Hora de descansar um pouco, especialmente depois de um ano tremendamente desgastante como foi este de 2021, tanto em termos profissionais como pessoais, sendo estes últimos particularmente penosos e com consequências ainda sentidas, e que perdurarão por um tempo incerto de quando poderei voltar às atividades do cotidiano da forma como eram antes. Novas colunas apenas em janeiro, em data que ainda estou planejando, tentando ter um descanso um pouco maior devido aos desgastes sofridos especialmente nestes últimos meses, e que estão sendo muito mais complicados de lidar como eu gostaria que fosse.
Mantendo a regularidade das postagens, trarei alguns textos antigos neste período de descanso, como o de hoje, publicado no dia 13 de agosto de 1999, enfocando como estava a situação de nossos pilotos no campeonato da F-CART, a F-Indy original. De quebra, alguns tópicos rápidos sobre outros acontecimentos no mundo da velocidade naquele momento. Uma boa leitura a todos, e espero que possam ter um bom natal e um ano novo muito melhor do que foi 2021, um ano que não terei saudades por várias razões, e que espero que não termine ainda pior do que já está. Até breve, com alguns textos antigos a mais por aqui, e cuidem-se todos...
ÀS VOLTAS COM O AZAR
Bem, pessoal, no que tange à F-CART, posso dizer que as chances de nossos pilotos conquistarem o título deste ano já eram. E não é que eu seja pessimista ou catastrofista: estou sendo apenas realista. E o pior de tudo nesta afirmação é que já não é a primeira vez que a faço, e tudo parece indicar sempre a mesma coisa: estamos mesmo com muito azar.
Já não é a primeira vez que temos de dar adeus às esperanças de voltarmos a ser campeões da F-CART, título este que só ganhamos uma vez, há 10 anos atrás, com Émerson Fittipaldi. O máximo que chegamos depois disso foi a 3 vice-campeonatos, dois deles com o próprio Émerson, e o último com Gil de Ferran. E vitórias muito esparsas em poucas corridas, além de algumas poles pelo meio do caminho.
Não nos faltam pilotos. E boa parte deles contam com bons equipamentos, mas sempre aparece alguma coisa, algum detalhe, ou um imprevisto, que arruína todas as possibilidades de melhores resultados. E essa ciranda parece não ter fim. Tivemos foram períodos ainda piores, como no ano passado, onde não conquistamos uma vitória ou pole sequer, mas os tempos atuais não estão muito melhores assim.
Senão, vejamos: Christian Fittipaldi fazia este ano sua melhor temporada na F-CART. Conquistou suas primeiras pole e vitória em corridas na categoria, e estava pau a pau na classificação do campeonato com seu parceiro de time Michael Andretti em performance. Mas um forte acidente em treinos particulares no circuito de Gateway, em Madison, acabou por colocar o jovem Fittipaldi fora da luta pelo título, ao afastá-lo de diversas etapas até o fim do mês que vem. Praticamente o mesmo aconteceu em 1997, quando Christian bateu forte em Surfer’s Paradise e ficou de fora também várias corridas. E, quando isso não aconteceu, inúmeros percalços mecânicos, como no ano passado, tiraram o piloto brasileiro de combate na luta pelo título.
E Gil de Ferran? Combativo, talentoso, e excelente acertador de carros ele inegavelmente é. Mas não tem talento que supere a falta de equipamento em tempo integral: os pneus da Goodyear que Gil usa tem podado suas chances em diversas corridas, enquanto em outras, é a equipe que acaba derrubando todo o esforço que o piloto consegue na pista. Ano passado foi um exemplo disso, e agora parece estar novamente se repetindo na Walker, que não consegue acompanhar os times como a Green e a Ganassi, que usam o mesmo equipamento, mas pneus da Firestone. Jogando em desvantagem de equipamento, o único meio de equilibrar a briga é não cometer nenhum erro, mas a Walker, e também o próprio Gil de Ferran erraram em diversas corridas, como em Detroit domingo passado, onde Gil bateu sozinho no muro em uma bandeira amarela.
