sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

TEQUILA NA RED BULL?

Sergio Pérez vai defender a Red Bull na temporada 2021 da F-1. Mas o mexicano aguentará confrontar Max Verstappen?

             Começamos as colunas regulares de 2021 ainda repercutindo sobre um dos últimos acontecimentos de 2020, e sim, estamos falando da contratação do mexicano Sergio Pérez para ser titular da equipe Red Bull nesta temporada. Vez por outra, podemos dizer que há alguma justiça na Fórmula 1. Pode não ser tão comum quanto gostaríamos de ver, mas neste caso, fez-se por merecer, e o piloto mexicano ganhou a maior oportunidade de sua carreira na categoria máxima do automobilismo.

            Não que ele já não tenha tido chance de guiar para um time de ponta. Em 2013, depois de uma excelente temporada na Sauber, “Checo” foi contratado pela McLaren para ocupar o lugar de Lewis Hamilton na McLaren, depois que o inglês se bandeou para a Mercedes. E, lamentavelmente, Pérez não fez nada de positivo em sua passagem pelo time de Woking, sendo dispensado ao fim do ano, e indo parar na então Force India em 2014. O mexicano, além da falta de resultados, acabou pegando a pecha de encrenqueiro, ao se desentender com membros do time, e com Jenson Button, sendo considerado muito turrão. Definitivamente, não foi a melhor das temporadas de Sergio na F-1. E, geralmente, a categoria costuma ser feroz com aqueles que considera decepcionantes. De volta a um time médio, Pérez teria essa sina pelo resto de sua passagem na F-1? Ou não?

            Por incrível que pareça, o mexicano amadureceu nos anos seguintes, e ganhou destaque pelos poucos pódios que conseguia defendendo um time médio, em uma época onde quase sempre apenas pilotos de Mercedes, Red Bull e Ferrari, monopolizavam os pódios, ficando os demais times com resultados esporádicos. Sergio também mudou de postura, tornando-se um piloto mais carismático, e um sujeito engajado com seu time. Tanto que, quando a Force India estava prestes a fechar, ele conseguiu mexer alguns pauzinhos, e salvou o time da falência iminente, garantindo-lhe uma sobrevida, até que uma solução fosse encontrada.

            E essa solução apareceu quando Lawrence Stroll comprou o time, para colocar seu filho Lance nela. Com a associação da Aston Martin, da qual Stroll pai passou a ser um grande acionista, começou-se um projeto para elevar o status da então ex-Force India, que curiosamente, terminaria por deixar o piloto mexicano desempregado, uma grande ironia do destino. Como Stroll pai nunca demitiria o filho, por piores que fossem seus resultados, a corda estourou mesmo do lado do mexicano, que acabou dispensado para a contratação do tetracampeão Sebastian Vettel, defenestrado pela Ferrari. Depois de conseguir até a primeira vitória do time, em Sakhir, e terminar 2020 como o melhor piloto depois do trio Lewis Hamilton/Valtteri Bottas/Max Verstappen, tudo indicava que o destino de Pérez seria um inglório ano sabático. Não seria a primeira grande injustiça da F-1 com um piloto. Restava apenas uma esperança: a má temporada de Alex Albon na Red Bull deixou o tailandês na corda bamba perante a direção da escuderia, mas será que o time dos energéticos teria a vontade de chamar um piloto de fora de seu quadro de formação?

            Bem, a resposta acabou sendo dada, e a Red Bull reforça sobremaneira sua dupla de pilotos para a temporada deste ano, podendo incomodar a favorita Mercedes mais do que nunca. E a questão que todos querem saber é: Pérez pode de fato fazer diferença no time austríaco, a exemplo do que Max Verstappen faz? Todos querem saber a resposta, e as consequências que isso pode desencadear no time dos energéticos.

Alex Albon não conseguiu acompanhar o ritmo de Max Verstappen na temporada 2020, e virou reserva da Red Bull para 2021. Piloto correrá no DTM para se manter em atividade este ano.

