sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

NO AQUECIMENTO...

A Fórmula 1 em nova casa deixa os fãs na expectativa, e a Bandeirantes acerta nos profissionais que escolheu para montar o seu time de transmissão do campeonato.

            O ano de 2021 tem bons motivos para ver o automobilismo ganhar muita força na TV nacional. Depois de alguns anos sendo tratado na base da obrigação contratual, as peças trocaram de mãos, e os projetos de transmissão tem tudo para revigorar o status esportivo das corridas nas programações.

            Lógico que o file mignon, a Fórmula 1, é o principal destaque. A mudança de emissora tem um quê de novidade, mas também de continuidade,e com boas chances de ganhar um fôlego renovado quase por completo, para alegria dos fãs. Se os recursos técnicos da Bandeirantes frente aos da Globo poderiam ser um revés para as transmissões da categoria máxima do automobilismo na emissora do Morumbi, por outro lado, a escolha do pessoal que vai cuidar do serviço é de competência mais do que reconhecida, e com anos e anos de experiência, capazes de conseguir fazer bem mais por até menos.

            Primeiro, a F-1 volta a contar com Reginaldo Leme nos comentários. Um dos mais experientes jornalistas de automobilismo do mundo, tendo iniciado seus trabalhos em 1972 cobrindo justamente a conquista do primeiro título de Émerson Fittipaldi, o conhecimento e intimidade de Reginaldo com a F-1 é inquestionável. E a seu lado, estará Sérgio Mauricio, que vinha se notabilizando por narrar os treinos livres e de classificação no SporTV nos últimos anos, mas já tendo narrado as corridas na Globo, e quando o SporTV fazia uma transmissão própria dos GPs há alguns anos atrás. Carismático, boa praça, e com uma narração mais objetiva e centrada, ele era o melhor nome que a Bandeirantes poderia conseguir para a função. Para a segunda posição de comentarista, veio a notícia de que Max Wilson foi o escolhido, mas ainda há espaço para mais gente pintar na área, uma vez que, com a transmissão também da F-2 e da F-3, além de já ter a Stock Car Brasil, e com alguma sorte, manter a Indycar, a emissora paulista terá um senhor portfólio da campeonatos em sua grade de programação neste ano de 2021, contando tanto o canal aberto quando o Bandsports.

Contratado inicialmente para comentar a Stock Car, Reginaldo Leme se viu de volta à F-1, depois de um ano de ausência, e sendo o principal nome de peso do time de transmissão do novo projeto da emissora.

            Nos bastidores, também era preciso colocar gente capacitada. Aqueles que podem até aparecer pouco, mas cujo trabalho é mais do que fundamental para garantir a qualidade operacional da transmissão, e que estarão presentes in loco nos autódromos, função que foi revezada na TV Globo na última década, mas tendo como um dos nomes mais destacados o de Mariana Becker, que agora também está no projeto de transmissão da Bandeirantes, continuando a exercer o papel que já desempenha a mais de uma década, quando se tornou correspondente da Globo na Europa, passando a ficar situada em Monte Carlo. Em um meio onde é preciso construir canais de confiança para se ter acesso às notícias mais qualificadas do paddock, em um ambiente bem hermético, o nome de Mariana não agrega apenas experiência, mas toda uma década de contatos e aproximação da profissional com nomes de pilotos, e principalmente de pessoas da estrutura das equipes, que não se abrem com qualquer jornalista presente no paddock. A presença que Mariana construiu no paddock ao longo da última década acompanhando a F-1 é um bem inestimável para conseguir trazer notícias de ótimas procedências, pela credibilidade que ela construiu nesse meio. Qualquer novo nome precisaria começar do zero sua rede de contatos e batalhar para conseguir uma maior aproximação com os nomes do “circo”, o que poderia demorar a render frutos necessários para aumentar o destaque das transmissões e reportagens da categoria.