No caso dos outros brasileiros, a situação é mais complicada. A PacWest, equipe de Maurício Gugelmim, até hoje não conseguiu reacertar o rumo do desenvolvimento de seus carros. No ano passado, decisões equivocadas no início do campeonato complicaram os engenheiros do time pelo resto do ano, e parece que até agora não conseguiram corrigir as decisões erradas, o que sujeita o piloto curitibano a performances irregulares. Tony Kanaan também tem tido altos e baixos, apesar de dispor agora de uma estrutura muito maior em sua equipe. Já Hélio Castro Neves tem dado show em diversas corridas, mas a fiabilidade de seu carro anda péssima, e Helinho tem estado mais à beira da pista do que dentro dela. Os demais brasileiros na categoria ou correm com carros limitados ou estruturas deficientes. Neste caso estão Cristiano da Matta (competindo com o fraco motor Toyota), Luiz Garcia Jr. (na fraca Payton/Coyne, mas agora competindo na Hogan), e Guálter Salles (na ainda mais fraca All American Racers). Afora eles, ainda temos dois pilotos-tampão: Roberto Moreno (que até agora faz sua melhor temporada na categoria, mesmo sem participar de todas as provas), e Tarso Marques (que amargou conduzir o péssimo chassi Penske em algumas corridas da primeira metade do campeonato).
Sinceramente, espero, mais uma vez, que esta fase ruim acabe, mas depois de ver a mesma situação durante anos a fio, tenho até medo de pensar que este tipo de situação vai acabar se tornando crônico, e não uma fase passageira. Espero que o futuro se mostre bem mais animador do que o panorama atual, pelo menos no que se refere aos nossos pilotos, já que no quesito disputa e emoção na pista, isso a F-CART tem mostrado ter de sobra.
Roger Penske garante: seu time terá outra cara em 2000. E já começou a mostrar seus planos, com a contratação de Gil de Ferran e Greg Moore para ser sua dupla de pilotos na próxima temporada da F-CART. Gil passará a ser o segundo piloto mais bem pago da categoria, perdendo somente para Michael Andretti. No que tange ao pacote técnico, ainda não tem nada certo, mas Roger não descartou a idéia de produzir carros próprios. Mas a hipótese mais provável é que o time use chassis da Lola ou da Reynard no próximo ano, enquanto o chassi Penske próprio será desenvolvido fora do campeonato. Tanto motores como pneus podem continuar sendo os mesmos (Mercedes e Goodyear), mas com o poderio econômico que Roger Penske possui, nada pode ser descartado no momento. Só espero que o passo dê certo e a Penske, o time mais vitorioso e tradicional da F-CART volte a disputar firme o título da categoria.
A etapa da F-CART em Detroit foi a mais acidentada deste ano. Tivemos pelo menos 2 pilotos no hospital e um sem-número de batidas como há muito não se via em um circuito misto ou urbano. Patrick Carpentier e Adrian Fernandez foram parar no hospital, depois de alguns acidentes nos treinos e na corrida, enquanto outros pilotos tiveram uma bela cota de azares para contar. Felizmente, os acidentes não foram de grande monta, pois hoje já começam os treinos em Lexington, onde serão disputadas as 200 Milhas de Mid-Ohio, no belo circuito de Mid-Ohio Sports Car Course, que possui um traçado muito seletivo. Dario Franchiti passou a liderar o campeonato, mas Juan Pablo Montoya promete vir à forra. A briga promete ser boa.
Outra briga que promete ser boa é a que a F-1 começa a vivenciar a partir de hoje no circuito de Hungaroring, próximo a Budapeste, onde será disputado domingo o Grande Prêmio da Hungria. Depois de duas vitórias consecutivas de Eddie Irvinne, a Ferrari vem com tudo para conseguir mais uma vitória neste circuito de difícil ultrapassagem, onde Michael Schumacher venceu no ano passado. Na McLaren, cuja última vitória neste circuito foi em 1992, com Ayrton Senna, a palavra de ordem é concentração total, para não se repetirem os erros das últimas etapas, especialmente David Coulthard, cuja atuação nas últimas provas não foi das mais memoráveis. Hoje teremos os treinos livres, mas a briga deve mesmo pegar fogo a partir de amanhã, em especial no treino de classificação, pois largar na frente aqui nesta pista é meio caminho andado para se vencer.
Bernie Ecclestone quer voltar a fazer os treinos de classificação nas sextas e sábados. Só que, desta vez, com um diferencial: os tempos dos pilotos serão somados e divididos por dois, dando então sua posição de largada definitiva. Isso seria perfeitamente plausível com os sistemas de cronometragem atuais, e poderia dar muito mais emoção à disputa na classificação, especialmente em casos imprevisíveis como treino sob chuva. A idéia está sendo estudada para o ano que vem. Seria uma forma de se recuperar a importância dos treinos de sexta-feira, que perderam muito de seu atrativo quando a classificação passou a ser feita apenas no sábado, em um treino único.
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