Fechando o ano de 2021, trago mais um de meus antigos textos, este publicado no dia 27 de agosto de 1999, já há mais de 22 anos atrás. O assunto do texto principal era o possível cancelamento do GP da Bélgica para a temporada de 2000, uma vez que o país havia proibido a publicidade de cigarros, como já era praticado em outros países, o que deixou Bernie Ecclestone meio bravo, por não ter conseguido abrir exceções na legislação do país que beneficiassem a F-1. Anos depois, a publicidade de cigarro seria banida em definitivo não apenas do automobilismo, mas dos demais esportes, e ao contrário do que se apregoava, isso não causou nenhuma hecatombe financeira no esporte, com todo mundo se adaptando, e encontrando patrocínios oriundos de outros ramos econômicos. E felizmente Spa-Francorchamps continuou presente no calendário da F-1 até os dias atuais, com um ano ou outro ficando de fora, mas ausências pontuais. De resto, alguns tópicos rápidos com comentários a respeito de alguns outros acontecimentos no mundo da velocidade.
Espero que apreciem o texto, e que tenhamos um ano de 2022 muito melhor do que este de 2021, que foi muito complicado, não apenas em termos profissionais, como pessoais também, e que não me farão ter saudades de muita coisa vivenciada nos últimos meses. Então, rumemos para o próximo ano, tentando manter as expectativas as mais positivas possíveis, apesar das dificuldades de muitos em tentar manter um espírito mais otimista em um ano que já nos antecipa momentos complicados em muitos aspectos, os quais espero que não se tornem tão problemáticos quanto se espera. Cuidem-se todos, e até o próximo ano...
A BELEZA DE SPA
Mais uma vez, a Fórmula 1 chega ao circuito preferido de equipes e pilotos no calendário atual: o circuito de Spa-Francorchamps. Das pistas atuais, este é o meu favorito, não só pelo belíssimo visual da região das Ardenhas, como pelo desenho desafiador do circuito, que tem como ponto alto a veloz da Curva da Água Vermelha, ou como chamam os belgas, Eau Rouge.
Este ano, porém, as coisas podem se tornar ainda mais atrativas para se acompanhar o GP de F-1 neste lugar: pode ser a última corrida de F-1 na Bélgica. O dilema se resume a uma questão: a propaganda de cigarros, que a partir deste ano tornou-se proibida também na Bélgica, a exemplo do que já ocorre na Inglaterra, França, e Alemanha.
Principal fonte de recursos da maioria das escuderias da F-1, a publicidade de cigarros já tem data certa para ser banida em definitivo da F-1, em 2006, mas até lá, muita gente esperava uma maior flexibilidade na propaganda para se ter uma evolução gradual. Mas bastou as negociações emperrarem para se liberar a publicidade tabagista no GP belga para Bernie Ecclestone começar a soltar seus cachorros, ameaçando a prova de cancelamento já para o ano que vem. Se isso se confirmar, será uma tremenda perda para a F-1.
Spa é praticamente o último remanescente dos circuitos clássicos que a F-1 já teve em toda a sua história. Salvo exceções como Mônaco, que permanece no calendário pela sua tradição e glamour; e Monza, que ainda sobrevive à evolução da categoria; e Hockenhein, na Alemanha, todos os demais traçados já usados pela F-1 perderam boa parte de seu charme e atrativos. É uma lista vasta, e que só faz ter mais saudades de como era a antiga F-1, em uma época que praticamente não tem mais volta.
O circuito original de Spa-Francorchamps tinha aproximadamente 15 quilômetros, sendo um dos mais extensos da F-1, ao lado de Nurburgring (o antigo) e Pescara. Quando retornou à F-1, no início dos anos 1980, muitos imaginavam que o velho circuito belga nunca teria o mesmo charme, carisma e desafio de antigamente, mas estavam enganados: o novo traçado, apesar de mais curto, praticamente a metade da extensão do original, preservou não só o desafio de antigamente, como as novas curvas introduzidas aumentaram ainda mais o seu carisma. Um dos motivos para Spa ter ficado incólume à mudança recente em diversas pistas reside no fato de que este não é um circuito permanente, mas um aglomerado de auto-estradas que, uma vez por ano, são fechadas ao tráfego normal para dar lugar ao belo circuito belga, que liga as cidades de Spa e Francorchamps, daí o seu nome.
