sábado, 20 de fevereiro de 2021

ASSENTANDO A POEIRA...

McLaren (acima) e Alpha Tauri (abaixo) foram os primeiros times a apresentarem seus carros para a temporada de 2021, que começa daqui a pouco mais de um mês.


            Esta foi uma semana complicada do ponto de vista pessoal, e devido a isso, não deu para acompanhar direito as notícias do mundo da velocidade, mas nem por isso deveria deixar de comentar o que anda acontecendo, por isso o texto de hoje é um pouco mais dispersivo, já que vou falar um pouco das principais novidades, em especial da Fórmula 1, uma vez que estamos a pouco mais de um mês do início, espera-se, do campeonato mundial de 2021, apesar de todos os percalços que estamos sofrendo perante a pandemia da Covid-19, que mesmo com as vacinações avançando mundo afora, promete nos dar muita dor de cabeça, já que não há como imunizar tanta gente com a velocidade necessária para causar impacto mais contundente nos números da doença a curto prazo. Portanto, por mais certezas que alguns tenham, sempre precisamos levar algumas notícias na condicional, diante das incertezas do momento delicado que vivemos.

            Mas é claro que, mesmo assim, tem gente confiando em seus tacos, mesmo que a situação inspire cuidados. Uma dessas situações é a respeito das corridas no Principado de Mônaco, que este ano terá de volta tanto a F-1 quanto a F-E. E os monegascos já estão prontos para montar o tradicional circuito nas estreitas ruas de Monte Carlo, para garantir que ambas as provas irão acontecer. Com praticamente dois meses de antecedência, começar a colocar toda a estrutura desde já deve permitir que todo o circuito fique pronto mais cedo, e com menos aglomeração. De qualquer forma, podemos dizer que as provas terão público de fato. Se não nas arquibancadas, o pessoal estará nas janelas de seus apartamentos, tentando curtir a corrida do jeito que for. Resta saber como evitar aglomeração dentro destes apartamentos, a fim de não dar mole para a pandemia. O duro é saber se não pintará um lockdown por lá, o que poderia complicar a realização das provas.

            Aliás, já se comenta abertamente que as 23 provas anunciadas para a temporada da F-1 deste ano dificilmente serão realizadas. Todos já admitem que será necessário flexibilizar o calendário, e a dúvida é se quando: quantas corridas acabarão canceladas, ou apenas adiadas. A opção pelo cancelamento é mais forte, já que o grande número de corridas programadas tende a dificultar um remanejamento de provas mais adiante. Neste momento, a situação está complicada na Europa, onde vários países retomaram fechamento quase total de suas fronteiras, e determinando lockdowns ainda mais severos que os anteriores, diante da possibilidade de disseminação de novas cepas da Covid-19 que tem se mostrado muito mais contagiosas que as anteriores, contrabalançando os efeitos benéficos que a vacinação, mesmo incipiente ainda, poderia oferecer na contenção da pandemia. A locomoção de pilotos e de funcionários das equipes tem sido difícil, e a interação dos times com fornecedores também sofreu impacto com os reforços do isolamento. A Haas, por exemplo, teve dificuldades para receber suas unidades de potência e implantá-las nos carros, já que elas são da Ferrari, fabricadas na Itália, enquanto a sede europeia do time de Gene Haas fica na Inglaterra, berço da grande maioria dos times da categoria máxima do automobilismo.

