Voltando a trazer mais uma de minhas antigas colunas, esta foi publicada no dia 23 de abril de 1999, e seu tema principal era um pequeno balanço do início da temporada daquele ano da F-CART, após três provas disputadas até então, onde não foi possível apontar nenhum favorito destacado na luta pelo título, algo normal na categoria norte-americana, que sempre se caracterizou por um equilíbrio de forças bem maior do que o da F-1. E seria de fato um ano bem disputado, com o título indo para o colombiano Juan Pablo Montoya, que conseguiu manter a Ganassi no topo da categoria, com o time a conquistar seu quarto campeonato consecutivo, mostrando toda a sua capacidade. Para os pilotos brasileiros, havia expectativa de um ano bem melhor do que os anteriores, e em alguns aspectos, até que foi, com nossos pilotos obtendo três vitórias na temporada, mas infelizmente ficando longe de disputarem o título.
Nos tópicos rápidos, algumas notas do mundo do esporte a motor, com destaque para o falecimento do projetista Harvey Postlethwaite, um dos principais nomes do projeto de retorno da Honda à F-1, o que obrigou os japoneses a mudarem seus planos, de voltar como um time completo, para serem apenas fornecedores de motores novamente. O plano de ser um time completo só seria posto em prática anos depois, quando os nipônicos assumiram o controle da equipe BAR, mas sem obterem os triunfos que esperavam. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais textos antigos por aqui...
SEM FAVORITOS
Com três etapas disputadas até o momento, o campeonato 99 da F-CART mais uma vez demonstra bom equilíbrio entre diversas equipes e pilotos, com 3 times e 3 pilotos diferentes vencendo até agora. No último domingo, no circuito de Long Beach, na Califórnia, a vitória ficou com a equipe Ganassi e seu novo piloto, o colombiano Juan Pablo Montoya, que apenas em sua 3ª prova na categoria já chegou ao degrau mais alto do pódio.
Isso apenas confirma que a Ganassi deve lutar pelo tetracampeonato, depois de vencer o certame nos últimos 3 anos consecutivos. Mas, mais do que ter um bom carro, precisa ter também um bom piloto para tirar dele o máximo, e Montoya demonstra ter qualidades para repetir os feitos de Alessandro Zanardi na categoria, talvez até ir mais longo do que o italiano. Uma prova disso é Jimmy Vasser, o outro piloto da Ganassi, que até agora não teve um desempenho à altura de seu equipamento. Se o americano não reagir, vai ficar à sombra do colombiano, como ficou à sombra de seu antecessor italiano no time.
Outras equipes também mostram a sua força: a Forsythe demonstrou ter poderio para lutar pelo título. Greg Moore lidera o campeonato, equilibrando arrojo e regularidade. Vendo que a vitória em Long Beach seria difícil, o canadense lutou para marcar pontos. A Newmann-Hass segue a mesma estratégia, enquanto se adapta melhor ao comportamento dos pneus da Firestone, e tanto Michael Andretti como Christian Fittipaldi estão na briga pelo título, podendo vencer a qualquer momento. A Tasman-Forsythe, depois de ficar meio ofuscada nas duas primeiras etapas, deu uma boa demonstração em Long Beach de que andar na frente é mais do que possível: Tony Kanaan largou na pole e dominava a corrida até bater sozinho. A primeira vitória de Kanaan pode não estar longe. A Green também está no páreo, especialmente com Dario Franchiti, que andou forte em todas as corridas e pode vir a surpreender mais à frente. A Patrick também confia em seu taco, com Adrian Fernandez tendo vencido o GP do Japão e ocupar a 2ª posição na classificação. E a Walker também parece ter recuperado o caminho do crescimento, pois Gil de Ferran divide com Fernandez a vice-liderança do mundial, fazendo da regularidade sua maior arma.
As próximas etapas agora voltam para os circuitos ovais: Nazareth, Rio de Janeiro, Madison e Milwaukee. Só em Portland o campeonato retorna aos circuitos de rua. Até lá, muita coisa ainda pode acontecer e o panorama mudar totalmente. Mas não existem favoritos destacados. Muitos pilotos tem condições de vencer, sem falar que zebras são muito passíveis de acontecer, com os pilotos menos cotados intrometendo-se na luta pelas primeiras posições.
No campo técnico, há bom equilíbrio na área de motores: tanto Mercedes quanto Ford e Honda demonstram ter potenciais parecidos, à exceção da Toyota, que ainda precisa melhorar bastante. A maior fábrica do ramo automotivo no Japão está trabalhando duro para chegar no nível de sua rival, a Honda. No campo dos pneus, dos pilotos de ponta, Gil de Ferran é o único a usar os pneus da Goodyear, ao lado de Al Unser Jr.. Se por um lado os pneus da fábrica americana já demonstraram maior durabilidade, os pneus japoneses ainda mostram melhor performance. Mesmo assim, Gil está tirando leite de pedra para andar mais rápido, como demonstrou no Japão ao conseguir a pole-position em Motegi. No campo dos chassis, a Reynard é franca favorita, por abastecer a maioria das escuderias, mas o chassi Swift mostrou qualidades, podendo desbancar a fábrica inglesa se mantiver a performance crescente. Fora da disputa, Lola e Penske lutam para conseguir recuperar o prestígio que um dia já desfrutaram na categoria.
