uma melhor performance de Mika Hakkinen, é notório e até óbvio afirmar que a Ferrari centraliza suas forças em apenas um piloto, Schumacher.

          No ano passado, o alemão ficou fora da competição devido ao acidente sofrido na Inglaterra, onde quebrou uma perna e perdeu várias corrias, mas em 98 deu um certo trabalho aos pilotos prateados em algumas corridas, e até mesmo na prova decisiva da temporada, em Suzuka. Agora, com a melhor performance do carro italiano, os ingleses que se cuidem, pois Schumacher provavelmente não deverá deixar escapar a melhor oportunidade que está se apresentando para finalmente tirar o time italiano da fila de campeonatos de pilotos que já se arrasta desde 1979, quando Jody Scheckter foi o último campeão pela escuderia rossa.

 

 

Mais um piloto brasileiro irá correr na F-CART em 2001. Max Wilson já acertou contrato para competir pela nova equipe Sigma, que irá disputar o campeonato da categoria no próximo ano. Com isso, Wilson é mais um piloto brasileiro que troca a Europa pelos Estados Unidos. Se tudo permanecer nesse patamar, o Brasil poderá ter um novo recorde de pilotos no próximo campeonato da categoria.

 

 

O brasileiro Bruno Junqueira está com tudo na F-3000. Duas vitórias consecutivas e a liderança do campeonato com uma folga razoável para o segundo colocado credenciam o piloto a ser o mais novo integrante brasileiro na F-1 no ano que vem. As duas vitórias de Bruno na F-3000, uma categoria marcada por equilíbrio e dificuldades nas disputas, foram muito boas, o que apenas comprova o talento do jovem brasileiro.

 

 

Flavio Briatore voltou a dirigir uma equipe de F-1 e mostra novamente os velhos hábitos. Na negociação dos testes com o brasileiro Antonio Pizzonia, Briatore tentou enfiar o brasileiro em um daqueles seus famosos contratos de 5 anos, onde prende o piloto e não lhe dá garantias nenhuma de ser efetivado em algum cockpit. Pois Pizzonia mostrou-se duro na queda nas negociações, para desgosto de Briatore, que chegou a ameaçar o brasileiro de fechar-lhe as portas para a F-1 se não assinasse o contrato. Pizzonia venceu a parada e assinou um contrato para apenas um teste. Muito bom da parte do “Jungle Boy”, já que o contrato de Briatore, cuja fama em explorar e se desfazer de seus pilotos é notória, poderia comprometer seriamente o futuro de Pizzonia no automobilismo. Enquanto isso, a fama de Pizzonia vem aumentando, com suas espetaculares atuações no campeonato inglês de F-3. O futuro na F-1 não está muito longe e, como o próprio Pizzonia declarou, ao encarar Briatore, ele poderá ser um grande piloto na categoria. Os chefões da F-1 já estão de olho nele, e não são poucos...

 

 

Outra de Briatore: ele “roubou” da Jordan o seu projetista-chefe, Mike Gascgoyne, e já começou a colocar suas manguinhas de fora na direção da Benetton, agora equipe da Renault, que irá assumir oficialmente o nome da fábrica francesa a partir de 2002. Dizem que o próximo alvo de Briatore é Alexander Wurz, que não está rendendo nada no time e que pode dançar antes do fim do ano. Briatore, famoso pôr despedir pilotos a torto e a direito, é bem capaz de fazer isso. Ética nunca foi palavra de ordem na F-1, mas decididamente, Flávio Briatore dá uma nova dimensão à expressão “jogo sujo” na categoria. E muita gente não gosta de radicalizar como ele faz. A F-1, que ultimamente anda meio insossa, poderia passar sem as tramóias de Briatore...

 

 

Roberto Moreno vem sendo a sensação do campeonato da F-CART nesta temporada. Pela primeira vez correndo com um carro decente e tendo uma estrutura estável atrás de si, o piloto carioca já está entre os primeiros colocados no campeonato da categoria. Moreno, fazendo uso da regularidade, vem pontuando em todas as provas e dando mostras de todo o seu talento. Uma resposta clara a quem vinha dizendo que os “velhinhos” não tinham mais vez na categoria, depois que ela foi invadida pôr dezenas de pilotos mais jovens. Moreno, aos 41 anos, é o mais velho entre os pilotos do campeonato, mas isso não quer dizer nada, muito pelo contrário, o seu talento, unido à sua grande experiência em diversas categorias, está dando frutos mais do que óbvios.  E, como ele mesmo disse, a disputa do título é mais do que possível.