            E quilometragem no paddock é algo que não falta a Jayme Brito, que está desde o início dos anos 1980 envolvido nas transmissões da F-1 na Globo, tendo começado como assistente de Galvão Bueno. Pouco aparecendo nas transmissões, e sendo vez por outra apenas mencionado pela equipe de narração e comentários na Globo, Brito tem um grande tráfego no paddock da categoria, sendo sempre um nome de peso na retaguarda da Globo. Sua experiência nos bastidores como produtor, e seus canais de acesso e relacionamento com o pessoal da área do paddock, seja no aspecto técnico e até além dele, fazem de Jayme um nome que só perde em convivência para Reginaldo Leme na turma que estará presente na transmissão da Bandeirantes. Jayme será o produtor executivo da equipe de cobertura dos GPs, de modo que a Bandeirantes dá outro show de acerto em mais uma escolha profissional para seu time de profissionais. E a sintonia dele com Mariana Becker é mais do que profissional, já que ambos são marido e mulher, estando casados há anos e conhecendo-se muito bem. Ao lado deles, teremos Gianfranco Marchese, que executará a função de cinegrafista, trabalhando com eles há praticamente uma década, assumindo de vez o posto na equipe de reportagem da F-1 depois da aposentadoria de Luiz Demetrio Furkim, há alguns anos.

            Em finalmente, Juliane Cerasoli, que já vinha cobrindo a F-1 in loco para as transmissões da rádio Bandeirantes nos últimos anos, e que agora assume a função de produtora do time de reportagem. Não há como negar que, diante de vários nomes disponíveis no mercado, a Bandeirantes conseguiu uma excelente equipe de profissionais, entre quem já estava na casa, e quem acabou de chegar para integrar o projeto. E a intimidade que muitos deles já possuem com o telespectador pode ser tanto útil quando um problema.

            Primeiro, porque já são nomes conhecidos de muitos fãs que acompanham as transmissões há anos pela Globo. Eles sabem que são profissionais gabaritados, e que podem trazer, se não o melhor material, com certeza um material de qualidade. Com um certo exagero, muitos até poderiam dizer ainda estar acompanhando as transmissões da Globo, pela presença de Sérgio Mauricio, Reginaldo Leme, e Mariana Becker aparecendo no vídeo. Mas, por outro lado, também pode atrair a ira dos inconformados, críticos e detratores que reclamavam das transmissões feitas pela emissora global. Quantas vezes não ouvi frases desabonadoras em fóruns e comentários de que Reginaldo só falava besteiras ultimamente, e estava até gagá, servindo muitas vezes apenas de “escada” para Galvão Bueno, outro que era um dos mais criticados pelo seu ufanismo, e porque não dizer, obsessão em mencionar Ayrton Senna GP sim GP não?

Mariana Becker (acima) nas reportagens, e Sérgio Maurício (abaixo) na narração: dois nomes conhecidos dos fãs nas transmissões da Globo ajudam o projeto a começar com o pé direito em se tratando de conhecimento e experiência.


            Só que muitos se esquecem do clima e política editorial na transmissão esportiva que impera na TV Globo, que apesar de seus vastos recursos técnicos, tem lá suas idiossincrasias, e que não são poucas. Para não mencionar uma certa dose de estrelismo de Galvão, que muitas vezes não deixava seus colegas falarem direito, tendo sempre a primazia da fala na tela. Se a Bandeirantes quiser se livrar da imagem de “continuísmo” puro e simples das transmissões globais, o que significa mais continuar cometendo os mesmos gestos e estilo de transmissão ufanistas perpetrados pela emissora do Jardim Botânico, o remédio será fazer uma transmissão imparcial, centrada, e acima de tudo, coerente e sóbria. Sem exageros, indo direto ao ponto, e também, não cometendo as gafes da Globo. Um exemplo que já está confirmado é a volta da cerimônia do pódio, “podada” na Globo nas últimas temporadas, e jogada para escanteio no site do Globoesporte.com, obrigando o fã a correr para o computador para continuar a ver a transmissão pela internet. É preciso repetir quantas vezes para convencer alguém que isso era um grande desrespeito para com o fã que assiste às corridas?