            Alexander Albon até fez um bom trabalho inicial na Red Bull em 2019, promovido ao time principal com o rebaixamento de Pierre Gasly, remetido de volta ao time secundário, por não apresentar os resultados que Christian Horner e Helmut Marko desejavam. Na temporada 2020, contudo, os papéis de ambos se inverteram: enquanto Gasly renascia no time B, Albon sofria para acompanhar o ritmo do holandês, que enquanto se intrometia entre a dupla da Mercedes, sendo sempre candidato ao pódio, e até vencendo corrida, o tailandês na maioria das vezes se debatia em duelos contra pilotos de McLaren, Renault, e Racing Point, conseguindo apenas dois pódios, e pontuando muito abaixo do que todos esperavam, mesmo que o time admitisse que o modelo 2020 não era um carro fácil de conduzir. Como a cúpula rubrotaurina decidiu não promover Gasly novamente, ou mantinham Albon, ou contratavam um novato do programa de formação de pilotos, que já teve época muito melhor, mas atualmente é visto mais como uma armadilha do que uma oportunidade por muitos jovens em potencial.

            Acabou dando algo um pouco óbvio até, mas que há algum tempo atrás, seria considerado muito improvável: contratar um piloto de fora do programa de formação conduzido por Helmut Marko. E Pérez, pelo que fez durante a última temporada, merecia a chance de defender um time vencedor. E de medir forças com um dos pilotos mais agressivos e arrojados do grid, senão o maior deles, na opinião de alguns.

            Na verdade, não é bem isso que Horner e Marko desejam. Em teoria, eles querem alguém que ande mais próximo de Verstappen, e que pelo menos termine junto do holandês nas corridas, e não várias posições atrás. Pontuando com regularidade com sua dupla de pilotos, eles acreditam que a Red Bull terá maiores chances de vencer a Mercedes. Bom, falta combinar com os alemães, e principalmente com Hamilton, mas com uma dupla mais forte entre si, a Red Bull poderia se precaver contra um renascimento de um time rival, como Ferrari, e até mesmo McLaren ou Renault, para não dizer da nova Aston Martin. Afinal, quem garante que, mesmo em um cenário improvável, eles não possam se tornar ameaças para a escuderia dos energéticos.

Max Verstappen (acima) tem sido implacável com seus últimos colegas de equipe, que sucumbiram à velocidade do holandês, que consegue domar como poucos o carro da Red Bull (abaixo). Sergio Pérez conseguirá quebrar essa escrita, como Daniel Ricciardo costumava fazer?


            E Sergio Pérez se prestará a esse papel? O mexicano fez uma excelente temporada em 2020, e devemos levar em consideração que ele ficou duas corridas fora, por ter contraído Covid-19, e ainda abandonou duas provas onde poderia ter conquistado mais um pódio e pontos para si, do que os conseguidos. Com um carro de ponta, e um piloto muito mais talentoso ao seu lado, será capaz de repetir tais proezas? Lance Stroll não é um piloto de destaque, embora tenha feito algumas boas corridas. E Pérez se bateu com nomes como Nico Hulkenberg e Esteban Ocón como companheiros de equipe em tempos recentes, e embora tenha se sobressaído, nenhum deles é visto como um talento excepcional como o jovem Verstappen. Será que o mexicano conseguirá atender ao que se espera dele na escuderia? É uma dúvida que todos querem esclarecer.

            E, certamente, o próprio Sergio também quer descobrir. Muitos apostam que Max vai triturar o mexicano, assim como fez com seus últimos companheiros de equipe, e que Perez poderá ser apenas a próxima “vítima” do intrépido holandês. A grosso modo, em tese, nem é preciso tanto: o contrato do mexicano com a Red Bull é válido apenas para esta temporada, de modo que é incerto dizer se, mesmo realizando o trabalho que se espera dele, irá continuar na escuderia em 2022. Mas não quer dizer que isso não possa acontecer, e dependendo do que ele demonstrar, isso poderia abrir outras portas em outros times, garantindo sua permanência no grid no próximo ano.