 

 

O motor Toyota vem finalmente mostrando evolução na F-CART. A fábrica japonesa, que prepara seu ingresso à F-1 em 2002, deu mostras de finalmente conseguir fazer um motor capaz de rivalizar com seus tradicionais rivais da Honda. Nas etapas mostradas até aqui, o motor japonês já conseguiu 2 pole-positions e conseguiu liderar várias corridas. A fiabilidade do V-8 japonês, entretanto, têm deixado os pilotos na mão, em especial o atual campeão da categoria, Juan Pablo Montoya, que está tendo uma atuação pífia até o presente momento no campeonato em termos de pontuação. Montoya tem pilotado com a garra de sempre, mas a fiabilidade de seu motor já o deixou na mão em diversas etapas. Enquanto isso, seu companheiro de equipe, Jimmy Vasser, com um pouco mais de sorte, vem mantendo-se entre os primeiros colocados no campeonato, posição até então inédita para a Toyota. E um mérito também à equipe Chip Ganassi, que ninguém esperava que estivesse lutando pelo título este ano, depois de mudar todo o seu pacote técnico de 99 para cá, e ainda por cima perder o seu principal engenheiro, Morris Nunn.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

O NOVO DESAFIO DE ADRIAN NEWEY

A Aston Martin é a nova casa de Adrian Newey na F-1.

            O martelo foi batido, e o tão aguardado novo destino de Adrian Newey se revelou: ele está com a Aston Martin a partir da próxima temporada. O projetista inglês, considerado o mais talentoso da F-1 nos últimos tempos, iniciará agora um novo desafio em sua carreira, que será repetir o sucesso obtido em suas passagens anteriores, e levar a equipe inglesa ao triunfo. Irá conseguir?

            Disposição não falta a Adrian, que entrou no mundo da F-1 em 1980, no time dos irmãos Fittipaldi após se graduar na faculdade. Com o fim da equipe brasileira, Newey enveredou por outros caminhos no mundo do automobilismo, passando inclusive pela F-Indy, antes de retornar à categoria máxima do automobilismo em 1987 pela equipe March, e ajudar a projetar o carro da temporada de 1988. O modelo CG881 surpreendeu em algumas pistas, mesmo dispondo do fraco motor Judd V-8 aspirado, contra os mais potentes Honda e Ferrari, além dos Ford de última geração. No ano seguinte, o modelo CG891 por pouco não venceu uma corrida, ainda que precisasse de pistas extremamente uniformes para poder render tudo o que poderia.

            Contratado pela Williams, Newey começaria ali sua trajetória como projetista de sucesso, onde suas idéias inovadoras encontraram em Patrick Head, o projetista-chefe da escuderia, um mentor que alinhava suas idéias a parâmetros menos radicais e mais funcionais, um aprendizado que seria muito útil a Adrian. Em 1992, a Williams ganharia os títulos de pilotos e construtores de lavada, no primeiro carro projetado pelo inglês a ser campeão. A passagem do projetista em Didicot foi breve, até 1996, quando ele saiu para ir para a McLaren. Antes, porém, ele deixou o projeto do carro de 1997 pronto, no que foram as últimas conquistas de títulos da Williams em sua história na categoria máxima do automobilismo.

            Na McLaren, os carros de 1998 e 1999 foram campeões com Mika Hakkinen, mas a partir de 2000, a Ferrari se mostrou suprema com Michael Schumacher. Alguns anos depois, Newey partiu para um novo desafio, na Red Bull. Em 2009, o time austríaco obteve suas primeiras vitórias, e entre 2010 e 2013, seus primeiros títulos de construtores e pilotos, com Sebastian Vettel. A era de supremacia da Mercedes, porém, interrompeu o domínio da Red Bull, que ainda se manteve forte como um time de ponta, que em 2021 voltaria a ser campeã, e até os dias atuais, com Max Verstappen. Mas o ambiente interno da escuderia dos energéticos, especialmente na disputa de poder entre Christian Horner e Helmut Marko, apimentada pelo escândalo de Horner com uma funcionária, tumultuaram o ambiente no time, a ponto de Newey se sentir muito desconfortável naquela situação, e ainda por cima tendo de tomar partido de um lado ou outro.

            Com 65 anos de idade, ele poderia facilmente dar sua missão como projetista por encerrada, e aproveitar uma bela aposentadoria desfrutando do que ganhou nestes anos todos, sendo talvez o único projetista da F-1 a ter um status salarial equivalente a um piloto de ponta da categoria. Até aí, nada mais justo. Mas ele sentiu o quanto ainda era valorizado na competição, a ponto de vários times o procurarem para integrar suas fileiras. Ferrari, Williams, McLaren, além da Aston Martin, o assediaram, e por algum tempo, imaginou-se que a Ferrari o conquistaria. Até sua maior implicância, que seria morar fora da Inglaterra, parecia estar superada, ao se saber que ele estava procurando um imóvel na Itália, o que fazia quase todo mundo já dar como certa sua contratação pelo time de Maranello. Mas, nem tudo correu como se imaginava.

O modelo FW14B (acima) foi o primeiro carro campeão projetado por Adrian Newey, na Williams, em 1992. A última conquista veio no ano passado com o modelo RB19 da Red Bull (abaixo).


            Algumas desavenças surgiram nas exigências de Newey, que gostaria de ter maior controle sobre o corpo técnico, e a partir daí as conversas com os italianos teriam naufragado. McLaren? O time tem o melhor carro do momento, e Newey poderia não agregar tanto como se imagina, e o velho engenheiro gosta de estar no controle da situação, e sentir que faz a diferença. Na Williams, o time teria os recursos necessários para bancar sua contratação e promover as melhorias técnicas necessárias? Um pouco difícil. E então sobrou mesmo a Aston Martin, que restou vencedora desta disputa, e já anunciou a contratação de Adrian esta semana com toda a pompa. Oficialmente, Newey só poderá trabalhar efetivamente em seu novo time em meados do ano que vem, cumprindo a regra de “quarentena” da F-1, mas enganam-se quem imagina que ele ficará parado neste período. O time, contudo, aceitou as exigências feitas pelo inglês, que além de um salário estimado em US$ 30 milhões por ano, terá também ações da Aston Martin, além da facilidade de poder continuar morando na Inglaterra, um fator crucial para ele ter assinado com o time sediado em Silverstone.

            Ainda que o projeto do novo carro de 2025, o AMR25, não leve seu nome, o projetista certamente já dará idéias de como aprimorar o projeto do carro, enquanto se concentra de mala e cuia no projeto do carro de 2026, este sim o seu primeiro carro autoral na Aston Martin, até mesmo pela introdução das novas regras técnicas da F-1. Segundo Newey, o que mais o impressionou foram as novas instalações da equipe, construídas ao lado de Silverstone, que estão entre as mais modernas de toda a F-1, consequência dos investimentos de Lawrence Stroll para transformar sua escuderia na mais nova força vencedora da categoria máxima do automobilismo. Um desafio que, claro, não surge de um dia para o outro, mas vem sendo construído paulatinamente nos últimos anos, desde que comprou a antiga Force India, e a transformou na atual Aston Martin, resgatando um nome icônico do indústria inglesa para a F-1.

            Vários profissionais chegaram recentemente a Silverstone, e no campo de pilotos, veio Fernando Alonso, que mesmo tendo passado dos 40 anos, ainda é capaz de pilotar em alto nível. O acordo para ser o time oficial da Honda em 2026, e agora, a chegada de Adrian Newey, sem dúvida o nome mais indicado para o projeto de transformar a Aston Martin em um time vencedor. Recursos e nomes capacitados não faltam na equipe. Mas agora o desafio é transformar isso tudo em um time de real sucesso na F-1. E aí estão as maiores dificuldades, que a Aston Martin precisa superar.

A Red Bull foi o time onde Adrian Newey ficou por mais tempo na F-1. Foram quase duas décadas projetando os carros em Milton Keynes, com o projetista sempre com seu caderno de anotações presente em vários GPs anotando detalhes.

            No ano passado o time surpreendeu na primeira metade da temporada, com um carro inspirado no modelo RB18 da Red Bull de 2022, que havia sido campeão com Max Verstappen. Com Fernando Alonso mostrando sua classe, a escuderia só não venceu uma corrida diante da hegemonia da Red Bull, mas o bicampeão espanhol colecionou vários pódios e se colocava, em determinado momento, até na briga pelo vice-campeonato. Mas, conforme a temporada avançava, o time mostrou um ponto fraco primordial: não conseguia evoluir o carro conforme se esperava, e o modelo AMR23 começou a perder terreno para os concorrentes como Ferrari, Mercedes, e até McLaren, que foram aprimorando seus projetos, e superaram o time de Silverstone na segunda metade do ano. Todas as evoluções planejadas não surtiram os efeitos desejados, e em determinado momento, só recuperou parte da competitividade retornando aos ajustes anteriores e descartando as inovações produzidas.

