sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

CALENDÁRIO INSTÁVEL

Programada para dar início à temporada 2021 da F-1, a Austrália já foi realocada para o fim do ano, devido às incertezas da pandemia da Covid-19.

 

            Entramos em 2021, mas os problemas de 2020 continuam por aí. Refiro-me à pandemia da Covid-19, que embora tenhamos algumas boas notícias, ainda é cedo para comemorarmos, sendo necessário termos prudência, e paciência. Por mais que as expectativas sejam animadoras, com alguns países iniciando vacinação de suas populações, ainda é muito cedo para baixarmos a guarda. Não é por menos: com uma capacidade de produção mundial estimada em cerca de 2 bilhões de doses de vacinas por parte das empresas farmacêuticas e demais laboratórios e instituições, nosso planeta tem uma população de mais de 7 bilhões, o que indica que poderemos precisar dos próximos três anos para conseguirmos criar imunização necessária para debelar a pandemia. Enquanto isso, nossas vidas continuarão meio que de cabeça para baixo, e com complicações decorrentes disso.

            Assim, não é surpresa que o calendário da Fórmula 1, que teve de ser reconfigurado no ano passado, por causa da pandemia, já não tenha tido que passar por mudanças neste início de ano. Apresentado com um otimismo até exagerado, prevendo 23 corridas para este ano, já começamos a sentir problemas que podem vir a se tornar baixas, na pior das hipóteses. Começando pela Austrália, que abriria o mundial, na data tradicional do mês de março, a corrida já foi adiada para novembro, após o GP do Brasil, agora chamado de GP de São Paulo, que foi antecipado em uma semana, a fim de permitir a logística necessária para levar todos os equipamentos do circo da categoria daqui para a Austrália, do outro lado do mundo. O país da Oceania, apesar de não estar com um descontrole tão grave da Covid, impõe várias restrições à sua entrada no momento, inclusive uma quarentena obrigatória de 14 dias, que seria impraticável para o pessoal da F-1. Sem cancelar a prova, a solução foi o seu adiamento para o fim do ano, onde se espera que a situação já esteja mais normalizada. Torcemos por isso.

            Desse modo, o campeonato terá início no Bahrein, no dia 28 de março. Não só isso: a pré-temporada, que este ano terá míseros 3 dias de testes, também será realizada no autódromo de Sakhir, nos dias 12 a 14 de março. Isso economizará uma viagem, já que todo o pessoal permanecerá no país até a realização do GP, o que ajudará na contenção de despesas de toda a categoria, que ainda está com as finanças impactadas pela pandemia.

            Em seguida, deveríamos ter o GP do Vietnã, mas problemas locais relacionados à corrupção no governo anterior do país fizeram a corrida ir para o vinagre. A boa notícia é que Ímola ocupará o seu lugar, onde teremos mais uma edição do GP da Emília-Romana, como foi feito no ano passado, no dia 18 de abril. Antes disso, teríamos o GP da China, mas o país ainda está fechado para conter a Covid-19, e todos os eventos esportivos permanecem suspensos. Os organizadores pedem um adiamento para o segundo semestre, a exemplo do que foi feito com a etapa australiana, mas ainda não há confirmação do que será feito efetivamente, havendo até a chance da prova ser novamente cancelada.

            Temos uma data em aberto, no dia 2 de maio, e a perspectiva é de que Portugal possa voltar à competição, com o moderno circuito de Portimão, que foi aprovado por todos no ano passado. Mas os organizadores querem realizar um GP com público, o que pode dificultar a situação. As negociações prosseguem, e de minha parte, tomara que tudo dê certo, e a F-1 possa retornar à pista do Algarve. No dia 9 de maio, está garantida a etapa de Barcelona para esta temporada. No dia 23, Mônaco retorna ao calendário, depois da ausência forçada do ano passado, com a prova do Azerbaijão acontecendo logo em seguida, dia 6 de junho. Dali, uma semana depois, corre-se no Canadá, dia 13, para em seguida retornar à Europa, com o GP da França no dia 27. O mês de julho inicia com a prova da Áustria no dia 4, e Inglaterra no dia 18. Em agosto, o GP da Hungria dia 1º, e o GP da Bélgica dia 29. No mês de setembro, o GP da Holanda dia 5, Itália no dia 12, e Singapura no dia 26. Em outubro, a maratona segue, com as etapas da Rússia dia 3, e Japão dia 10. No dia 24, os Estados Unidos, com o México vindo logo a seguir no dia 31. Uma semana depois, e no dia 7 de novembro, a corrida em São Paulo, e a seguir, no dia 21, o GP da Austrália. A nova corrida da Arábia Saudita ficou para o dia 5 de dezembro, com a prova de Abu Dhabi fechando a temporada no dia 12 do último mês do ano.

A pista de Portimão (acima) pode ganhar uma nova chance de voltar à F-1. Ímola (abaixo) está garantida este ano novamente.

