Sebastian Vettel encerrou a pré-temporada com o melhor tempo, mas a Mercedes está nos calcanhares da Ferrari e a disputa pode ser bem mais parelha do que se pensava. |
Acabou. Mais uma
pré-temporada mísera de apenas 8 dias, e agora é hora de empacotar tudo para a
longa viagem que a turma da Fórmula 1 fará da Europa até Melbourne, na
Austrália, já na próxima semana, para chegar ao local de abertura da temporada
2019 da categoria máxima do automobilismo. Tudo indica que deveremos ver um
novo duelo entre as maiores potências do grid, Ferrari e Mercedes, com os
demais times lutando pelo posto de melhor do “resto”. Se teremos um bom
campeonato, ainda não dá para saber.
A Ferrari continuou
mostrando sua força nesta segunda semana de testes coletivos da pré-temporada,
na pista de Barcelona, inclusive com Sebastian Vettel a marcar o melhor tempo
de todos hoje, sexta-feira, com a marca de 1min16s221. O único porém é que Lewis Hamilton,
enfim mostrando performance de classificação, fechou o dia com 1min16s224, com
os mesmos pneus mais macios, e em tese com condições similares. E uma diferença
de apenas 0s003 é praticamente um empate. Se é verdade que Vettel não teve
chance de melhorar seu tempo por ter tido problemas, a Mercedes também treinou
pouquíssimo tempo em configuração de classificação, e com mais tempo, poderia
também refinar o acerto de seu bólido, e quem sabe, até superar a rival
Ferrari. Durante a maior parte do tempo da semana, o time alemão esteve concentrado
em fazer simulações de corrida e testar a confiabilidade de seu carro, e neste
quesito, pode se orgulhar de ter enfrentado muito menos percalços que os
italianos, que tiveram problemas técnicos em pelo menos três ocasiões, sendo
que em uma delas, Vettel acabou batendo com o carro, o que comprometeu parte da
programação, e fez a escuderia perder tempo precioso de pista.
Nestes últimos 4 dias,
a Mercedes rodou nada menos do que 574 voltas na pista da Catalunha. A Ferrari,
por sua vez, contabilizou 370 giros, 204 a menos que os rivais prateados. O
chassi W10 apareceu com mudanças na sua aerodinâmica, e ao que tudo indica,
especialmente pela tranquilidade nos boxes do time de Lewis Hamilton e Valtteri
Bottas, a vantagem da Ferrari pode ter sido diminuída substancialmente. Mesmo
assim, Hamilton continuou jogando o favoritismo no colo dos italianos,
afirmando que o modelo SF-90 é mais rápido... no momento. Por sua vez, Mattia
Binotto, novo chefe da escuderia rossa, tratou logo de anunciar que a Ferrari
não está com essa bola toda como a rival anda cantando. O objetivo é não cair
no jogo psicológico dos rivais, e com isso, acabar sentindo a pressão. Mas a
Mercedes mostrou suas garras neste último dia, e embora não tenha feito tanto
estardalhaço como os italianos durante estas duas semanas, não podem ser
subestimados. Os pilotos elogiaram a evolução do carro, e até a expressão de
Toto Wolf estava menos séria. Quem achou na semana passada que os alemães
poderiam enfim ver o seu domínio na F-1 finalmente encerrado terá de esperar um
pouco para ver se isso se confirma.
Tirando Mercedes e
Ferrari, só há uma outra certeza: a Williams deve ocupar o fundo do grid este
ano. O novo chassi só foi finalizado totalmente nesta semana, e na primeira
sessão de testes, o time de Grove perdeu praticamente dois dias e meio até
conseguir colocar o bólido na pista, que não estava ainda completo. Ao menos, a
equipe tentou tirar parte do atraso, e rodou 478 voltas nestes últimos quatro
dias, um número bem satisfatório, não fosse um pequeno problema: em nenhum
momento o desempenho do carro chegou a empolgar, e a melhor marca obtida por
George Russel foi de 1min18s130, praticamente 1s91 mais lento que a marca de Vettel,
e com os mesmos pneus, o C5. Mesmo que o carro seja lento agora, preocupa a
capacidade que a Williams terá de desenvolvê-lo, pois nos últimos anos, a
tendência era a escuderia inglesa ir perdendo ritmo conforme o campeonato
avançava, por ver os rivais evoluindo seus carros com muito mais competência.
