quarta-feira, 10 de novembro de 2021

A TRAJETÓRIA DOS CIRCUITOS DA FÓRMULA 1 – ANDERSTORP

             Voltando a trazer textos sobre circuitos que fizeram parte da história da Fórmula 1, hoje falo um pouco do Grande Prêmio da Suécia, única prova da categoria máxima do automobilismo realizada até hoje nos países nórdicos da Europa, com algumas curiosidades de suas únicas seis edições realizadas até hoje. Uma boa leitura a todos...

 

ANDERSTORP

 

            Todos sabem que a Fórmula 1 nasceu na Europa, e é no Velho Continente que a categoria máxima do automobilismo, mais globalizada do que nunca, respira ainda seus ares de Grand Prix. O peso das corridas europeias no calendário já foi bem maior antigamente, quando poucas provas eram realizadas em outros continentes, devido a custos e dificuldades de transporte, mas mesmo na Europa, houve países que hoje em dia são praticamente esquecidos, ou ficaram de lado quando o assunto é a paixão pela F-1. E um destes países é a Suécia, que em tempos idos já teve o seu Grande Prêmio figurando no calendário da competição.

            A Suécia foi o único país nórdico a sediar um GP até hoje, feito que Noruega e Finlândia nunca igualaram, e olhe que no caso dos finlandeses, estes tiveram dois campeões mundiais, Mika Hakkinen, bicampeão mundial com a McLaren nos anos de 1998 e 1999; e Kimi Raikkonen, o último campeão com a Ferrari, em 2007. Mesmo no auge destes dois ases da velocidade, a Finlândia não aproveitou a oportunidade para novamente sediar um GP de F-1. E dificilmente o fará nos próximos anos, já que seu principal piloto na categoria, Valtteri Bottas, está deixando a Mercedes para a Alfa Romeo no próximo ano. De fato, parece que os escandinavos curtem mais as provas do Mundial de Rali do que a F-1.

            Mas a Suécia “quebrou” esse gelo por alguns anos, e isso aconteceu durante as temporadas de 1973 a 1978, quando o país teve seu próprio Grande Prêmio, com seis edições disputadas sempre no mesmo circuito, localizado em Anderstorp, cidade localizada na Província de Smaland.

            O circuito foi construído em 1968, chamando-se inicialmente Scandinavian Raceway, e tinha uma extensão de 4,025 Km, e oito curvas, sendo que a reta principal da pista também era usada como pista de provas e decolagem de aeronaves, tendo inicialmente 980 metros de extensão. As diversas curvas do circuito possuíam inclinações variadas, tornando mais difícil o acerto dos carros de competição. Curiosamente, a reta de partida/chegada fica em um ponto da pista quase totalmente oposto ao local onde está localizado o pit line, na metade praticamente da volta. Este setor da pista, aliás, recebeu mudanças no traçado de entrada e saída dos boxes durante os anos. Já o traçado do circuito sofreu poucas alterações ao longo de sua existência.

            Quando a F-1 estreou em Anderstorp em 1973, a pista tinha sua extensão original de 4,025 Km. E coube a Ronnie Peterson, a grande estrela do esporte a motor sueco na época, conquistar a primeira pole-position em casa, com o tempo de 1min23s810, com a lendária Lotus 72 Ford. Ronnie bem que tentou fechar a corrida com a vitória, mas após as 80 voltas da prova, ele acabou em 2º lugar, superado por Dennis Hulme, com McLaren Ford, que largara em 6º lugar, e ainda marcou a volta mais rápida da corrida, com 1min26s146. O pódio foi completado pelo francês François Cevert, com a Tyrrel Ford, que havia largado ao lado de Peterson na primeira fila, em 2º lugar.

    Entre 1974 e 1977, o traçado teve mudanças na curva Norra, que ganhou uma espécie de chicane que obrigava os carros a serem um pouco mais lentos naquele ponto. Essa mudança reduziu a extensão do traçado para 4,018 Km. Como consequência da mudança nessa curva, os tempos de volta aumentaram um pouco, com Patrick Depailler, da Tyrrel Ford, conquistando a pole-position em 1974 com o tempo de 1min24s758, quase 1s mais lento que o tempo de Peterson no ano anterior. Depailler também fez a volta mais rápida da prova, com 1min27s262. Mas, a exemplo do ano anterior, o pole-position mais uma vez não venceu a corrida, tendo terminado também em 2º lugar, sendo seu companheiro de equipe Jody Scheckter, que largara em 2º, faturar a vitória, em uma dobradinha do time de Ken Tyrrel. Curiosamente, o italiano Vittorio Brambilla acabou sendo o recordista do tempo da pole-position nesta segunda configuração do traçado, tendo marcado o tempo de 1min24s630 com March Ford na edição da prova em 1975. Em 1976 e 1977, por incrível que pareça, os tempos pioraram. Era outra época na F-1, e nem sempre os carros da temporada seguinte tinham um desempenho melhor que o do ano anterior, uma vez que os projetistas sempre experimentavam muitas coisas nos carros, para não mencionar que alguns times apenas efetuavam algumas melhorias em seus carros para o ano seguinte. Curiosamente, a volta mais rápida em corrida obtida por Depailler em 1974 foi o recorde para esta configuração do circuito.