            Mas, mesmo com dificuldades, as atividades de preparação seguem adiante, e nesta semana, tivemos a apresentação oficial dos carros de duas escuderias para a temporada atual. A McLaren saiu na frente, ao mostrar o seu novo MCL35M – “M” de Mercedes, no caso da última letra, com o time retomando a parceria que já teve com a marca alemã entre 1995 e 2014. Visualmente, o carro parece não trazer novidades relevantes, exceto as óbvias para o único time que mudou de fornecedor de motor de 2020 para 2021. Passando a utilizar o melhor propulsor do grid, o desafio da esquadra de Woking este ano passa a ser manter-se no TOP3 da F-1. Alcançar Mercedes e Red Bull ainda é considerado um vôo muito ambicioso, e é preciso compreender que o carro precisou passar por adaptações naturais que envolvem uma mudança de unidade de potência. E com os times precisando usar basicamente os mesmos carros do ano passado, com desenvolvimento limitado, por conta das restrições de gastos, a McLaren precisou utilizar as suas fichas disponíveis de desenvolvimento para harmonizar, tanto quanto possível, a unidade alemã em um carro que foi projetado inicialmente para utilizar a unidade de potência da Renault, com requisitos e dimensões diferentes dos da Mercedes.

            Mais do que melhorar a performance, que deverá cair com as restrições dos assoalhos menores exigidos neste ano, o principal objetivo da McLaren é garantir que o novo propulsor não comprometa o equilíbrio do projeto, e acabe se tornando um revés, ao contrário de uma vantagem. Como as unidades de potência hoje em dia são extremamente complexas, um mau ajuste da unidade ao chassi pode comprometer seus pontos positivos de 2021, sem oferecer bônus suficientes para justificar plenamente a troca. E temos tudo para mais uma vez termos um bom duelo no pelotão intermediário este ano. A Ferrari deve recuperar-se do mau ano que teve em 2020. A Alpine/Renault que continuar crescendo, e a nova Aston Martin, ex-Racing Point, promete maior sintonia para aproveitar seu potencial, desperdiçado por alguns problemas e reveses no ano passado. A McLaren terminou 2020 em terceiro lugar, mas só conquistou esse resultado na prova final da temporada, depois de um duelo renhido com a Racing Point, e em certos momentos, até com ameaça da Renault.

            E quem também quer engrossar essa disputa é a Alpha Tauri, que também exibiu hoje o seu novo AT02, com o qual pretende não apenas repetir a boa temporada do ano passado, como dar mais trabalho aos rivais. A seu favor, o esforço redobrado da Honda em tentar sair da F-1 de cabeça erguida, com os nipônicos prometendo um esforço hercúleo no desenvolvimento de sua unidade de potência para tentar reverter de vez o estigma ruim deste retorno à F-1 a partir de 2015, que mesmo com o sucesso da Red Bull nos últimos dois anos, ainda não se mostrou vitorioso como foi em tempos passados. Há motivos para otimismo, mas sempre é preciso lembrar que não foram apenas os japoneses que trabalharam incansavelmente para se aprimorar. Mercedes, Renault, e principalmente Ferrari, não ficaram paradas, e devem mostrar suas forças logo, logo.

            E alguém acredita quando a Mercedes afirma que teve problemas com seu novo propulsor? Blefe, ou um problema real? A McLaren afirmou não ter visto nenhum problema no motor até agora, o que poderia indicar um despiste por parte da marca alemã. Mas, voltando a usar os propulsores da Mercedes após vários anos, uma possível falta de intimidade com o motor não poderia comprometer tal afirmação de haver ou não um problema? Mas, temos de considerar que a McLaren, tendo os parâmetros de desempenho da Renault do ano passado, pode ter comparado os dados com a nova unidade de potência de 2021, e se não viu nada que parecesse comprometedor, ficamos na expectativa de quem está escondendo ou não o jogo. A única certeza que temos é que, com apenas 3 dias de testes de pré-temporada, ninguém vai ter tempo de ficar dissimulando performance na pista: será preciso acelerar fundo para se encontrar rapidamente o desempenho real dos bólidos, e saber o que podem e o que não podem esperar.

            Enquanto isso, a Bandeirantes, nova casa da Fórmula 1 no Brasil, vai assentando a poeira na montagem de seu time, que está cada vez mais com ares globais. Depois de especulado após a emissora paulista confirmar que irá transmitir as provas, a posição de narrador acabou sendo a mais esperada: Sérgio Maurício, que vinha apresentando os treinos livres e de classificação no SporTV, e vez por outra, até mesmo narrando um ou outro GP, é quem irá assumir a função na nova casa da categoria máxima do automobilismo no Brasil, que já tem garantido Reginaldo Leme nos comentários e Mariana Becker como repórter “in loco” nas corridas. Ainda se procura um segundo comentarista para a F-1, a exemplo do que a Globo fazia nos últimos anos, e um nome prestigiado por Reginaldo Leme é o de Rubens Barrichello, que já fez este serviço na Globo por algum tempo, e poderia retomar a função. Mas, diante dos compromissos de Rubinho com a Stock Car, e se não estiver competindo em algum outro lugar, nomes como o de Felipe Giaffone e até mesmo Luciano Burti também ganham chance, podendo sugerir até um revezamento, algo que não é confirmado no momento.

A Bandeirantes contratou Sérgio Maurício (acima) para ser o narrador nas provas da Fórmula 1 que o canal irá transmitir a partir deste ano. Por outro lado, a emissora paulista ainda não renovou contrato para exibir o campeonato da Indycar (abaixo), causando certa apreensão nos fãs da categoria.


            Se a cada dia a Bandeirantes mostra que está se empenhando em trazer para o público gente competente na tarefa de transmitir a F-1 com uma cara e um ânimo completamente diferente, apesar dos nomes conhecidos, os fãs do esporte a motor já ficaram um pouco ressabiados com a notícia de que até o presente momento a emissora paulista não renovou contrato para transmitir o campeonato da Indycar. Para os fãs do certame de monopostos dos Estados Unidos, depois de ter feito um trabalho bem satisfatório no ano passado, ficar se as corridas da competição seria um golpe negativo depois das notícias animadoras da emissora transmitir a F-1, e também a F-2 e a F-3, além de ter também a Stock Car. E fica mais relevante ainda se lembrarmos que o DAZN, serviço de streaming esportivo que transmitiu a Indycar nos últimos dois anos, não renovou o contrato, de modo que, se a Bandeirantes não exibir a competição, muito possivelmente ninguém o fará.

            Mas ainda há esperança, afinal, no ano passado, a emissora também havia declarado que não renovara o contrato de transmissão, mas às vésperas de iniciar a temporada, surpreendeu a todos com um acordo de última hora para continuar mostrando a competição. É o que esperam que aconteça novamente agora. Mas, fica a incerteza: quem precisa de Indy quando tem a Stock Car, a F-1, e ainda vem com a F-2 e a F-3? A bem da verdade, tem lugar para todo mundo, e são poucos os dias onde as categorias teriam problemas conflitantes de horários, que poderiam ser resolvidos com algum planejamento e jogo de cintura. Manter a transmissão da Indycar seria mais um ponto positivo, e um produto a mais na grade, reafirmando os esforços da emissora em voltar a ser efetivamente o “canal do esporte”. E a Indy ainda teria o atrativo de contar, mesmo que apenas em algumas provas, da presença de Tony Kanaan e Hélio Castro Neves, que mesmo não disputando o título da competição, poderiam brigar por alguma vitória nas etapas em que estarão no grid, algo que não veremos na F-1, já que nem brasileiro teremos no grid.

            Aliás, Pietro Fittipaldi anunciou que segue como piloto de testes e reserva da Haas por mais uma temporada. O trabalho do brasileiro, quando teve de assumir o carro de Romain Grosjean nas duas provas finais de 2020, foi bastante elogiado pelo time, apesar das limitações de performance do carro, e da falta de ritmo de corrida de Pietro, que não guiava um monoposto havia meses. Com uma dupla completamente virgem na F-1, o russo Nikita Mazepin, e o alemão Mick Schumacher, o feedback do brasileiro pode ser mais essencial ao time do que nunca, mesmo ficando restrito ao simulador. Porém, a escuderia deve repetir o que fez no ano passado, manter Pietro nos GPs, a fim de tê-lo disponível caso um dos titulares tenha algum problema, já que se precisasse de um substituto, as restrições de viagem tornam tal operação praticamente inviável. Por outro lado, isso deve manter o neto de Émerson Fittipaldi “preso” à F-1, já que não poderá tentar explorar outras categorias a fim de se manter em atividade como piloto. Pietro cogitou explorar chances na Indycar, mas o novo acordo com a Haas deve impedir esta opção de atividade, pela necessidade de estar presente com a escuderia nos GPs.

