sexta-feira, 14 de agosto de 2020

DA COSTA CAMPEÃO


Com três vitórias na temporada, Antonio Felix da Costa chegou ao título na F-E.
            A Formula-E encerrou sua temporada 2019/2020 com sua rodada sêxtupla disputada no antigo aeroporto de Berlim, Tempelhof, e conseguiu eleger o seu campeão, o português Antonio Félix da Costa, que com todos os méritos, conquistou a taça com enorme competência, mantendo-se constante e firme, enquanto os rivais ficaram pelo caminho, digladiando-se entre si, a ponto de o português da equipe Techeetah terminar a temporada com quase o dobro de pontos do vice-campeão, mostrando que a última temporada da categoria de carros monopostos totalmente elétricos viveu um ano atípico, uma vez que as disputas costumam ser mais equilibradas.
            Não que não tenha havido equilíbrio. Na verdade, a disputa pelo vice-campeonato ficou mesmo embolada, e no final, o belga Stoffel Vandoorne ficou com o vice-título, mas por uma diferença de apenas 1 ponto, à frente do bicampeão Jean-Éric Vergne. E este, por sua vez, ficou apenas dois pontos à frente de Sebastien Buemi, com o suíço também ostentando uma vantagem mínima para seu companheiro de equipe, Oliver Rownland. Um pouco mais atrás, Lucas Di Grassi foi o 6º colocado, apenas 10 pontos atrás de Vandoorne. Apenas Da Costa desequilibrou, disparando na frente, enquanto todos se engalfinhavam atrás dele. Ninguém conseguiu assumir um contraponto constante à escalada do piloto português.
            E olhe que Antonio não começou a temporada empolgando, na rodada dupla disputada na Arábia Saudita, quando marcou apenas 1 ponto nas duas provas. Mas o português se enturmou com perfeição em seu novo time, a Techeetah, que vinha de dois títulos nas últimas temporadas, com o francês Jean-Éric Vergne, e manteve sua excelência de performance nesta última temporada, ainda que Vergne também não tenha tido o melhor início de temporada que esperava. Mas a equipe chinesa acertou o rumo, e Antonio subiu ao pódio com um excelente segundo lugar em Santiago, repetindo a dose na Cidade do México, e mostrando que seria um nome forte para o título. Impressão que acabou confirmada com o triunfo em Marrakesh, sua segunda vitória na F-E, após ter vencido pela primeira vez na temporada anterior, quando defendia a BMW Andretti.
A BMW Andretti brilhou, mas ficou devendo na luta pelo título mais uma vez.
            Mas aí, veio a pandemia do coronavírus, e tudo parou no mundo. E só muitas semanas depois, quando se viu que não seria possível retomar o campeonato com as corridas programadas inicialmente, a direção da F-E trabalhou no plano de fechar a temporada com rodadas seguidas na pista montada no antigo pátio de aviões do desativado aeroporto de Tempelhof, em Berlim. Neste meio tempo, todos os times ficaram com suas atividades congeladas durante muitas semanas, de modo que o planejamento de desenvolvimento dos carros não pode seguir conforme os times queriam. E uma rodada de seis provas iria colocar carros e pilotos à prova, numa operação jamais vista antes em uma categoria de competição atual. Com seu costumeiro grau de imprevisibilidade, tudo poderia acontecer nestas seis provas, mas ao menos a F-E fecharia o seu ano, e ganharia tempo nos próximos meses, a fim de se preparar para a próxima temporada, cujo calendário terá início em janeiro de 2021, quando esperemos que o panorama mundial esteja bem mais normalizado, e quem sabe, a pandemia tenha se tornado algo passado.
            E Antonio simplesmente arrasou os rivais no início das provas em Tempelhof, vencendo de forma categórica as duas primeiras corridas, enquanto todo mundo vivia altos e baixos, sem conseguir impedir que o português virasse favorito único ao título. Até mesmo Vergne, companheiro de Da Costa na Techeetah, não conseguia responder à disparada do parceiro, vivenciando vários azares que praticamente o impediram de defender o seu título. Não deu outra: com um 4º lugar, e outro 2º, nas duas provas seguintes, devido à inconstância dos rivais mais “próximos”, Antonio garantiu matematicamente o título da competição. Restou a briga pelo vice-campeonato, que conforme mencionei na coluna da semana passada, ia ser acirrada, com vários pilotos na briga. E vimos mesmo alguns bons duelos. Pode não ter sido o melhor encerramento de campeonato, mas deu para o gasto, e a F-E agora volta seus olhos para os próximos meses, confiante em um horizonte mais promissor e esperançoso.
            O time chinês reforça sua posição de melhor escuderia da F-E. Já havia conseguido fazer de Jean-Éric Vergne o primeiro bicampeão do certame de carros elétricos monopostos, ao vencer as últimas duas temporadas. Se na antepenúltima temporada ficou com o vice-campeonato de equipes, perdendo para a Audi por míseros dois pontos, na temporada passada já havia derrotado os alemães e conquistado também o título de equipes. E repetiu a dose desta vez, com vantagem ainda maior. Antonio Félix da Costa já é o piloto a ser batido na próxima temporada, e ninguém pode descartar Vergne, que certamente vai querer mostrar que este ano foi apenas um desvio de percurso, em sua vitoriosa trajetória no time, que pode se preparar para enfrentar as demais forças do grid, que certamente não vão querer levar outra lavada igual à sofrida este ano. A pergunta é: irão conseguir isso? Falta combinar com os chineses da Techeetah e com sua dupla de pilotos...
            Teremos algumas mudanças no grid. Algumas, na verdade, até já aconteceram antes desta rodada sêxtupla em Berlim. Daniel Abt, que defendia o time da Audi desde a estréia da F-E, acabou demitido por usar um “dublê” numa corrida virtual, e acabou disputando as provas finais na Nio. Possivelmente ele permaneça por lá, ao lado de Oliver Turvey. O time terminou a temporada na última posição, sem conseguir marcar um ponto sequer, mostrando que a F-E também tem lá seus desafios de competição. O lugar de Abt na Audi acabou ocupado por René Rast, nome ligado à Audi, e que começou de forma meio atrapalhada, mas dando a volta por cima, e terminando as duas corridas finais com resultados expressivos, e muito provavelmente garantindo sua permanência no time das quatro argolas para a próxima temporada, ao lado do brasileiro Lucas di Grassi, que segue firme na escuderia.
Lucas Di Grassi (acima) e Sebastien Buemi (abaixo) acabaram passando a temporada sem vencer. Audi e e.dams não conseguiram deter a Techeetah e Antonio Felix da Costa.
            Lucas, aliás, teve sua primeira temporada sem vitórias na categoria, assim como ficou fora do TOP-3 também pela primeira vez. A Audi não conseguiu se acertar neste último ano, e seu desenvolvimento acabou comprometido pela pandemia, que não permitir trabalhar como esperava. O brasileiro teve péssimas posições de largada, tendo de fazer corridas de recuperação que não renderam o esperado, além de alguns erros cometidos por Lucas em alguns momentos, que complicaram sua vida, além de alguns azares que o impediram de tentar até mesmo lutar com mais força pelo vice-campeonato. Ao menos ele mesmo admitiu que o desempenho, tanto do carro quanto de si próprio, ficou devendo em momentos cruciais. Para a Audi, também foi embaraçoso se ver superada por suas concorrentes diretas da Alemanha. A Mercedes, que estreou oficialmente nesta temporada no certame, terminou o ano em 3º lugar, enquanto a BMW Andretti ficou em 5º, logo à frente da Audi, que só não viu o pior dos mundos porque a Porsche, que também estreou neste último ano, foi a 8ª colocada entre as equipes. A Audi está presente desde o início da F-E, ainda que o time só tenha ganho o status de time de fábrica algum tempo depois. Ser superada por duas rivais mais “novas” na competição não estava nos planos. De positivo, ao menos Rast mostrou que poderá batalhar por bons resultados para o time com mais capacidade que Daniel Abt, indicando que Lucas Di Grassi terá um companheiro mais aguerrido daqui para frente, no qual o brasileiro precisará ficar de olho para não ser pego com a guarda baixa.
            Méritos para a Mercedes, que em seu primeiro ano “oficial”, termina a temporada em 3º lugar, tendo inclusive marcado suas primeiras pole e vitória na última corrida, com Stoffel Vandoorne, e ainda feito uma dobradinha com Nick De Vries. O resultado catapultou o belga para o vice-campeonato, superando o bicampeão Jean-Éric Vergne, e mostrando que o time das três pontas está encarando sua empreitada na F-E com a mesma seriedade com que vem dominando a F-1 nas últimas temporadas. Se o time não conseguiu chegar perto da e.dams e da Techeetah, por outro lado ficou à frente dos demais times, quase todos eles bem mais experientes na categoria, e que deviam ter mostrado melhores desempenhos.
Stoffel Vandoorne levou a Mercedes ao degrau mais alto do pódio no encerramento da temporada e terminou com o vice-campeonato, atrás somente de Da Costa. Bom início para a marca na categoria dos carros elétricos.
            A BMW Andretti, por exemplo, até que ficou “estável”: o time venceu corrida, mas negou fogo na hora de tentar lutar pelo título, assim como ocorreu na temporada anterior, quando a BMW fez sua estréia “oficial” na F-E. Já a e.dams teve seu “melhor” ano em pelo menos três temporadas, ficando com a 2ª posição entre as equipes, e pelo menos vencendo uma corrida, com Oliver Rowland. Sebastien Buemi, apesar de andar forte em algumas etapas, foi outro piloto que ficou sem vencer na temporada, tendo tido um princípio ruim, e só se recuperando mais nas últimas corridas. Mesmo assim, viu seu companheiro obter a única vitória da equipe no ano, e por pouco não ficou atrás dele na classificação final da temporada. Se na temporada passada Buemi não teve problemas para se manter à frente do novo colega de time, este ano tudo ficou mais complicado, e o suíço também precisa ficar atento se quiser se manter como principal piloto do time.
            Na Virgin, aliás, sua dupla de pilotos viveu altos e baixos, sem que um conseguisse se sobressair sobre o outro. Sam Bird terminou à frente, em 10º, mas Robin Frijns cresceu nas etapas de Berlim, e terminou em 12º, apenas 5 pontos atrás do inglês. Bird, aliás, é um dos que mudarão de time para o próximo ano. Depois de defender a Virgin desde que a F-E estreou, Sam irá correr pela Jaguar em 2021, sendo o novo companheiro de Mith Evans, e esperando ter melhores chances de lutar pelo título da categoria. Na comparação deste ano, a Virgin até começou melhor, mas assim como aconteceu outras vezes, o time perdeu fôlego conforme a temporada avançava, de modo que Bird ficou logo para trás no meio dos concorrentes. Por outro lado, a Jaguar até dava pinta de crescer, e tentar complicar a situação da Techeetah, mas bastou começarem as provas em Berlim para o time inglês ver tudo dar errado, de forma que Mith Evans, despencou na classificação, assim como a escuderia, com Mith terminando o ano em 7º lugar, mesma posição da Jaguar na temporada. James Calado, companheiro de Evans no time, teve um ano literalmente para esquecer, com muitos azares em diversas etapas.
A equipe Venturi confirmou que Felipe Massa não segue no time, e muito provavelmente, na F-E no próximo ano.
            E quem encerrou sua participação na F-E foi Felipe Massa. O piloto brasileiro, que havia estreado na categoria na temporada passada, defendendo a equipe Venturi, cumpriu o seu contrato de dois anos com o time sediado em Mônaco, e mesmo tendo opção para permanecer na próxima temporada, preferiu encerrar seu vínculo. O desempenho de Felipe caiu muito neste último ano, e isso não se deu apenas pela queda de performance da escuderia. Se no ano passado a Venturi terminou em 8º lugar, este ano o time foi o 10º colocado, à frente apenas da Dragon, e da Nio. A comparação dos resultados é com seu companheiro de equipe Edoardo Mortara, que no ano anterior, terminou em 14º, com 52 pontos, uma posição à frente de Massa, o 15º, com 36 pontos. Neste ano, Mortara manteve a 14ª colocação, com 41 pontos, mas Massa terminou em 22º, tendo marcado apenas 3 pontos. Mesmo considerando os azares e percalços sofridos pelo brasileiro, a comparação de resultados é completamente desfavorável a Felipe, que infelizmente não conseguiu se encaixar na F-E como esperava, e acabou superado de forma até contundente pelo companheiro de equipe, quando se esperava Massa estar mais acostumado ao certame em seu segundo ano de participação.
            A Porsche até que fez um ano de estréia decente, mas teve alguns percalços que a impediram de chegar mais longe. Enquanto isso, a Mahindra não conseguiu mostrar o mesmo desempenho dos anos anteriores, despencando mais para o fundo do pelotão, mas conseguindo ainda se manter melhor do que a Venturi. Já a Dragon manteve sua falta de performance, apesar de alguns brilharecos de seus pilotos, que conseguiram colocar o time mais à frente em alguns momentos, e pelo menos, garantiram dois suados pontos para evitar que o time passasse o ano completamente em branco, a exemplo da Nio, que continua a ser o pior time do grid mais uma vez.
            O Brasil teve mais um piloto para torcer nesta rodada sêxtupla em Berlim: Sérgio Sette Câmara substituiu Brendon Hartley na equipe Dragon, e apesar de penar nos momentos iniciais, evoluiu muito de performance, tendo conseguido até certo destaque nos treinos, e no início de algumas corridas. Sergio, contudo, não conseguiu superar a falta de performance do carro nas corridas, não conseguindo pontuar, mas deixou uma excelente impressão em Jay Penske, que já teria até oferecido um contrato ao brasileiro para defender o time em toda a próxima temporada. Um convite que deverá ser considerado, apesar de a Dragon não oferecer a melhor das perspectivas de competição no curto prazo. Por outro lado, é incerta as possibilidades de Câmara com relação à F-1, onde é piloto da Red Bull, uma vez que não há uma definição exata sobre a dupla da equipe Alpha Tauri para 2021. Pierre Gasly deve seguir, mas Danill Kvyat não pode ser considerado fora da jogada também.
            Ficamos agora no aguardo das novidades da F-E para sua próxima temporada. Uma temporada que, esperamos todos, seja um retorno à normalidade, e mantendo suas disputas e competitividade, para que possamos ter boas corridas e bons duelos.


E a F-1 chegou a Barcelona, para a disputa do Grande Prêmio da Espanha. E a perspectiva é de que a Mercedes, a exemplo do que ocorreu em Silverstone domingo passado, pode voltar a ter alguns problemas com a durabilidade de seus pneus nas altas temperaturas. O clima está quente na Catalunha, e isso pode significar novas dificuldades para o time alemão conseguir gerenciar seus compostos na corrida. Foi uma semana intensa, com os engenheiros de Brackley tentando entender com maior clareza como o modelo W11 consumiu tão rápido os pneus na prova de domingo passado, a ponto de serem surpreendidos e superados por uma Red Bull e um Max Verstappen atrevidos e aguerridos, sofrendo sua primeira derrota na atual temporada. Mesmo que Lewis Hamilton ainda permaneça com uma vantagem considerável na classificação, a ordem é impedir que a Red Bull possa surpreender novamente, e por isso, as atenções deverão ser redobradas nos treinos para tentar entender todas as nuances do comportamento dos pneus. Isso deve proporcionar alguma emoção à corrida, já que, por testarem tanto na pista de Barcelona nas pré-temporadas, geralmente os times conhecem a pista tão bem, que as provas no circuito não tem demonstrado muitas surpresas e as disputas costumam ser bem burocráticas. Mas a turma da Red Bull anda bem animada depois do triunfo em Silverstone, e está louca para repetir a dose neste fim de semana. E Verstappen, como ele mesmo disse, não está na pista para “andar como sua avó”, então, podem ficar preparados para o que o atrevido holandês pode aprontar...

Nenhum comentário: