quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

ARQUIVO PISTA & BOX – SETEMBRO DE 1999 – 03.09.1999

            Ano novo, vida nova, dizem. Bom, gostaria que fosse, mas esta passagem de ano não foi muito agradável para mim, e tendo de colocar algumas coisas em ordem além do necessário, tive de adiar para a semana que vem a edição deste mês da Flying Laps, com alguns relatos de acontecimentos do último mês de dezembro. No lugar, trago mais uma de minhas antigas colunas, esta publicada no dia 03 de setembro de 1999, onde o assunto principal era a contratação de Rubens Barrichello pela Ferrari. Muita expectativa por parte dos torcedores, sobre na época termos novamente um piloto com um carro capaz de vencer corridas, e até de disputar o título, mas já antevendo que o sonho poderia virar pesadelo, por causa da concorrência de Michael Schumacher no time italiano, e não se poderia ser pior a politicagem da equipe, que continuou a tratar o alemão com pão de ló, dando-lhe todos os benefícios, o que não era exatamente desmerecido, dado o seu currículo, mas deixando o companheiro de equipe em segundo, e às vezes, até em terceiro ou quarto plano, infelizmente. E, pelo talento que tinha, Schumacher não precisava disso tudo, mas claro, ele nunca quis ter concorrência interna, e a Ferrari, desesperada por um título, chegava até a afrontar a imagem do esporte, em nome de seus interesses.

            Entre os tópicos rápidos, as primeiras menções à “poda” que a pista de Hockenhein sofreria, em nome da “modernidade” da F-1, o que viria a acontecer algum tempo depois, e que na opinião de muitos, “destruiu” o charme da pista, tornando-a mais um circuito sem graça e insípido entre tantos outros que a F-1 usava e ainda usa. E concordo plenamente, pois a reforma sofrida na pista alemã foi um atentado à história do esporte, até porque destruíram completamente o trecho das retas da floresta, com o antigo traçado hoje ocupado pelas árvores, nada mais restando naqueles trechos do que era o antigo circuito. Uma boa leitura a todos, e espero estar de volta com novos textos da Flying Laps na semana que vem...

RUBINHO NA FERRARI

            Agora é oficial, praticamente: Rubens Barrichello é piloto da Ferrari pelas próximas duas temporadas. Depois de 5 anos, enfim, voltaremos a ter um piloto de nosso país em um time de ponta na Fórmula 1. E voltar a sonhar com vitórias a cada novo GP realizado? Sim e não.

            É preciso ser realista: Rubens Barrichello vai guiar para a Ferrari, praticamente o único time no atual momento da categoria, além da McLaren, a poder brigar frequentemente pelas vitórias nos GPs e pelo título, mas não se espere que o piloto brasileiro comece a ganhar corridas logo de cara. Michael Schumacher é o dono do pedaço no time italiano, e podem estar certos de que vai querer garantir sua supremacia na escuderia italiana. E isso quer dizer jogar duro contra o piloto brasileiro, que pode ser até um parceiro de equipe potencialmente perigoso para o alemão, que até hoje em sua carreira na F-1 só apanhou feio de outro brasileiro na mesma equipe, Nélson Piquet, mas isso foi na sua temporada de estréia, em 1991.

            O principal requisito Rubens Barrichello já conseguiu garantir, aparentemente: por contrato, a Ferrari vai lhe dar a mesma assistência técnica nos boxes que Schumacher recebe, e o piloto brasileiro terá tantas oportunidades de testar o carro quanto o alemão. Schumacher continua sendo o primeiro piloto, mas ao contrário do que acontecia com Eddie Irvinne, desta vez Michael precisará dar duro para manter a sua preferência pelo time. Barrichello, dizem, não estará preso a nenhuma ordem de não ultrapassar o alemão na pista, o que significa, em tese, que se o bicampeão quiser se manter à frente do brasileiro na pista, vai ter de acelerar fundo.

            Isso talvez sirva de sinal para mostrar que a Ferrari aprendeu a não ficar na dependência apenas de Schumacher, e que é preciso contar com os dois pilotos do time para enfrentar a McLaren, que tem dois pilotos em igualdade técnica na pista e luta com potencial bem melhor aproveitado do que o time italiano tem feito até agora.

            Agora é a vez de Rubinho manter a cabeça no lugar e agüentar todas as pressões a que será submetido, não só pela torcida brasileira, que quer ver novamente um piloto de seu país disputando vitórias e o título, mas principalmente pela pressão profissional, afinal, é a Ferrari um time de ponta, cuja meta é disputar sempre a vitória a cada Grande Prêmio, e o título a cada temporada. Isso sem falar na pressão dos tiffosi, a fanática torcida italiana, que ama a Ferrari acima de tudo e de todos, como uma verdadeira instituição sagrada, e que não costuma perdoar os pilotos que não condizem com o espírito batalhador dos carros vermelhos.

