Hoje volto a trazer uma de minhas antigas colunas, que foi publicada no dia 23 de julho de 1999. O assunto principal era o falatório de Eddie Irvinne, alçado à condição de principal piloto da Ferrari naquela temporada depois do acidente onde Michael Schumacher quebrou a perna em Silverstone, ficando de fora da briga pelo título. Boca rasgada à parte, é verdade que o time italiano, que só tinha olhos para o bicampeão alemão, praticamente dava de ombros para o irlandês, cuja função na pista era mais bloquear os adversários de Schumacher do que tentar vencer corridas pelo time, de modo que a Ferrari demorou muito para se dar conta de que, sem o alemão, ficava muito aquém do que poderia render, e que deveria ter dado todo o apoio ao seu segundo piloto na esperança de conseguir lutar pelo título. E Irvinne, infelizmente, também não rendeu o que deveria render na pista em alguns momentos, de modo que a derrota para Mika Hakkinen no fim do ano apenas selou o fim de sua passagem pela escuderia de Maranello, que já havia decidido trocá-lo por Rubens Barrichello no ano seguinte. De resto, alguns tópicos rápidos sobre outros acontecimentos do mundo da velocidade naquela semana. Uma boa leitura para todos, e em breve volto com mais textos antigos por aqui...
BOCA RASGADA
Esta foi, sem dúvida alguma, a semana mais agitada no ambiente da Fórmula 1 este ano, e as coisas tendem a pegar fogo no belo circuito de Zeltweg, onde a categoria máxima do automobilismo disputa a partir de hoje os treinos livres para o Grande Prêmio da Áustria, que será realizado no domingo. E o motivo de tanta agitação é um só homem: Eddie Irvinne.
Alçado à condição de piloto principal da Ferrari depois do acidente que tirou Michael Schumacher da disputa pelo título, o piloto irlandês saiu atirando para todos os lados. Frases como “não vou aceitar ser segundo de Schumacher quando ele voltar”, “agora é hora da Ferrari dar todo o apoio que eu mereço”, “Schumacher vai ter de pilotar para mim quando voltar no fim do ano”, entre tantas outras, foram parte do repertório de falas de Irvinne durante a semana.
Como seria de se esperar, o piloto irlandês conseguiu mexer com muita gente, de aliados a inimigos, e o saldo de tanta falação pode acabar complicando a situação de Irvinne na F-1. Ron Dennis, da McLaren, ficou irritado com as declarações de Eddie, e já respondeu que Irvinne está falando muito e pilotando menos. Mas o pior mesmo foi Jean Todt também ter ficado irritado com as declarações de seu piloto. A irritação com tanta falação de Irvinne foi grande, e há quem diga que, depois desta, o irlandês pode estar com os dias contados em Maranello. Se fosse nos tempos de Enzo Ferrari, Eddie já teria sido despedido no início do ano, quando começou a falar demais. Jean Todt e Luca De Montezemolo não são como o velho Comendador, mas não seria prudente abusar da sorte.
O ambiente na Ferrari anda pesado no paddock de Zeltweg. As declarações de Irvinne azedaram o pouco de bom ambiente que havia na escuderia, depois que Michael Schumacher ficou fora de combate. Se Eddie não vencer a corrida domingo, no mínimo, depois de tudo o que andou dizendo desde Silverstone, sua situação na escuderia italiana estará por um fio. Como mencionei na semana passada, Irvinne agora tem a chance de sua vida: o Mundial está equilibrado e agora o irlandês terá enfim toda a atenção do time voltada para si. Deveria ser o suficiente para Eddie ter um pouco de humildade e dizer algo mais prudente e motivador, numa forma de declarar sua fidelidade à escuderia. Ao invés disso, tomou uma atitude de arrogância e prepotência. Nem mesmo Schumacher tomou atitudes tão antipáticas em tão pouco tempo, a ponto de irritar tanta gente em tão poucos dias.
Até Mika Salo chegou a falar um pouco alto, mas nada demasiado ofensivo, só um pouco entusiasmado demais, o que não foi o caso de Irvinne. Salo apenas disse que finalmente teria carro para tentar bater seu velho rival Mika Hakkinem. Mas, passada a euforia inicial, o próprio Salo já admitiu que a coisa não vai ser assim tão fácil.
