sexta-feira, 26 de maio de 2023

A DESPEDIDA DE TONY KANAAN

Tony Kanaan dá adeus às provas Indy neste domingo, buscando o segundo triunfo nas 500 Milhas de Indianápolis.

            Neste domingo temos mais uma edição da mais famosa corrida das Américas, as 500 Milhas de Indianápolis. Mais uma vez, os 33 pilotos que alinharão no grid correrão em busca da glória que é vencer na Brickyard Line, um feito que praticamente eterniza o seu realizador na história do automobilismo mundial. “Indianápolis escolhe seus vencedores”, diz uma história sobre a corrida. E quem consegue vencê-la mais de uma vez consegue uma proeza ainda maior.

            A atratividade de Indianápolis caiu nos últimos anos. Já tivemos edições em que mais de 100 carros tentaram classificação no grid, enquanto em anos recentes o que se conseguiu foi apenas completar as 33 vagas do grid de largada. Mesmo assim, vários pilotos comparecem a cada ano para tentar a sorte na Indy500. E este ano, um destes pilotos no grid enfrenta um momento especial. É Tony Kanaan, brasileiro nascido em Salvador, em 31 de dezembro de 1974, e que largará da terceira fila, na 9ª posição, defendendo a McLaren na mítica prova do oval de Indiana.

            Tony está fazendo sua despedida da Indy. Será sua última corrida na categoria. Ele decidiu que era hora de pendurar o capacete, pelo menos por lá. Aqui no Brasil, o baiano vem acelerando na Stock Car Brasil, onde deverá continuar competindo por mais algum tempo, assim como participando de algumas outras corridas mundo afora. Na Indycar, contudo, ele dá seu tempo por encerrado, e nesta sua despedida, domingo, irá em busca da vitória, que seria o seu 2º triunfo na Indy500, prova que já venceu em 2013, pela modesta KV Racing. Seria uma despedida à altura de sua longa carreira, e muito merecida. A McLaren vem com um quarteto de pilotos, e com uma performance que dá ao time um grande favoritismo na corrida, ao lado da Ganassi, que fez a pole-position com Álex Palou, e tem também outros pilotos já vencedores das 500 Milhas, como Scott Dixon, Marcus Ericsson, e Takuma Sato. Na McLaren, Patricio O’Ward, ao lado de Felix Rosenqvist, Alexander Rossi, além do próprio Tony, não pretendem deixar o time de Chip Ganassi brigar sozinho pelo triunfo.

            Para Tony, em se tratando do automobilismo dos Estados Unidos, é o fim de uma trajetória de 26 anos. Tendo começado no kart, a base de todo piloto que almeja a profissão, Tony enfrentou várias dificuldades ao longo de sua carreira, como a perda do pai, ainda aos 13 anos de idade, que poderia ter encerrado seus sonhos no esporte a motor, não fosse o importante apoio de quem acreditava nele, como o pai de Rubens Barrichello, de quem se tornaria um grande amigo, e “irmão”, como ele se refere ao compatriota. Com isso, disputou a F-Ford e a F-Chevrolet, construindo um bom nome no Brasil, antes de se transferir para a Europa, onde disputou a Fórmula Opel e o Campeonato Italiano de Fórmula Boxer, tornando-se campeão. Em seguida, ele foi disputar a Fórmula 3 Italiana. O objetivo, claro, era tentar chegar à F-1, sonho que se mostrava cada vez mais inviável. Na época, contudo, a Fórmula Indy chamava a atenção do mundo da velocidade, e com a ida de vários brasileiros para tentar a sorte por lá, tendo melhores oportunidades do que na Europa, em direção à F-1, Tony foi mais um a cruzar o Atlântico, e aportar nos Estados Unidos para seguir o novo caminho.

O piloto brasileiro defenderá na Indy500 a McLaren.

            O ano era 1996, e em sua estréia na Indy Lights, categoria de acesso à F-Indy, Tony mostrou a que veio, terminando como vice-campeão, defendendo a Tasman, atrás apenas de David Empringham, da Forsythe, que foi o campeão da temporada. No ano seguinte, a Tasman seria campeã, justamente com Kanaan, que travou uma renhida batalha com seu próprio companheiro de equipe, Hélio Castro Neves, que terminou como vice-campeão, perdendo o título para Tony por apenas 4 pontos de diferença. Era o passe para ambos subirem para a então F-Indy, o que aconteceu no ano seguinte, com Tony mantendo-se na Tasman, enquanto Hélio migrou para a Bettenhausen.