            Por isso mesmo, muitos acreditam que Pérez vai vir com tudo nesta temporada. Mais do que medir forças com Verstappen, ele certamente vai querer mostrar que é um piloto veloz e confiável. Mas, como Verstappen lidará se voltar a ter um companheiro de time capaz de enfrenta-lo? Quando tinha Daniel Ricciardo a seu lado, mesmo sendo considerado mais rápido em velocidade pura, o australiano equilibrava a disputa com inteligência, conhecimento de corrida, e principalmente, não se meter em confusões, enquanto o holandês por vezes arrumava encrencas desnecessárias, na ânsia de superar os rivais na pista, chegando a criar incidentes até mesmo com Daniel na pista. Ricciardo resolveu sair do time porque os dirigentes passavam a mão demais na cabeça de Max, por mais estripulias que ele causasse, mesmo que fossem prejudiciais ao time, apesar de muitos declararem que ele fugiu da briga por saber que iria perder o duelo contra o parceiro de time.

            Será que Pérez será capaz de andar tão bem assim na Red Bull, a ponto de vir a ser um problema para Verstappen? O holandês já afirmou que não tem interesse em saber quem será seu companheiro de time, e até fez críticas duras ao desempenho de Albon no ano passado. Será que ele sentiu saudades de ter um companheiro forte que o incentivasse a ser ainda mais rápido, dentro do próprio time? Ou, na verdade, gostaria que tivesse um escudeiro para lhe ajudar na luta com mais eficiência por resultados na pista? E se o mexicano conseguir cilindrar Verstappen, o que será que irá acontecer? Horner e Marko aceitarão isso, ou Pérez será criticado por “exceder” suas “obrigações para com o time”? Max Verstappen, nestes últimos dois anos em que assumiu de fato a liderança do time dentro da pista, mostrou ter amadurecido, e mantido sua impressionante velocidade, mas em alguns momentos, ainda parece fazer besteiras. Se tiver novamente um parceiro que não apenas ande a seu lado, mas que possa até superá-lo, como será que ele reagirá? Manterá sua postura mais centrada, ou poderá perder as estribeiras novamente, sentindo a pressão?

            Tudo dependerá, contudo, de como o mexicano irá se dar com o carro da Red Bull. Um carro que foi bem arisco e nervoso nesta última temporada, mas que Verstappen conseguia domar com seu grande talento, e conseguir os resultados que obteve, enquanto Albon, sem ter a mesma desenvoltura com o comportamento do carro, ficou para trás. Pérez conseguirá lidar com isso, ou também sucumbirá às particularidades do modelo da escuderia, que certamente não tem o mesmo comportamento dos bólidos recentes que ele conduziu na Racing Point. Com dez anos de experiência competindo na F-1, Pérez pode ter condições de se adaptar ao modo de conduzir do carro, e quem sabe, mostrar-se à altura do que esperam dele. O mexicano aprendeu a conservar muito bem o carro, e acima de tudo, tornou-se também um piloto que comete pouquíssimos erros durante as corridas, sem deixar de andar forte. Conseguirá aplicar estas virtudes ao carro da Red Bull, e manter a alta performance?

            Se conseguir, certamente poderá obter resultados talvez comparáveis ao de Verstappen, e quem sabe, até andar à sua frente. É uma possibilidade, não uma certeza. Pode parecer difícil, mas não é impossível. Isso seria preocupante para os adversários, que voltariam a ter na equipe austríaca dois oponentes de peso, e candidatos ao pódio, e até vitórias, mesmo que ocasionais. Lewis Hamilton já afirmou que Pérez ajudaria a tornar a Red Bull mais forte, e que isso precisaria ser visto com atenção. Pode parecer otimismo demais, mas não seria exagero dizer que Sergio é o piloto certo para conseguir isso, dentre os que estavam disponíveis no grid. Pode ser uma prova de fogo para o mexicano, mas se ele se der bem, terá a chance de sua vida e consolidar o seu nome como um piloto de ponta na F-1, capaz de vencer corridas se tiver um carro decente. E ele precisa aproveitar essa chance, que pode nunca mais surgir na sua vida.