            Esta incapacidade de conduzir as atualizações do carro é um ponto fraco mortal para um time que se pretende ser vencedor na F-1. O time técnico da Aston Martin praticamente não soube conduzir as atualizações, e por tabela, indica um desconhecimento do próprio projeto, ainda mais baseado no carro de um time rival. Não basta saber copiar, é preciso compreender o que faz um projeto funcionar, e este ano, mesmo tendo retornado a um carro mais autoral, o modelo AMR24 está longe de ser competitivo como foi o AMR23. A escuderia retornou aos tempos de 2022, quando em determinadas provas sofria até para chegar nos pontos. Todo o progresso conquistado em 2023 não foi mantido, e este será sem dúvida o principal desafio de Adrian Newey na escuderia, que será fazer a área técnica saber trabalhar em conjunto, e acima de tudo, entender o que dá certo e o que não dá. Para o próximo ano, certamente Newey irá atuar em desenvolver essa sinergia entre o setor de engenharia da escuderia, para que em 2026 entre com tudo com o projeto do futuro AMR26, sob o novo regulamento técnico.

            É consenso que a temporada de 2025 será meio que de “transição” para as escuderias, com os times que estão bem posicionados apenas tentando manter suas posições, com desenvolvimentos mais padronizados de seus projetos, enquanto canalizam o grosso de seus recursos para o novo regulamento técnico de 2026. E quanto antes Newey conseguir que os setores entendam a fundo como analisar de desenvolver um projeto, melhor, até mesmo para a temporada do próximo ano, onde, repito, ele oficialmente não estará envolvido, mas certamente já contribuirá com as diretrizes que gostaria de verem seguidas.

            Outro ponto interessante fica para o papel de líder da escuderia. Fernando Alonso, que terá 45 anos em 2026, ainda tem gás para efetuar esse papel, como vimos ano passado, quando deixou Lance Stroll nas sobras, e certamente ainda está motivado para tentar dar novos vôos, especialmente em um carro potencialmente vencedor, como se espera do carro de 2026. Quanto a Lance Stroll, por melhor que seja, ele infelizmente já se mostrou um piloto de capacidades limitadas, não um piloto ruim exatamente, mas não o nome ideal para tanto liderar um time, quando brigar pelo título. Talvez no máximo vencer uma corrida, dependendo das circunstâncias. Mas um eventual sucesso potencial da Aston Martin pode fazer o time ser cobiçado por outros pilotos. E vale lembrar que em 2026, a depender das circunstâncias, alguns nomes podem estar potencialmente disponíveis, a começar por Max Verstappen, dependendo de como a Red Bull se portar em 2025. Alonso certamente deve ficar até o fim de 2026, pois o espanhol apostou sua permanência no time, e vai querer ver do que Newey é capaz. E Lance Stroll parece garantido ad eternaum na escuderia, por ser filho do dono.

            E, claro, há outro detalhe a considerar? Newey vai conseguir repetir na Aston Martin o sucesso obtido em seus times anteriores? E quando isso irá acontecer? No seu primeiro ano na Williams, o time já disputou o título em 1991 com Nigel Mansell. Não ganhou, mas garantiu as bases de sua hegemonia para os anos seguintes. Na McLaren, o time virou a potência em 1998, e na Red Bull, se é verdade que o sucesso não veio tão rápido, deve-se lembrar que em 2009 a F-1 experimentou um novo regulamento técnico, e a Red Bull então despontou na competição como time de ponta, por pouco não chegando aos títulos de pilotos e construtores, diante da gordura acumulada pela Brawn GP no início do ano. E em 2026 teremos um novo regulamento técnico, então isso dá o que pensar...

            Ainda devemos levar em consideração o fato de que seu próximo carro será mesmo o projeto de 2026, e ele terá mais de um ano para se concentrar nisso, a exemplo do que ocorreu no fim de 1996, quando ele deixou a Williams e foi para a McLaren, concentrando-se totalmente no carro de 1998, que fez o time de Woking ser campeão naquela temporada. Mesmo que possa ser difícil, não é impossível. E o trabalho pesado ficará mesmo em 2025, coordenando e reestruturando a área técnica para atuarem conforme suas diretrizes em 2026, condição que será essencial para que o carro de 2026, se bem nascido, seja ainda melhor desenvolvido, trabalhado com competência por um setor técnico preparado para não apenas evoluir como desenvolver o projeto. Há pessoas competentes em Silverstone. Mas elas conseguirão trabalhar efetivamente em conjunto, e fazer a soma de suas forças?

