Hoje voltamos com a seção Arquivo,
trazendo outra de minhas antigas colunas. E esta foi publicada no dia 12 de
março de 1999. A F-1 tinha dado o seu início no fim de semana anterior, na
Austrália, e a temporada da categoria máxima do automobilismo naquele ano até
que começou com uma perspectiva interessante, e com Eddie Irvinne largando na
dianteira da competição, depois dos azares dos favoritos da dupla da McLaren, e
de seu companheiro de time Michael Schumacher. Curiosamente, o irlandês teria a
chance de sua vida naquele ano, e quase chegou lá. Seu fracasso não foi apenas
por culpa de si próprio, que negou fogo em alguns momentos, mas da própria Ferrari
e sua política torpe de visar unicamente as chances do piloto alemão,
esquecendo-se de que um time tem dois pilotos, e precisa saber contar com eles
ao mesmo tempo. Mas a escuderia italiana, desesperada por um novo títula havia
mais de duas décadas, não queria saber de nada que pudesse questionar seu modus
operandi, e por isso mesmo, mereceu perder a disputa naquele ano, que teve alguns
resultados bem inesperados em algumas corridas.
De resto, alguns tópicos rápidos
sobre outros acontecimentos na semana, como as dificuldades da Newmann-Hass e da
Goodyear para a temporada da F-CART (a Indy original), com a marca de pneus
norte-americana dando seus últimos suspiros na competição, sendo superada com
facilidade pela Firestone. A marca acabou até abandonando a F-1 para nunca mais
voltar, depois de ser superada pela Bridgestone, mas isso não melhorou seu
desempenho na categoria dos Estados Unidos, como esperava. Uma boa leitura a
todos, e em breve trago mais textos antigos por aqui...
FESTA DOS
COADJUVANTES
O
Mundial de Fórmula 1 começou bem a temporada 99 domingo passado, na Austrália.
A quebra das McLarens deu um panorama novo ao início da competição. Até que a
situação se normalize, provavelmente já na próxima corrida, aqui em Interlagos,
dá para curtir um pouco o que aconteceu em Melbourne.
Acompanhar
os primeiros treinos de um novo campeonato sempre é interessante, pelas dúvidas
e expectativas que costuma provocar. No treino de classificação no Albert Park,
a McLaren deixou a concorrência apavorada, ao marcar seus tempos com
aproximadamente o dobro da vantagem demonstrada no ano passado na mesma pista.
E na corrida, então, nem se fala: a concorrência só viu os carros prateados
pela traseira até a 3ª volta. Mika Hakkinem e David Coulthard dispararam na
frente, e se não fosse a quebra de ambos, muito provavelmente teriam vencido
com uma folga até maior do que a vista em 98.
Eddie
Irvinne conseguiu a primeira vitória de sua carreira. E ele soube aproveitar a
chance e a sorte que teve, pois Michael Schumacher teve um dia cheio de azares,
e andando em último, e com mais de uma volta de desvantagem, não havia como a
Ferrari favorecer o piloto alemão, como seria sua obrigação. A vitória de
Irvinne foi amplamente festejada pela torcida e também pelo piloto, que já diz
que vai entrar na luta pelo título. Se assim for, seria muito interessante
Michael Schumacher ter problemas nos próximos 4 ou 5 GPs, para que o irlandês
pudesse realmente sonhar com isso. Mas se Schumacher já tiver uma boa corrida
no Brasil, Irvinne terá de voltar ao posto de escudeiro do alemão, sendo jogado
para escanteio pelo seu próprio time, que só tem mesmo olhos para Michael.
Tivemos
boas estréias da Jordan, e principalmente da Stewart na prova australiana.
Heinz-Harald Frentzen subiu ao pódio, em 2º lugar, e superou seu ex-time, a
Williams, que só chegou ao pódio com Ralf Schumacher por sorte. Já Alessandro
Zanardi, bicampeão da F-CART, bateu e ficou pelo caminho. Mas a maior sensação
da prova foi Rubens Barrichello, que brilhou com o novo carro da Stewart.
Descontado o vexame de ter seus dois carros pegando fogo na formação do grid, o
time de Jackie Stewart mostra que acertou a mão no novo carro 99 e a
performance de Rubinho na pista do Albert Park, andando sempre entre os mais
rápidos em ritmo de corrida, dá boas perspectivas para o piloto brasileiro
neste campeonato. Não fossem as duas paradas de Box extras (uma punição e outra
para reabastecimento por problemas da parada anterior), Barrichello teria
chances reais até de ganhar a corrida. Que a Stewart permita a Rubinho brilhar
durante todo o campeonato.
Estréia
satisfatória teve a nova equipe BAR. Mas o time mostrou que ainda precisa
melhorar a confiabilidade e a Reynard viu quebrada a sua escrita de vencer
sempre na sua corrida de estréia em um campeonato. Mas o time mostra potencial,
só precisando ganhar mais experiência.
E
neste quesito, o novato Pedro de La
Rosa marcou o seu primeiro ponto em sua primeira corrida na
F-1. Não é pouco para um estreante, e melhor ainda para sua equipe, a Arrows,
que tenta superar a crise financeira que ronda o time. Toranosuke Takagi, o
outro piloto do time, acabou em 7º.
Nossos
pilotos também brilharam em
Melbourne. Já falei que a performance de Barrichello com o
novo carro da Stewart foi de encher os olhos. Pedro Paulo Diniz deixou Jean
Alesi na saudade e brilhou durante toda a corrida, até abandonar com o câmbio
de seu Sauber quebrado. E Ricardo Zonta, estreando na categoria, não deixou por
menos: depois de treinos conturbados, ele foi muito bem na corrida, e só não
pontuou porque seu carro também o deixou a pé. Apesar dos abandonos, foi
gratificante ver que tanto Diniz quanto Zonta têm equipamento para poderem
brilhar este ano na categoria, a exemplo de Rubinho. Podemos ter nosso melhor
ano na F-1 em várias temporadas.
Mas,
até prova em contrário, a McLaren ainda é a favorita disparada para lutar pelo
título. A contraprova será dada em Interlagos, no mês que vem, quando todos os
times da F-1 já deverão estar prontos para o que der e vier. E qualquer
surpresa nova, como o que aconteceu em Melbourne, vai ajudar a deixar o
campeonato mais agitado, para delírio dos torcedores.
Como de costume, o público presente no
Albert Park para o início da temporada foi excelente: mais de 350 mil pessoas.
E não faltou emoção na corrida, garantida pelas surpresas que ocorreram...
Depois de ser a sensação nos treinos
classificatórios com Rubens Barrichello, a Stewart deu um tremendo susto em
seus pilotos na formação do grid de largada, quando os motores de seus dois
carros pegaram fogo ao mesmo tempo. Cheguei a pensar que, depois de tanta
esperança nos treinos, a sina de azar da equipe continuava com toda a força.
Felizmente, o carro reserva não mostrou nenhum problema e Rubinho mostrou a
melhor performance de pilotagem do GP.
Estamos a uma semana do início do
campeonato da F-CART, e as perspectivas de disputa de uma boa temporada são
muito boas. Mas quem está tentando resgatar a sua imagem, não importando os
custos, é a Goodyear. Dos praticamente 30 carros que disputarão o campeonato,
apenas 5 irão usar os pneus americanos. A equipe Newmann-Hass, que há anos era
o time oficial da Goodyear, deu um basta na falta de competitividade dos
compostos da fábrica americana e debandou para a Firestone.
Por outro lado, a Newmann-Hass ainda tem
um pequeno problema a resolver no acerto do seu novo chassi Swift 99: ele já se
mostrou competitivo nos circuitos mistos, mas nas pistas ovais apresentou
instabilidades aerodinâmicas que comprometem boa parte da performance. E as
primeiras corridas do ano ocorrem em circuitos ovais, o que pode comprometer a
estréia da equipe no certame deste ano em termos em bons resultados iniciais.
Tony George, dono do circuito de
Indianápolis, esteve presente em Melbourne para ver como é que se organiza um
GP de F-1. Com a volta do Grande Prêmio dos Estados Unidos marcada para 2000 em
uma pista mista que será construída dentro do circuito oval mais famoso do
mundo, George quis ver de perto como é promover uma corrida da categoria máxima
do automobilismo. Não poderia escolher exemplo melhor, pois há anos os
australianos fazem um trabalho de promoção de sua corrida de dar inveja em meio
mundo...
Falando de GP, Interlagos deve ficar
lotado este ano. A recente desvalorização do real, e o cancelamento do GP da
Argentina, deve fazer da prova brasileira um evento muito atrativo para os
portenhos. Já para os brasileiros, a coisa não anda bem assim, mas depois da
boa perspectiva gerada na Austrália por nossos representantes na categoria,
tudo indica que os torcedores deverão comparecer em peso ao circuito paulistano
para apoiar nossos pilotos.
Alessandro Zanardi já sentiu o drama que
vai ser este seu ano de regresso à F-1. O piloto italiano andou sempre muito
atrás de seu companheiro de equipe, Ralf Schumacher. E, para complicar, Zanardi
ainda rodou e bateu o carro no meio da corrida. Ralf Schumacher, que é
conhecido pelas suas barbeiragens ao volante, conseguiu chegar incólume ao fim
da corrida, e ainda conseguiu subir ao pódio. Parece que vai ser um ano mais
difícil do que o italiano imaginava...
A Prost perdeu uma boa chance de subir
ao pódio na Austrália quando Jarno Trulli se enroscou em uma ultrapassagem
sobre Marc Gené. Alain Prost não gostou nada do que viu, e há quem garanta que
o italiano já anda com os dias contados na equipe francesa...
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