            Mas, não podemos esquecer do que pode dar errado também. Existe a possibilidade do mexicano não conseguir se dar bem com o comportamento do carro do time dos energéticos, e vir a padecer do mesmo dilema que acabou vitimando Alex Albon, e apresentar resultados muito aquém do que todos esperavam, até mesmo o próprio Pérez. E isso poderia ser extremamente comprometedor para a imagem de piloto competente que Sergio cultivou nestes últimos anos. Não seria algo novo. Basta lembrarmos de Valtteri Bottas, que era considerado um piloto campeão em potencial quando defendia a Williams, pelos resultados que conseguia suplantando Felipe Massa com alguma facilidade, e dando ao time de Grove seus melhores resultados enquanto estava lá. Mas bastou dividir o box com Lewis Hamilton para vermos que o finlandês não parecia assim tão capaz quando se imaginava.

Passagem de Perez na McLaren não foi boa, mas o piloto admitiu que ainda era muito imaturo na época, ao contrário de hoje.

            Bottas nunca conseguiu reproduzir na Mercedes os mesmos duelos com Hamilton que o inglês teve com Nico Rosberg, e nos últimos dois anos, apesar de terminar vice-campeão, não tem sido considerado um piloto à altura do carro que conduz, e isso ficou ainda mais patente quando dividiu o time com George Russel na prova de Sakhir, levando um baile do piloto em sua primeira corrida com o carro alemão. Da mesma maneira, Pérez pode sofrer o mesmo tipo de impacto ao medir sua capacidade com Max Verstappen, que pode tritura-lo completamente, na pior das possibilidades para o mexicano. É o que muitos acreditam ser mais plausível de acontecer. E Pérez terá também o agravante de ser novato no time dos energéticos, enquanto Max já está mais do que integrado ao time e ao carro que conduz. Se não quiser ser engolido, Sergio terá que se adaptar como nunca ao novo ambiente, e ao novo equipamento, tarefa que pode ser bem mais complicada do que pode imaginar.

            Seria o pior dos mundos para Pérez, que poderia ver destruída a sua reputação como piloto na F-1, sendo mais um que não conseguiu se aguentar no confronto com o holandês, que todos sabem ser um piloto excepcional, que muito provavelmente está no mesmo patamar de Lewis Hamilton, ou até acima, para alguns. Sergio é um piloto talentoso, mas se perder feio o duelo com Verstappen, não será mais visto com os mesmos olhos de antes, a não ser que algo mais excepcional ocorra. A tão sonhada chance de competir por um time de ponta pode virar um pesadelo bem rápido, e daqueles difíceis de se acordar, e conseguir levantar depois. É algo que não poderá ser ignorado, e muito provável de ocorrer.

            Pelo bem da competição, é óbvio que a torcida será para que isso não aconteça. Este desastre para Sergio Pérez não é algo garantido, embora muito possível. Certamente, o mexicano sabe muito bem os riscos que corre, mas tem de encarar o desafio de frente, e não recuar de modo algum, do contrário, perde a luta antes mesmo dela começar. Ele sabe muito bem que terá de usar tudo o que sabe para não ser eclipsado pelo holandês. Mas precisaremos esperar até a primeira corrida para sabermos qual o panorama que irá se delinear no confronto entre ambos. Se haverá um duelo acirrado, ou se alguém será massacrado pelo outro. E nem cogitamos uma outra possibilidade que, embora muito remota, poderia acontecer, que seria o mexicano encalacrar o holandês, uma situação que poderia ser um verdadeiro desastre para a imagem do holandês. Já pensaram se isso acontece? Tudo bem, sonhar ainda é de graça, mas é preciso imaginar todas as possibilidades, até mesmo as mais improváveis de ocorrerem...

            Ficamos então na espera, para vermos como se dará a campanha de Pérez na Red Bull. De um modo ou outro, deveremos ter algumas surpresas...Vejamos como a Red Bull se comportará com um pouco de tequila em sua composição... E quem conhece essa bebida sabe que ela pode ser um verdadeiro coice, mesmo para os mais preparados em medir forças com ela... Resta saber quem vai sentir o golpe quando ele surgir, e quem vai dar esse golpe...

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