quarta-feira, 24 de julho de 2024

ARQUIVO PISTA & BOX – MAIO DE 2000 – 19.05.2000

            De volta aos meus antigos textos, trago hoje a coluna publicada no dia 19 de maio de 2.000, cujo tema principal era a decepcionante estréia da Jaguar na F-1. Oriunda da Stewart Racing, o time, agora de propriedade da Ford, ostentava recursos financeiros de um verdadeiro time de ponta, mas a exemplo do que acontecera com a BAR no ano anterior, estava ficando pelo caminho, sem conseguir apresentar resultados condizentes com os investimentos realizados. De fato, a Fórmula 1 nunca foi uma categoria fácil, e sem recursos, uma equipe não evolui, isso sempre foi um fato inquestionável. Porém, o reverso não é verdadeiro: por mais recursos que um time possua, apenas isso não é garantia de sucesso, e a Jaguar seria apenas mais um exemplo contundente dessa verdade, o que a levaria, alguns anos depois, a desistir da competição e vender a escuderia para a Red Bull, que soube muito bem como conduzir a equipe, como podemos ver na história recente da F-1 desde então. Curtam o texto, e boa leitura a todos...

MUITOS RECURSOS, NENHUM RESULTADO...

          Hoje começam os treinos para o Grande Prêmio da Europa, no tradicional circuito de Nurburgring, na Alemanha, e no paddock todos se perguntam se a reação iniciada pela McLaren há duas corridas, na Inglaterra, vai se manter, ou se a Ferrari vai voltar a manter a posição de domínio que está conseguindo impôr desde o começo da temporada, com Michael Schumacher. A prova deve ser agitada, até porque há previsão de chuva para o domingo, e nestas condições, o bicampeão alemão da Ferrari é sempre um adversário quase imbatível no piso molhado, o que pode ajudar a brecar o avanço dos carros prateados.

          Mas tem outra conversa no pit lane que anda suscitando debates entre a imprensa especializada: como a Jaguar está se portando? O mais novo time oficial da categoria, agora de propriedade inteiramente da Ford, está deixando a desejar neste início de ano, ainda mais se levarmos em conta a bela performance exibida pela Stewart Racing no ano passado, onde chegou a vencer, ainda que devido às circunstâncias do momento, uma corrida, aqui mesmo neste circuito, ao lado da bela vila de Nurburg. No ano passado, a corrida também teve a chuva como componente desestabilizador, e no final, venceu quem errou menos, ou deu mais sorte que os demais, no caso, o inglês Johnny Herbert, que estava no lugar certo na hora certa.

          Foi um dia inesquecível para Jackie Stewart: além da vitória de Herbert, Rubens Barrichello ainda foi 3° colocado. Por mais que a instabilidade das condições climáticas tenha tornado a prova uma loteria, a performance exibida pelo time durante o ano, principalmente com Barrichello, já credenciava a escuderia a vôos maiores, senão em 1999, provavelmente neste ano. Após 3 temporadas, o time mostrava que estava evoluindo em sua maneira de trabalhar, aparando as arestas e conseguindo conjugar de maneira positiva seus recursos técnicos. Havia limitações, claro, mas quando houve o comunicado de que a Ford assumiria o time, com vistas a entrar de maneira mais contundente na F-1, a exemplo do que outras grandes fábricas mundiais fizeram nos últimos tempos, se não era para esperar disputar o título, pelo menos devia-se esperar que o time frequentasse os pontos com regularidade.

          Só que nem isso está acontecendo: até agora a Jaguar, nova denominação da antiga Stewart, está zerada no campeonato de construtores, e tanto Eddie Irvinne quanto Johnny Herbert têm tido mais dificuldades do que satisfações com o modelo R01 desta temporada. Nas classificações, o piloto irlandês tem conseguido arrancar boas posições de largada, até compatíveis com o que o time estava habitualmente acostumado a conseguir até o ano passado. Mas Herbert quase que invariavelmente larga sempre entre os últimos, dando a entender que o novo modelo, se era uma evolução natural do bem-comportado SF-03 de 1999, que permitiu até a Rubens Barrichello liderar o GP do Brasil por várias voltas, definitivamente deu um passo atrás na sua performance.

          Com 5 provas disputadas, o melhor resultado obtido até agora foi em San Marino, onde Irvinne chegou na 7ª colocação, e Herbert foi 10°, mas ambos terminando com mais de uma volta de atraso para o vencedor, Michael Schumacher. Irvinne não conseguiu evoluir na corrida, tendo largado da mesma 7ª posição, e ainda teve o lance de Ralf Schumacher ter ficado pelo caminho, uma vez que a Williams tem tido muito mais desempenho do que a Jaguar. Em outras palavras, Eddie teria terminado em 8° lugar se "little" Schumy não tivesse abandonado, o que denota a falta de ritmo do modelo R-01. Por outro lado, Herbert, que largou em 17°, conseguiu avançar até a 10ª colocação, mas empacou por aí, sem conseguir subir mais na prova.