 

Uma contratação de peso de Lawrence Stroll, cuja meta é transformar a Aston Martin em campeã na F-1.

           Não é uma dúvida casual. Vemos times de futebol cheios de “medalhões” que, entretanto, a despeito de seus talentos, não conseguem coordenar suas forças e mostrar do que são capazes. É preciso saber coordenar tudo para que seus esforços sejam direcionados no objetivo comum, e agregarem-se uns aos outros. Além do que já foi mencionado: saber trabalhar adequadamente um projeto e evoluí-lo. Adrian Newey pode ser a argamassa que irá unir todas estas peças do escopo técnico da Aston Martin. Para 2025, a ordem é apenas tentar melhorar o que for possível. É em 2026 que as cobranças efetivamente virão de fato. E Newey terá certamente que saber montar essa estrutura. Quando chegou na Williams e McLaren, ele soube se integrar às estruturas já montadas nestes dois times. Na Red Bull, sim, ele precisou montar todo o time técnico para atuar conforme suas premissas, e isso fez com que os resultados demorassem mais a aparecer. Na Aston Martin, a situação será parecido, com a vantagem de que a estrutura já está praticamente montada, faltando pequenos detalhes, além de fazer o pessoal saber se entrosar e combinar suas aptidões e talentos. Isso ajuda, mas não quer dizer que não será trabalhoso. Tem condições de conseguir? Sim, tem? Vai conseguir? Muito certamente. A dúvida apenas é se irá conseguir isso já em 2026, ou se irá demorar mais.

            Se conseguir transformar o time de Lawrence Stroll numa escuderia vencedora, e capaz de disputar o título, terá conseguido mais um grande feito ao seu currículo. Mas o trabalho está apenas começando, e teremos muito chão pela frente, até vermos os resultados. Até lá, será preciso paciência, e aguardar tudo entrar nos eixos. Certas coisas, por mais talentosos e brilhantes que sejam as pessoas envolvidas, não podem ser apressadas. Mas a paciência tem tudo para render bons frutos.

 

 

Numa jogada finalmente inteligente, a F-1 realocou a prova do Azerbaijão, na pista de Baku, entre as etapas da Itália e de Singapura, colocando um pouco mais de coerência em um calendário que por si só já é caótico e estressante do ponto de vista pessoal. E a corrida em Baku tem tudo para ser mais uma vez imprevisível. A McLaren tem tudo para novamente ser a favorita, mas entre se mostrar capaz de ganhar, e fazê-lo efetivamente, falta combinar com a concorrência, a exemplo do que vimos na Itália. E a Ferrari, terá de fato força para mostrar, ou o triunfo de Monza foi apenas ocasional e sorte? A Mercedes, por sua vez, é outra interrogação, pois esperava ter ido melhor na Itália, e acabou superada com relativa facilidade pela Ferrari e McLaren, e superou a Red Bull por pouca diferença. Aliás, o time dos energéticos tem tudo para sofrer um novo calvário em Baku, diante da melhoria dos rivais, de modo que Max Verstappen precisará dar duro para administrar os resultados novamente, a menos que o time austríaco tenha conseguido achar um ajuste melhor no seu carro. A corrida tem largada para as 08:00 Hrs. deste domingo, e por enquanto, ainda com transmissão ao vivo pela TV Bandeirantes.

A bela pista montada nas ruas de Baku está pronta para receber mais uma vez a F-1.

 

 

Penalizado por ter atingido o limite de 12 pontos na carteira, o dinamarquês Kevin Magnussen está fora da etapa em Baku, onde será substituído por Oliver Bearman, que assumirá seu carro no próximo ano. Pietro Fittipaldi, que ainda tem conexões com o time de Gene Haas, não poderia substituir Magnussem por estar participando da etapa de encerramento da temporada 2024 da Indycar, no circuito oval de Charlotte, neste mesmo fim de semana. Para a Haas, será uma boa oportunidade para dar quilometragem ao garoto, que saiu-se bem na etapa da Arábia Saudita, quando precisou substituir Carlos Sainz Jr., com uma apendicite. Mas lá ele teve uma Ferrari nas mãos, e agora, vamos ver como se sairá com o carro da Haas, muito diferente do bólido vermelho, e menos competitivo. Mas, com a vaga já garantida para 2025, Bearman precisa apenas cumprir o fim de semana sem cometer erros, e tentar mostrar o que sabe sem a pressão por resultados imediatos, já que só poderá ser efetivamente cobrado por isso no próximo ano.