 


          
Embora a maioria dos times tenha avalizado as mudanças do calendário, todos reconhecem que a maratona de GPs em finais de semana consecutivos será novamente desgastante para todos os envolvidos. A McLaren foi a única a se posicionar contra as novas datas, prenunciando o extremo cansaço que seus integrantes terão na maratona de provas consecutivas que haverá, e não é sem razão. E ainda temos de levar em conta a ameaça da pandemia, que ainda não pode ser menosprezada.

            Ainda que a F-1 tenha estabelecido normas de segurança sanitária e procedimentos que permitiram que o campeonato de 2020 fosse disputado com relativa normalidade, mesmo retomando todos os cuidados, e aprimorando seus procedimentos para corrigir eventuais falhas que possam surgir, não depende somente dela para poder correr. Por mais que afirme que seus cuidados lhe permitam correr em todos os lugares, isso depende mais da posição dos governos locais, e de como a situação da pandemia se encontrará. Mesmo com a vacinação, pode levar meses até que a situação seja considerada mais permissiva para certos acontecimentos, dependendo de como estiver o número de casos da pandemia. Em outubro, por exemplo, a pandemia parecia retroceder um pouco, dando um otimismo de que as medidas adotadas para tentar manter a doença sob certo controle estavam funcionando. Ledo engano. Os números logo voltaram a subir, com a segunda onda de infecções chegando, e os números de casos voltou a crescer, agora até de forma mais agressiva, devido a novas variantes do vírus, muito mais contagiosas, além do fato de as pessoas também relaxarem nas medidas de proteção, cansadas de fazerem tantos sacrifícios e se manterem distantes umas das outras.

            Não podia dar outra: a pandemia voltou a sair ainda mais de controle, tornando a espera pelas vacinas ainda mais urgente. A F-1 ainda conseguiu terminar a temporada dentro do que havia se proposto conseguir realizar, o que já foi um grande feito. Neste momento, o quadro ainda é muito preocupante, já tendo ultrapassado o número de 2 milhões de mortos, e de mais de 90 milhões de casos no mundo inteiro. Países onde mesmo no pior momento tudo ficou sobre relativo controle, como a Alemanha, passaram a ver o número de mortos ultrapassar a marca de mil pessoas por dia, número que só não é mais trágico que nos Estados Unidos, que já tiveram dias com mais de quatro mil mortos. E no Brasil, onde os números pareciam subir menos, voltaram a acelerar, o que até demorou a acontecer, depois que multidões passaram a se aglomerar nas praias desde o início de setembro, como se nada de anormal estivesse ocorrendo.

            A luta continua. Ao mesmo tempo em que se iniciam as primeiras vacinações em vários países, ainda se busca pelo menos achar remédios que possam propiciar tratamento eficaz contra a doença, de modo que os sistemas de saúde não entrem em colapso, como já acontece em muitos lugares. A vacinação, que precisa ser em pelo menos duas doses em quase todas as vacinas desenvolvidas, levará tempo para apresentar seus efeitos, algo que, salvo surpresas inesperadas, só deve começar a se ver no segundo semestre. Até lá, os países e seus governos estão tentando conter a disseminação da doença como podem. A Inglaterra já impôs novo lockdown, assim como outros países. Fronteiras voltaram a ser fechadas, e atividades econômicas terem de ser suspensas, ficando restritas a setores essenciais. Neste momento, é difícil dizer se a F-1 poderia iniciar seu campeonato, se ele fosse se iniciar neste final de semana.

A pista de Sakhir, no Bahrein, abrirá a temporada 2021 da F-1, e ainda sediará os testes da pré-temporada.

           
Mesmo com algumas provas acontecendo mundo afora, e corridas programadas para breve, como as 24 Horas de Daytona, nos Estados Unidos, os cuidados tem de ser mais do que redobrados. Mesmo tratando tudo com otimismo, não há garantias de que até abril as coisas possam estar mais calmas, e tudo possa ser feito, dando início às corridas, confiando nos protocolos de segurança. A própria F-1 rejeitou também “furar a fila” para vacinar seus integrantes, com a justificativa de desenvolver suas atividades de competição. E nem poderia ser diferente: há pessoas de grupos de risco que necessitam muito mais dos imunizantes neste momento, e já é de conhecimento geral de que não haverá vacina para todos, nem aqui, nem na China, nem em lugar algum, neste ano. Excepcionalmente, alguns lugares conseguirão vacinar suas populações na íntegra, mas são casos bem particulares, e não o panorama geral.

