Marco Andretti levou sua família de volta à pole-position na Indy500 após seu avô Mario largar em primeiro em 1987. |
Este não é o último
final de semana do mês de maio, mas chegou o momento da realização das 500
Milhas de Indianápolis, uma das mais famosas e icônicas provas do automobilismo
mundial, que excepcionalmente, tiveram de ser adiadas para este mês de agosto,
devido à pandemia do coronavírus, que infelizmente virou o mundo de cabeça para
baixo. Se é positivo que a corrida ainda seja realizada, por outro lado, será
também uma prova solitária, já que os pilotos e seus times estarão correndo em
meio ao grande vazio que toma conta do Indianapolis Motor Speedway, com suas
imensas arquibancadas vazias pela primeira vez na história da corrida que já
tem mais de um século de idade.
Infelizmente, devido
ao aumento do número de casos da Covid-19 nos Estados Unidos, foi-se obrigado a
fazer assim. As últimas corridas da Indycar até permitiram a presença limitada
de público, e inicialmente, previa-se realizar a corrida com 50% de público nas
arquibancadas do IMS, número que depois foi rebaixado para 25%, até surgir a
decisão de que não haveria mesmo público. Roger Penske, novo proprietário do circuito,
e da própria Indycar, certamente esperava outro panorama para iniciar sua
gestão da famosa prova e tal decisão não foi fácil para ele, que chego9u a
dirigir uma carta aos fãs, lamentando o fato, mas estando ciente de que era o
correto a se fazer, e convidando os fãs a retornarem em 2021 para voltarem a
sentir juntos o clima festivo que sempre caracterizou a corrida. Tomara que
tudo corra bem, e que isso seja possível.
Para os pilotos, a
sensação de correr em um autódromo vazio é contraditória. Se por um lado eles
mesmos admitiram que estão bem mais tranquilos sem o assédio dos fãs, podendo
se concentrar mais em seu trabalho, por outro lado eles também dizem que é
estranho percorrerem as imensas retas do oval, e não virem o público
ovacionando-os, torcendo por eles, e comemorando sua performance. Fechar
totalmente os portões talvez tenha sido radical demais, e quem sabe, permitir
até 10% de público ainda fosse algo razoável que pudesse ser feito, já que as
instalações do IMS são imensas, capazes de suportar mais de 250 mil pessoas em
suas arquibancadas... Mas, no final, optou-se mais pela segurança, e não se
pode culpar ninguém por isso. O que podemos esperar é que a corrida possa ao
menos fazer juz à sua história, e apresentar duelos que façam com que os
torcedores possam ficar empolgados nos sofás de seus lares, de onde
acompanharão a prova dessa vez, torcendo por seus ídolos.
Largando na primeira fila, Scott Dixon é um dos favoritos para a indy500 deste ano. |
Na classificação,
vimos uma grande força das equipes com motores Honda, capazes de usufruir de
uma melhor performance do propulsor japonês diante de seus rivais da Chevrolet.
Mas os treinos apontam para um equilíbrio melhor entre as duas marcas, o que dá
a expectativa de uma prova com boas disputas. É torcer para que esta
expectativa se confirme. O novo kit aerodinâmico, contudo, não tem uma
histórico dos mais animadores, desde que foi introduzido em 2018. Com menos
downforce, ele dificultou as ultrapassagens no superspeedway, de modo que os
duelos acabaram perdendo parte de sua competitividade, já que os carros mais
soltos a alta velocidade representam um desafio mais arriscado na hora de uma
disputa de posição, uma vez que se tornou mais difícil embutir no vácuo de quem
vai à frente. E o novo aeroscreen, estrutura de proteção que fez sua estréia
neste ano, também pode tornar a operação um pouco mais complicada.
