sexta-feira, 26 de julho de 2024

WEHRLEIN CAMPEÃO NA F-E

Com uma atuação decidida e firme, Pascal Wehrlein superou os adversários na reta final da temporada da Formula-E e conquistou o título da temporada 2024.

            E a Formula-E tem seu novo campeão: o alemão Pascal Wehrlein, que deu à Porsche o seu primeiro título de pilotos com sua equipe oficial, e o segundo título da marca na competição, já que o campeão da temporada passada, Jake Dennis, da equipe Andretti, conquistou o título usando o trem de força da marca alemã. Foi uma conquista para lavar a alma de Wehrlein, justamente por ter visto um rival no grid ser campeão com o mesmo trem de força que o dele, e para a própria Porsche, que se viu superada por um time cliente que mostrou ser mais competente do que ela.

            Mas lições importantes foram aprendidas com a temporada de 2023, e a Porsche, mais do que o próprio Wehrlein, é quem precisava ser mais eficiente nas corridas, a exemplo do que a Andretti havia conseguido com Dennis. E parece que as lições foram aprendidas com êxito, o que foi mais do que necessário, frente a uma equipe Jaguar que se mostrou o time mais forte do grid em quase toda a temporada, e que tinha tudo para finalmente conquistar o título na competição.

            Com uma preparação melhor do seu carro, a Porsche conseguiu proporcionar a seus pilotos um equipamento mais competitivo e regular durante toda a temporada, algo que ficou falho em 2023, quando a Porsche até saiu na frente, mas conforme a temporada avançava, os concorrentes não apenas alcançaram o time alemão, como até o superaram, especialmente em classificação, o que obrigava seus pilotos a partirem várias posições atrás e terem de fazer provas de recuperação durante as corridas. Não que o trem de força tivesse perdido a competitividade, mas o ajuste fino do carro passou a ser mais essencial, e neste quesito, a Andretti conseguiu se manter mais competitiva do que o time de fábrica, especialmente nas classificações, proporcionando melhores condições de Dennis largar mais à frente, sem se desgastar tanto nas disputas de posição, enquanto a dupla da Porsche, além das posições de largada piores, viu seu rendimento nas corridas decair, arrastando Wehrlein junto, com o piloto não conseguindo superar essa deficiência, às vezes por culpa própria, outras, sem ter o que fazer a respeito. E assim, de favorito inicial ao título, acabou terminando apenas em 3º lugar.

Nick Cassidy: de grande favorito ao maior derrotado na reta final da temporada.

            Este ano, contudo, a Porsche soube trabalhar melhor os ajustes de seus carros, uma vez que seu trem de força continuou muito competitivo, fazendo frente e às vezes sendo mais eficiente do que o da rival Jaguar, eu reforçou seu quadro ao trazer Nick Cassidy para formar dupla com Mith Evans, para formar o que foi considerada a dupla mais forte do grid. Um reforço que mostrou a que veio, já que Cassidy, até a etapa de Portland, mostrava-se como franco favorito ao título da temporada, podendo encerrar a disputa ali mesmo na pista da capital do Oregon, com os demais competidores tendo de correr atrás, e ainda torcer para um azar do neozelandês.

            E a torcida pelo azar funcionou: Cassidy saiu zerado de Portland, e os rivais chegaram para a briga na rodada dupla final em Londres, no Excel Arena, onde tudo poderia acontecer, dado o histórico de provas da F-E, como pela natureza peculiar do circuito montado no pavilhão de exposições da capital britânica.

            Com uma temporada mais constante que a de 2023, onde falhou em pontuar apenas em duas provas, e tendo como pior resultado um 10º lugar apenas, Pascal parecia repetir o destino do ano passado, chegando para a briga meio que como azarão ao invés de favorito. Mas, o fim de semana ruim de Cassidy em Portland, bem como uma punição esdrúxula de Evans relançaram a disputa, trazendo Wehrlein e até Antonio Felix da Costa, que numa recuperação fulminante a partir de Misano, veio atropelando todo mundo e chegando a vencer quatro corridas em cinco provas. O duelo no Excel Arena prometia fortes emoções. E a expectativa se confirmou.

A Jaguar começou a corrida final na frente, mas acabou se complicando sozinha nas estratégias, complicando a prova de seus pilotos.

            Seguindo o ditado de “a melhor defesa é o ataque”, Pascal e seu time foram bem na classificação da primeira corrida, e traçaram uma estratégia que foi seguida à risca na prova, com Wehrlein indo para cima, ao mesmo tempo economizando energia, para no momento certo, assumir a liderança, e despachar os rivais, mesmo com a ativação necessária do Modo Ataque. Tão logo assumiu a ponta, o alemão tratou de abrir vantagem, a fim de não perder a posição quando ativasse a potência extra, já que as ultrapassagens eram bem limitadas na pista do pavilhão de exposições inglês. E ele conseguiu o objetivo, e carimbar a vitória na primeira corrida do fim de semana. Mith Evans manteve firme as chances com o 2º lugar, enquanto Nick Cassidy, ainda sentindo os azares de Portland, acabou numa pífia 7ª posição, ficando em desvantagem na briga com Evans e Wehrlein. Antonio Felix da Costa, com um acidente que o levou ao abandono, perdeu também as poucas chances matemáticas de tentar o título, assim como Oliver Rowland, o que já era esperado. Mesmo assim, a disputa entre o trio de pilotos já era garantia de mais emoções para a prova de domingo.

            Uma disputa onde quem chegasse na frente levava o título, e portanto, não se poderia cometer erros. Mas, como a primeira corrida já havia evidenciado, querer era uma coisa; conseguir era outra. Alguém iria errar, por mais que se preparasse para não fazer isso. A dúvida era quem iria capitular no momento crucial.

            E acabou sendo justamente a Jaguar a meter os pés pelas mãos. Com uma boa performance na classificação, onde a dupla do time inglês sairia à frente de Wehrlein, era questão de controlar o piloto da Porsche para resolverem entre eles quem iria ficar com o caneco, até porque, em termos de jogo de equipe, Pascal teria problemas para contar com Antonio Felix da Costa, que teria de largar bem mais atrás e precisaria escalar o pelotão para se colocar em posição de auxiliar o colega de time. A surpresa da falha do time britânico é maior se levarmos em conta que, em Mônaco, o time garantiu uma dobradinha com a estratégia de seus pilotos se ajudarem durante a corrida, mas em Londres, o esquema não funcionou, ou pelo menos, parcialmente.

            Nick Cassidy, na liderança, contou com a ajuda de Mith Evans para ativar o Modo Ataque, e voltar na liderança ainda. Mas, logo a seguir, Cassidy ativou o Modo Ataque pela segunda vez, e caiu para 3º, diferente do combinado, ficando atrás de Wehrlein, que não conseguia superar Evans até aquele momento. Só que, a partir dali, Mith não abriu vantagem sobre o piloto da Porsche, de modo que quando ativasse o Modo Ataque, cairia para trás de Cassidy. A estratégia de segurar o ritmo era que a Jaguar reassumiria a ponta quando Wehrlein também tivesse que usar o recurso, e isso o faria perder posições, caindo para trás da dupla da escuderia britânica, que em tese, a partir de então, duelariam entre si para ver quem levaria a taça do título.

            Mas Evans e Wehrlein foram postergando suas ativações do Modo Ataque, e embora isso fosse deixando o título cair nas mãos de Cassidy, que fez suas duas ativações de forma seguida, teve o problema de deixar os concorrentes chegarem para a briga, tal era a contenção do ritmo feito por Evans, que estava consumindo muita energia com isso, enquanto Wehrlein economizava sua bateria. E três destes pilotos eram Oliver Rowland, da Nissan, Maximilan Gunther, da Maserati, e Antonio Felix da Costa, da Porsche, que vinha para a briga, e partia para o ataque contra Cassidy. A chegada destes pilotos também obrigou Cassidy a ter que se defender, também gastando mais energia. E foi aí as coisas começaram a dar tudo errado, porque na disputa entre Da Costa e Gunther, este acabou acertando a traseira de Cassidy, que teve um pneu furado, e precisou ir ao box trocar, arruinando suas chances de chegar ao título. Com o toque, o bico do piloto da Maserati caiu na pista, danificando o carro, e forçando a intervenção do Safety Car, e deixando a briga ficar somente entre Evans e Wehrlein. E com a corrida chegando às suas voltas finais, deixando a situação de ambos dramática pela necessidade de os dois ainda terem de usar o Modo Ataque, de acordo com as regras. Mas Evans se sentiu jogado aos leões pela mudança de tática, como se a Jaguar tivesse deixado ele de lado na disputa, preferindo Cassidy para ser campeão, pelo que ocorreu na prova até então.

