sexta-feira, 3 de maio de 2024

QUAL O DESTINO DE ADRIAN NEWEY?

Adrian Newey: o projetista que criou todos os carros campeões da Red Bull está deixando o time dos energéticos.

            A Fórmula 1 2024 pode estar morna e modorrenta dentro da pista, mas fora dela, o ambiente nunca esteve tão agitado nos últimos anos. E agora, a nova bomba é: qual o destino de Adrian Newey? O projetista, tido como o mais bem-sucedido da história da F-1, anunciou que está deixando a Red Bull, fato também oficializado pela escuderia dos energéticos, e o alvoroço que isso causa, e ainda irá causar, está no topo das especulações e fofocas do mundo do automobilismo. O projetista tinha contrato com o time rubrotaurino até o fim de 2025, mas ele acertou para sair no início do ano que vem, de modo que quaisquer pendências contratuais já foram combinadas e acertadas, para permitir a sua saída antes do prazo final do contrato.

            O motivo da saída antecipada seria a guerra interna de poder dentro da escuderia, com Christian Horner o lado tailandês do Grupo Red Bull de um lado, e do outro, Helmut Marko, e a divisão austríaca da empresa. Não é surpresa que Horner, pego em “comportamento impróprio” recentemente, anda com sua posição meio na corda bamba no comando da escuderia de F-1. O assunto, que pegou fogo nos bastidores da categoria máxima do automobilismo semanas atrás, arrefeceu um pouco, mas internamente, o clima continua quente, e esta disputa para ver quem manda mais estaria deixando Newey muito incomodado, até porque ele estaria alinhado, ainda que veladamente, ao lado de Horner, mesmo não querendo tomar parte neste cabo de guerra interno. Por isso mesmo, estaria procurando um ambiente mais calmo para trabalhar. E, com praticamente 19 anos de casa, sente já ter cumprido com seus deveres muito bem, tendo proporcionado ao time a conquista de oito títulos de pilotos, incluso o deste ano, praticamente nas mãos de Max Verstappen. É o maior período da carreira de Newey em um único lugar, desde que estreou no automobilismo ainda no início dos anos 1980, trabalhando na equipe Fittipaldi.

            Tal longevidade no meio é impressionante, e ainda por cima, Adrian Newey tem nada menos que 12 títulos no currículo na F-1, número impressionante de conquistas, acima de qualquer outro projetista ou profissional da área na história da categoria máxima do automobilismo. Seus carros são uma excelência em termos de performance, fazendo dele o nome mais cobiçado da categoria na atualidade. Desnecessário dizer que se a Red Bull tem a força que tem hoje, ela deve em muito aos projetos de Newey, pois sem seus carros o time não teria vencido tantas corridas, nem conquistado tantos títulos, sem desmerecer, claro, o talento de seus pilotos, principalmente de Sebastian Vettel e Max Verstappen, os responsáveis pela imensa maioria destes triunfos. Newey é um daqueles raros nomes da área técnica que se tornaram estrelas tão disputadas quanto os grandes pilotos campeões, daí o impacto que sua saída irá gerar para a Red Bull, seu time atual, e o impacto potencial que poderá exercer em seu futuro novo time onde for trabalhar.

Adrian Newey não gostou do rolo interno na Red Bull, tendo Christian Horner como grande pivô em uma luta por poder dentro da escuderia, e preferiu cair fora antes de acabar sendo arrastado para a confusão.

            Fora da Red Bull, portanto, qual será efetivamente o novo destino de Adrian Newey em 2025? Há pelo menos quatro opções a se considerar... A primeira delas, e a mais simples, é o engenheiro apenas se aposentar, uma vez que já está com 65 anos, e portanto, um descanso, a esta altura da vida, depois de ganhar uma fortuna como engenheiro mais bem pago da F-1 na última década e meia, não seria nada ilógico, lembrando de como é estressante o ambiente ultracompetitivo da categoria máxima do automobilismo. Vários profissionais que estrearam no mundo da velocidade nos anos 1980 já encerraram suas atividades, aproveitando o que resta de suas vidas. Mas, é a hipótese menos provável, pois Newey ainda ama o automobilismo e o que faz, e ainda se sente forte para seguir mais alguns anos adiante.