            Difícil responder no caso da Globo, que tem a sua posição, e dane-se o resto. E quem sabe passamos a ver a Red Bull sendo chamada de “Red Bull” mesmo, e não de “RBR”, por causa da política tacanha da emissora de não querer fazer “propaganda de graça”. Nas vezes em que vi Sérgio Mauricio e Reginaldo Leme juntos na transmissão de um treino e corrida, havia um equilíbrio de protagonismo entre ambos, onde um não procurava submergir o colega, com ambos tendo peso bem similar no vídeo e na transmissão. E Mariana Becker, quantas vezes pedia para entrar, e Galvão Bueno a deixava esperar um pouco, para terminar de dizer algo?

            Por mais que sejam os mesmos profissionais que fizeram a transmissão na Globo por muitos e muitos anos, poderemos ver uma transmissão completamente diferente na Bandeirantes. A emissora, aliás, já afirmou que pode fazer uma verdadeira maratona de automobilismo no fim de semana de estréia do campeonato da F-1, no GP do Bahrein, dia 28 de março, com uma transmissão que pode chegar a seis horas ininterruptas ao vivo. O que acontece é que no mesmo dia haverá também a estréia da temporada 2021 da Stock Car, e a Bandeirantes também transmitirá a categoria Porsche Cup na TV aberta. A emissora tem planos de engatar uma transmissão atrás da outra no dia, aproveitando o momento automobilístico, e só para a estréia da F-1, pode fazer uma transmissão pré-corrida de até uma hora e meia. E material para isso não vai faltar: pode ter a apresentação das equipes, seus pilotos, as mudanças de regulamento (atuais e futuras), últimas notícias, etc. Algo que a Globo chegava fazer em seus bons tempos, mas que foi largando para trás nos últimos anos, deixando sua transmissão mais “engessada”, quando não tinha algumas idéias meio estapafúrdicas para apresentar num pré-corrida de estréia de campeonato.

Time de reportagem nos autódromos montado: Jayme Brito (de azul), produtor executivo; Gianfranco Marchese (ao lado), cinegrafista; Juliane Cerasoli (de camisa amarela), produtora; e Mariana Becker (ao centro), repórter.

            A situação só não é melhor porque não temos um piloto brasileiro no grid. Mas isso pode ser, como já foi dito, uma vantagem, pois não é preciso focar neste ponto. Nada contra dedicar atenção a um piloto nacional competindo na categoria máxima do automobilismo, mas muitas vezes a Globo dava uma ênfase onde só eles importavam, e nem procurava amadurecer a idéia de que eles não tinham condições de bons resultados com carros pouco competitivos, dando a entender, em vários momentos, que eles poderiam sim correr muito melhor do que fizeram. Isso ajudou a “queimar” a imagem de muitos de nossos pilotos que chegaram à F-1 e não obtiveram os resultados que a grande parcela dos telespectadores esperava. Para a maioria destes “fãs”, estes pilotos eram uma “vergonha” para o país que já teve Émerson Fittipaldi, Nélson Piquet e Ayrton Senna. Rubens Barrichello e Felipe Massa, então, chegaram a ser chamados de maiores “vergonhas do esporte a motor nacional”, entre outros adjetivos menos educados, por não terem sido campeões na categoria, tendo “desonrado” o legado de nosso trio de gênios da velocidade. O que esperar de uma torcida com este tipo de pensamento...?

