De volta com outra de minhas antigas
colunas, trago hoje um texto que foi publicado num dia auspicioso para o
assunto tratado no texto. A atuação de nossos pilotos na F-1 naquela temporada
de 1998 foi mesmo de amargar, com muitos azares e pouca satisfação, e não é que
o dia em que a coluna foi publicada acabou sendo uma sexta-feira, dia 13?
Situação bem ruim, sem dúvida, mas não tanta quanto hoje, quando nem mais temos
pilotos brasileiros na F-1. Já vamos em duas temporadas de ausência, e com tudo
a ver para continuarmos a ver navios em 2020. Podemos dizer que era mesmo outra
época, em 1998, e nem faz tanto tempo assim na verdade. Bem, curtam o texto, e
façam bom proveito do que foi o resumo de nossos pilotos naquele campeonato.
UM ANO DE AMARGAR
No
que tange ao campeonato mundial de Fórmula 1 deste ano, 1998 foi sem dúvida o
pior ano para o Brasil na categoria nos últimos tempos. Terminamos o ano com
míseros 7 pontos (4 de Rubens Barrichello, e 3 de Pedro Paulo Diniz). Sem
sombra de dúvidas, um ano para ser esquecido por nossos pilotos, que só
acumularam frustrações e desilusões na categoria máxima do automobilismo nesta
temporada.
A
última vez que tivemos um ano tão ruim assim foi em 1979, quando Nélson Piquet
e Émerson Fittipaldi, nossos representantes da época na F-1, conseguiram juntos
apenas 4 pontos em todo o campeonato. Émerson continuava comendo o pão que o
Diabo amassou em sua escuderia Copersucar, e Piquet encarava um ano de
transição na Brabham/Alfa Romeo. Dois talentos consagrados que não conseguiram
superar a barreira imposta pelo fraco equipamento que dispunham naquele ano.
A
temporada de 1998 começou cheia de esperanças para nossos pilotos. Nada de
poles ou vitórias nos planos, apenas esperanças de dias melhores do que os
vividos em 1997. Mas, foi só começar a temporada, e nossos bravos
representantes viram que o ano poderia ser um tremendo calvário. Infelizmente,
os temores se concretizaram, e nossos pilotos viram que entraram numa tremenda
fria. E foi um ano sofrível mesmo.
Começando
por Rubens Barrichello, tudo levava a crer que, depois do difícil ano de
estréia da equipe Stewart, onde Rubinho brilhou apesar da falta de resultados,
teria um ano menos complicado, mas a equipe, na verdade, ficou meio à deriva
durante todo o ano. O projeto de um novo e complexo câmbio alijou o
desenvolvimento da escuderia no início da temporada. Os esforços para recuperar
o tempo perdido foram demasiados para a pouca estrutura do time, que só
conseguiu retomar parte do caminho à altura do GP da Espanha, onde Barrichello
voltou a mostrar o seu talento e ganhou uma briga com o campeão Jacques
Villeneuve pelo 5º lugar na prova. No Canadá, mais uma vez Rubinho brilhou,
conquistando outro 5º lugar, e parecia que o time conseguiria pelo menos manter
uma direção de desenvolvimento de seu carro, possibilitando a conquista de
pontos com alguma regularidade. Não conseguiram nem isso. A escuderia se
debateu durante o resto do campeonato com problemas no câmbio, que não mostrou
fiabilidade, assim como o restante do carro, que também apresentou diversos
problemas mecânicos e de estabilidade, não repetindo nenhuma das performances
apresentadas no ano passado.
O
maior ponto negativo foi a perda da vaga na Williams para Ralf Schumacher. Além
da interferência de Michael Schumacher, Willi Webber e por parte da BMW, a alta
multa contratual para Barrichello sair da Stewart sem dúvida alguma complicou
muito as possibilidades da transação sair com o piloto brasileiro. Fica a
esperança de um ano melhor em 99, especialmente agora que a Stewart aumentou
sua estrutura e afirmou que não vai arriscar soluções complexas no carro do
próximo ano.
Para
Pedro Paulo Diniz, o ano foi difícil e só não foi totalmente perdido porque o
piloto conseguiu uma vaga na Sauber para a próxima temporada. A equipe
TWR-Arrows, depois de padecer com o motor Yamaha em 1997 e de enfrentar vários
problemas mecânicos, tinha tudo para melhorar em 98. Mas o pessoal da Yamaha
pulou fora, e Tom Walkinshaw resolveu então adquirir a empresa de Brian Hart e
construir seus próprios motores. A intenção era boa, mas bons resultados levam
tempo, e o novo motor V-10 projetado por Brian Hart, cuja reputação é excelente
na preparação de motores de competição, enfrentou durante todo o ano uma crônica
falta de potência e falhas de fiabilidade, como convém a um projeto
recém-nascido. A falta de potência foi patente nos circuitos mais velozes, onde
os Arrows fizeram mera figuração. A melhor prova foi em Mônaco, onde a baixa
velocidade do circuito monegasco ressaltou as excelentes qualidades do chassi
desenhado por John Barnard, e ambos os pilotos do time terminaram a prova nos
pontos. Depois disso, só houve os pontos do 5º lugar de Diniz na Bélgica, por
obra da maior quantidade de abandonos ocorrida naquele GP na largada. Só que
não foi apenas o motor a causar problemas. O chassi, com muitos sistemas
complexos desenvolvidos por Barnard, também apresentou muitos problemas,
aumentando o trabalho dos pilotos e sua desilusão por melhores resultados.
Resta a Pedro Paulo esperar por um ano melhor na Sauber em 99, uma equipe
comprovadamente melhor em estrutura e área técnica.
Por
último, Ricardo Rosset parece fadado a não ter sorte na F-1. Quando estreou na
categoria, em 1996, embarcou numa equipe Arrows em transição para sua aquisição
e fusão com a TWR, que estava adquirindo a escuderia. Para piorar, Rosset era
negligenciado pelo time, que só dava atenção ao holandês Jos Verstappen. A
equipe foi uma tremenda bomba naquele ano, tanto que Verstappen também saiu escaldado
no fim da temporada, com apenas 1 ponto em todo o campeonato. Já no ano
passado, Rosset acabou embarcando na aventura da Lola, que numa jogada
audaciosa, voltava à F-1 depois de alguns anos de ausência. Haviam planos
ambiciosos por parte da Lola e da Mastercad, que previam um ano de experiência
em 97 e o ano de 98 como de início por luta de melhores posições entre os times
médios da F-1. Tudo acabou indo para o brejo já na segunda corrida, e Rosset,
assim como o italiano Vincenzo Sospiri, acabaram ficando a pé e sem nenhuma
satisfação. Foi a maior furada dos últimos tempos na categoria.
Este
ano, a situação de Ricardo não foi muito melhor. Rosset acabou vencendo a briga
com Jos Verstappen pela vaga restante na Tyrrel, mas o problema é que isso
causou uma briga entre Ken Tyrrel e Craig Pollock, novo e futuro dirigente do
time, que foi comprado para formar a nova equipe BAR, a estrear em 99. Com
Tyrrel fora do comando, o time apenas cumpriu tabela no campeonato de 98, sem
fazer praticamente nenhum desenvolvimento de monta no carro, o que deixou
Toranosuke Takagi e Ricardo Rosset sem condições mínimas de competir de forma
decente. Pior ainda, com Takagi como piloto principal, Ricardo foi novamente
relegado a segundo plano, tendo condições de trabalho ainda inferiores aos do
japonês, o que deixava seu carro ser sempre mais lento, e sem conseguir se
classificar para várias provas. Apesar do orçamento de 98 ter sido o maior dos
últimos tempos da Tyrrel, os desmandos ocorridos no início da temporada
acabaram afundando o time naquele que foi seu último ano de existência. E tanto
Takagi como Rosset ficaram condicionados às marés dos eventos. Para 99, a
situação de Ricardo ainda é indefinida, enquanto Ricardo Zonta já assegurou um
lugar na futura BAR. Rosset agora luta pela vaga que sobrou na Arrows com a
saída de Pedro Paulo Diniz, juntamente com seu companheiro de equipe nesta
temporada, o japonês Toranosuke Takagi. Se conseguir, Ricardo tem esperança de
ver um ano melhor na próxima temporada, e quem sabe conseguir finalmente
mostrar o seu talento na F-1.
Mas,
resumindo bem tudo o que se passou neste ano de 1998 para os brasileiros na
categoria máxima do automobilismo, 98 já vai tarde. Que 1999 traga melhores
dias e sorte para nossos pilotos...
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