            A segunda opção poderia ser a Aston Martin. Lawrence Stroll está com o talão de cheques aberto para oferecer o que Newey pedir, e se precisar de mais um pouco, os árabes da Aramco garantem o que for preciso, sem mencionar que alguns de seus antigos auxiliares já estão trabalhando por lá, e Adrian teria facilidade em se entrosar e organizar a área técnica, e com isso, ajudar outra escuderia a galgar os degraus para se tornar um time de ponta e disputar o título, podendo ser campeão, lembrando que a partir de 2026 a Aston Martin será o time de fábrica da Honda na F-1, um pessoal com quem Newey já andou conversando nestes últimos anos na Red Bull. E ele teria a chance de trabalhar com Fernando Alonso, um piloto de grande calibre, desejo que sempre é algo natural em um engenheiro de renome, de poder trabalhar com os melhores talentos disponíveis. E, de bônus, também poderia conceber o novo carro da Aston Martin para o Mundial de Endurance (WEC), um velho sonho do projetista, que nunca escondeu de ninguém este desejo de projetar um carro de competição para outra área além da F-1.

            A terceira opção é a Mercedes, que no grito tenta atrair Max Verstappen, o grande campeão da Red Bull, e até aceitaria engolir junto a presença de Helmut Marko, e com isso, ter um trunfo capital para que Newey aceitasse trabalhar ali. De vantagem, o engenheiro continuaria morando na Inglaterra, mas de negativo, Adrian já deu indícios de que não vai muito com a cara de Toto Wolf. Mas, com Verstappen e Marko por lá, quem sabe ele topa a empreitada. De brinde, o dirigente ainda daria dois golpes fulminantes na rival Red Bull, tirando dela seu maior piloto, e seu grande projetista. Mas parece a hipótese menos provável até aqui, o que não significa que seja impossível.

Em 2010, o primeiro título da Red Bull (acima) com Sebastian Vettel. Em 2024, mais um título vem a caminho do time dos energéticos, com Max Verstappen (abaixo). Todos carros concebidos por Adrian Newey.


            A quarta, e última opção, pelo menos na minha listagem, é considerada por muitos a mais plausível, e por que não, tentadora: a Ferrari. O time italiano é uma lenda nos anais do automobilismo, e poder trabalhar com a escuderia rossa é o sonho de muitos pelo mundo inteiro, e claro que Newey também nunca negou esse sonho. E o time também terá, a partir de 2025, Lewis Hamilton, outro desejo de Newey, que mesmo estando trabalhando com Max Verstappen, nunca escondeu que gostaria de ter a chance de trabalhar também ao lado do heptacampeão. Ajuda a colocar lenha na fogueira dessa possibilidade o fato da esposa de Newey ter sido vista na Itália recentemente, procurando um imóvel, o que dá muitas idéias a se pensar na cabeça. Um dos motivos de Newey nunca ter trabalhado antes em Maranello era justamente sua recusa em morar na Itália, preferindo se manter na Inglaterra, mas isso foi há anos atrás, e nesta altura da vida, ele já parece estar mais flexível em torno dessa possibilidade. Além disso, há outra tentação que a Ferrari oferece ao engenheiro: a de projetar um carro de rua da marca italiana, e também, o seu carro de Hypercar no Mundial de Endurance, em paralelo com o projeto da F-1. E, claro, liberdade total para tocar estes projetos, algo que ele preza muito.

            Por estas e outras, Frederic Vasseur, chefão da Ferrari, já teria ido à Inglaterra antes de chegar a Miami para o GP deste fim de semana, para discutir os detalhes inerentes à contratação de Newey. O engenheiro, aliás, presente no box da Red Bull neste final de semana, diante do anúncio bombástico de sua saída do time dos energéticos, é o principal alvo dos jornalistas no paddock, que infelizmente não terão muita chance de obter maiores declarações de Adrian, uma vez que o time praticamente o isolou do público, a fim de não tumultuar o fim de semana do time e do projetista.

