Trazendo mais um de meus antigos textos, o de hoje é uma coluna que foi publicada em 30 de abril de 1999, e estávamos para iniciar os treinos oficiais para o Grande Prêmio de San Marino, na pista de Ímola, onde, cinco anos antes, naquele final de semana, tivemos o GP mais negro da história da F-1, com as mortes de Roland Ratzemberger e Ayrton Senna, além dos acidentes de alguns outros pilotos, como Rubens Barrichello, nos treinos livres. O texto fazia um pequeno balanço do trauma que todos ainda sentiam em relação ao ocorrido em 1994, retornando ao palco da corrida. Hoje, passados mais de vinte e cinco anos daquele fim de semana catastrófico, poderia dizer que algumas destas feridas ainda estão presentes, especialmente para muitos brasileiros, talvez até com certo exagero, pois Senna, se estivesse vivo, já teria deixado de pilotar há muito tempo, passando o bastão para uma nova geração de pilotos.
Para a Ferrari, ao menos teve motivos para comemorar a vitória de Michael Schumacher, encerrando um jejum que já durava desde 1983 em se tratando de vitórias da Ferrari no circuito. E os brasileiros também tiveram seu momento de felicidade, com Rubens Barrichello a conquistar o 3º lugar, subindo ao pódio, depois dos azares que teve nas etapas iniciais do campeonato. De quebra, alguns comentários rápidos sobre outros acontecimentos no mundo da velocidade, entre eles, o GP de Nazareth no campeonato da F-CART, no pequeno circuito oval da Pensilvânia, uma pista que hoje encontra-se desativada e abandonada, para tristeza dos fãs da velocidade. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais textos antigos por aqui...
SENNA, 5 ANOS
Dizem que o tempo cura todas as feridas, mas hoje, com o início dos treinos oficiais para o Grande Prêmio de San Marino, aqui em Ímola, não consigo mais olhar este circuito da mesma maneira que olhava no início desta década. E o tempo realmente passa rápido quando se olha para trás: amanhã farão 5 anos desde que Ayrton Senna morreu aqui neste circuito em virtude de uma fatalidade que todos que assistiam à F-1 viram ao vivo. Uma cena que, até hoje, choca pelo fato de não ter sido nada espetacular, muito pelo contrário, parecia mais um acidente banal na categoria, como alguns outros que já havíamos visto em outras ocasiões. Até o acidente que matou Roland Ratzemberger (e que hoje faz 5 anos), foi mais brutal e pavoroso do que o de Senna.
Olhar a curva Tamburello hoje é uma sensação estranha. A curva, por si só, já não é mais a mesma. Eu gostava de seu velho traçado, que permitia altíssimas velocidades e boa disputa de posições em um bom trecho. Perdi a conta de quantas ultrapassagens vi naquele ponto, que iniciava-se na reta dos boxes e só terminava na freada da curva Tosa, passando pela curva Villeneuve, que era mais suave, e feita a uma velocidade muito mais alta do que se faz hoje. Em nome da segurança, mudaram tudo. Hoje a Tamburello não passa de mais uma chicane sem graça igual a tantas outras que implantaram nos circuitos mundo afora em nome da segurança. A curva Villeneuve foi acentuada, obrigando a uma freada mais brusca e impossibilitando tentativas de ultrapassagem naquele ponto.
Mas o show tem de continuar. Hoje, tão logo os carros entrem na pista para o primeiro treino, a fanática torcida da Ferrari estará lotando a maior parte das arquibancadas, ávida por ver os carros vermelhos na pista. Nos boxes, tudo normal, com pilotos, engenheiros e mecânicos concentrados no trabalho, com o objetivo de deixar seus carros ainda mais rápidos, tanto para os treinos de hoje e amanhã como para a corrida de domingo. Para os jornalistas e fotógrafos a situação é a mesma. Ninguém vai declarar abertamente que, 5 anos atrás, viveu-se aqui o momento mais negro da F-1 não apenas nesta década, como em sua história, de modo que no seu íntimo, todos os presentes neste circuito trazem uma cicatriz invisível em si, resultado do ocorrido em 1994.
Para a torcida brasileira, o trauma ainda parece estar presente, embora não explicitamente. Eu ainda vejo os acidentes que estiveram presentes em todos os dias daquele fim de semana. Rubens Barrichello foi apenas o aperitivo da desgraça que viria a seguir. Nem imaginávamos o que viria pela frente...
De lá para cá, houve muitas melhorias nos carros da F-1. É inegável que, sob o choque do fim de semana negro de Ímola, muitas novas regras foram implantadas na categoria. Algumas de maneira meio atabalhoada e até intempestivas, outras de maneira coerente e lógica. Mas, mesmo com toda a segurança a mais que há nos carros de hoje, cada acidente mais grave que ocorre, como o de Ricardo Zonta nos treinos para o GP do Brasil em Interlagos, as lembranças de Ímola/94 voltam à mente com incrível nitidez. Sem dúvida, vai demorar muito tempo até que consigamos perder o medo inconsciente do trauma de 94. É algo até natural. Desde que passei a acompanhar a F-1, foram os únicos acidentes fatais que tive oportunidade de ver. A sensação não é boa. Mas, também, como poderia ser boa...?
Não sei dizer quanto tempo levará para se perder essa impressão ruim que ficou gravada no inconsciente de muitos desde 94. Há quem diga que testemunhas que presenciaram o acidente que matou Jochen Rindt em Monza, no distante ano de 1970, até hoje não conseguiram esquecer o trauma da cena. Isso é apenas um exemplo de como o tempo leva tempo para curar certas feridas.
Este é um ano histórico para a F-1, com a realização de seu 50º campeonato mundial. Mas, para muitos, é o triste marco de 5 anos de aniversário de uma tragédia que abalou todo o mundo da F-1. Daqui a outros 5 anos, não sei se a lembrança desta tragédia ainda chocará tanto quanto agora. Talvez sim, talvez não, mas se o tempo a tudo cura, certamente não pode piorar. Mesmo assim, todos nós, brasileiros, sentimos mais do que nunca a falta de Ayrton Senna.
E o mundo da F-1 também, com certeza...
A Ferrari entra nos treinos de hoje decidida a quebrar um jejum que já dura tanto quanto o jejum de títulos da escuderia: vencer no Grande Prêmio de San Marino. A última vez que uma Ferrari venceu aqui no circuito que leva o nome de Enzo e Dino Ferrari foi em 1983, com Patrick Tambay. E a vitória só veio no final da corrida, quando o italiano Riccardo Patrese, liderando com uma Brabham/BMW, bateu sozinho na curva da Acqua Mineralli, deixando a vitória de bandeja para Tambay.
Depois da excelente atuação de Rubens Barrichello no GP do Brasil, as expectativas sobre a performance do piloto brasileiro dominam as especulações no paddock de Ímola. Esta pista tem um traçado seletivo que evidencia as virtudes e defeitos de um carro de F-1. Se o chassi SF-03 corresponder na prática às boas qualidades apontadas até agora nas provas iniciais, Rubinho tem tudo para ser novamente a sensação da corrida pela 3ª prova consecutiva. E, se o motor não quebrar, pontuar é mais do que possível. Pelo sim, pelo não, Barrichello continua prudente e contido no entusiasmo. Nada de prometer algo antecipadamente.
Hoje começam os treinos para o GP de Nazareth, pela F-CART. A prova, disputada no Pensylvania International Raceway, marca a volta do campeonato aos circuitos ovais, depois da etapa em circuito urbano de Long Beach. E este é um oval todo particular de 1 milha, com formato trioval, o que exige um acerto dos carros todo especial para esta corrida, pois é a única pista do calendário com tais características. O autódromo é de propriedade de Roger Penske, mas isso não quer dizer muita coisa. E o chassi Penske deste ano parece fadado a repetir o fracasso do carro de 98. E Penske, que busca a 100ª vitória de sua equipe na categoria, já vê que o jejum de triunfos da equipe pode demorar para acabar...
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