            A primeira vitória viria no seu segundo ano, agora com a Tasman comprada pela Forsythe, no oval de Michigan. No ano seguinte, defenderia a equipe de Morris Nunn, entre as temporadas de 2000 a 2002. Foram tempos de poucos resultados de monta, já que o equipamento não era muito competitivo, obtendo no máximo um pódio aqui e ali, mas sem disputar o título, tendo como melhor classificação dois 9ºs lugares nas temporadas de 1998 e 2001. Em 2003, mudança de categoria, passando para a Indy Racing League, na equipe Andretti-Green, que se estabelecia como uma das forças da competição. Em seu primeiro ano, foi 4º colocado, obtendo sua primeira vitória na IRL em Phoenix. E em 2004, seu ponto alto na competição, com a conquista do título, com três vitórias no ano, e o feito de completar todas as voltas das corridas da temporada inteira. No ano seguinte, um vice-campeonato, mantendo a boa fase. Dali em diante, os resultados oscilariam, terminando em 6º lugar nas temporadas de 2006, 2009, e 2010, e em 3º lugar em 2007 e 2008. Acabaria dispensado ao fim de 2010 da Andretti, acabando por buscar refúgio na KV, um time médio.

            Na KV, flertou com a vitória em alguns momentos, obtendo no máximo alguns pódios, entre 2011 e 2013, com exceção da bela vitória na Indy500 deste ano, o que lhe valeu o convite para voltar a defender um time de ponta, a Ganassi, a partir de 2014. Sua passagem pelo time de Chip, contudo, não foi das mais felizes, com apenas uma vitória, e alguns poucos pódios, pouco para as expectativas da escuderia, que esperava mais do brasileiro. A partir de 2018, defendeu a Foyt, onde acabou tragado pela falta de competitividade da escuderia, esperando por um renascimento que nunca veio. A temporada de 2019 foi a última que competiu plenamente. Em 2020, optou por correr apenas nas provas em ovais, preparando-se para se despedir da competição. A pandemia o fez ficar mais um pouco, a fim de obter um encerramento mais digno junto à torcida, repetindo as etapas em ovais em 2021. No ano passado, contudo, disputou apenas a Indy500, que repete agora em 2023, com o anúncio definitivo de sua despedida da atual Indycar.

Tony chegou nos Estados Unidos em 1996, competindo na Indy Lights, categoria na qual foi campeão em 1997, com a Tasman (acima), time pelo qual também estreou na F-Indy em 1998 (abaixo).

            Tony, assim como Helinho, tornaram-se sobreviventes na competição. Da imensa legião de brasileiros que migrou para os Estados Unidos na década de 1990, para correr na então F-Indy, o rol de competidores foi minguando ao longo dos anos. Com o fim da antiga F-indy, a IRL, atual Indycar, foi vendo o número de brasileiros decair cada vez mais. Sem conseguirem patrocínio, e vagas decentes, a presença verde-amarela praticamente se extinguiu, sobrando apenas Tony e Hélio. E mesmo assim, entre 2019 e 2021, nossa presença foi apenas esporádica, já que entre 2018 e 2020 Helinho foi realocado pela Penske no IMSA WeatherTech, o campeonato de endurance norte-americano. Hélio voltou à competição em tempo integral ano passado, mas Tony já veio se despedindo parcialmente da categoria. Inúmeros outros competidores nacionais de potencial, como Bruno Junqueira, Matheus Leist, Pietro Fittipaldi, Bia Figueiredo, Vitor Meira, entre outros, até resistiram por algum tempo, mas no final, acabaram expurgados O novo “eldorado” para os pilotos brasileiros, como apregoado nos anos 1990, não existia mais. Paralelamente, o Brasil havia ficado também sem presença na F-1, com a despedida de Felipe Massa, ao fim de 2017.

            Não se pode dizer que a carreira de Tony não teve brilho. Ele foi campeão da IRL em 2004, e em 2013, escreveu seu nome na galeria dos vencedores da Indy500. Dos últimos vinte anos da Indycar, seu nome talvez só fique abaixo de campeões como Scott Dixon, Dario Franchiti, Will Power, e Josef Newgarden, que conquistaram mais vitórias e títulos do que ele. Mas, certamente, não abaixo de vários outros que por lá passaram, e ainda se encontram. Nomes como Ryan Hunter-Reay, Álex Palou, Simon Pagenaud, Sam Hornish, entre outros, só para citar aqueles que foram campeões. Paralelamente, ele competiu em variadas categorias, disputando diversas provas, como a American Le Mans Series, a Grand-Am, o IMSA WeatherTech Sportscar, as 24 Horas de Le Mans, Nascar, entre outras, mostrando o seu talento e o seu amor pelo automobilismo.

Os pontos altos da carreira: o título na Indy Racing League, em 2004, com a Andretti-Green (acima), e o triunfo na Indy500 em 2013 (abaixo) com a KV.

            Poderia ter alcançado mais vitórias? Feito mais poles? Certamente que sim, se tivesse conseguido se manter em times mais competitivos. E quem sabe, ter disputado mais títulos. Mesmo assim, considerando as duas categorias Indy, já são 26 anos de participação, desde a estréia em 1998, um tempo considerável, ainda que os últimos anos não tenham sido de participação em todo o campeonato. Certamente que Tony tinha esperanças de se manter por mais tempo, mas nem sempre o que planejamos acaba dando certo. E raras vezes no automobilismo temos mais satisfações do que frustrações. Kanaan chegou lá, realizou seu sonho, e se tornou um dos nomes mais importantes do automobilismo brasileiro na era pós-Senna, junto com compatriotas como Hélio Castro Neves, Felipe Massa, Gil de Ferran, e seu “irmão” Rubens Barrichello, entre outros.

            Mas, uma hora, tudo acaba, e Tony tem o privilégio de poder escolher o seu momento de despedida da principal competição de que participou desde 2003, encerrando uma fase em sua carreira. Muitos acabam vendo sua carreira “encerrada” por outros motivos. Kanaan não está pendurando o capacete em definitivo, apenas na Indycar. Ainda teremos chance de vê-lo acelerando, como na Stock Car Brasil, onde participa atualmente. Pelo que realizou nestas mais de duas décadas nas categorias Indy, Tony sai de cabeça erguida, e quem sabe, em grande estilo, se conseguir seu segundo triunfo na Indy500 domingo. Obrigado por tudo, Tony!

 

 

Se Tony Kanaan faz sua despedida da Indy500 almejando a vitória, Hélio Castro Neves, colega de longa data no automobilismo dos Estados Unidos, tem outros planos. Recordista de triunfos na famosa corrida, com quatro triunfos, Helinho busca a 5ª vitória, o que faria dele o recordista absoluto de vitórias na Indy500, atualmente empatado com Rick Mears, A. J. Foyt, e Al Unser, todos com quatro triunfos na Brickyard Line. Ainda que planeje disputar as 500 Milhas mais vezes, algo que não depende só dele, a situação de Hélio para a prova deste ano não é tão animadora quando a de Kanaan. Largando da 20ª posição, o objetivo de Helinho é bem mais complicado, não tanto pela posição de largada, algo não tão decisivo em um superspeedway, e em uma corrida tão longa como são as 500 Milhas, mas porque em nenhum momento seu time deu mostras de performance ao nível dos rivais mais fortes, como a Ganassi, ou a própria McLaren pela qual Tony está correndo em sua despedida, além de ficar atrás de outros times, como a Penske ou a Andretti. Depois de surpreender em 2021, quando obteve sua última vitória, quando estreou pela Meyer Shank na Indycar, largando da 8ª posição, o desempenho caiu no ano passado, quando largou de 27º, e terminou em 7º, resultado que não foi de todo ruim, mas evidenciou ter perdido terreno para os adversários. Será que a sorte sorrirá melhor para ele desta vez? Ele mesmo avisa que os rivais estão mais rápidos, então, boa sorte na prova, onde vencer nem sempre é uma questão de ser mais rápido, mas de estar no lugar certo na hora certa. Vamos ver...

 

 

Ganassi e McLaren tem tudo para repetir este ano o duelo pela vitória na Indy500. Em 2022, o sueco Marcus Ericsson foi o grande vencedor, trazendo mais um triunfo para o time de Chip Ganassi, que inclusive fez maioria no “pódio” das 500 Milhas, com Tony Kanaan terminando na 3ª posição, numa excelente corrida do brasileiro. Mas a McLaren esteve pronta para roubar as glórias, com Patricio O’Ward terminando em 2º lugar, numa diferença de apenas 1s8 na linha de chegada, como Felix Rosenqvist terminou em 4º lugar. Quem vai levar a melhor este ano?

 

 

Bate-volta na Indy500: Graham Rahal acabou não conquistando vaga para largar nas 500 Milhas de Indianápolis deste ano, tendo marcado o 34º tempo na classificação para a corrida no último domingo. Como em Indianápolis quem se classifica é o carro, e não o piloto, havia a expectativa de que o piloto, filho de um dos donos da escuderia, o tricampeão da F-Indy, Bobby Rahal, acabasse assumindo o carro de um dos outros pilotos que se classificação, muito provavelmente o de Katherine Legge, que disputaria apenas a Indy500 pela Rahal/Lannigan/Sullivan. Mas, eis que nesta segunda-feira, Stefam Wilson, que havia se classificado pela Dreyer & Reinbold, acabou se acidentando no treino livre, ao se envolver com (justamente) Katherine Legge, com ambos os carros batendo. Wilson foi levado para o hospital, onde um exame constatou uma fratura na fratura na 12ª vértebra torácica, impossibilitando o piloto de participar da corrida. A Dreyer & Reinbold, então, precisava de um substituto, e Rahal acabou sendo o escolhido, e dessa forma, voltando ao grid, para defender outro time. Stefan Wilson largaria em 25º, mas com a troca de piloto, Graham Rahal largará na 33ª e última posição, praticamente ao lado de seus colegas de time na Rahal/Lannigan/Sullivan. Ele terá apenas o último treino para se acertar com o carro, que além das diferenças de time, usa motor Chevrolet, ao invés do Honda de sua escuderia. Mas, para quem ia assistir a Indy500 pela TV, Rahal ainda está saindo no lucro. E Wilson, pelo menos, não sofreu um acidente muito grave, onde poderia ter tido sorte muito pior. Mesmo assim, o piloto precisou passar por cirurgia para cuidar do ferimento, e vai ficar algum tempo de molho.

 

 

Depois do cancelamento do GP da Emília-Romanha, a F-1 está em Mônaco, onde o tempo instável também promete dar as caras no fim de semana da corrida, e quem sabe, ajudar a dar uma levantada nas emoções da prova, já que o circuito monegasco é muito ruim para ultrapassagens, em se tratando dos carros da categoria máxima do automobilismo. Fica a expectativa se Sergio Perez vai conseguir repetir aqui o feito do ano passado, quando saiu com a vitória, por se tratar de mais um circuito de rua, onde o mexicano parece conseguir andar muito bem, e tentar voltar a se impor contra Max Verstappen, depois de ter sido vencido pelo holandês em Miami, além de ver como a Mercedes irá se comportar com o seu novo modelo W14 “B”, com o qual o time alemão espera tentar uma reação no campeonato, que tem sido monopolizado pela Red Bull até o presente momento. Mas, da mesma forma como surgem dúvidas a respeito de uma reação por parte de Perez, não se pode criar muita expectativa sobre a Mercedes, já que a pista travada de Monte Carlo não é o palco mais indicado para se trazer novidades nos carros, até porque o risco de acidente, no estreito circuito, é potencialmente muito maior, e a pista tem características bem particulares, tanto que os demais times preferiram trazer atualizações para a corrida da semana que vem, que será em Barcelona, na Espanha, circuito onde as escuderias poderão avaliar melhor suas melhorias. Mas a Mercedes tem pressa, e por isso, o risco de fazer a estréia em Mônaco, já que o plano original, de fazer as novidades para a prova de Ímola, foram por água abaixo, literalmente, com o cancelamento da prova por causa dos estragos da chuva na região da Itália. Fora a Mercedes, a Alfa Romeo também resolveu estrear atualizações em Mônaco. A pista do Principado pode oferecer o primeiro desafio real para a Red Bull na temporada, se algum outro time conseguir aproveitar a oportunidade para interromper o domínio do time dos energéticos nas vitórias do ano. Vamos esperar e torcer...

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