Há 10 anos, Rubens Barrichello venceu o GP da Itália, naquela que seria não apenas a sua última vitória na F-1, mas também a última de um piloto brasileiro na categoria. |
Domingo passado,
tivemos o Grande Prêmio da Itália, e com uma atuação magistral, Charles LeClerc
triunfou, depois de sofrer forte pressão por parte da dupla da Mercedes, para
levar a Ferrari de volta ao topo do pódio na pista de Monza, encerrando um
jejum de praticamente 9 anos sem triunfo da escuderia italiana em casa. A
última vitória da rossa no Parque de Monza havia sido em 2010, com Fernando
Alonso, na época a grande esperança dos tiffosi para levar de novo o time de
Maranello de volta ao título, depois dos anos gloriosos de Michael Schumacher,
e do solitário título de Kimi Raikkonem. Alonso infelizmente não conseguiu
chegar ao tão sonhado título com os carros vermelhos, para decepção da torcida,
e do próprio piloto. LeClerc é visto como a nova esperança dos italianos, que
definitivamente vão perdendo cada vez mais a fé em Sebastian Vettel, que pelo
segundo ano consecutivo, acabou errando na pista e comprometendo suas chances
de vitória em Monza, para desilusão dos tiffosi, a fanática torcida ferrarista.
Se Charles vai chegar lá, só o futuro dirá.
Mas um jejum continua
a perdurar, e até ordem em contrário, não tem prazo para se encerrar. Foi em
Monza que, exatos 10 anos atrás, em 13 de setembro, um piloto brasileiro venceu pela última vez na F-1.
Rubens Barrichello, com a Brawn/Mercedes, levantou a vitória no veloz circuito
italiano, onde o hino nacional brasileiro foi tocado pela última vez na
categoria máxima do automobilismo. Um hino que os italianos já tinham ouvido em
comemoração às vitórias de vários de nossos pilotos na F-1, tendo começado com
Émerson Fittipaldi, passado por Nélson Piquet, e tendo também Ayrton Senna,
fechando junto com Barrichello a lista de nossos vencedores no Grande Prêmio da
Itália. Foi o 101º triunfo de pilotos brasileiros na F-1, e o último, e também
a última vitória da equipe Brawn, que no final daquele ano foi comprada pela
Mercedes, e transformada no time oficial da fábrica alemã a partir da temporada
seguinte, e que de 2014 até hoje, se transformou na maior máquina de vitórias
da história da categoria, algo que no mínimo deverá se estender até pelo menos
2020.
Desde que Émerson
Fittipaldi triunfou pela primeira vez na F-1, ainda em sua temporada de
estréia, em 1970, os brasileiros “descobriram” a F-1, e já tinham convivido com
épocas de vacas magras em termos de triunfos. Fittipaldi passou a temporada de
1971 sem conseguir vencer, mas em 1972, alcançaria o seu primeiro título, dando
início a uma carreira muito bem-sucedida até 1975, com um bicampeonato, e dois
vice-campeonatos, pelas equipes Lotus e McLaren. Com sua saída do time inglês
para defender o time da própria família a partir da temporada de 1976, os
brasileiros vivenciaram o seu primeiro hiato de vitórias na F-1, que duraria 4
anos. José Carlos Pace teve um triunfo solitário no Brasil em 1975, mas sua
morte em 1977 contribuiu para que ficássemos sem opções de um piloto com
melhores chances de vencer, uma vez que Émerson estava fora do páreo.
Em 1980, Nélson Piquet
era nosso novo ídolo na categoria, e levava a equipe Brabham de volta às
vitórias, e à disputa pelo título. Piquet iniciaria um ciclo que duraria quase
15 anos, até 1993, onde a F-1 viu sempre vitórias brasileiras em todas as
temporadas. Nélson conquistou a última vitória da história da Brabham em 1985,
quando o time já entrava em decadência, e desapareceria no início dos anos
1990. Bicampeão de F-1, ele foi para a Williams, onde continuou a vencer,
conquistando o tricampeonato em 1987. Sua transferência para a Lotus, no ano seguinte,
contudo, quase acabou com sua carreira na F-1, uma vez que, vítima de projetos
falhos, virou coadjuvante nas disputas na pista, passando duas temporadas sem
subir novamente ao topo do pódio. Felizmente para os torcedores, já havia uma
outra opção: Ayrton Senna, que em 1985 obteve suas primeiras vitórias na
categoria, e foi vencendo sempre em todos os anos, chegando ao tricampeonato em
1991. Piquet retornaria às vitórias, em menor grau, em 1990 e 1991, agora pela
Benetton, seu último time na carreira da F-1, deixando a categoria ao fim
daquele ano.
Senna teria
dificuldades em 1992 e 1993, mas mesmo assim, o brasileiro continuou
conseguindo brindar a torcida tupiniquim com mais algumas vitórias, sendo a
última delas no Grande Prêmio da Austrália, em Adelaide, no encerramento da sua
última temporada pela equipe McLaren, onde conquistou todos os seus títulos.
Ayrton esperava reviver o seu maior período de glórias na Williams, onde
correria a partir de 1994, mas infelizmente o destino teve outros planos, e o
falecimento trágico do tricampeão na pista de Ímola foi um baque do qual muitos
torcedores nunca se recuperaram, até os dias de hoje. Muitos deixaram de curtir
o automobilismo, e boa parte deles, apenas porque não havia mais brasileiros
vencendo.
Os anos seguintes
foram de poucos resultados. Apesar de várias promessas chegando à F-1, o fato
de não estarem em times de ponta nunca lhes permitiu obter mais do que alguns
pódios ocasionais, e apenas com Rubens Barrichello, que tinha condições de
competição um pouco melhores, e fora alçado à condição de “nova esperança
nacional”, na busca por um novo ídolo que pudesse substituir Senna no coração
dos torcedores. Rubens caiu na armadilha de tentar fazer isso, o que nunca
conseguiu, tornando-se alvo dos extremos de humor dos torcedores, em especial
no lado negativo, sendo tachado até de fracassado, e até de “envergonhar” nosso
país no automobilismo. Esta massa ruidosa ofuscava os bons momentos que o
piloto conseguia. Se não vencia, não valia nada.
Com Barrichello
contratado pela Ferrari, as esperanças renasceram. Afinal, teria agora um carro
de ponta, e um time vencedor, o que nunca pudera ostentar até então. A
necessidade era grande. Haviam sido 6 anos de jejum, desde o último triunfo de
Senna. A torcida queria ver de novo vitórias. Só se esqueciam que na Ferrari,
todas as preferências eram para Michael Schumacher, o primeiro piloto do time,
e isso causou muitas frustrações para todos, com ressentimentos que não
esfriaram até hoje. Com a preferência pelo alemão, algo até óbvio, Barrichello
em diversos momentos não teve os resultados que esperava. Mesmo assim,
conseguiu levar o Brasil de volta ao topo do pódio no Grande Prêmio da Alemanha
de 2000. Era o fim do longo jejum de triunfos. Mas a sede da maioria dos torcedores
era implacável, e se voltamos a vencer, tínhamos que voltar a ganhar títulos, e
aí o buraco era bem mais embaixo. Primeiro porque Barrichello não era tão bom
quanto Schumacher, e segundo, porque a Ferrari não deixaria isso acontecer,
pela preferência escancarada que Michael tinha na escuderia.
Em parte por causa
dessa política do time, Barrichello nunca conseguiu render o que poderia ter
rendido realmente no time italiano. Difícil dizer o quanto poderia ter sido
melhor, ou até se teria realmente disputado o título, se a Ferrari o
permitisse. Ele passou a temporada de 2001 sem vencer, e em 2002, a humilhação
de dominar um GP, e ter de entregar a vitória a Schumacher, em um ano onde o
domínio do time italiano era tão patente que o gesto foi visto como uma
tremenda covardia esportiva por muitos torcedores. Mas a Ferrari deu uma banana
para todos, e o mundo seguiu em frente, sem chorar pelas injustiças a que
Barrichello poderia sofrer. Mas o brasileiro ainda conseguiu voltar aos
triunfos naquele ano, em 2003, e em 2004. A temporada de 2005 foi difícil para
a Ferrari, superada pela Renault, e pelos pneus Michelin, de modo que Rubinho
não venceria mais pela escuderia de Maranello, preferindo sair para poder pelo
menos competir com mais liberdade. Assim, a torcida verde-amarela não teria
nenhuma vitória a comemorar naquele ano.
Mas em 2006, Felipe
Massa estreava no lugar de Barrichello no time rosso, e já em seu primeiro ano,
conseguiu suas primeiras vitórias, inclusive no Brasil, deixando o público em
êxtase no autódromo de Interlagos. Afinal, o último triunfo havia sido em 1993,
com Ayrton Senna. Com a aposentadoria de Michael Schumacher, que deixava a F-1,
Massa teria enfim a liberdade para vencer que Rubens não desfrutou, e quem
sabe, até conquistar o título, tão sonhado pela torcida tupiniquim, órfã desde
o tricampeonato de Senna. Mas a sorte acabou sorrindo melhor para Kimi
Raikkonem em 2007. Mesmo assim, ainda pudemos comemorar, com Felipe no alto do
pódio de algumas provas. Massa alcançaria seu auge em 2008, vencendo várias
provas, e chegando ao Brasil como grande favorito ao título, pelas condições de
competitividade do carro italiano frente ao do rival Lewis Hamilton, da
McLaren. Felipe foi impecável, e venceu a corrida de forma dominante, mas precisava
contar com o azar de Hamilton, que infelizmente não veio, a ponto do inglês ter
conseguido na volta final a posição que o levou a conquistar o seu primeiro
título pela diferença de apenas 1 ponto. Mas não importava tanto. Felipe era o
vencedor moral do ano, e tinha feito uma temporada digna de nossos grandes
heróis Fittipaldi, Piquet, e Senna. A derrota foi dolorosa, mas aceita, tendo
em vista o grande potencial demonstrado pela Ferrari naquele ano. O futuro
parecia muito favorável a continuarmos comemorando novas vitórias, e as
expectativas de termos um novo campeão nunca foram tão altas quanto ao fim de
2008.
Mas quis o destino
que, mais uma vez, nossos sonhos se esvaíssem. Até tivemos um piloto lutando
pelo título. Rubens Barrichello, numa impressionante BrawnGP, era um dos
favoritos em um ano onde as tradicionais forças, incluindo a Ferrari, levaram
um tombo feio e precisaram se reencontrar. Isso acabou deixando Felipe Massa
sem chances de vencer, e na Hungria, após sofrer um acidente bizarro com uma
mola desgarrada do carro do próprio compatriota Barrichello, Massa pode se dar
como sortudo por sair vivo do episódio, e estar por aí até hoje, aproveitando a
vida, e competindo atualmente na F-E. Barrichello acabou superado por Jenson
Button, que fez um início de temporada arrasador, e só na segunda metade do
ano, tentando descontar o prejuízo, alcançou suas vitórias pela escuderia.
Primeiro, no GP da Europa, em Valência, onde conquistou a 100ª vitória de um
piloto brasileiro na F-1. E em Monza, viria o último triunfo, em uma luta
direta com o pedal da direita no acelerador o tempo todo, quase como domingo
passado. Seria o último triunfo de Rubens na F-1, e ninguém imaginaria, também,
que seria a última de um brasileiro na categoria máxima do automobilismo.
Em 2010, Barrichello
defendeu a Williams, que não tinha condições de vencer corridas, despedindo-se
da F-1 ao fim do ano seguinte. Felipe Massa continuou na Ferrari, mas o time,
impaciente para voltar a ser campeão o mais rápido possível, contratou Fernando
Alonso, e rebaixou o brasileiro à condição de segundo piloto, o que ficou
escancarado no GP da Alemanha daquele ano, com a famosa frase “Fernando está
mais rápido que você...”. Isso teve um forte impacto em Felipe, cujos
resultados começaram a oscilar demais dentro do time italiano, comprometendo
até mesmo suas chances de obter vitórias ocasionais, como ocorria com Rubinho
no time. E Massa nunca mais receberia a bandeira quadriculada em primeiro lugar
em um GP. Uma grande desilusão não apenas para o piloto, mas para a torcida,
que da euforia do encerramento da temporada de 2008, passou a tachar Massa com
os mesmos adjetivos com que já crucificavam Barrichello: vendido, fracassado,
piloto decadente, etc.