Um sinal de que a situação está complicada foi a irritação de Robert Kubica
neste último dia de testes, onde mesmo sem enfrentar problemas mecânicos,
declarou que o time parece não conseguir encontrar uma direção a seguir, o que
é preocupante.
Red Bull colecionou duas belas pancadas de Pierre Gasly nos testes, e não empolgou muito nos tempos, mas não se pode subestimar um carro projetado por Adrian Newey. |
Em compensação, o meio
do pelotão segue indefinido, podendo demonstrar muitas brigas e disputas.
Embora seja lógico afirmar que a Red Bull tem tudo para continuar sendo a
terceira força, o time dos energéticos pode não ter vida fácil. Os tempos desta
semana não foram lá muito entusiasmantes, mesmo considerando as condições de
treino, o que dá um pouco a se pensar se o time de Dietrich Mateschitz
conseguirá até mesmo manter sua posição. Depois de romper com a Renault, sua
parceira de longa data, os franceses estão loucos para dar o troco, e nada
melhor do que ficar à frente do time que foi a referência para eles desde 2007.
E a Renault investiu alto para esta temporada, tanto na escuderia quando no
desenvolvimento de sua unidade de potência. Mas seria exagero achar que o novo
modelo RS19 será páreo para o RB15. Mesmo assim, outro ponto de honra para os
franceses é não serem superados pela Honda, cuja unidade de potência não
apresentou praticamente nenhum defeito digno de nota nestes oito dias de
testes. A rigor mesmo, o maior problema do time austríaco foram as cacetadas
dadas por Pierre Gasly, a mais forte delas ontem, que danificou bastante o
carro, obrigando o time a andar hoje com algumas peças do ano passado, por não
terem material de reserva suficiente. E até mesmo a Toro Rosso está ajudando a
elevar o moral da Red Bull, obtendo marcas expressivas que, mesmo sendo
analisadas de forma relativa, não deixam de mostrar-se boas a ponto de
credenciar o time sediado em Faenza como capaz de duelar com os demais times do
bloco de meio do grid. E, sobre a excelente fiabilidade das unidades da Honda até
aqui, há um rumor de que elas teriam trabalhado com limitação de potência, para
evitar avarias, e que para a primeira corrida, poderia ser liberada toda a
força, com cerca de 30 HPs a mais. Isso poderia ser comemorado no sentido de
que tanto Red Bull quanto Toro Rosso poderão contar com um pouco mais de
potência, e tentarem se aproximar mais de seus rivais. Por outro lado, fica o
temor de que liberar essa cavalaria possa comprometer a fiabilidade, e as
unidades voltarem a quebrar com frequência.
Mas Red Bull e Toro
Rosso deram, juntas, 807 voltas na pista só nesta semana, e sem problemas
relacionados à unidade de potência. Tudo indica que, após 5 anos de sua estréia
na nova era híbrida turbo, os japoneses da Honda finalmente começarão a
engrenar. Se vão conseguir vitórias, e disputar o título, ainda são outros
quinhentos, mas o prognóstico é muito otimista. Caberá à Red Bull mostrar
porque sua aposta nos japoneses foi mais do que acertada. E a Toro Rosso terá a
obrigação de mostrar evolução em relação ao ano passado, mas a parada será
dura. Ao menos Renault, McLaren, e Alfa Romeo, tem tudo para brigarem pela
liderança do segundo pelotão. A Racing Point ainda parece estar resolvendo seus
problemas com o novo carro, a ponto de terem rodado 377 voltas, e até
conseguido uma ou outra marca relativamente próxima dos ponteiros, mas sem
demonstrar a mesma capacidade de ritmo dos rivais. Deve começar um pouco atrás,
mas se mantiver a mesma eficiência em desenvolver o seu carro dos tempos em que
o orçamento era curto, pode entrar na briga e incomodar bastante os rivais. E a
Williams... Bem, já falei sobre ela...
Devagar com o entusiasmo: dois dias no topo da tabela de tempos não é motivo para comemoração antecipada no time de Woking. É preciso ver onde todos estão. |
Quem também teve de
resolver vários problemas foi a Hass. O novo VF-19 rodou 487 voltas esta
semana, marcando sua melhor volta em 1min17s565, quase 0s9 mais lento que o
melhor tempo de Vettel. Mas o time norte-americano vai se acertando aos poucos,
e tem tudo para manter sua curva de evolução demonstrada no ano passado, tão
logo consiga resolver os problemas de fiabilidade que surgiram durante a
pré-temporada. Mas melhor estes problemas no carro terem surgido agora, do que
depois, durante as corridas. O que o time espera é que sua dupla de pilotos
demonstre mais juízo nesta temporada do que na última. Se conseguirem isso, e o
carro mostrar performance, eles devem dar conta do recado.
A Alfa Romeo deve
engrossar a briga no pelotão do meio. Os novos reforços do time, na área
técnica e nos novos recursos financeiros, garantiram recursos para projetar um
carro que deve permitir a seus pilotos mostrar do que são capazes. Foram 414
voltas, com Kimi Raikkonen marcando o melhor tempo 1s acima da Ferrari de
Vettel, com os mesmos pneus, marca que deve ser comemorada, indicando que o
novo “time B” de Maranello tem tudo para brigar por pontos com regularidade.
Mas, claro, falta combinar com os rivais. Mas é agradável ver Raikkonen mais
motivado agora do que nos últimos tempos, reflexo sem dúvida do ambiente muito
menos carregado do novo time do que o clima na equipe de Maranello. O
finlandês, decano do grid nesta temporada, tem tudo para cumprir o seu papel de
líder da escuderia na pista e nos boxes, ainda mais por ser do time que
consegue se dar bem com qualquer companheiro de time.
Já havia mencionado
que o principal objetivo da Renault é simplesmente desbancar a Red Bull, e os
motivos em linhas gerais disso. Mas o time francês vai precisar caprichar, e
trabalhar mais do que nunca. E, apesar de alguns problemas, eles não negaram
fôlego: foram 525 voltas na pista esta semana, fazendo tanto Nico Hulkenberg
quanto Daniel Ricciardo rodarem todos os dias. E, ao menos, hoje, no
encerramento, Hulkenberg ficou a apenas 0s622 de Vettel, marca melhor que a
obtida pela rival Red Bull. O problema dos franceses é que eles não estão
empolgando muito. Talvez as promessas de resultados melhores, sempre feitas nos
últimos anos, em especial para melhora da performance de sua unidade de
potência, deixe todo mundo ainda meio com o pé atrás em relação às expectativas
da escuderia francesa para este ano. Afinal, a Renault até saiu da Formula-E
para se dedicar de forma mais exclusiva e focada na F-1, com planos de voltar a
ser campeã. Não é pouca coisa. Resta saber se os esforços irão frutificar como
se espera. E será duplamente frustrante se a unidade de potência francesa não
apenas não render o que se espera, como acabar sendo superada pela Honda, que
foi motivo de piada nos três anos de parceria recente com a McLaren. Ao menos,
em termos de pilotos, a Renault está bem servida: Ricciardo é um piloto
extremamente eficiente, e Hulkenberg só precisa conseguir deslanchar na
categoria, pois talento já mostrou que tem. E ter o australiano ao seu lado no
time deve motivá-lo a andar ainda melhor, para não ficar para trás.
A Renault trabalhou duro para chegar mais à frente. Meta primária é bater a Red Bull e calar as críticas de Christian Horner, Helmut Marko e Max Verstappen. |
E o que dizer da
McLaren? Ainda é muito cedo para comemorar, mas só o fato de a escuderia de
Woking ter conseguido rodar 428 voltas só nesta semana é algo que não pode ser
ignorado. Mesmo assim, Carlos Sainz Jr. e Lando Norris conseguiram alguns
tempos bem expressivos, com a escuderia sendo a mais veloz tanto na terça
quanto na quarta-feira, e conseguindo terminar a 0s7 atrás do melhor tempo da
pré-temporada. Só que ambos os pilotos preferem não alimentar ilusões: o novo
MCL34 é um passo em frente em relação ao carro do ano passado, mas é preciso
descobrir onde os rivais se encontram, para poder afirmar de fato que a McLaren
está começando sua reação para voltar lentamente às primeiras colocações, ou se
ainda estará lutando para não cair para trás.
Apesar dos resultados,
ainda é impossível dizer se teremos um bom ano. Testes são testes, e corridas
são corridas. E, especialmente, precisaremos comprovar se as novas regras
técnicas de fato facilitarão as ultrapassagens em disputas de posição na pista.
Se tivermos realmente uma briga renhida no pelotão do meio, como indicam os
testes da pré-temporada, poderemos ver boas disputas na pista, que é o que
público quer ver de fato. E se Ferrari e Mercedes demonstrarem não estar tão à
frente de todos, com os demais times conseguindo andar mais próximos, sem ficarmos
com aquela sensação de “categoria A e categoria B” que tanto vimos no ano
passado, com Mercedes, Ferrari e Red Bull sempre disparando na frente, como se
estivessem em uma outra categoria, tamanha a diferença para os outros, melhor
ainda.
E o batismo de fogo
será logo na primeira corrida. O traçado do Albert Park há muitos anos já não
proporciona boas provas, pela dificuldade de se conseguir ultrapassar na pista.
Se as novas regras conseguirem realmente apimentar os duelos, poderemos ter
boas esperanças para o restante do campeonato. A única coisa que não dará para
aferirmos totalmente deverá ser a relação de forças, uma vez que o circuito
australiano não costuma ser uma expressão muito exata dos parâmetros que
veremos nos demais locais de competição.
Vejamos quem de fato
irá dar as cartas no campeonato deste ano, e se tiver muito mais gente na
parada, tanto melhor...
E as farpas da relação Renault X
Red Bull ainda devem demorar a arrefecer. A última delas foi na direção de
Daniel Ricciardo, a quem Christian Horner insinuou ter saído do time para “fugir
da briga” com seu companheiro Max Verstappen. Claro que não demorou para o
australiano negar esta versão, afirmando que seu maior temor era a insegurança
de apostar na parceria com a Honda, depois dos anos de fracasso na parceria
recente com a McLaren. E, obviamente, o clima dentro da equipe também
contribuiu para isso, com a direção da escuderia passando a ter olhos muito
mais para o holandês, mesmo com todas as barbeiragens que ele cometia, e ainda
por cima sendo muito coniventes com isso, a exemplo da agressão a Esteban Ocón
em Interlagos, no ano passado, após disputa com o piloto da Force India na pista,
sendo que ele era retardatário. De minha parte, a Red Bull perdeu aquele charme
e ambiente descontraído que o time exibia na década passada. A escuderia austríaca
perdeu um excelente piloto que dava resultados e não se metia em confusões,
preferindo se concentrar agora em Verstappen, a quem enxergam como o maior
talento da história do time depois de Sebastian Vettel. Grande talento e
extremamente arrojado... Ricciardo preferiu fazer uma aposta para tentar dar
novo rumo à sua carreira, e tinha todo o direito de fazer isso. E, pelo piloto
boa praça que é, sem as frescuras que muitos no paddock possuem, espero que
seja bem-sucedido na sua escolha... Não apenas por ele, mas pela própria F-1,
que ganharia muito com mais um time conseguindo discutir vitórias, e quem sabe,
o título da categoria...
Para os saudosistas, a série “Túnel
do Tempo” em exibição nos canais SporTV promete para este domingo, a partir das
13 horas, no SporTV2, a apresentação do Grande Prêmio do Brasil de F-1 de 1986,
na íntegra, com narração de Galvão Bueno e Reginaldo Leme. A prova foi vencida por
Nélson Piquet, que estreava na equipe Williams, e teve pole-position de Ayrton
Senna, então na Lotus, que terminou em 2º lugar. Já fazem 33 anos daquela
corrida... O tempo voa mesmo...
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