Enquanto se ouvia um verdadeiro tiroteio verbal do irlandês, a F-1 continuou ouvindo inúmeras fofocas a respeito de Michael Schumacher. Há rumores de que a Ferrari tenta apressar sua volta para o GP da Bélgica, e não Monza; outros dizem que o alemão só volta na Malásia. A fofoca mais ousada, contudo, diz que o bicampeão pode até pendurar o capacete. O boato, ventilado nos bastidores de Zeltweg, baseia-se numa declaração de Schumacher há algum tempo atrás, onde afirmou que, se sofresse um acidente forte, poderia parar de pilotar, uma vez que agora é pai de dois filhos, e tem uma família para cuidar, além de profissionalmente já ser uma pessoa realizada.
Realmente, é muita conversa circulando pelo ar. A pergunta a ser respondida neste fim de semana é se a Ferrari pode enfrentar a McLaren sem Michael Schumacher. A resposta será dada no domingo no circuito austríaco, e pelo bem da disputa na F-1, é bom mesmo que Irvinne fale menos e pilote mais, do contrário, mesmo que ande bem, será mais do que certo que seus dias no time italiano estarão chegando ao fim...
A F-CART disputa neste fim de semana a maior corrida de seu calendário: a US500, no belo circuito de Michigan International Speedway, o oval mais rápido do mundo. Vai ser o batismo de fogo para o líder do campeonato, o colombiano Juan Pablo Montoya, que nunca correu antes em um oval gigante. É com a inexperiência de Montoya em um superspeedway que a concorrência tem esperanças de alcançar o piloto da Ganassi na classificação do campeonato.
Roberto Moreno faz em Michigan sua última corrida pela equipe PacWest. Mark Blundell tem sua volta confirmada para o GP de Detroit, no próximo dia 14 de agosto. O excelente trabalho de Moreno no time já está contando pontos para sua possível contratação pela própria PacWest para disputar toda a temporada do ano que vem, especialmente se Mark Blundell, cujo contrato termina no fim do ano, não conseguir mostrar nada de produtivo nas corridas restantes do campeonato. Roberto marcou mais pontos do que os dois pilotos titulares da escuderia nas poucas provas que disputou. Enquanto isso, Gil de Ferran, cujo contrato com a Walker termina no fim deste ano, está sendo cortejado por diversos times, e as equipes não são fracas: a Rahal, a Green, e a Ganassi, estão de olho no piloto brasileiro. Isso fora a própria Walker, que não quer perder um excelente profissional como Gil. O problema é que a Valvoline já anunciou que não vai mais patrocinar o time no próximo ano, e isso deve se refletir na capacidade técnica da equipe. As demais escuderias querem o brasileiro para reforçar seu poderio. Bryan Herta não vem rendendo nada nas corridas este ano, e Maxxmiliano Papis também não tem andado lá essas coisas. A Green quer um piloto que seja competente e não bata tanto o carro como Paul Tracy. E Jimmy Vasser parece que não é mais o mesmo: depois de andar comendo poeira de Alessandro Zanardi, agora o americano está apanhando de lavada de Montoya. E Chip Ganassi quer ter dois pilotos fortes para a próxima temporada, e como o contrato de Vasser acaba no fim do ano, devemos ter alguém novo na escuderia tricampeã da F-CART em 2000...
Rubens Barrichello tem andado quieto nos últimos dias. Nada de falar sobre negociações para a próxima temporada. Mas tudo indica que as opções deverão ser a Ferrari, ou permanecer na Stewart. A McLaren, uma possível opção, deve confirmar a renovação de sua atual dupla de pilotos para o ano que vem. Mas tudo pode mudar, dependendo do que acontecer no domingo...
O circuito de Zeltweg, apesar de meio travado em alguns pontos, é de velocidade média alta, superando os 210 Km/h de média. O antigo traçado do circuito austríaco, com mais de 5 Km de extensão, era ainda mais veloz. Apesar de ter sido reduzido, o novo traçado ainda oferece alguns bons pontos para se tentar ultrapassagens, o que deve tornar a etapa austríaca bem interessante. Vamos esperar também que a previsão de possibilidade de chuva se concretize, para dar mais emoção à corrida...
Nenhum comentário:
Postar um comentário