            Por isso mesmo, a ausência de brasileiros no grid dá ao time da Bandeirantes a oportunidade de tentar fidelizar o torcedor pela F-1 em si, e não porque um compatriota está lá, “defendendo nossa bandeira” no grid. Há muitos assuntos que podem ser abordados, de forma didática e objetiva, que são interessantes, e podem ser mostrados. Podemos ver muita coisa nova nas primeiras corridas, enquanto a Bandeirantes e seu time de profissionais estiverem tentando achar o ponto ideal de equilíbrio para dar um “rosto” as transmissões na nova casa brasileira. Afinal, é preciso também dar audiência, e nos primeiros momentos, será preciso tentar acostumar o telespectador comum com um novo estilo de transmissão que consiga prender sua atenção, sem que ele fique entediado com o que está assistindo. Pode levar algum tempo até que se acerte o tom, equilibrando qualidade e atratividade da transmissão. E os fãs e os telespectadores precisarão ter um pouco de paciência com isso.

            Esperemos que a Bandeirantes também tenha o bom senso de deixar o time de transmissão achar o tom certo para conquistar o público, porque se a emissora quiser audiência logo de cara, antes de amadurecer a transmissão, pode dar um tiro no próprio pé, e prejudicar o trabalho que a equipe estará desenvolvendo. Ninguém por lá é um novato na área, e eles sabem como fazer as coisas, bastando não cometer erros da Globo. Caso contrário, podemos ver o pior dos mundos, com a nova casa da F-1 podendo dar saudades dos tempos da emissora carioca, não fosse o modo como ela tratou a categoria máxima do automobilismo nos últimos tempos.

            Pode parecer meio óbvio, mas torçamos para que deem tempo ao tempo, e conquistem a audiência sem sofrerem ingerências por parte da executiva da emissora, e que comprometam o projeto de transmissão... De ingerências, impaciências, e acima de tudo, incompetências, já  temos nossos políticos, que a cada dia dão mais e mais motivos de desgosto neste país...

 

 

Hora de acelerar com a F-E na Arábia Saudita. E em novos canais no Brasil.

E hoje teremos a etapa inaugural da temporada 2021 da Formula-E, com o ePrix de Diriyah, na Arábia Saudita, que abre o campeonato com uma rodada dupla. Será a estréia da TV Cultura nas transmissões esportivas de corridas. No horário das 10 horas, a emissora exibe o treino de classificação da prova, que terá largada às 14 horas, pelo horário do Brasil, ambos com transmissão ao vivo no canal aberto da TV Cultura. E amanhã, teremos transmissões nos mesmos horários, com a classificação às 10 horas, e corrida às 14 horas. A transmissão da emissora paulista contará com a narração de Marco de Vargas, e os comentários serão de Fábio Seixas.

 

 

E, de última hora, fomos surpreendidos com o anúncio de que o SporTV adquiriu os direitos de transmissão da Formula-E para TV fechada no Brasil, depois que o certame deixou de ser transmitido pelo Fox Sports. No canal pago do Grupo Globo, haverá a transmissão ao vivo tanto dos treinos de classificação quanto das corridas, nos mesmos horários anunciados pela TV Cultura. A exibição será feita no canal SporTV2, com narração de Bruno Fonseca e comentários de Rafael Lopes. Seria certo exagero afirmar que a Globo estaria sentindo o baque de ter deixado escapar a F-1 e a MotoGP nos últimos dois anos, e ver a concorrência assustar promovendo melhor a transmissão de corridas? Será interessante ver como o SporTv irá abordar a categoria de carros de competição 100% elétricos, que sempre foram sumariamente ignorados no canal, por serem transmitidos pela concorrente Fox Sports. Vale lembrar que o SporTV continuará a exibir a Stock Car Brasil na TV por assinatura, enquanto a Bandeirantes exibirá o certame em TV aberta pelos próximos anos...

 

 

Lucas Di Grassi, da Audi, ficou em 3º lugar no primeiro treino livre da F-E em Diriyah, com Sérgio Sette Câmara, da Dragon/Penske apenas em 18º. Nick de Vries, da Mercedes, foi o mais rápido, com André Lotterer, da Porsche, terminando em 2º lugar. Todos terão mais um treino livre hoje, no horário das 8 horas, antes do treino de classificação às 10. A rodada dupla em Diriyah será disputada à noite no horário da Arábia Saudita, uma novidade na competição da F-E.

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