No que tange aos pilotos brasileiros, tudo indica que deveremos ter um ano bem melhor do que os anteriores. Com exceção de Tarso Marques, Guálter Salles, e Luiz Garcia Jr., que não puderam mostrar nenhum resultado de monta, todos os demais pilotos brasileiros já deram mostras de talento e brilho nestas corridas iniciais. Gil de Ferran e Christian Fittipaldi usam a regularidade para subir no campeonato: ambos marcaram pontos em todas as provas, e conseguiram subir ao pódio em Motegi, onde Gil ainda foi pole. Em Long Beach, foi a vez de Tony Kanaan brilhar, largando na pole e liderando a corrida durante mais da metade do percurso, antes de bater e literalmente dar de presente o triunfo a Montoya. Em Miami, Cristiano da Matta e Hélio Castro Neves, apesar da inferioridade de seus carros, andaram muito bem. Maurício Gugelmim também chegou a liderar a prova do Japão. Chegar à vitória parece ser apenas questão de tempo, mas é preciso manter os pés no chão, para que o excesso de otimismo não gere erros por excesso de confiança. Em 1997 também se imaginava um ano com muitas vitórias, e acabamos tendo apenas 1, com Maurício Gugelmim, em Vancouver. Depois de passarmos em branco no ano passado, é chegada a hora de revertermos a onda descendente e voltarmos a dar as cartas na F-CART. A briga, contudo, promete ser dura, e não se pode errar.
Não há favoritos. Muita gente está firme na disputa. Que nossos pilotos entrem firmes na briga e possam trazer vitórias de novo para a alegria de nossa torcida. Acelerar é preciso...
A pista do circuito de Long Beach foi modificada, passando a ter aproximadamente 3 Km de extensão. Mas o aumento não significou muito em termos de pontos de ultrapassagem. Diversas partes da corrida foram uma verdadeira procissão em alta velocidade. Houve mais trocas de posições nos boxes do que na pista. Na reta dos boxes, teoricamente o melhor ponto para ultrapassagens devido à sua longa extensão, quase ninguém conseguia passar ninguém. Será que a F-CART está pegando ares de F-1? Espero que não...
Alessandro Zanardi já deve estar sentindo saudades da F-CART. Enquanto o italiano padece na F-1 com o carro temperamental da Williams para esta temporada, Juan Pablo Montoya, que assumiu seu lugar na equipe Chip Ganassi, venceu a prova de Long Beach. Coincidência ou não, foi nesta corrida ano passado que Zanardi iniciou sua escalada rumo ao bicampeonato na categoria. Zanardi já falaria até em voltar à F-CART, depois de cumprir o seu contrato de dois anos com a Williams, a menos é claro, que a situação do time inglês na F-1 mude...
Os planos da equipe Honda de F-1 que deve estrear no ano que vem sofreram um tremendo baque esta semana com a morte súbita de Harvey Postlethwaite por ataque cardíaco, em Barcelona. Postlethwaite, que era diretor técnico do novo programa de F-1 da fábrica japonesa, tinha 55 anos de idade. A morte do projetista, tido como peça importante no esquema da Honda para o seu retorno à F-1 no ano 2000, agora como um time completo, é mais um forte golpe e fonte de boatos sobre os planos dos japoneses para a categoria máxima do automobilismo. Devido aos altos custos do projeto (há quem fale em até US$ 300 milhões de gastos só para o ano 2000), a fábrica nipônica estaria repensando seu projeto, em virtude da atual crise da economia japonesa: de equipe completa, a Honda poderia voltar atrás e retornar oficialmente apenas como fornecedora de motores, como fez nos anos 1980 e início dos anos 1990. Agora, há quem diga que a Honda pode até abandonar o projeto de F-1. Mas até o momento, ainda não houve nenhuma declaração oficial da Honda sobre mudanças nos planos iniciais divulgados. Harvey Postlethwaite iniciou sua carreira na F-1 em 1971 na equipe March. Depois, participou do projeto da equipe Copersucar-Fittipaldi, de onde saiu para trabalhar na Ferrari. Ainda na década de 1970, o projetista trabalhou também nas equipes Hesketh e Wolf. Seu último trabalho de renome foi o Tyrrel DG19 de 1990, que lançou a moda dos bicos elevados na F-1.
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