          Se levarmos em conta o desempenho em Silverstone, uma pista de alta velocidade, a performance dos carros verdes fica ainda pior: Irvinne conseguiu largar em 9°, mas terminou em 13°, ao passo que Herbert largou em 14°, e foi apenas o 12°. Na pista, ambos os carros tiveram como melhores voltas apenas os 10° e 11° tempos, o que mostra que infelizmente a performance decaiu em relação a 1999. Em Barcelona, o resultado foi ainda pior, com Irvinne e Herbert a terem trabalho até para se manterem perto dos 10 primeiros colocados.

          O resultado de Barcelona é incisivo em mostrar que o carro não possui boa aerodinâmica, o que pode estar na raiz dos problemas que o novo modelo vem enfrentando. Este já era um problema do SF-03, mas a escuderia trabalhava para minimizar os problemas nesta área. Agora, com os vastos recursos da Ford, que chegaram a tempo de auxiliar no desenvolvimento final do modelo 2000, era de se esperar que tivessem feito progressos nesta área. Pelo visto, o bom entrosamento obtido na área técnica no ano passado se perdeu na transição da Stewart para a Jaguar. Será que a Jaguar viverá este ano o mesmo panorama vivido pela BAR no ano passado?

          Em 1999, o novo time, formado da antiga Tyrrel, também chegou à F-1 prometendo mundos e fundos. Havia dinheiro em abundância, bons pilotos, e condições técnicas dignas de um time de ponta. O que se viu, contudo, foi a escuderia funcionar de maneira desconexa durante toda a temporada, sem conseguir conquistar um único ponto, apesar dos recursos, tanto financeiros quanto técnicos e de estrutura que possuía. Menos farol e mais trabalho foi a receita para este ano, no que a BAR parece estar finalmente encontrando seu caminho para melhorar na F-1, em que pese ainda terem muito a aprender.

          Desde que estreou na F-1 nos anos 1960, a Ford sempre se valeu dos préstimos de terceiros. Foi a Cosworth a projetar o mais famoso motor da história da categoria, sem desmerecer o financiamento fornecido pela fábrica americana. Mas, durante todos estes anos, a Ford só obteve elogios pelas qualidades de seu motor, que foi sendo evoluído progressivamente pela Cosworth, em que pese nos últimos tempos eles não brilharem mais como antes. Com o novo envolvimento com a Stewart, esperava-se que a Ford voltasse a resgatar o brilho de excelência que seus motores já tiveram, mas a fábrica americana nunca gerenciou um time na F-1, e está vendo que a tarefa não é tão simples como imaginava.

          A transformação da Stewart na Jaguar visava tornar a escuderia um novo time de ponta da categoria. De fato, a estrutura e recursos financeiros agora parecem não ser mais problema. A dificuldade agora é conseguir coordenar todos os talentos e potencial disponível para fazer o time evoluir, e isso não é apenas melhorar o motor, o que tem sido feito, mas toda a equipe como um todo.

          Há potencial, seus pilotos são satisfatórios, e dinheiro não falta. Assim que conseguirem acertar estas arestas, a Jaguar deve finalmente mostrar a que veio. Mas, enquanto não consegue isso, precisa tentar melhorar da maneira como puder, e isso não vai ser fácil, porque todos os outros times também estão a melhorar, pois ninguém quer ficar para trás.

          Sem recursos, ninguém consegue resultados na F-1, mas recursos em abundância não significam resultados. Veremos se a Jaguar conseguirá acertar o seu rumo e mostrar a todos que ela não vai ser uma nova BAR de 1999...

 

 

Ainda não foi desta vez que a Honda conseguiu vencer em sua própria pista no GP do Japão da F-CART. A prova deste ano, assim como já tinha acontecido nos dois anos anteriores, acabou vencida por um carro equipado pelo motor Ford, que parece estar se especializando em estragar a festa da Honda nas provas realizadas em Motegi. Se nos dois anos anteriores foi o mexicano Adrian Fernandez a roubar os louros da vitória, este ano a primazia coube a Michael Andretti, da Newmann-Hass. De consolo para a Honda, sobrou o 2° lugar na corrida, que ficou com o escocês Dario Franchitti, da equipe Green, time que usa os motores nipônicos. Mas a Ford fez a maioria no pódio: na terceira posição, ficou Roberto Moreno, da Patrick, equipe que também usa os motores americanos. Moreno, aliás, foi um dos destaques da corrida, juntamente com Cristiano da Matta, que assim como já havia feito no Rio de Janeiro, andou muito forte na pista japonesa, obtendo mais um significativo 4° lugar, no que foi o melhor resultado da Toyota na pista da rival Honda. Mas a Toyota chegou a dar um susto na classificação, quando Juan Pablo Montoya, da Ganassi, conquistou a pole-position, equipado com o motor Toyota. Mas o piloto colombiano teve uma prova mais complicada do que esperava, e terminou apenas em 7° lugar, a quase uma volta do vencedor Michael Andretti.

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