A pista de Monza, em 2009, ouviu o hino brasileiro na F-1 pela última vez, com a vitória de Rubinho pela BrawnGP. |
Na Williams, em 2014 e
2015, as condições de competição eram até boas, mas a hegemonia imposta pela
Mercedes acabava com qualquer ilusão de um novo triunfo. Em 2016, a escuderia
voltou a decair em performance, cada vez mais. Felipe ficou até o fim de 2017,
e deu por encerrada definitivamente sua carreira na F-1, indo aproveitar a vida
em outra freguesia. Foi o fim. De temporadas sem vitórias, agora ficamos com
temporadas sem pilotos brasileiros no grid. Começou em 2018, segue nesta, e
salvo surpresas excepcionais, continuará firme em 2020, o que significa que o
jejum de triunfos será muito mais longo. Já é o maior, desde o primeiro
triunfo, lá atrás com Émerson: 10 anos. E não bastará termos um novo
representante no grid, mas que ele tenha a sorte de estar em um time que possa
vencer, mesmo que ocasionalmente, o que limita e muito as opções de times, os
quais, no presente momento, não possuem nenhuma expectativa quanto a pilotos
brasileiros em seus planos de médio ou longo prazo.
Aliás, como agora a
Globo não mostra nem mais o pódio nas transmissões pela TV, poderia dizer, de
certa forma, que nunca mais veremos um piloto brasileiro no topo do pódio, ou
em qualquer outro degrau dele, já que a emissora passou a adotar uma política
cretina que limita as transmissões pela TV, tendo restringido isso à internet, numa
atitude que considero extremamente desprezível e calhorda para com o fã de
corridas. Bem, os torcedores eram felizes e não sabiam, quando ainda tínhamos
pilotos com condições de vencer uma corrida aqui ou ali, mas nunca ficavam
satisfeitos na época... Agora, o buraco é tão mais embaixo, que não há
expectativa nenhuma de sair dele, ou ver qualquer esperança no curto prazo de
melhores dias. Mas, mesmo assim, não darão o braço a torcer, pois para muitos,
até hoje, mal acostumados com o ufanismo da Globo, ou um piloto brasileiro
vence, ou não vale nada! É a cultura que eles disseminaram na grande massa da
torcida. E vai levar um bom tempo para se perder esse tipo de atitude.
Quem sabe, quando
tivermos novamente um piloto com capacidade e condições de vencer...? Sabe-se
lá quando isso ocorrerá...
Completamente ridícula a postura
dos times e pilotos na segunda metade do Q3 para definir as primeiras
colocações do grid do GP da Itália, na pista de Monza, no sábado. Com 6 minutos
até a sessão ser encerrada, todo mundo ficou nos boxes, e quando faltavam 2
minutos, resolveu sair todo mundo para a pista. Todos queriam pegar o vácuo de
alguém e ao mesmo tempo, não queriam que ninguém pegasse o seu vácuo. A
palhaçada de times e pilotos deu no que deu: todo mundo perdeu a chance de
abrir volta, com exceção de Charles LeClerc e Carlos Sainz, sendo que o
espanhol não conseguiu melhorar sua posição, e Charles já era o pole, mas
naquele trânsito engarrafado viu Sebastian Vettel perder sua última tentativa
de também tentar a pole. E ninguém pode pedir punição para ninguém, porque
afinal, todo mundo atrapalhou todo mundo. Ter azar de pegar algum carro lento
pela pista durante sua tentativa de volta rápida é um risco que faz parte do
jogo, e por isso mesmo, acho a maior palhaçada quando a FIA solta uma punição
em cima de algum piloto que “teria atrapalhado” a volta de alguém, e o faz
perder posições de largada por causa disso. O piloto que se vire para conseguir
seu tempo. Antigamente ninguém ficava reclamando tanto assim de pegar tráfego
na pista. Abortava a volta e tentava depois. Por isso mesmo, apesar de
anticlimático, foi muito engraçado ver os pilotos se dando mal no próprio jogo
que tentaram fazer uns em cima dos outros para tentarem pegar vácuo e melhorar
suas marcas.
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