E ultrapassagens mais
difíceis devem tornar a corrida menos imprevisível. Uma prova de 500 milhas, em
tese, não se ganha apenas com velocidade, mas com constância e estratégia. Só
que é preciso ser capaz de ultrapassar os rivais na pista, no momento em que é
preciso partir para o ataque, e com o menor apoio aerodinâmico oferecido pelo
atual kit padrão dos carros, essa parte da estratégia pode ser inviabilizada,
dependendo da performance e posição de largada inicial de cara competidor. Em
outras palavras, as chances de alguém largar de trás e chegar na frente ficaram
bem menores, reduzindo as possibilidades de uma surpresa no desenrolar da
corrida. Não que ainda não seja possível, mas ficou mais difícil reverter uma
classificação ruim.
Neste aspecto, Scott
Dixon é o grande favorito. O neozelandês larga na primeira fila, e é um piloto
extremamente cerebral, sabendo aliar velocidade com visão de corrida e
estratégia. O piloto da Ganassi é o líder do campeonato, e com a pontuação
dobrada das 500 Milhas, um bom resultado nesta corrida pode significar
praticamente o título da temporada, dependendo de como seus rivais diretos se
saírem. Por isso mesmo, Marco Andretti não é levado muito a sério como um
favorito a vencer a prova, especialmente pelo seu histórico na categoria nos
últimos anos, e à constante sensação de que só está presente no grid por
competir na equipe de seu pai Michael. Posso até queimar a língua com relação
ao desempenho do piloto no domingo, mas Marco até hoje não se mostrou à altura
de seu pai, Michael, que apesar de tudo, nunca conseguiu vencer na Brickyard
Line. E mesmo o avô, Mario Andretti, só triunfou na prova uma única vez, lá no
final dos anos 1960. Será que ele conseguirá levar o clã Andretti ao segundo
triunfo nas 500 Milhas? A tarefa será difícil, especialmente pela presença de
Dixon logo ao lado, mas tem um complicador a mais, que é Takuma Sato, que fecha
a primeira fila do grid. O japonês já venceu a Indy500 em 2017, e como não está
na luta pelo título, será em tese o que tem menos a perder partindo para cima
logo de cara
A equipe Andretti é a
que está em melhor posição para tentar vencer a Indy500 deste ano. Além de
Marco largar na pole, Ryan Hunter-Reay larga em 5º, logo à frente de James
Hinchcliffe, que costuma andar bem nesta corrida, apesar de seus altos e baixos
na corrida. E não podemos deixar de fora Alexander Rossi, que venceu a prova em
2016, e larga em 9º, e quer muito se recuperar no campeonato. Coulton Herta,
que já demonstrou ser um dos grandes talentos da nova geração, larga em 10º, o
que significa que, das dez primeiras posições do grid, o time de Michael
Andretti ocupa metade delas. O único ponto destoante é Zack Veach, que larga em
17º. Por mais óbvio que seja precipitado apontar um favorito na corrida, é
inegável que a escuderia é a grande força para a corrida, a qual tem dividido
os triunfos com a arquirrival Penske nos últimos anos.
Rival, aliás, que está
em suas piores posições de largada em muito tempo. Josef Newgarden é o melhor
piloto classificado, em 13º. Will Power é o 22º, com Simon Pagenaud em 25º, e
Hélio Castro Neves em 28º. Vitoriosa nos últimos dois anos, a escuderia mais
poderosa da categoria vai ter de se desdobrar para repetir o feito desta vez,
especialmente porque tanto em 2018 quanto em 2019 seus pilotos largaram em 4º e
em 1º lugares, respectivamente, mostrando força desde os treinos. No ano em que
passou a ser dono tanto do campeonato quanto da Indy500 e do IMS, Roger Penske
vê que seu time não terá vida fácil na famosa corrida. Mas, se lembrarmos que a
Penske já passou pelo vexame de não conseguir se classificar em 1995, o
panorama de 2020 não é tão perturbador assim. Claro que facilita termos tido
apenas 33 carros inscritos para a prova deste ano, de modo que ninguém ficou
fora do grid...