            Anúncio oficializado, Newey inclusive deve deixar de comparecer aos GPs do restante da temporada, salvo alguma exceção. Seu dever agora é finalizar o projeto do modelo RB17, um hipercarro de rua da Red Bull superexclusivo, com produção limitada a 50 exemplares. O engenheiro se afastará do desenvolvimento do modelo RB20, bem como do modelo RB21 para a próxima temporada, de modo que ele não terá mais a palavra para atualizações dos respectivos modelos. A expectativa agora, é quem vai levar Newey, e como isso irá mudar a relação de forças do grid no futuro próximo.

Em 1993, Adrian Newey projetou o carro campeão da escuderia inglesa com Alain Prost (acima). Na March, o projetista começou a chamar atenção na F-1 quando estreou no time em 1988 (abaixo).


            Isso transformaria o novo time do projetista na força a ser batida na F-1? Devagar aí... Pelas leis europeias, fora cláusulas contratuais que possam existir a respeito, Newey teria de cumprir uma quarentena técnica antes de poder exercer suas novas atribuições na nova escuderia, a fim de não levar vantagens técnicas do antigo time para o novo. Neste ponto, mesmo que saísse agora, não haveria o que fazer em relação à temporada de 2025 no novo time. O novo modelo RB21 já está sendo encaminhado no setor técnico de Milton Keynes, de Adrian não poderia contribuir para o carro de seu novo time no próximo ano. Mas, para 2026, a história já seria diferente, e ele poderia, se não projetar o novo carro, colaborar com seu projeto, mesmo indiretamente. E se lembrarmos que neste ano entrará em vigor um novo regulamento técnico na F-1, faria todo sentido ele começar a pensar somente no carro de 2026.

            Porém, de acordo com as informações divulgadas, não haverá este prazo de carência, de modo que o projetista fica na Red Bull até o primeiro trimestre de 2025, mas depois disso, ele já poderá iniciar seus trabalhos quase imediatamente no seu novo time. Como ele já está se afastando do projeto de F-1 da Red Bull após a prova de Miami, na prática ele já estará cumprindo essa quarentena, focando-se exclusivamente no novo carro de rua dos energéticos. Assim, ele poderá comandar o projeto do novo carro de seu novo time para a temporada de 2026, justamente quando estreará o novo regulamento técnico da competição. Então, até lá, a relação de forças do grid não deve apresentar mudanças em decorrência da saída do engenheiro. Na Red Bull, as bases do novo carro já devem estar traçadas e encaminhadas no departamento técnico.

            Mas, e a pergunta que muitos fazem: como a Red Bull será afetada com a perda de seu mais notável membro? A pergunta é pertinente, pois temos um exemplo de um time que jamais se recuperou completamente da saída do engenheiro inglês, e isso aconteceu há muito tempo atrás. Adrian Newey havia tido seus primeiros anos de sucesso na categoria máxima do automobilismo com a Williams, tendo projetado o fabuloso modelo FW14, que já assustava a concorrência em 1991, mas em 1992, com a versão FW14B, simplesmente massacrou todo mundo na pista, naquele que é considerado talvez o mais perfeito bólido já criado para a F-1 em termos de tecnologia embarcada, com suspensão ativa, freios ABS, e tudo o mais, descrito pelo pessoal à época de “carro de outro planeta”, que deixava os rivais 2s por volta para trás nas corridas. O período de glórias de Newey no time foi até 1996, quando o projetista, insatisfeito com sua posição no time, se mandou para a McLaren.

            O resultado pode ser sentido na temporada de 1998: a McLaren se tornou o carro a ser batido, enquanto a Williams despencou na categoria, deixando de disputar o título, e até de vencer corridas. A escuderia de Frank ainda venceu a temporada de 1997, cujo carro tinha sido o último de Newey no time. Pensando a longo prazo, dizem que Adrian queria ter participação societária no time, a exemplo do que Patrick Head tinha, mas Frank, notório pão-duro, não quis aceitar, de modo que Newey, então, foi para a concorrência. O resultado todos sabemos: a Williams jamais voltaria a disputar um título de fato, e no máximo venceu algumas corridas na sua parceria com a BMW. Tivesse conseguido manter o engenheiro, com certeza teria mantido por vários anos o nível de competitividade de seus tempos de glória, e quem sabe, seu declínio na F-1 teria sido diferente, ou nem teria acontecido.

