sexta-feira, 13 de setembro de 2019

DEZ ANOS DO ÚLTIMO TRIUNFO


Há 10 anos, Rubens Barrichello venceu o GP da Itália, naquela que seria não apenas a sua última vitória na F-1, mas também a última de um piloto brasileiro na categoria.

            Domingo passado, tivemos o Grande Prêmio da Itália, e com uma atuação magistral, Charles LeClerc triunfou, depois de sofrer forte pressão por parte da dupla da Mercedes, para levar a Ferrari de volta ao topo do pódio na pista de Monza, encerrando um jejum de praticamente 9 anos sem triunfo da escuderia italiana em casa. A última vitória da rossa no Parque de Monza havia sido em 2010, com Fernando Alonso, na época a grande esperança dos tiffosi para levar de novo o time de Maranello de volta ao título, depois dos anos gloriosos de Michael Schumacher, e do solitário título de Kimi Raikkonem. Alonso infelizmente não conseguiu chegar ao tão sonhado título com os carros vermelhos, para decepção da torcida, e do próprio piloto. LeClerc é visto como a nova esperança dos italianos, que definitivamente vão perdendo cada vez mais a fé em Sebastian Vettel, que pelo segundo ano consecutivo, acabou errando na pista e comprometendo suas chances de vitória em Monza, para desilusão dos tiffosi, a fanática torcida ferrarista. Se Charles vai chegar lá, só o futuro dirá.
            Mas um jejum continua a perdurar, e até ordem em contrário, não tem prazo para se encerrar. Foi em Monza que, exatos 10 anos atrás, em 13 de setembro, um piloto brasileiro venceu pela última vez na F-1. Rubens Barrichello, com a Brawn/Mercedes, levantou a vitória no veloz circuito italiano, onde o hino nacional brasileiro foi tocado pela última vez na categoria máxima do automobilismo. Um hino que os italianos já tinham ouvido em comemoração às vitórias de vários de nossos pilotos na F-1, tendo começado com Émerson Fittipaldi, passado por Nélson Piquet, e tendo também Ayrton Senna, fechando junto com Barrichello a lista de nossos vencedores no Grande Prêmio da Itália. Foi o 101º triunfo de pilotos brasileiros na F-1, e o último, e também a última vitória da equipe Brawn, que no final daquele ano foi comprada pela Mercedes, e transformada no time oficial da fábrica alemã a partir da temporada seguinte, e que de 2014 até hoje, se transformou na maior máquina de vitórias da história da categoria, algo que no mínimo deverá se estender até pelo menos 2020.
            Desde que Émerson Fittipaldi triunfou pela primeira vez na F-1, ainda em sua temporada de estréia, em 1970, os brasileiros “descobriram” a F-1, e já tinham convivido com épocas de vacas magras em termos de triunfos. Fittipaldi passou a temporada de 1971 sem conseguir vencer, mas em 1972, alcançaria o seu primeiro título, dando início a uma carreira muito bem-sucedida até 1975, com um bicampeonato, e dois vice-campeonatos, pelas equipes Lotus e McLaren. Com sua saída do time inglês para defender o time da própria família a partir da temporada de 1976, os brasileiros vivenciaram o seu primeiro hiato de vitórias na F-1, que duraria 4 anos. José Carlos Pace teve um triunfo solitário no Brasil em 1975, mas sua morte em 1977 contribuiu para que ficássemos sem opções de um piloto com melhores chances de vencer, uma vez que Émerson estava fora do páreo.
Émerson Fittipaldi (acima) venceu pela primeira vez na F-1 logo em seu 4º GP, em 1970, naquela que seria a primeira vitória de um brasileiro na categoria máxima do automobilismo. Dez anos depois, Nélson Piquet (abaixo, na Brabham Nº 5) daria sequência aos triunfos verde-amarelos, depois de uma seca de 1976 a 1979, pela falta de um carro competitivo a Fittipaldi e nossos outros pilotos na competição.