            Barrichello será o primeiro brasileiro a competir oficialmente pela Ferrari, a escuderia mais carismática do automobilismo, e que pode ser considerada um símbolo da F-1. Até hoje, nenhum de nossos pilotos na categoria competiu pela equipe de Maranello. Na década de 1970, Émerson Fittipaldi chegou perto de se transferir para a escuderia rossa, mas as coisas não deram certo. E, antes disso, nos anos 1950, o saudoso Chico Landi ostentou a façanha de disputar um GP com uma Ferrari na F-1, mas não da equipe “oficial” Ferrari, mas de um time particular, que usava os carros italianos. Agora não, é diferente. E a Ferrari pensa longe: já prevendo que possivelmente em 2002 Michael Schumacher deva se retirar da F-1, Maranello já pensa em preparar o piloto brasileiro para ser o sucessor do alemão na escuderia.

            De início, os torcedores italianos já estão gostando de Rubinho. Afinal, o piloto tem ascendência italiana, como já demonstra o seu sobrenome, e também fala perfeitamente o italiano, idioma que Schumacher nunca fez questão de conhecer direito. E o melhor: Barrichello é um piloto combativo, mas também cerebral: quase não comete erros e é um dos poucos a conseguir tirar do carro mais do que ele pode realmente dar. Há quem afirme que os melhores pilotos hoje na F-1 se resumem a 3 nomes: Michael Schumacher, Mika HakkineN, e... Rubens Barrichello.

            E David Coulthard, alguns perguntam? Bem, o escocês levou algumas boas sovas do piloto brasileiro em 1991 na F-3 Inglesa. Alguém precisa dizer mais?

            A torcida italiana deverá saudar o piloto brasileiro em Monza, durante o GP da Itália, semana que vem, com toda a efusividade que lhe é peculiar. E Rubinho tem tudo para conquistar os tiffosi, que nunca foram lá muito amigáveis com a postura arrogante e fria de Schumacher. Que bons ventos soprem na direção do piloto brasileiro na nova equipe...

 

 

A torcida italiana não gostou muito de saber que Michael Schumacher irá ficar de fora dos GPs da Itália e da Europa, em Nurburgring. Depois dos bons testes da semana retrasada, como se explica agora que o alemão precisa de mais tempo para completar a sua recuperação, tendo sido visto até andando de bicicleta. Muita gente já desconfia que é apenas uma desculpa para Michael não se rebaixar a ter de “ajudar” Eddie Irvinne a conquistar o título. Se isso for verdade, o bicampeão, cujo cartaz não anda lá essas coisas com a torcida, pode “queimar” de vez. Bom para Rubinho, que terá ainda mais apoio dos tiffosi.

 

 

Vez por outra, ouço notícias que realmente me dão um tremendo desgosto das normais atuais da F-1. A última bomba que soltaram agora é que o circuito de Hockenhein, um dos mais bonitos da categoria, vai ser “podado” para o ano que vem, quando irá ficar reduzido a algo em torno de 4,5 Km de extensão. As justificativas são as mesmas de sempre: segurança e necessidade de traçados mais desafiadores para os pilotos. Segurança e desafio dos pilotos? Tudo bem, mas já há circuitos assim na F-1, e dizer que o traçado de Hockenhein é meio simplório eu até concordo, mas quem disse que a F-1 não pode ter este tipo de circuito? Eu gosto muito do circuito alemão especialmente pelo seu tamanho, traçado, e pela paisagem da linda Floresta Negra alemã. É uma sensação diferente e agradável ver os competidores a sós na pista por alguns instantes, antes de a torcida recebê-los novamente na parte mista do Motodron, onde o visual já é mais tão igual a todos os demais circuitos. Realmente, vai ser mais um sacrilégio acabarem com a extensão original de Hockenhein. Praticamente vai tirar o brilho do circuito, como aconteceu em Interlagos. E isso não é tudo: Spa-Francorchamps começa a ficar ainda mais distante do calendário do próximo ano, dizem o pessoal chegado à FIA e à FOA, em virtude da proibição da publicidade tabagista. O que mais falta estes caras inventarem?

 

 

A F-CART inicia hoje os treinos para o GP de Vancouver, na costa oeste do Canadá. Se a cidade é bonita, não se pode dizer o mesmo do circuito, que não possui nenhum ponto de ultrapassagem, o que torna os treinos classificatórios uma verdadeira guerra, pois largar na frente é fundamental para se vencer a corrida. Isso significa que deve haver uma nova briga de foice pela pole-position, especialmente entre Juan Pablo Montoya e Dario Franchiti, mas que pode ter muitos intrometidos na parada, como Michael Andretti, Paul Tracy, Gil de Ferran, e muitos outros pilotos. Vamos ver no que vai dar...

 

 

Roberto Moreno está perto de conseguir um lugar na equipe Patrick Racing para o próximo ano, devido aos bons resultados que já conseguiu substituindo Mark Blundell e Christian Fittipaldi nas equipes PacWest e Newmann-Hass nesta temporada. A PacWest já confirmou a renovação de sua dupla de pilotos para o próximo ano. Mark Blundell e o brasileiro Maurício Gugelmim continuam firmes no time.

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