quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

ARQUIVO PISTA & BOX – ABRIL DE 1999 – 16.04.1999

            Trazendo novamente um de meus antigos textos, coloco hoje a coluna publicada no dia 16 de abril de 1999, cujo tema principal era o show dado por Rubens Barrichello no Grande Prêmio do Brasil daquele ano. Embora o brasileiro tenha ficado mais uma vez pelo caminho, mercê do azar que pareceu sempre persegui-lo em seu GP caseiro, a performance do piloto ao volante do novo modelo SF-03 da Stewart Racing adiantava uma boa temporada da escuderia fundada pelo tricampeão de F-1, que sempre confiou no talento de Rubinho, ao contrário de muitos que já davam sua decadência na categoria máxima do automobilismo.

            Mas foi um ano de altos e baixos para a equipe Stewart, que apesar da grande melhora de performance, padeceu de constância e fiabilidade, e injustiça, teve até vitória, mas com Johnny Herbert, o outro piloto da equipe, que estava no momento certo na hora certa para conseguir os louros da vitória que muitos reconheceram que deveria ter ido para Rubens. Mas o brasileiro capitalizou com a excelente temporada, ganhando um contrato com a Ferrari para o ano seguinte, onde viveria seus melhores anos na F-1, mas também teria momentos complicados por dividir um time com o então melhor piloto da categoria, Michael Schumacher, em um time que se dedicava unicamente ao piloto alemão. De quebra, alguns tópicos rápidos sobre outros acontecimentos naquela semana, como o GP do Japão da F-CART, realizado em Motegi. Uma boa leitura para todos, e em breve trago mais textos antigos...

 

O SHOW DE RUBINHO

 

            Depois de alguns anos, enfim a torcida brasileira voltou a se empolgar com uma corrida de Fórmula 1. Rubens Barrichello fez a melhor corrida de sua carreira em Interlagos, e não fosse a quebra do motor, muito provavelmente teria subido ao pódio, em 3º lugar. O gesto da torcida no autódromo, enfim, redimiu-se ao piloto que tantas vezes desprezou recentemente, diante da falta de resultados nos últimos dois anos na F-1. Espero que a torcida tenha amadurecido e reconhecido o talento de Barrichello. Não há dúvidas também de que o SF-03 é o melhor carro que ele já pilotou na F-1, e possivelmente, pensar na primeira vitória ainda este ano já pode ser considerado algo realista, e não um sonho impossível.

            Rubens deu o maior show em Interlagos. No treino de classificação, o brasileiro fez milagres com sua Stewart, sendo o piloto que mais perto chegou da McLaren, favoritas disparadas. Deixou até mesmo o bicampeão Michael Schumacher para trás, apesar da Ferrari ainda ser um carro superior ao Stewart do brasileiro. Na corrida, foi a glória vê-lo na liderança de nosso GP durante 24 voltas, andando sempre num ritmo forte e constante, provando a qualidade de seu carro e de sua pilotagem. Ele, Schumacher, e Mika Hakkinen logo se distanciaram de todos os demais pilotos na prova. Mesmo tendo optado por pneus mais moles e a estratégia de 2 paradas, era o dia da redenção de Rubinho em Interlagos.

            Foi bom ver a torcida de novo empolgada com a F-1. Depois de ficar tanto tempo acostumada às vitórias de Émerson Fittipaldi, Nélson Piquet, e Ayrton Senna, a falta de resultados fez boa parte da torcida debandar. Até mesmo o talento de nossos pilotos na categoria foi colocado em dúvida. E perdi a conta de quantas vezes Barrichello, nosso principal representante na F-1 nestes últimos anos, foi ridicularizado, depreciado, e até ignorado pelos times de ponta, para não dizer da torcida brasileira, que passou a tratá-lo como se fosse uma vergonha para o país, por na opinião deles, “desonrar” o legado de nossos campeões na categoria. A própria equipe Jordan, que tanto o apoiou no seu início na F-1, deu-lhe as costas em 1995, não acreditando mais em seu potencial e talento. O cúmulo foi a declaração de Bernie Ecclestone, recentemente, de que Rubinho não tinha mais talento para a F-1, chegando a apontar Pedro Paulo Diniz como um piloto muito melhor que Barrichello. Nada contra Diniz, que demonstrou evolução notável como piloto desde que estreou na categoria, mas Rubinho demonstrou talento e capacidade de um verdadeiro campeão nas categorias de acesso à F-1`, vencendo e conquistando campeonatos dificílimos como a F-Opel Européia e a F-3 Inglesa. Depois do show de Barrichello em Interlagos, o que será que o cartola máximo da categoria diria de nosso piloto? Até a imprensa européia já está rendendo-se novamente a Rubinho, chegando a apontá-lo como um campeão em potencial. Quem conhece Rubens há tempos, contudo, sempre soube disso.

            Ao que tudo indica, finalmente Barrichello está na hora e lugar certos. A Ford está investindo maciçamente na F-1, e tem planos de tornar o seu motor V-10 o mais potente da categoria até o fim do ano. Ao mesmo tempo, a fábrica exigiu mudanças na equipe e Jackie Stewart atendeu prontamente, efetuando uma total reestruturação da escuderia, aumentando o seu efetivo e ampliando a autonomia técnica da equipe. E para completar, Alan Jenkins, que havia concebido o fraco SF-02 de 1998, acertou a mão com o SF-03 de 1999, já melhorado pelo novo projetista do time, Gary Anderson. Um carro estável, equilibrado, e de boa aerodinâmica e com excelente tração. O ponto fraco ainda é o motor, que perde em relação aos Mercedes e ao Ferrari, mas já dá mostras de poder encarar os propulsores Honda e Peugeot. A vontade e a disposição da Ford em torná-lo o melhor motor da F-1 é válida, mas para chegar lá vai ser necessário paciência. E um pouco de confiabilidade também: não adianta dar shows nas corridas sem conseguir terminá-las. Resultados são importantes, mesmo Rubinho declarando que preferiu ter abandonado a corrida de Interlagos depois da excelente performance que apresentou à possibilidade de ter concluído a prova com um desempenho medíocre.

            Mas a chance de Rubinho vai chegar. A se manter o nível de performance para a temporada européia, podem apostar que Barrichello vai freqüentar o pódio este ano, e com alguma sorte, talvez até mesmo em seu degrau mais alto. Que volte a dar novos shows na F-1, Rubens!

 

 

A atitude de Eddie Irvinne no jogo de equipe da Ferrari para favorecer Michael Schumacher começa a dar alguns momentos de irritação. Em Interlagos, o irlandês bloqueou Rubens Barrichello por 3 voltas, retardando-o e fazendo o brasileiro perder quase 8s. E tudo porque naquele momento Rubens era uma grande ameaça a Schumacher. Irvinne chegava até a aliviar o acelerador, em pontos onde não era possível tentar uma ultrapassagem, chegando até mesmo a repetir a manobra na reta de acesso à reta dos boxes, obrigando Barrichello a diminuir para evitar colidir com a Ferrari. Apesar de tudo, o brasileiro conseguiu a ultrapassagem nos extremos da reta. Um jogo de equipe é uma tática válida, mas há limites para isso. Em determinado momento, deu-se a impressão de que Irvinne poderia dar uma fechada em Rubens e provocar um acidente entre ambos, especialmente quando o piloto irlandês aliviava o acelerador subitamente. Isso me trouxe à mente as imagens da batida entre Irvinne e Giancarlo Fisichella no GP da Espanha do ano passado. Irvinne, que sempre foi cabeça quente, ficou quieto antes os brados do piloto italiano. Houve rumores de que ele pôs Giancarlo para fora da corrida porque o italiano estava andando muito mais rápido do que Schumacher na corrida, e ele poderia complicar a situação do alemão na prova. Por mim, seria mais válido uma luta limpa e sem segundas intenções em uma disputa de posições, ainda mais porque o campeonato mal começou e, até prova em contrário, não há exatamente favoritos destacados ao título, apesar de Mika Hakkinen e Michael Schumacher sejam considerados os principais duelistas do campeonato deste ano.

 

 

Ao contrário do que mencionei na coluna da semana passada, o holandês Jos Verstappen acabou não substituindo o italiano Luca Badoer na equipe Minardi na prova de Interlagos. À última hora, o time optou pelo francês Stephani Serrazin. O piloto francês até que ia bem na corrida, até bater na subida para a reta dos boxes. O carro da Minardi, com o impacto, deu tantas voltas que dizem que Serrazin saiu do carro completamente tonto...

 

 

Na corrida de Motegi, no Japão, pelo campeonato da F-CART, os pilotos brasileiros fizeram boa participação, sendo que o pódio acabou sendo totalmente latino-americano. Adrian Fernandez conseguiu sua segunda vitória na pista japonesa. Gil de Ferran foi o 2º colocado, enquanto Christian Fittipaldi fechou o pódio na 3ª posição. O piloto mexicano teve muita sorte, pois ficou sem metanol logo após receber a bandeirada de chegada. A maioria dos outros pilotos brasileiros também pontuaram: Tony Kanaan foi o 6º colocado; Maurício Gugelmim terminou em 7º; Hélio Castro Neves foi o 9º. Tarso Marques, substituindo Al Unser Jr. na Penske, ficou em 14º. Luiz Garcia Jr. e Cristiano da Matta abandonaram a prova. Gil fez a pole-position nos treinos, seguido por Gugelmim, que fez o 2º tempo, formando uma primeira fila totalmente brasileira no Japão. Devido a problemas durante a corrida, Gil e Maurício perderam diversas posições e precisaram fazer corridas de recuperação. A prova até que foi relativamente tranqüila, não havendo nenhum acidente durante toda a corrida. O máximo que aconteceu foi uma ralada leve de Dario Franchiti no muro que motivou uma bandeira amarela por questões de segurança. Houve outras bandeiras amarelas motivadas por pilotos que rodaram, mas sem maiores conseqüências. Gil de Ferran foi um que deu uma rodada no início da prova, mas conseguiu evitar uma batida e continuar na corrida. Greg Moore foi outro que rodou também, no finalzinho da competição. Felizmente, também não bateu em nada e ninguém bateu nele. E hoje já começam os treinos para a próxima etapa do campeonato, no belo circuito urbano de Long Beach, na Califórnia, que é tida como a etapa mais charmosa de todo o calendário da F-CART.

Nenhum comentário: