Com três vitórias na temporada, Antonio Felix da Costa chegou ao título na F-E. |
A Formula-E encerrou
sua temporada 2019/2020 com sua rodada sêxtupla disputada no antigo aeroporto
de Berlim, Tempelhof, e conseguiu eleger o seu campeão, o português Antonio
Félix da Costa, que com todos os méritos, conquistou a taça com enorme
competência, mantendo-se constante e firme, enquanto os rivais ficaram pelo
caminho, digladiando-se entre si, a ponto de o português da equipe Techeetah
terminar a temporada com quase o dobro de pontos do vice-campeão, mostrando que
a última temporada da categoria de carros monopostos totalmente elétricos viveu
um ano atípico, uma vez que as disputas costumam ser mais equilibradas.
Não que não tenha
havido equilíbrio. Na verdade, a disputa pelo vice-campeonato ficou mesmo
embolada, e no final, o belga Stoffel Vandoorne ficou com o vice-título, mas
por uma diferença de apenas 1 ponto, à frente do bicampeão Jean-Éric Vergne. E
este, por sua vez, ficou apenas dois pontos à frente de Sebastien Buemi, com o
suíço também ostentando uma vantagem mínima para seu companheiro de equipe,
Oliver Rownland. Um pouco mais atrás, Lucas Di Grassi foi o 6º colocado, apenas
10 pontos atrás de Vandoorne. Apenas Da Costa desequilibrou, disparando na
frente, enquanto todos se engalfinhavam atrás dele. Ninguém conseguiu assumir
um contraponto constante à escalada do piloto português.
E olhe que Antonio não
começou a temporada empolgando, na rodada dupla disputada na Arábia Saudita,
quando marcou apenas 1 ponto nas duas provas. Mas o português se enturmou com
perfeição em seu novo time, a Techeetah, que vinha de dois títulos nas últimas
temporadas, com o francês Jean-Éric Vergne, e manteve sua excelência de
performance nesta última temporada, ainda que Vergne também não tenha tido o
melhor início de temporada que esperava. Mas a equipe chinesa acertou o rumo, e
Antonio subiu ao pódio com um excelente segundo lugar em Santiago, repetindo a
dose na Cidade do México, e mostrando que seria um nome forte para o título.
Impressão que acabou confirmada com o triunfo em Marrakesh, sua segunda vitória
na F-E, após ter vencido pela primeira vez na temporada anterior, quando
defendia a BMW Andretti.
A BMW Andretti brilhou, mas ficou devendo na luta pelo título mais uma vez. |
Mas aí, veio a
pandemia do coronavírus, e tudo parou no mundo. E só muitas semanas depois,
quando se viu que não seria possível retomar o campeonato com as corridas
programadas inicialmente, a direção da F-E trabalhou no plano de fechar a
temporada com rodadas seguidas na pista montada no antigo pátio de aviões do
desativado aeroporto de Tempelhof, em Berlim. Neste meio tempo, todos os times
ficaram com suas atividades congeladas durante muitas semanas, de modo que o
planejamento de desenvolvimento dos carros não pode seguir conforme os times
queriam. E uma rodada de seis provas iria colocar carros e pilotos à prova,
numa operação jamais vista antes em uma categoria de competição atual. Com seu
costumeiro grau de imprevisibilidade, tudo poderia acontecer nestas seis
provas, mas ao menos a F-E fecharia o seu ano, e ganharia tempo nos próximos
meses, a fim de se preparar para a próxima temporada, cujo calendário terá
início em janeiro de 2021, quando esperemos que o panorama mundial esteja bem
mais normalizado, e quem sabe, a pandemia tenha se tornado algo passado.
E Antonio simplesmente
arrasou os rivais no início das provas em Tempelhof, vencendo de forma
categórica as duas primeiras corridas, enquanto todo mundo vivia altos e
baixos, sem conseguir impedir que o português virasse favorito único ao título.
Até mesmo Vergne, companheiro de Da Costa na Techeetah, não conseguia responder
à disparada do parceiro, vivenciando vários azares que praticamente o impediram
de defender o seu título. Não deu outra: com um 4º lugar, e outro 2º, nas duas
provas seguintes, devido à inconstância dos rivais mais “próximos”, Antonio garantiu
matematicamente o título da competição. Restou a briga pelo vice-campeonato,
que conforme mencionei na coluna da semana passada, ia ser acirrada, com vários
pilotos na briga. E vimos mesmo alguns bons duelos. Pode não ter sido o melhor
encerramento de campeonato, mas deu para o gasto, e a F-E agora volta seus
olhos para os próximos meses, confiante em um horizonte mais promissor e
esperançoso.
O time chinês reforça
sua posição de melhor escuderia da F-E. Já havia conseguido fazer de Jean-Éric
Vergne o primeiro bicampeão do certame de carros elétricos monopostos, ao
vencer as últimas duas temporadas. Se na antepenúltima temporada ficou com o
vice-campeonato de equipes, perdendo para a Audi por míseros dois pontos, na
temporada passada já havia derrotado os alemães e conquistado também o título
de equipes. E repetiu a dose desta vez, com vantagem ainda maior. Antonio Félix
da Costa já é o piloto a ser batido na próxima temporada, e ninguém pode
descartar Vergne, que certamente vai querer mostrar que este ano foi apenas um
desvio de percurso, em sua vitoriosa trajetória no time, que pode se preparar
para enfrentar as demais forças do grid, que certamente não vão querer levar
outra lavada igual à sofrida este ano. A pergunta é: irão conseguir isso? Falta
combinar com os chineses da Techeetah e com sua dupla de pilotos...
Teremos algumas
mudanças no grid. Algumas, na verdade, até já aconteceram antes desta rodada
sêxtupla em Berlim. Daniel Abt, que defendia o time da Audi desde a estréia da
F-E, acabou demitido por usar um “dublê” numa corrida virtual, e acabou
disputando as provas finais na Nio. Possivelmente ele permaneça por lá, ao lado
de Oliver Turvey. O time terminou a temporada na última posição, sem conseguir
marcar um ponto sequer, mostrando que a F-E também tem lá seus desafios de
competição. O lugar de Abt na Audi acabou ocupado por René Rast, nome ligado à
Audi, e que começou de forma meio atrapalhada, mas dando a volta por cima, e
terminando as duas corridas finais com resultados expressivos, e muito
provavelmente garantindo sua permanência no time das quatro argolas para a
próxima temporada, ao lado do brasileiro Lucas di Grassi, que segue firme na
escuderia.
Lucas Di Grassi (acima) e Sebastien Buemi (abaixo) acabaram passando a temporada sem vencer. Audi e e.dams não conseguiram deter a Techeetah e Antonio Felix da Costa. |
Lucas, aliás, teve sua
primeira temporada sem vitórias na categoria, assim como ficou fora do TOP-3
também pela primeira vez. A Audi não conseguiu se acertar neste último ano, e
seu desenvolvimento acabou comprometido pela pandemia, que não permitir
trabalhar como esperava. O brasileiro teve péssimas posições de largada, tendo
de fazer corridas de recuperação que não renderam o esperado, além de alguns
erros cometidos por Lucas em alguns momentos, que complicaram sua vida, além de
alguns azares que o impediram de tentar até mesmo lutar com mais força pelo
vice-campeonato. Ao menos ele mesmo admitiu que o desempenho, tanto do carro
quanto de si próprio, ficou devendo em momentos cruciais. Para a Audi, também
foi embaraçoso se ver superada por suas concorrentes diretas da Alemanha. A
Mercedes, que estreou oficialmente nesta temporada no certame, terminou o ano
em 3º lugar, enquanto a BMW Andretti ficou em 5º, logo à frente da Audi, que só
não viu o pior dos mundos porque a Porsche, que também estreou neste último
ano, foi a 8ª colocada entre as equipes. A Audi está presente desde o início da
F-E, ainda que o time só tenha ganho o status de time de fábrica algum tempo
depois. Ser superada por duas rivais mais “novas” na competição não estava nos
planos. De positivo, ao menos Rast mostrou que poderá batalhar por bons
resultados para o time com mais capacidade que Daniel Abt, indicando que Lucas
Di Grassi terá um companheiro mais aguerrido daqui para frente, no qual o
brasileiro precisará ficar de olho para não ser pego com a guarda baixa.
Méritos para a
Mercedes, que em seu primeiro ano “oficial”, termina a temporada em 3º lugar,
tendo inclusive marcado suas primeiras pole e vitória na última corrida, com
Stoffel Vandoorne, e ainda feito uma dobradinha com Nick De Vries. O resultado
catapultou o belga para o vice-campeonato, superando o bicampeão Jean-Éric
Vergne, e mostrando que o time das três pontas está encarando sua empreitada na
F-E com a mesma seriedade com que vem dominando a F-1 nas últimas temporadas.
Se o time não conseguiu chegar perto da e.dams e da Techeetah, por outro lado
ficou à frente dos demais times, quase todos eles bem mais experientes na
categoria, e que deviam ter mostrado melhores desempenhos.
A BMW Andretti, por
exemplo, até que ficou “estável”: o time venceu corrida, mas negou fogo na hora
de tentar lutar pelo título, assim como ocorreu na temporada anterior, quando a
BMW fez sua estréia “oficial” na F-E. Já a e.dams teve seu “melhor” ano em pelo
menos três temporadas, ficando com a 2ª posição entre as equipes, e pelo menos
vencendo uma corrida, com Oliver Rowland. Sebastien Buemi, apesar de andar
forte em algumas etapas, foi outro piloto que ficou sem vencer na temporada,
tendo tido um princípio ruim, e só se recuperando mais nas últimas corridas.
Mesmo assim, viu seu companheiro obter a única vitória da equipe no ano, e por pouco
não ficou atrás dele na classificação final da temporada. Se na temporada
passada Buemi não teve problemas para se manter à frente do novo colega de
time, este ano tudo ficou mais complicado, e o suíço também precisa ficar
atento se quiser se manter como principal piloto do time.
Na Virgin, aliás, sua
dupla de pilotos viveu altos e baixos, sem que um conseguisse se sobressair
sobre o outro. Sam Bird terminou à frente, em 10º, mas Robin Frijns cresceu nas
etapas de Berlim, e terminou em 12º, apenas 5 pontos atrás do inglês. Bird,
aliás, é um dos que mudarão de time para o próximo ano. Depois de defender a
Virgin desde que a F-E estreou, Sam irá correr pela Jaguar em 2021, sendo o
novo companheiro de Mith Evans, e esperando ter melhores chances de lutar pelo
título da categoria. Na comparação deste ano, a Virgin até começou melhor, mas
assim como aconteceu outras vezes, o time perdeu fôlego conforme a temporada
avançava, de modo que Bird ficou logo para trás no meio dos concorrentes. Por
outro lado, a Jaguar até dava pinta de crescer, e tentar complicar a situação
da Techeetah, mas bastou começarem as provas em Berlim para o time inglês ver
tudo dar errado, de forma que Mith Evans, despencou na classificação, assim
como a escuderia, com Mith terminando o ano em 7º lugar, mesma posição da
Jaguar na temporada. James Calado, companheiro de Evans no time, teve um ano
literalmente para esquecer, com muitos azares em diversas etapas.
A equipe Venturi confirmou que Felipe Massa não segue no time, e muito provavelmente, na F-E no próximo ano. |
E quem encerrou sua
participação na F-E foi Felipe Massa. O piloto brasileiro, que havia estreado
na categoria na temporada passada, defendendo a equipe Venturi, cumpriu o seu
contrato de dois anos com o time sediado em Mônaco, e mesmo tendo opção para
permanecer na próxima temporada, preferiu encerrar seu vínculo. O desempenho de
Felipe caiu muito neste último ano, e isso não se deu apenas pela queda de
performance da escuderia. Se no ano passado a Venturi terminou em 8º lugar,
este ano o time foi o 10º colocado, à frente apenas da Dragon, e da Nio. A
comparação dos resultados é com seu companheiro de equipe Edoardo Mortara, que
no ano anterior, terminou em 14º, com 52 pontos, uma posição à frente de Massa,
o 15º, com 36 pontos. Neste ano, Mortara manteve a 14ª colocação, com 41
pontos, mas Massa terminou em 22º, tendo marcado apenas 3 pontos. Mesmo
considerando os azares e percalços sofridos pelo brasileiro, a comparação de
resultados é completamente desfavorável a Felipe, que infelizmente não
conseguiu se encaixar na F-E como esperava, e acabou superado de forma até
contundente pelo companheiro de equipe, quando se esperava Massa estar mais
acostumado ao certame em seu segundo ano de participação.
A Porsche até que fez
um ano de estréia decente, mas teve alguns percalços que a impediram de chegar
mais longe. Enquanto isso, a Mahindra não conseguiu mostrar o mesmo desempenho
dos anos anteriores, despencando mais para o fundo do pelotão, mas conseguindo
ainda se manter melhor do que a Venturi. Já a Dragon manteve sua falta de
performance, apesar de alguns brilharecos de seus pilotos, que conseguiram colocar
o time mais à frente em alguns momentos, e pelo menos, garantiram dois suados
pontos para evitar que o time passasse o ano completamente em branco, a exemplo
da Nio, que continua a ser o pior time do grid mais uma vez.
O Brasil teve mais um
piloto para torcer nesta rodada sêxtupla em Berlim: Sérgio Sette Câmara
substituiu Brendon Hartley na equipe Dragon, e apesar de penar nos momentos
iniciais, evoluiu muito de performance, tendo conseguido até certo destaque nos
treinos, e no início de algumas corridas. Sergio, contudo, não conseguiu
superar a falta de performance do carro nas corridas, não conseguindo pontuar,
mas deixou uma excelente impressão em Jay Penske, que já teria até oferecido um
contrato ao brasileiro para defender o time em toda a próxima temporada. Um
convite que deverá ser considerado, apesar de a Dragon não oferecer a melhor
das perspectivas de competição no curto prazo. Por outro lado, é incerta as
possibilidades de Câmara com relação à F-1, onde é piloto da Red Bull, uma vez
que não há uma definição exata sobre a dupla da equipe Alpha Tauri para 2021. Pierre
Gasly deve seguir, mas Danill Kvyat não pode ser considerado fora da jogada
também.
Ficamos agora no
aguardo das novidades da F-E para sua próxima temporada. Uma temporada que,
esperamos todos, seja um retorno à normalidade, e mantendo suas disputas e
competitividade, para que possamos ter boas corridas e bons duelos.
E a F-1 chegou a Barcelona, para
a disputa do Grande Prêmio da Espanha. E a perspectiva é de que a Mercedes, a
exemplo do que ocorreu em Silverstone domingo passado, pode voltar a ter alguns
problemas com a durabilidade de seus pneus nas altas temperaturas. O clima está
quente na Catalunha, e isso pode significar novas dificuldades para o time alemão
conseguir gerenciar seus compostos na corrida. Foi uma semana intensa, com os
engenheiros de Brackley tentando entender com maior clareza como o modelo W11
consumiu tão rápido os pneus na prova de domingo passado, a ponto de serem
surpreendidos e superados por uma Red Bull e um Max Verstappen atrevidos e
aguerridos, sofrendo sua primeira derrota na atual temporada. Mesmo que Lewis
Hamilton ainda permaneça com uma vantagem considerável na classificação, a
ordem é impedir que a Red Bull possa surpreender novamente, e por isso, as
atenções deverão ser redobradas nos treinos para tentar entender todas as
nuances do comportamento dos pneus. Isso deve proporcionar alguma emoção à
corrida, já que, por testarem tanto na pista de Barcelona nas pré-temporadas,
geralmente os times conhecem a pista tão bem, que as provas no circuito não tem
demonstrado muitas surpresas e as disputas costumam ser bem burocráticas. Mas a
turma da Red Bull anda bem animada depois do triunfo em Silverstone, e está
louca para repetir a dose neste fim de semana. E Verstappen, como ele mesmo
disse, não está na pista para “andar como sua avó”, então, podem ficar
preparados para o que o atrevido holandês pode aprontar...
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