 

            Em 1978, o circuito de Anderstorp passou por nova modificação, exatamente na mesma curva Norra, que perdeu a chicane, e foi transformada em uma curva de praticamente pouco mais de 90°, alterando a extensão da pista para 4,031 Km. Apesar da curva se tornar mais fechada, a exclusão da chicane tornou a pista mais rápida, com Mario Andretti, com Lotus Ford, marcar o tempo de 1min22s058 na pole-position da corrida daquele ano. A volta mais rápida em corrida foi de 1min24s836, obtida por Niki Lauda, com Brabham Alfa Romeo, sendo que o austríaco foi o vencedor da corrida. O pódio foi completado por Riccardo Patrese, com Arrows Ford, e por Ronnie Petterson, com Lotus Ford.

            Infelizmente, a temporada de 1978 seria a última a contar com o Grande Prêmio da Suécia. Com a perda de seus então dois principais expoentes no mundo do automobilismo, Ronnie Petterson, falecido poucos meses depois devido a um acidente na largada no Grande Prêmio de Monza; e de Gunnar Nilsson, pouco depois, após lutar contra um câncer, os suecos perderam o interesse pelo automobilismo, e com isso, ficaram seu o seu GP. Desde então, nunca mais a F-1 retornou ao país escandinavo, e pelo futuro próximo, continuará sem chances de sediar novamente uma prova da categoria máxima do automobilismo.

            Nas suas seis edições realizadas, Jody Scheckter foi o único piloto a vencer mais de uma vez, tendo faturado a vitória nas temporadas de 1974 e 1976, ao lado de Niki Lauda, que venceu a corrida nas edições de 1975 e 1978. Aliás, o triunfo de Scheckter em 1976 marcou a única vitória do famoso Tyrrel P34, de seis rodas, caso raro do único modelo que competiu de fato com esta configuração mecânica, e foi competitivo por um tempo, antes que a idéia tivesse que ser abandonada pelo fato de a Goodyear se recusar a continuar fabricando os pneus reduzidos que o bólido usava na dianteira. O triunfo de 1976, aliás, foi em dobradinha, com o companheiro de Jody na Tyrrel, Patrick Depailler, terminando a corrida em 2º lugar. E, outra curiosidade: a vitória obtida por Lauda em 1978 foi a primeira, e única, obtida pelo famoso Brabham “ventilador”, carro que acabou sendo proibido pela categoria, devido ao desempenho extraordinariamente superior demonstrado na pista, com a adoção de um ventilador na traseira, que ajudava a sugar o ar debaixo do bólido, aumentando sobremaneira o efeito-solo do carro, que não podia usar as minissaias laterais devido às dimensões do motor de 12 cilindros em linha da Alfa Romeo utilizado pela equipe naquela temporada. Oficialmente apresentado com o propósito de refrigerar o propulsor, o ventilador também ajudava a maximizar o downforce do monoposto, o que ajudou Lauda a vencer a corrida com extrema facilidade. A gritaria dos outros times acabou resultando na proibição do modelo BT46 de competir novamente, com o carro ostentando uma marca invejável na história da F-1: a do carro que competiu uma única vez, e venceu sua única corrida, num aproveitamento de 100%.

            Sem a F-1, Anderstorp recebeu diversas outras competições em seu autódromo, agora já também chamado de Anderstorp Raceway, entre elas Campeonato Europeu de Carros de Turismo, o Campeonato Mundial de Superbike, e Campeonato FIA GT, entre outros. No ano passado estava prevista a estréia de uma etapa do DTM na pista sueca, mas devido à pandemia da Covid-19, essa estréia acabou cancelada. O circuito recebe etapas do automobilismo sueco e nórdico até os dias atuais, e a pista também já serviu de ponto de encontro de autoclubes em diversas ocasiões. O passado glorioso da F-1 ficou no passado.

O circuito de Anderstorp atualmente.

Em 1976, a Tyrrel conseguiu uma dobradinha com Jody Scheckter e Patrick Depailler com o famoso Tyrrel de 6 rodas.


Niki Lauda venceu o derradeiro Grande Prêmio da Suécia na estréia e única corrida disputada pelo Brabham “ventilador” BT46.


 


 

 

 

 

 

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