Vencedora nos últimos dois anos, a Penske não foi bem na classificação deste ano, e seus pilotos precisarão escalar o pelotão com determinação em busca da vitória. |
Outro time que costuma
andar forte na Indy500 é a Carpenter, mas tal qual a Penske, o time de Ed
Carpenter também não foi exatamente bem na classificação este ano. Ed, por
exemplo, sai apenas em 16º, e Conor Daly em 18º. A esperança seria Rinus
Veekay, que foi o único a “furar” a supremacia dos carros da Honda, e sai em um
promissor 4º lugar. O problema é que, por ser novato na corrida, isso pode ser
um revés potencial, especialmente quando vários rivais mais calejados partem ao
seu lado. Veekay terá de ficar esperto para não perder o seu belo esforço feito
até aqui logo na largada, quando terá não apenas que tentar ganhar posições
quanto defender a sua.
Para os brasileiros, a
situação não será fácil. Tony Kanaan larga em 23º, e o histórico recente da
Foyt não é animador, mesmo nas pistas ovais. Por mais que o time do lendário
heptacampeão A. J. Foyt tenha procurado se concentrar na Indy500, a posição de
largada, mais a dificuldade para se ultrapassar que é esperada na corrida, e a
performance já deficiente do carro nesta temporada, não permite muitas
esperanças. Já Hélio Castro Neves, na sua pior posição de largada na Indy500, 28º,
ainda tem como trunfo um bom acerto para corrida, que pode leva-lo para a
frente, mas sem termos uma idéia mais exata de qual será sua força real no embate
com os times da Honda. Mas Hélio costuma se superar em Indianápolis, e o
brasileiro está mais motivado do que nunca para mostrar do que é capaz.
E não podemos esquecer
de outro detalhe importante: os muros do IMS. Indianápolis é uma pista que
impõe respeito, e o perigo está à espreita em cada curva. É preciso ser ousado
em Indianápolis, mas não se pode nunca deixar de respeitar a pista. Novatos ou
veteranos, todos estão sujeitos a terem surpresas desagradáveis durante a
corrida, quando manobras mal calculadas, ou azares e percalços dos mais
variados, podem resultar numa colisão que irá acabar com a corrida de vários
competidores. Muita coisa pode dar errado durante a corrida, e não é apenas na
pista que isso pode acontecer. Nos boxes, cada parada é crucial, e os mecânicos
precisam estar entrosados para fazer seu serviço da melhor maneira possível,
diante da pressão para devolver seu piloto o mais rápido possível à prova. Não
é difícil haver problemas numa parada nos boxes, e mesmo que tudo seja feito
corretamente, sempre há o risco do piloto deixar o motor morrer na hora de
sair.
E claro, tem que se
contar com a confiabilidade do equipamento. É uma prova de mais de 800
quilômetros, e os carros precisam resistir por pouco mais de três horas de
corrida a fundo. Não são poucos os bólidos que infelizmente deixam seus pilotos
na mão no meio do caminho. Ajuda quando o piloto sabe dosar seu equipamento,
evitando que ele se desgaste além da conta na prova, mas poucos pilotos
conseguem fazer isso e manter o ritmo forte ao mesmo tempo. Outros precisam
dosar o acelerador se não quiserem comprometer a fiabilidade do equipamento,
que depende também da competência dos mecânicos e engenheiros das escuderias.
Tudo tem de ser considerado para obter o melhor resultado.
A corrida terá
transmissão tanto pelo canal pago Bandsports quando pelo canal da TV
Bandeirantes, em sinal aberto, a partir das 15 Hrs. deste domingo, pelo horário
de Brasília. E o canal de streaming DAZN também faz a transmissão ao vivo pela
internet. Agora é torcermos por uma boa corrida, e que vença o melhor piloto. E
que possamos ter uma Indy500 “normal” em 2021, com o retorno do público às
arquibancadas de Indianápolis, para se comemorar e vivenciar a realização da corrida
como sempre gostaríamos que fosse possível fazer este ano...