            Aliás, só lembrando que, devido às punições sofridas pela Rússia devido a casos de doping de atletas com conivência e incentivo do governo de Moscou nas Olimpíadas de Inverno de 2014, Nikita Mazepin não poderá competir sob a bandeira de seu país. Ele terá de usar uma bandeira “neutra”, como atletas neutros da Rússia. A punição também terá impacto nos Jogos Olimpicos, onde a Rússia não poderá competir oficialmente, mas seus atletas poderão participar sob bandeira “neutra”, sem usar brasão ou identificação russa. Isso também vale para outros esportistas russos que participam de outras categorias de competição do mundo do esporte a motor, e a punição só deve expirar no ano que vem.

            E Fernando Alonso? As expectativas da volta do bicampeão à F-1, após uma ausência de dois anos da categoria, era grande, pelo que o espanhol poderia render em uma Alpine/Renault em evolução pelo que vimos ano passado. E não é que o piloto acaba atropelado enquanto andava de bicicleta na Suíça? Felizmente, não houve ferimentos mais graves, além de uma fratura no maxilar, que sofreu a devida intervenção cirúrgica para recuperação da lesão, que certamente demandará algum tempo, e poderá comprometer parte da performance de Alonso no início. Fernando já teve alta do hospital, e se recupera em casa, podendo fazer exercícios com recomendação médica a fim de continuar sua preparação. Curiosamente, muitas equipes incluem nos contratos de seus pilotos cláusulas impedindo que eles participem de atividades de risco, como forma de se precaverem contra incidentes que possam ocorrer, o que os faria ficar sem os serviços de seus contratados. Mas isso geralmente envolvia esportes radicais, ou competição em alguma outra categoria com maior tendência de acidentes, como por exemplo, provas de rali, onde Robert Kubica sofreu um bem forte, no início da década passada, que praticamente acabou com sua até então promissora carreira na F-1. Mas, será que vão impedir também que os pilotos possam andar de bicicleta, depois do que aconteceu com Alonso? Seria difícil, até porque andar de bicicleta é uma maneira de manter o corpo se exercitando, algo que é crucial para um esportista de alto rendimento, como no caso dos pilotos da F-1. Mas, vai que a moda pega...

            E fiquemos preparados para o início das competições automobilísticas de outras categorias, lembrando que a Formula-E 2021 dá sua largada no próximo final de semana, com uma rodada dupla em Diriyah, na Arábia Saudita. A TV Cultura já anunciou que transmitirá o campeonato nesta temporada, em substituição ao FoxSports, que exibia as provas desde a estréia da competição, em 2014. Aguardemos por mais detalhes...

            Hora de começar a acelerar, e pisando fundo... Aguardem!

 

 

O alemão Sebastian Vettel resolveu vender alguns carros de sua coleção particular. Entre os modelos oferecidos, estão cinco Ferraris. Um porta-voz da equipe Aston Martin tratou de desmentir qualquer condição imposta pelo novo time que Sebastian defenderá este ano, a respeito da venda dos modelos de Maranello, e não deve ter mesmo nada. Mas, depois de ter sido desconsiderado em Maranello, pela forma como foi dispensado ano passado, antes mesmo da temporada começar, como não imaginar que o piloto queira se livrar de algumas lembranças ruins passadas? Impossível a idéia não ficar passando pela cabeça, por mais inverídica que seja...

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