            E a Red Bull pode ter destino similar? Newey está no time desde 2006, mas demorou até 2009 para os trabalhos do engenheiro darem frutos. A escuderia, egressa da antiga Jaguar, estava montando sua força técnica, e claro que, neste processo, as coisas demoraram a se encaixar, mas quando isso ocorreu, com o novo regulamento técnico de 2009, o carro passou a disputar vitórias, e de 2010 a 2013, teve seu primeiro período de hegemonia, nas mãos de Sebastien Vettel. Uma hegemonia interrompida com a nova era turbo híbrida a partir de 2014, onde o propulsor Renault se tornou o ponto fraco do time, menos competitivo que o Mercedes, apesar do excelente carro ainda disponível. Isso fez a Red Bull vencer apenas esporadicamente nos anos seguintes, a exemplo de outros times, como a Ferrari. Somente em 2021, quando o propulsor da Honda atingiu um nível de excelência similar ao da Mercedes, a disputa ficou equilibrada, e apesar da decisão polêmica de Abu Dhabi, a Red Bull voltaria a ser campeã de pilotos, e desde então, com o novo regulamento do efeito solo, é ela quem tem dado as cartas nos últimos anos.

            Saindo agora, a Red Bull ainda terá um ano de comprovada excelência em 2025, com o novo RB21, ainda em gestação, mantendo o nível da escuderia, no que será na prática o último projeto de Newey para o time, ainda que ele seja finalizado por seu novo substituto no setor técnico, que será Pierre Waché, que era o braço direito de Adrian no setor, mas já vinha acumulando mais cacife de direção recentemente. A coisa pode se complicar a partir de 2026, dependendo de como o departamento técnico de Milton Keynes sob comando de Waché se apresentar. A escuderia dos energéticos procura blindar os auxiliares diretos de Adrian Newey, a fim de evitar uma debandada, e perder sua coesão técnica. O time já perdeu engenheiros recentemente, mas sem se preocupar tanto, uma vez que Newey continuava por lá, e com isso, manter o setor de engenharia devidamente alinhado. Mas agora, com a saída do “mago”, a situação muda de figura, obviamente, e outra preocupação passa a ser evitar que outros funcionários sigam o exemplo de Newey, que deu o alerta maior na direção da escuderia de que é preciso cuidar da casa.

            Agora, todos esperam pelo anúncio oficial de qual será a nova casa de Adrian Newey na F-1 em 2025, algo que pode sair muito em breve, ou até demorar um pouco. A ser mesmo a Ferrari, tal anúncio poderia ser feito já no próximo GP, em Ímola, circuito próximo à sede da Ferrari, e palco de peregrinação dos tiffosi, se o contrato novo tiver sido finalizado. Caso contrário, isso poderá ser feito em Monza, em setembro, pelos mesmos motivos: fazer o anúncio perante a torcida de casa, ainda que Newey só vá frequentar os boxes do time rosso em meados de 2025. Mas, vamos com calma, pois apesar do franco favoritismo da esquadra rossa, nada ainda está garantido, portanto, devagar com as expectativas...

            Se o anúncio da ida de Lewis Hamilton para a Ferrari já fez muita gente se concentrar apenas na temporada de 2025, esquecendo 2024, este anúncio já faz algo bem similar, mas para o ano de 2026... Nunca a F-1 gerou tanta expectativa futura em tempos recentes... Ainda mais em um momento onde o presente já parece batido e sacramentado, todos querem saber apenas do futuro, e não é por acaso...

 

 

Hora do GP de Miami, uma corrida criada com badalação, mas que até agora não decolou propriamente no gosto do público da Flórida. E ainda temos mais uma prova sprint, para ver se dá uma chacoalhada no fim de semana do GP, que está mais interessante fora da pista do que dentro, por motivos óbvios...

Nenhum comentário: