Nova temporada começa com perspectiva de mais um duelo entre Mercedes e Ferrari. Quem vai largar na frente na prova australiana? |
Chegou a hora. Depois
de muita espera, os carros da Fórmula 1 preparam-se para dar início à 70ª
temporada da categoria máxima do automobilismo, e quando esta coluna estiver
sendo lida no Brasil, os treinos livres desta sexta-feira aqui no Albert Park
já terão sido encerrados. Como este texto foi fechado antes do início das
atividades oficiais de pista, tudo está na expectativa se as impressões obtidas
na pré-temporada se confirmação ou não. Mas muita coisa pode mudar, já que
vários times chegaram aqui já com várias modificações nos carros, advindas dos
estudos dos dados obtidos nos oito dias de testes da pré-temporada, realizados
pela enésima vez na pista de Barcelona, na Espanha.
Um exemplo é da Red
Bull, que com o grande empenho de Adrian Newey e do setor de engenharia da
escuderia dos energéticos, trouxe nos seus chassis RB15 o pacote de
atualizações previsto para estrear apenas no mês que vem, na etapa da China.
Tamanho esforço valeu declarações de Helmut Marko de que a Red Bull pode
superar qualquer um no grid, com exceção da Ferrari, dando a entender que
andará à frente da campeoníssima Mercedes. Diria que Marko deve ter tomado
algumas doses exageradas no caminho para o paddock, porque o entusiasmo
parece-me exagerado. E falta combinar com os alemães, que não chegaram aqui em
Melbourne sem apresentar novidades nos seus carros também, e estamos todos
curiosos para ver quem de fato irá andar na frente neste início de temporada.
Não podemos deixar de
lembrar que o ambiente nos boxes da Mercedes foi distinto nas duas semanas de
treinos coletivos na Catalunha. Na primeira semana, a excelente forma do carro
da Ferrari deixou os prateados em situação de alerta, cientes de que precisavam
se mexer para evitar o que poderia ser uma derrota contundente no início desta
temporada. Ninguém chegou a perder a calma explicitamente, mas havia um
nervosismo implícito no pessoal que denotava que o time vermelho estava com
mais vantagem do que eles esperavam. Mas na semana seguinte, com o novo W10 já
dotado de muitas novidades, o panorama meio que se acalmou, e no último dia,
eles resolveram até mostrar um pouco as garras, com Hamilton ficando apenas 0s003
atrás de Sebastian Vettel. E aí temos aquele jogo de esconde-esconde, onde
muitos alegam que ambos os times esconderam suas melhores armas para mostra-las
apenas nos treinos de hoje. Mas, como já mencionei, a Mercedes trouxe mais
novidades, assim como a Red Bull, e a Ferrari obviamente também trouxe seus
novos truques.
Com uma perspectiva de
um duelo direto, homem a homem, Lewis Hamilton, pentacampeão mundial, e em
busca do hexa, não se ilude: sabe que este ano tem tudo para ser o mais difícil
e complicado de vencer dos últimos tempos. O inglês fez uma temporada quase
impecável em 2018, revertendo as expectativas iniciais de favoritismo da
Ferrari, e aproveitando as oportunidades, especialmente a meio do ano, para
aplicar um golpe contundente no rival Vettel e no time de Maranello, que pelo
segundo ano consecutivo, ficou a ver navios na disputa.
Para este ano, quem
começa o ano mais pressionado do que nunca é justamente o alemão, cujo cartaz
no time ficou arranhado no ano passado, chegando até a ser vaiado pelos erros
cometidos pela fervorosa torcida ferrarista, que não perdoa quando um piloto da
“rossa” marca bobeira. E a chegada de Charles LeClerc para o lugar do finlandês
Kimi Raikkonen é outro detalhe que confirma que Vettel terá de mostrar porque é
tetracampeão mundial da categoria. LeClerc terá liberdade para duelar com
Vettel na pista, ainda que o time italiano já tenha afirmado que a prioridade
será do alemão para a luta pelo título. A mensagem é clara: Sebastian terá de
acelerar fundo, porque Charles vai estar por trás dele vindo bem forte. Ciente
de que a preferência é de seu companheiro de equipe, importa ao jovem monegasco
andar bem atrás dele, o mais perto possível, e defende-lo dos rivais, caso
estejam na frente. A pressão maior estará com Vettel, e não com LeClerc. Mas
Sebastian não é o único que entra na pista precisando mostrar serviço.
Valtteri Bottas é
outro que terá um ano decisivo na F-1. Depois de uma temporada abaixo das
expectativas no ano passado, tendo sido superado por Kimi Raikkonen e até por
Max Verstappen na classificação do campeonato, o finlandês vai ter de pisar
fundo e mostrar que ainda merece estar no time campeão do mundo. E se a Ferrari
vir tão forte como muitos imaginam, ele precisará mostrar ritmo para andar na
mesma toada de Lewis Hamilton, no mínimo, para fazer frente aos rivais italianos.
Esteban Ocon, que ficou a pé para esta temporada após a Force India mudar de
dono no ano passado, sendo dispensado para dar lugar a Lance Stroll, será uma
sombra permanente nos calcanhares de Bottas. Relegado à função de piloto
reserva e de testes, Ocon conta em assumir o lugar de titular de Valtteri em
2020, se o finlandês repetir a temporada de 2018.
A Ferrari mostrou força na pré-temporada. É hora de comprovar que não foi blefe. |
Logo atrás de ambas, a
Red Bull, tradicional terceira força no pelotão, tem tudo para manter essa
posição, embora nos testes da pré-temporada não tenha demonstrado tanta força
como de costume. A Honda, nova parceira do time dos energéticos, terá sua
oportunidade para enfim apagar as más impressões que seu equipamento tem
deixado desde que retornaram à F-1 em 2015, e pelo menos nos testes, conseguiram
rodar uma quilometragem impressionante, somando com a Toro Rosso. Ainda é
dúvida se a unidade de potência japonesa conseguiu resolver o seu déficit de
performance para as outras unidades do grid, mas a Red Bull alardeia
implicitamente que os nipônicos já estão melhores que os franceses da Renault,
sua ex-parceira. Aliás, não foram poucas as vezes que Helmut Marko, Christian
Horner, e Max Verstappen, saíram elogiando a Honda durante os testes. Marko,
como já citei, ainda chegou a afirmar que o ritmo de corrida da equipe com as
novas atualizações está mais veloz até que a Mercedes. Para o bem da
competição, e por mais disputas na pista, seria bom que fosse verdade, e assim
pudéssemos ver estes três times digladiando-se ferozmente pelas vitórias e na
luta pelo título, restrita nos últimos dois anos apenas entre Mercedes e
Ferrari. Por outro lado, se a carruagem virar abóbora, quanto tempo irá demorar
para a impaciência da cúpula rubrotaurina se mostrar e começar a criticar os
japoneses? E Max Verstappen? O holandês é um fenômeno como poucos, mas será que
conseguirá deixar finalmente para trás sua propensão a se meter em confusão
devido às suas atitudes e seu arrojo ao volante? Se as novas regras técnicas
realmente facilitarem as disputas de posição, podem estar certos de que ele
partirá para cima dos adversários sem meio termos. Por outro lado, os rivais
também poderão ir para cima dele, e vai ser preciso tomar cuidado com suas
reações para evitar ser superado.
O pau deve comer mesmo
é no segundo pelotão, e com vários times na perspectiva de fazerem um duelo dos
mais equilibrados, envolvendo Renault, Hass, McLaren, Toro Rosso, e Alfa Romeo.
A Racing Point, ex-Force India, não teve uma pré-temporada muito animada,
enfrentando vários problemas, e ao menos no início, pode estar um pouco atrás
das demais na luta por melhores colocações. Se o time técnico da escuderia
mantiver a excelente capacidade dos últimos anos, e agora que recursos
financeiros não são mais problema graças aos novos proprietários, eles tem tudo
para se recuperar durante o ano. Vai depender de como os outros estiverem, e de
como eles irão evoluir seus bólidos. E com melhores perspectivas de
ultrapassagens se confirmando, deverá ser uma luta aberta e franca entre todos
os pilotos destas escuderias, com todo mundo batalhando para ficar à frente de
todos os outros.
Ao menos no início, a
Renault pinta de favorita a liderar o segundo pelotão. Os franceses investiram
como nunca nos últimos tempos, para voltarem a ser campeões na F-1, e sabem que
o processo é lento e precisa progredir continuamente. Novos profissionais foram
contratados para reforçar a área técnica, e a nova unidade de potência parece
ter atingido as metas estabelecidas de diminuir o déficit de performance para
as rivais Mercedes e Ferrari. Se dessa vez as promessas se confirmarem, talvez
vejamos a Renault enfim desafiando as favoritas na pista. O novo chassi RS19
melhorou bastante em relação a 2018, e segundo seus pilotos, permite muito mais
desenvolvimento e velocidade pura do que o carro do ano passado. Mas o time e a
fábrica francesa sabem que o degrau que os separa dos principais times ainda é
grande, e é preciso ver quanto eles conseguem se aproximar este ano. Além de
contarem com Nico Hulkenberg, a Renault agora conta com o australiano Daniel
Ricciardo, que sabe explorar as oportunidades de uma corrida como ninguém, e
promete ajudar a empurrar o time cada vez mais próximo do trio da ponta, e quem
sabe, se intrometer no duelo entre eles. Vitórias ainda parecem estar fora de
questão, mas subir ao pódio pode ser possível.
Quem está com os pés
no chão é a McLaren. O time fez uma grande revisão interna no time, e no
projeto do carro, procurando entender onde pisou na bola no ano passado, e
tentar não repetir o mesmo erro. O novo MCL34 é uma evolução em todos os
sentidos, e a escuderia sediada em Woking parece pronta para iniciar sua longa
recuperação de volta às primeiras colocações. Pela primeira vez desde 2015, o
time não teve nenhum problema na pré-temporada, e conseguiu testar bastante, e
bem. Fica a dúvida sobre quanto eles conseguiram avançar, porque afinal, todo
mundo evoluiu, e a McLaren tinha muito chão para recuperar. O único porém foi a
escuderia ter perdido Fernando Alonso, que resolveu ir se divertir em outras
paragens. O espanhol sabia como aproveitar todas as oportunidades na pista, e
conseguia tirar leite de pedra do carro. Agora, eles terão de conseguir isso
com Carlos Sainz Jr. e o novato Lando Norris, que embora talentosos, ainda
precisam mostrar a que vieram a fundo, se o carro for realmente competitivo.
Por outro lado, o clima no time está bem mais relaxado e menos tenso. O nível
de cobrança é menor, e bem mais realista do que foi em anos anteriores, para
não mencionar que a escuderia agora tem um entendimento muito mais completo
sobre a unidade de potência da Renault e suas necessidades, algo que foi
subestimado e superestimado em 2018. E se o carro evoluir e até surpreender,
muitos apostam que Alonso poderia até voltar em 2020, para um tira-teima. O
espanhol não cortou seus laços com a escuderia, de quem agora é embaixador
oficial. Se a McLaren crescer de fato, e empolgar a todos, seria interessante
podermos ver o bicampeão se digladiar a fundo novamente pelas vitórias na F-1.
A Toro Rosso teve uma
boa temporada no ano passado, em especial graças a Pierre Gasly, hoje na Red
Bull. Como o programa de pilotos da marca dos energéticos queimou o filme de
muita gente, eles tiveram que engolir a seco, e chamar de volta Danill Kvyat,
que teve a façanha de ser demitido por eles em duas oportunidades, e passou
2018 como piloto de desenvolvimento nos simuladores da Ferrari. Espero que
aproveite a chance e cale a boca da cúpula rubrotaurina, ainda mais por
passarem a mão na cabeça tantas vezes que Verstappen andou fazendo barbeiragem
na pista, enquanto crucificaram o russo por menos. E Alexander Albon, tirado da
equipe Nissan e.dams de última hora para a vaga de segundo piloto, não
comprometeu nos testes. E o time parece bem capacitado para extrair da Honda o
melhor de seu desempenho, podendo brigar pela liderança do segundo pelotão.
Alfa Romeo e Hass: Qual time andará melhor com as unidades de potência da Ferrari? |
Hass e Alfa Romeo
brigarão pelo posto de melhor time equipado pelas unidades de potência da
Ferrari, que estão mais eficientes do que nunca. Com ambos os times usando as
melhores soluções e equipamentos produzidos pela escuderia italiana tanto
quanto permitidos pelo regulamento, ambas tem tudo para engrossar a luta no
meio do pelotão, e ajudar a manter uma briga mais do que acirrada nesta parte
do grid.
E dá pena ver que a
Williams parece ter errado mais uma vez, tendo expectativas cada vez mais
desanimadoras em relação às suas possibilidades para a nova temporada, quando
deveria tentar voltar a evoluir, mas parece não conseguir sair do lugar, não
apenas apresentando outro projeto que parece fraco em relação aos concorrentes,
mas demonstrando problemas gerenciais e técnicos. A “licença” de Paddy Lowe,
sem data para terminar, denuncia que os problemas do time são mais sérios e
complicados do que fazem transparecer. Espero que consigam se recuperar e fazer
uma temporada decente, pela história vencedora que a equipe já teve, e pela sua
tradição.
E vamos para o início
da temporada. E que tenhamos um bom campeonato, tanto quanto possível. Hora de
acelerar fundo na 70ª temporada da Fórmula 1.
As atividades da Fórmula 1 em
Melbourne infelizmente começaram com uma má notícia. Charlie Whiting, diretor
de provas da categoria, faleceu nesta quinta-feira, vítima de uma embolia no
seu quarto de hotel na cidade, preparando-se para trabalhar no fim de semana do
GP. Infelizmente, ele não pôde ser socorrido a tempo, e morreu aos 66 anos de
idade. Charlie começou na F-1 em 1977, como integrante da equipe de mecânicos
da Hesketh. Com a falência da escuderia, ele se mudou para a Brabham, onde
exerceu a função de mecânico-chefe, tendo trabalhado junto com Nélson Piquet
nos dois títulos conquistados pelo piloto brasileiro. Whiting desligou-se da
escuderia quando Bernie Ecclestone a vendeu ao fim daquela década, passando a
atuar junto à FIA desde então, começando como diretor técnico, até chegar à sua
posição atual. Foram praticamente 42 anos dedicados à categoria máxima do
automobilismo, e deixará muitas saudades em todos aqueles com os quais
trabalhou. Descanse em paz, Charlie!
Para quem já imaginava poder
acompanhar os treinos apenas pelo SporTV, eis uma surpresa: a Globo anunciou a
transmissão do treino de classificação no canal aberto, em paralelo com o canal
pago. A diferença é que no SporTV2 a transmissão começará por volta das 2:40
hrs, enquanto na Globo, só a partir das 3:00 hrs., pelo fuso horário de
Brasília. A prova será transmitida ao vivo pela Globo a partir das 2:00 hrs. na
madrugada de sábado para domingo. E é bom lembrar que as transmissões das
corridas em horário alternativo no SporTV agora nada mais são do que reprises
da transmissão da Globo no horário ao vivo, perdendo completamente aquele
diferencial que possuía até meados do ano passado.
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