Apesar do visual, a pista montada dentro do Excel Arena já não se mostra adequada para as provas da F-E.

            Nessa disputa, ambos efetuaram sua primeira ativação, o que deixou Rowland na liderança da corrida, com Evans em segundo e Wehrlein caindo para quinto, mas logo voltando a ocupar o terceiro posto, voltando ao ataque. Mas ambos ainda precisavam fazer mais uma ativação, e aí, Evans não conseguiu ativar ao mesmo tempo em Wehrlein, precisando fazer uma nova tentativa de ativação, e assim Pascal ficou à frente. Como desgraça pouca é bobagem, Mith nem pôde ir para cima de Wehrlein tentar disputar a posição porque corria o risco de receber a bandeirada antes de terminar o tempo do Modo Ataque, algo que lhe renderia punição e perda de posição. Então, precisou ir diminuindo o ritmo, até conseguir cruzar a linha de chegada com o Modo Ataque expirado. E deu nisso: Pascal, com o segundo lugar, chegou ao título. E a Jaguar, pelo segundo ano consecutivo, sofreu a derrota para a rival alemã, agora talvez de forma mais dolorosa, já que o embate, que em 2023 foi feito através de seus times clientes, desta vez se deu com os times de fábrica. E Pascal, depois do drama vivido no ano passado, finalmente desencanou, e conquistou o título tão sonhado por ele.

            Méritos para a Porsche, que conseguiu se manter firme na disputa, e de Pascal, que teve a necessária atitude de campeão no momento decisivo, indo para cima dos adversários, e sendo firme na disputa na pista, não permitindo que os rivais conseguissem executar sua estratégia de corrida, e explorando seus erros. Para a Jaguar, o time foi errar no momento mais crucial, e mesmo diante da excelente campanha durante toda a temporada, derrapou quando não poderia, e entregou o que poderia ter sido um triunfo fácil para a concorrência. Ter conquistado o troféu de equipes é uma magra consolação, diante de ter perdido o título de pilotos. Claro que a conquista foi comemorada, ainda que seus pilotos tenham sentido a dor e frustração da derrota na pista.

Com o título, Pascar garantiu a conquista do time oficial da Porsche, e exorcizou os fantasmas da derrota da temporada passada.

            Mas, mais uma vez, a disputa do título da categoria de carros elétricos foi eletrizante, para dizer o óbvio. O suspense foi até o fim da corrida final, onde qualquer um poderia ter saído campeão, sem que se conseguisse apontar um favorito, já que a posição trocava de piloto a cada momento da corrida. E emoção é que os fãs desejam ver. Nem sempre se poderá agradar a todos, e sempre haverá um vencedor, e também um perdedor. Pascal saiu derrotado no ano passado, e venceu desta vez. Cassidy e Evans perderam em 2023, e também perderam agora. Quem sabe no próximo campeonato?

            E ele vem mais cedo desta vez, já que a próxima temporada começa ainda este ano, em dezembro, no Brasil, em São Paulo, mais uma vez, prometendo muitas disputas e emoções. Para uma categoria que muitos achavam que seria apenas mais uma iniciativa excêntrica e de curta duração, a F-E encerrou seu 10º campeonato mostrando que ainda tem muito para mostrar, em uma evolução que vem sendo cada vez mais evidente, e que dará novo salto com os novos carros Gen4, daqui a dois anos. E viva a competição, seja ela de qual forma for...

 

 

Como não poderia deixar de ser, a Formula-E ainda meteu os pés pelas mãos na corrida final de Londres, ao aplicar uma punição a Antonio Felix da Costa, colocando-o como responsável pelo abandono de Nick Cassidy, quando na verdade quem acertou o piloto da Jaguar acabou sendo Maximilian Gunther, da Maserati, que no toque também acabou com sua corrida. Punido, o português caiu para a 13ª posição, perdendo os pontos conquistados, e diante disso, ficou em 6º no campeonato de pilotos, e fazendo a Porsche perder o campeonato de fabricantes, com o troféu indo para a rival Jaguar, que já tinha conquistado o título de equipes. A categoria precisa tomar providências para corrigir esse excesso de punições, muitas duvidosas e outras completamente ridículas, se quiser ter uma melhor imagem perante o público. Mas, se eles ficam se complicando na F-1, como tomariam jeito em relação a um certame menor, como a F-E? Difícil...

 

 

A Haas confirmou a contratação de Esteban Ocón como companheiro de Oliver Bearman para formar sua dupla titular para a temporada de 2025. Kevin Magnussen, trazido de volta em 2022, após o time dispensar Nikita Mazepin devido aos problemas ocasionados pela invasão russa à Ucrânia, perdeu de forma nítida o duelo com Nico Hulkenberg, tanto no ano passado quanto nesta temporada. Magnussen foi o piloto mais longevo da história do time norte-americano na F-1, tendo defendido a escuderia por sete temporadas. Bearman entra no time pelo apoio da Ferrari, que renovou contrato de participação técnica até 2028, e Ocón, depois do imbróglio na Alpine pelo incidente de Mônaco, já estava de aviso prévio do time francês. E Hulkenberg, por sua vez, assume o carro da Sauber, futura Audi, em 2025.

 

 

A F-1 chegou a Spa-Francorchamps, para a última prova da temporada antes das férias de verão, e a previsão para a prova belga, para surpresa de ninguém, é de tempo instável no fim de semana, com temperaturas mais amenas que na Hungria, e com a chuva dando o ar da graça, o que pode dar um tempero adicional ao GP, como já vimos em várias ocasiões. E quem pode ter complicações adicionais aqui na região das Ardenhas é Max Verstappen, que já anda de cabeça quente depois dos percalços de Hungaroring, e aqui na Bélgica deve utilizar uma nova unidade de potência, o que o fará perder posições no grid de largada, por estar utilizando a primeira unidade além do limite regulamentar. Mas trata-se de uma jogada tática do time rubrotaurino, uma vez que o circuito belga tem bons trechos onde se pode ultrapassar, o que deve facilitar ao tricampeão holandês conseguir se recuperar na corrida. Foi assim que ele ganhou nos últimos dois anos, mesmo partindo lá de trás. A jogada se explica pelo fato de que, nas próximas etapas, após as férias, os próximos circuitos são bem mais complicados para se fazer provas de recuperação, o que pode comprometer de forma mais decisiva o resultado das corridas, possibilidades estas que são menores em Spa. Mas, nos últimos dois anos, a Red Bull tinha o melhor carro do grid, com ampla vantagem, o que facilitou a tarefa de Verstappen em recuperar posições e alcançar a liderança, e este ano, pelo que vimos nas últimas provas, a tarefa será mais complicada, e as possibilidades de um resultado adverso, maiores. A McLaren vem em alta, e tem tudo para ser o carro a ser batido na pista belga, mostrando grande versatilidade nos mais variados tipos de pista. E as temperaturas mais amenas devem permitir que a Mercedes também tente colocar-se na briga, a exemplo do que vimos em Silverstone, complicando a situação. Verstappen já está há três corridas sem vencer, desde a prova da Espanha, e desde então viu os concorrentes não apenas crescerem no seu retrovisor, como passarem à sua frente. No Canadá e na Espanha ele conseguiu driblar as adversidades e vencer, mostrando que ainda é dono indiscutível do campeonato, onde ainda conserva uma vantagem considerável na classificação, de 76 pontos. Mas mesmo com toda essa distância de folga, o holandês parece estar sentindo a pressão de ver os rivais melhores, e na Hungria, ele perdeu a cabeça em vários momentos da prova, exibindo um descontrole que não se via há tempos, sem necessidade para tanto. Mas um cenário adverso em Spa pode fazer Verstappen repetir o cenário da Hungria na semana passada, e oferecer mais uma chance dos adversários se darem melhor? Pode ser o pior pesadelo para o holandês, se ele não souber colocar a cabeça no lugar...

O belíssimo circuito de Spa-Francorchamps está pronto para receber mais uma vez o Grande Prêmio da Bélgica de F-1.

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