Em 1994, fizeram a única alteração no seu traçado após a redução da pista, ao eliminarem a curva Eau Rouge com a introdução de uma chicane artificial. Felizmente, foi uma mudança provisória, e em 1995, lá estava ela novamente, a Eau Rouge, em todo o seu esplendor, para desafiar os pilotos. E só os grandes pilotos costumam vencer aqui; o traçado é muito técnico e exige um bom ajuste do carro. Trechos como a reta Kemmel, as curvas Malmedy, Stavelot, Bus Stop, entre outras, são de dar água na boca aos pilotos, e em especial a Eau Rouge-Raidillon, cujo feito supremo é serem feitas de pé embaixo. Não é qualquer piloto que consegue isso, e por isso mesmo, este circuito costuma privilegiar e mostrar a mais fina arte da pilotagem. Ayrton Senna venceu aqui 5 vezes. Dos pilotos atuais, apenas 2 venceram em Spa: Michael Schumacher, com 4 vitórias; e Damon Hill, com 3 triunfos, sendo a última no ano passado, debaixo de muita chuva.
A chuva, aliás, é outro componente surpresa nesta prova. Sempre está por perto, ameaçando cair, nesta época do ano. Quando vem, garante emoção extra à corrida, proporcionando espetáculos de pilotagem. E sua inconstância é outro ingrediente que ajuda a aumentar as emoções, embaralhando as estratégias de pilotos e equipes. Um jogo que, às vezes, nem mesmo os melhores pilotos e escuderias conseguem vencer a contento.
É por estes e outros motivos que eu espero que as ameaças de Ecclestone não se concretizem. Tirar Spa da F-1 vai privar a categoria de uma de suas maiores preciosidades. Um ponto de sua história que merece ser vivido a cada campeonato atual, para que se mantenha um mínimo de respeito à sua história, e à esportividade que move os grandes pilotos, sempre atrás de grandes desafios de pilotagem. E Spa, sem dúvida alguma, é um diamante muito bem lapidado que nos encanta toda vez que é visto novamente.
E Michael Schumacher só deve retornar mesmo em Monza. O bicampeão alemão não foi liberado para correr em Spa, justamente uma de suas pistas favoritas. Isso o tira definitivamente da luta pelo título, uma vez que, ao voltar apenas na Itália, terá somente 4 etapas para tentar descontar toda a desvantagem acumulada até aqui em relação aos seus principais rivais, Mika Hakkinem, e Eddie Irvinne. E, para piorar a situação, Schumacher já foi superado na classificação por David Coulthard e Heinz-Harald Frentzen. O piloto alemão é agora o 5º colocado no campeonato. Tudo o que rolou em torno de Michael na semana passada está cheirando a propaganda da Ferrari, que pode ter tentado dar uma cartada psicológica nos rivais. Vai saber a verdade...
Rubens Barrichello está próximo de ser anunciado como piloto oficial da Ferrari para o ano 2000, ao lado de Michael Schumacher. O anúncio, alguns dizem, pode vir já na próxima semana, ou no mais tardar, às vésperas do GP da Itália, em Monza. Tudo indica que a Ferrari deverá mudar sua mentalidade para o próximo campeonato. A alta cúpula de Maranello, especialmente Lucca de Montezemolo, quer a Ferrari disputando o título e as vitórias como um todo, e não apenas para que um só de seus pilotos ganhe corridas. Resta saber como Michael Schumacher vai ser portar com esta nova política do time. Para Rubinho, é lucro, pois ele quer ter a chance de andar na frente, sem ter de obedecer cegamente ao alemão. Isso não quer dizer não aceitar fazer jogo de equipe. Tudo vai depender da situação das corridas e do campeonato em si.
A Sauber fechou sua dupla de pilotos para a próxima temporada: Pedro Paulo Diniz vai ser o primeiro piloto do time, e terá como companheiro o finlandês Mika Salo. Juntos, os dois reeditarão a parceria do ano passado, quando competiram pela Arrows. A confirmação de Salo na Sauber é mais um indício de que Rubens Barrichello deve mesmo ir para a Ferrari.
Com a retirada da Ford no fornecimento de motores a terceiros em 2000 (só o time de fábrica, a Stewart, terá os motores da montadora), os motores Supertech devem ser a tábua de salvação de times como a Minardi e a Arrows. Mas será uma tábua cara: US$ 18 milhões por temporada. A Ford tem muito mais eficiência com os motores de 98 a um preço bem mais acessível. Seria bom que a Ford revesse sua política, pelo menos na opinião dos times pequenos...
Juan Pablo Montoya reassumiu a liderança da F-CART ao vencer o GP de Chicago domingo passado. Dario Franchiti ficou em 3º lugar, atrás de seu colega de equipe Paul Tracy. Ao que tudo indica, agora a disputa do título deve ficar restrita ao colombiano e ao escocês. Que venha a próxima etapa, em Vancouver, na semana que vem...
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