            Em 1980, Nélson Piquet era nosso novo ídolo na categoria, e levava a equipe Brabham de volta às vitórias, e à disputa pelo título. Piquet iniciaria um ciclo que duraria quase 15 anos, até 1993, onde a F-1 viu sempre vitórias brasileiras em todas as temporadas. Nélson conquistou a última vitória da história da Brabham em 1985, quando o time já entrava em decadência, e desapareceria no início dos anos 1990. Bicampeão de F-1, ele foi para a Williams, onde continuou a vencer, conquistando o tricampeonato em 1987. Sua transferência para a Lotus, no ano seguinte, contudo, quase acabou com sua carreira na F-1, uma vez que, vítima de projetos falhos, virou coadjuvante nas disputas na pista, passando duas temporadas sem subir novamente ao topo do pódio. Felizmente para os torcedores, já havia uma outra opção: Ayrton Senna, que em 1985 obteve suas primeiras vitórias na categoria, e foi vencendo sempre em todos os anos, chegando ao tricampeonato em 1991. Piquet retornaria às vitórias, em menor grau, em 1990 e 1991, agora pela Benetton, seu último time na carreira da F-1, deixando a categoria ao fim daquele ano.
            Senna teria dificuldades em 1992 e 1993, mas mesmo assim, o brasileiro continuou conseguindo brindar a torcida tupiniquim com mais algumas vitórias, sendo a última delas no Grande Prêmio da Austrália, em Adelaide, no encerramento da sua última temporada pela equipe McLaren, onde conquistou todos os seus títulos. Ayrton esperava reviver o seu maior período de glórias na Williams, onde correria a partir de 1994, mas infelizmente o destino teve outros planos, e o falecimento trágico do tricampeão na pista de Ímola foi um baque do qual muitos torcedores nunca se recuperaram, até os dias de hoje. Muitos deixaram de curtir o automobilismo, e boa parte deles, apenas porque não havia mais brasileiros vencendo.
            Os anos seguintes foram de poucos resultados. Apesar de várias promessas chegando à F-1, o fato de não estarem em times de ponta nunca lhes permitiu obter mais do que alguns pódios ocasionais, e apenas com Rubens Barrichello, que tinha condições de competição um pouco melhores, e fora alçado à condição de “nova esperança nacional”, na busca por um novo ídolo que pudesse substituir Senna no coração dos torcedores. Rubens caiu na armadilha de tentar fazer isso, o que nunca conseguiu, tornando-se alvo dos extremos de humor dos torcedores, em especial no lado negativo, sendo tachado até de fracassado, e até de “envergonhar” nosso país no automobilismo. Esta massa ruidosa ofuscava os bons momentos que o piloto conseguia. Se não vencia, não valia nada.
Entre 1985 e 1993, Ayrton Senna encantou os brasileiros com suas 41 vitórias na F-1, sendo a última delas na Austrália, no encerramento da temporada de 1993 e no fim de sua passagem pela McLaren, onde foi tricampeão.
            Com Barrichello contratado pela Ferrari, as esperanças renasceram. Afinal, teria agora um carro de ponta, e um time vencedor, o que nunca pudera ostentar até então. A necessidade era grande. Haviam sido 6 anos de jejum, desde o último triunfo de Senna. A torcida queria ver de novo vitórias. Só se esqueciam que na Ferrari, todas as preferências eram para Michael Schumacher, o primeiro piloto do time, e isso causou muitas frustrações para todos, com ressentimentos que não esfriaram até hoje. Com a preferência pelo alemão, algo até óbvio, Barrichello em diversos momentos não teve os resultados que esperava. Mesmo assim, conseguiu levar o Brasil de volta ao topo do pódio no Grande Prêmio da Alemanha de 2000. Era o fim do longo jejum de triunfos. Mas a sede da maioria dos torcedores era implacável, e se voltamos a vencer, tínhamos que voltar a ganhar títulos, e aí o buraco era bem mais embaixo. Primeiro porque Barrichello não era tão bom quanto Schumacher, e segundo, porque a Ferrari não deixaria isso acontecer, pela preferência escancarada que Michael tinha na escuderia.
            Em parte por causa dessa política do time, Barrichello nunca conseguiu render o que poderia ter rendido realmente no time italiano. Difícil dizer o quanto poderia ter sido melhor, ou até se teria realmente disputado o título, se a Ferrari o permitisse. Ele passou a temporada de 2001 sem vencer, e em 2002, a humilhação de dominar um GP, e ter de entregar a vitória a Schumacher, em um ano onde o domínio do time italiano era tão patente que o gesto foi visto como uma tremenda covardia esportiva por muitos torcedores. Mas a Ferrari deu uma banana para todos, e o mundo seguiu em frente, sem chorar pelas injustiças a que Barrichello poderia sofrer. Mas o brasileiro ainda conseguiu voltar aos triunfos naquele ano, em 2003, e em 2004. A temporada de 2005 foi difícil para a Ferrari, superada pela Renault, e pelos pneus Michelin, de modo que Rubinho não venceria mais pela escuderia de Maranello, preferindo sair para poder pelo menos competir com mais liberdade. Assim, a torcida verde-amarela não teria nenhuma vitória a comemorar naquele ano.
            Mas em 2006, Felipe Massa estreava no lugar de Barrichello no time rosso, e já em seu primeiro ano, conseguiu suas primeiras vitórias, inclusive no Brasil, deixando o público em êxtase no autódromo de Interlagos. Afinal, o último triunfo havia sido em 1993, com Ayrton Senna. Com a aposentadoria de Michael Schumacher, que deixava a F-1, Massa teria enfim a liberdade para vencer que Rubens não desfrutou, e quem sabe, até conquistar o título, tão sonhado pela torcida tupiniquim, órfã desde o tricampeonato de Senna. Mas a sorte acabou sorrindo melhor para Kimi Raikkonem em 2007. Mesmo assim, ainda pudemos comemorar, com Felipe no alto do pódio de algumas provas. Massa alcançaria seu auge em 2008, vencendo várias provas, e chegando ao Brasil como grande favorito ao título, pelas condições de competitividade do carro italiano frente ao do rival Lewis Hamilton, da McLaren. Felipe foi impecável, e venceu a corrida de forma dominante, mas precisava contar com o azar de Hamilton, que infelizmente não veio, a ponto do inglês ter conseguido na volta final a posição que o levou a conquistar o seu primeiro título pela diferença de apenas 1 ponto. Mas não importava tanto. Felipe era o vencedor moral do ano, e tinha feito uma temporada digna de nossos grandes heróis Fittipaldi, Piquet, e Senna. A derrota foi dolorosa, mas aceita, tendo em vista o grande potencial demonstrado pela Ferrari naquele ano. O futuro parecia muito favorável a continuarmos comemorando novas vitórias, e as expectativas de termos um novo campeão nunca foram tão altas quanto ao fim de 2008.
Felipe Massa estreou na Ferrari em 2006, e conseguiu suas primeiras vitórias na F-1, em especial no Brasil, onde levantou a torcida como só Ayrton Senna costumava fazer. Em 2008, Felipe repetiria o triunfo em Interlagos, por pouco não sendo campeão, naquela que seria sua última vitória na categoria.
            Mas quis o destino que, mais uma vez, nossos sonhos se esvaíssem. Até tivemos um piloto lutando pelo título. Rubens Barrichello, numa impressionante BrawnGP, era um dos favoritos em um ano onde as tradicionais forças, incluindo a Ferrari, levaram um tombo feio e precisaram se reencontrar. Isso acabou deixando Felipe Massa sem chances de vencer, e na Hungria, após sofrer um acidente bizarro com uma mola desgarrada do carro do próprio compatriota Barrichello, Massa pode se dar como sortudo por sair vivo do episódio, e estar por aí até hoje, aproveitando a vida, e competindo atualmente na F-E. Barrichello acabou superado por Jenson Button, que fez um início de temporada arrasador, e só na segunda metade do ano, tentando descontar o prejuízo, alcançou suas vitórias pela escuderia. Primeiro, no GP da Europa, em Valência, onde conquistou a 100ª vitória de um piloto brasileiro na F-1. E em Monza, viria o último triunfo, em uma luta direta com o pedal da direita no acelerador o tempo todo, quase como domingo passado. Seria o último triunfo de Rubens na F-1, e ninguém imaginaria, também, que seria a última de um brasileiro na categoria máxima do automobilismo.
            Em 2010, Barrichello defendeu a Williams, que não tinha condições de vencer corridas, despedindo-se da F-1 ao fim do ano seguinte. Felipe Massa continuou na Ferrari, mas o time, impaciente para voltar a ser campeão o mais rápido possível, contratou Fernando Alonso, e rebaixou o brasileiro à condição de segundo piloto, o que ficou escancarado no GP da Alemanha daquele ano, com a famosa frase “Fernando está mais rápido que você...”. Isso teve um forte impacto em Felipe, cujos resultados começaram a oscilar demais dentro do time italiano, comprometendo até mesmo suas chances de obter vitórias ocasionais, como ocorria com Rubinho no time. E Massa nunca mais receberia a bandeira quadriculada em primeiro lugar em um GP. Uma grande desilusão não apenas para o piloto, mas para a torcida, que da euforia do encerramento da temporada de 2008, passou a tachar Massa com os mesmos adjetivos com que já crucificavam Barrichello: vendido, fracassado, piloto decadente, etc.
A pista de Monza, em 2009, ouviu o hino brasileiro na F-1 pela última vez, com a vitória de Rubinho pela BrawnGP.
            Na Williams, em 2014 e 2015, as condições de competição eram até boas, mas a hegemonia imposta pela Mercedes acabava com qualquer ilusão de um novo triunfo. Em 2016, a escuderia voltou a decair em performance, cada vez mais. Felipe ficou até o fim de 2017, e deu por encerrada definitivamente sua carreira na F-1, indo aproveitar a vida em outra freguesia. Foi o fim. De temporadas sem vitórias, agora ficamos com temporadas sem pilotos brasileiros no grid. Começou em 2018, segue nesta, e salvo surpresas excepcionais, continuará firme em 2020, o que significa que o jejum de triunfos será muito mais longo. Já é o maior, desde o primeiro triunfo, lá atrás com Émerson: 10 anos. E não bastará termos um novo representante no grid, mas que ele tenha a sorte de estar em um time que possa vencer, mesmo que ocasionalmente, o que limita e muito as opções de times, os quais, no presente momento, não possuem nenhuma expectativa quanto a pilotos brasileiros em seus planos de médio ou longo prazo.
            Aliás, como agora a Globo não mostra nem mais o pódio nas transmissões pela TV, poderia dizer, de certa forma, que nunca mais veremos um piloto brasileiro no topo do pódio, ou em qualquer outro degrau dele, já que a emissora passou a adotar uma política cretina que limita as transmissões pela TV, tendo restringido isso à internet, numa atitude que considero extremamente desprezível e calhorda para com o fã de corridas. Bem, os torcedores eram felizes e não sabiam, quando ainda tínhamos pilotos com condições de vencer uma corrida aqui ou ali, mas nunca ficavam satisfeitos na época... Agora, o buraco é tão mais embaixo, que não há expectativa nenhuma de sair dele, ou ver qualquer esperança no curto prazo de melhores dias. Mas, mesmo assim, não darão o braço a torcer, pois para muitos, até hoje, mal acostumados com o ufanismo da Globo, ou um piloto brasileiro vence, ou não vale nada! É a cultura que eles disseminaram na grande massa da torcida. E vai levar um bom tempo para se perder esse tipo de atitude.
            Quem sabe, quando tivermos novamente um piloto com capacidade e condições de vencer...? Sabe-se lá quando isso ocorrerá...


Completamente ridícula a postura dos times e pilotos na segunda metade do Q3 para definir as primeiras colocações do grid do GP da Itália, na pista de Monza, no sábado. Com 6 minutos até a sessão ser encerrada, todo mundo ficou nos boxes, e quando faltavam 2 minutos, resolveu sair todo mundo para a pista. Todos queriam pegar o vácuo de alguém e ao mesmo tempo, não queriam que ninguém pegasse o seu vácuo. A palhaçada de times e pilotos deu no que deu: todo mundo perdeu a chance de abrir volta, com exceção de Charles LeClerc e Carlos Sainz, sendo que o espanhol não conseguiu melhorar sua posição, e Charles já era o pole, mas naquele trânsito engarrafado viu Sebastian Vettel perder sua última tentativa de também tentar a pole. E ninguém pode pedir punição para ninguém, porque afinal, todo mundo atrapalhou todo mundo. Ter azar de pegar algum carro lento pela pista durante sua tentativa de volta rápida é um risco que faz parte do jogo, e por isso mesmo, acho a maior palhaçada quando a FIA solta uma punição em cima de algum piloto que “teria atrapalhado” a volta de alguém, e o faz perder posições de largada por causa disso. O piloto que se vire para conseguir seu tempo. Antigamente ninguém ficava reclamando tanto assim de pegar tráfego na pista. Abortava a volta e tentava depois. Por isso mesmo, apesar de anticlimático, foi muito engraçado ver os pilotos se dando mal no próprio jogo que tentaram fazer uns em cima dos outros para tentarem pegar vácuo e melhorar suas marcas.

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