Tony Kanaan pretendia se despedir
da Indy500 este ano, mas a pandemia da Covid-19 já está fazendo o piloto rever
seus planos. Tony afirmou que pretendia se despedir diante do público, algo que
não está sendo possível de fazer este ano, e por isso mesmo, já cogita talvez
permanecer um pouco mais nas pistas, e tentar novamente uma despedida no ano
que vem. Mas tudo isso ainda precisa ser planejado. Kanaan é direto ao afirmar
que nada tem acertado para o próximo ano, e que precisaria procurar um time, e
ainda batalhar por patrocínio para participar de novas corridas. Ele irá
começar a pensar sobre isso após a Indy500. Com sorte, poderemos vê-lo
novamente em ação no próximo ano, e quem sabe, ter uma despedida da Indy com
mais brilho do que o que estamos vendo este ano...
Hélio Castro Neves faz neste
final de semana, teoricamente, sua última participação em Indianápolis
defendendo a equipe Penske. Quando foi transferido para o time da Penske no
IMSA Wheather Tech, o acordo era de que o brasileiro teria um carro para
disputar a Indy500, mas Roger Penske desfez o acordo com a Honda para o
campeonato de endurance dos Estados Unidos, e liberou seus pilotos para
procurarem outros lugares e competições em 2021, incluindo o brasileiro, que já
revelou ter vontade de voltar à Indycar em tempo integral, e que já estaria em
contato com alguns times, sondando as possibilidades. Mas começa a surgir a
hipótese de a Penske voltar a competir com quatro carros em todo o campeonato
no próximo ano. Roger Penske renovou os contratos de Will Power, Simon
Pagenaud, e Josef Newgarden para a temporada de 2021, e nada impede que haja
mais um carro, que seria muito provavelmente ocupado por Helinho, como ocorria
até 2017. Afinal, a Andretti compete com quatro carros, e não há impedimentos
para a Penske fazer o mesmo. Capacidade técnica eles possuem, e arrumar
patrocinador para Hélio não seria problema algum, visto que o brasileiro é
muito popular nos Estados Unidos, e possui uma relação profissional com Roger
Penske que poucos pilotos tiveram até hoje. Seu retorno à Indy seria muito
bem-vindo, não apenas por parte dos torcedores, mas também para a categoria se
manter em evidência no Brasil, fora o fato de a Penske ser um time que propicia
a seus pilotos a chance de vencer o campeonato, algo que Helinho bateu na trave
várias vezes desde que passou a defender o time, em 2000. Para alguém que já
venceu a Indy500 três vezes e busca o quarto triunfo para igualar-se aos
maiores vitoriosos da Brickyard Line, vencer também o campeonato da Indycar
seria o complemento que falta na carreira vitoriosa do piloto de Ribeirão
Preto. Torço por sua volta à categoria, de onde nunca deveria ter saído...
Fernando Alonso vai para sua
segunda Indy500 sendo considerado mais um figurante do que um protagonista. O
espanhol larga apenas em 26º, e seu desempenho decaiu após sofrer um acidente em
um dos treinos livres. A direção da Indycar exalta a presença do espanhol na
prova, na qual ele fracassou em tentar participar no ano passado, mas o
entusiasmo não é o mesmo de sua primeira participação, em 2017. E, no curto
prazo, 2020 deve ser a última participação de Alonso na Indy500, uma vez que o
piloto já anunciou que, devido ao seu acordo com a equipe Renault de F-1, ele
não participará das edições de 2021 e 2022 da corrida em Indianápolis para se
concentrar no seu trabalho junto à fábrica francesa na F-1. O espanhol busca
igualar o feito de Graham Hill como o único piloto até hoje a vencer a “Tríplice
Coroa” do automobilismo, vencendo a Indy500, as 24 Horas de Le Mans, e o GP de
Mônaco de F-1. A Indy500 é o troféu que falta para o espanhol repetir a proeza
de Hill. Um desafio que será complicado este ano, não apenas pela posição de
largada, mas pelo desempenho levemente superior dos concorrentes equipados com
motores da Honda na Indycar.
Fernando Alonso: última chance de tentar vencer a Indy500? Espanhol estará concentrado na F-1 nos próximos dois anos. |
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