            Na pior das hipóteses, até as condições apresentarem melhoras no combate à pandemia, todo o calendário da F-1, bem como de outros esportes, está sem garantias de ser cumprido, podendo ser necessário efetuar ajustes a qualquer momento, se acharem necessário. E, assim como no ano passado, corridas podem ser adiadas, ou canceladas, conforme a situação. Alguns movimentos neste sentido serão praticamente apostas, dependendo do momento em que precisarem ser feitos. Todos gostaríamos que ocorresse o contrário, que a pandemia regredisse, e as vacinações produzissem efeitos suficientes para que possamos voltar à “normalidade” o quanto antes. Pode ser que até aconteça, e antes do que as projeções mais esperançosas apontem. Mas, na prudência, melhor ficarmos com um pé atrás, e estarmos prontos para termos que novamente reajustar o calendário, e nossas rotinas, caso a situação persista nos níveis atuais de disseminação.

            O ano de 2021 tem tudo para terminar melhor do que começou. Mas ainda é cedo para dizer se isso acontecerá efetivamente, e o quanto poderemos recuperar do que nos foi tirado desde o ano passado. Portanto, sigamos em frente com cautela, e determinação de que conseguiremos superar este momento difícil logo. E, até lá, não baixemos a guarda para a pandemia, em hipótese alguma.

 

 

Dois novos pilotos da F-1 anunciaram terem sido contaminados com a Covid-19. Primeiro, foi Lando Norris, da McLaren, que testou positivo em suas férias. Agora, é Charles Leclerc que comunicou estar com a infecção. Ambos, contudo, não apresentaram sintomas graves, e seguiram as normas de isolamento recomendadas. No ano passado, Sergio Pérez, Lance Stroll, e o novo heptacampeão, Lewis Hamilton, contraíram a doença, e não puderam participar de alguns GPs por causa disso. Felizmente, todos se recuperaram. Isso serve de alerta para todos de que o vírus ainda está por aí, e circulando mais do que nunca, o que torna as medidas de prevenção ainda mais necessárias. Todo cuidado é pouco.

 

 

Quem também acabou contraindo a doença foi o ex-piloto Nélson Piquet. O tricampeão de F-1, atualmente com 68 anos, esteve internado por dois dias no Hospital Sírio-Libanês de Brasília, e felizmente, não apresentou sintomas graves, já tendo recebido alta, e podendo voltar para casa, onde deverá permanecer em repouso por ordem médica. Menos mal...

 

 

A Renault apresentou nesta semana sua nova denominação de equipe na F-1, oficializando o nome Alpine para sua escuderia de fábrica, inclusive apresentando o novo layout da pintura dos carros para a temporada 2021. Mas a surpresa maior foi o anúncio da saída de Cyril Abiteboul, que ocupava a função de chefe de equipe desde 2016. Especula-se que Davide Brivio, que era chefe de equipe do time de fábrica da Suzuki na MotoGP, possa ser o substituto. A Suzuki confirmou o desligamento de Brivio de seu time na classe rainha do motociclismo, mas sua contratação por parte da nova Renault/Alpine ainda não foi oficializada, o que pode acontecer muito em breve. Este ano a escuderia terá Fernando Alonso e Esteban Ocón como seus pilotos titulares. Abiteboul, na opinião de muitos, já vai tarde, uma vez que muitos consideram sua gestão à frente do projeto Renault na F-1 falho, no que resultou na perda dos times da Red Bull e Toro Rosso, para a Honda. Nesta temporada, as unidades de potência francesas equiparão apenas seu próprio time de fábrica, já que a McLaren voltará a usar os propulsores da Mercedes, como fazia até 2014...

 

 

E o contrato de realização do GP de São Paulo está temporariamente suspenso. Atendendo a uma ação popular, o juiz Emílio Migliano Neto, da 7ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo justificou sua decisão com base no fato de o contrato não ter passado por uma licitação, além do sigilo imposto pela Prefeitura acerca do acordo. A ação popular foi ajuizada pelo vereador Rubens Alberto Gatti Nunes, do município de São Paulo, contra a Prefeitura de São Paulo, o prefeito Bruno Covas e Miguel Calderaro Giacomini, secretário de Turismo da cidade. De acordo com o juiz, os princípios de publicidade e transparência, necessários a atos do poder público, estão sendo descumpridos neste acordo para a realização do Grande Prêmio de F-1, e deu um prazo para que a Prefeitura apresente todos os documentos dos processos administrativos relativos ao contrato. O acordo firmado com a MC Brazil Motorsport Holdings, nova promotora do GP, prevê um valor de R$ 20 milhões anuais pela realização do GP, que está garantido até 2025, com possibilidade de renovação até 2030. Depois dos problemas enfrentados com a “concorrência” da Rio Motorsports, que tentava levar a corrida para o Rio de Janeiro, em um autódromo que nem existe ainda, foi um alívio quando foi anunciada a renovação do contrato do GP, que continuaria em Interlagos, por mais cinco anos, e até mais. Agora, só falta esse novo acordo dar zebra por práticas irregulares de gestão e condução, podendo até ser cancelado ou anulado, na pior das hipóteses, o que poderia até comprometer a realização da corrida... Será que nada por aqui pode ser feito sem dar algum tipo de problema...?

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