sexta-feira, 29 de março de 2019

NAS AREIAS DO DESERTO


A F-1 prepara-se para acelerar nas areias do deserto do Bahrein.

            A Fórmula 1 entra hoje na pista para sua segunda corrida da temporada de 2019, e precisando comprovar tudo o que se esperou dela a partir dos dados da pré-temporada. Para a Ferrari, por exemplo, é mostrar que o resultado exibido no Albert Park foi algo circunstancial, e entrar firme na luta pela vitória. Para a Mercedes, apesar do bom desempenho em Melbourne, o time quer ver se está mesmo tão forte como espera, e ficamos na expectativa se as flechas de prata deixarão os rivais comendo poeira novamente. Uma outra corrida sem resistência dos concorrentes, a exemplo do que vimos na Austrália, poderá ser um banho de água fria para quem esperava um torneio mais disputado. E um baque que pode ser contundente para a Ferrari, que tinha várias razões para crer que poderia disputar roda a roda com o time alemão na pista.
            O time vermelho deixou muita gente desapontada na estréia em Melbourne. Como se não bastasse não ter conseguido andar no ritmo da Mercedes, acabou superada por Max Verstappen, da Red Bull, e gerou desconfianças quando declarou não ter ciência do porquê haviam sido tão lentos na corrida. E a ordem para Charles LeClerc não ultrapassar Sebastian Vettel foi mais um prego no caixão de críticas direcionado à escuderia. Afinal, se Kimi Raikkonem tinha a obrigação de não atrapalhar Vettel, para quê contratar o monegasco, todos perguntam. Pegou mal mesmo porque Mattia Binotto havia dito que seus pilotos poderiam batalhar na pista, apesar de também afirmar que Vettel teria prioridade. Só que ninguém esperava isso já na primeira prova. Depois dessa, muita gente está torcendo para a Ferrari se danar, e que a Mercedes dê outro banho nos rivais.
            O que dá um grande alento é que a pista de Sakhir é bem diferente do circuito urbano montado nas ruas do Albert Park, em Melbourne. Temos aqui um autódromo de verdade, com boas retas, e vários tipos de curvas, com um acerto completamente diferente da prova australiana. Será um panorama mais exato do que poderemos esperar da F-1 nesta temporada. Se a Mercedes continuar muito à frente, aí será preocupante para quem esperava mesmo ter um campeonato mais equilibrado. Não são apenas os torcedores que buscam respostas, mas as próprias equipes, que querem saber exatamente o seu nível de força e competitividade. A Mercedes prefere não cantar vantagem, e afirma que deu sorte na primeira corrida, e que o modelo W10, apesar de bem mais conhecido na sua intimidade, ainda carece de ser melhor ajustado e desenvolvido.
Valtteri Botas venceu na Austrália com uma grande performance dele e da Mercedes. Repetirão a dose em Sakhir?
            Na Red Bull, por exemplo, todos ficaram entusiasmados com o pódio de Verstappen em Melbourne. As unidades de potência da Honda não tiveram nenhum problema no final de semana, e os carros do time dos energéticos tinham excelentes velocidades de reta, outro bom sinal para a escuderia. Mas Verstappen, apesar do otimismo, ainda prefere manter os pés no chão, e nada melhor para isso do que ver como o RB15 irá se comportar aqui em Sakhir. Se a Ferrari se reencontrar na pista, o time de Milton Keynes precisará comprovar se vai mesmo conseguir desafiar os italianos e alemães pelas primeiras posições, lembrando que Max só chegou em Lewis Hamilton pela performance do carro do inglês estar prejudicada pelo dano no seu assoalho. Em nenhum momento o holandês conseguiu ser uma ameaça no radar de Valtteri Bottas, que ainda marcou a volta mais rápida no final da prova, para ganhar o novo ponto extra atribuído a quem for o mais veloz nas corridas. Helmut Marko se apressou em dizer que o novo motor rendeu o esperado, e que agora o objetivo é conseguir acertar o chassi, afirmando que o carro ainda precisa ser melhor configurado, dando a entender que na Austrália o acerto não foi o ideal.
            A Mercedes, aliás, terá uma boa oportunidade para conferir a nova forma de Bottas, que chegou ao Bahrein como líder do campeonato. Hamilton, o vice-líder, pretendo colocar ordem na casa, e vamos ver como a dupla prateada irá se portar na pista. Fica também a dúvida de como a Mercedes irá proceder, dependendo dos concorrentes. Se ficar muito à frente, podemos ver um bom duelo entre Bottas e Hamilton, mas e se os rivais andarem muito próximos, como Toto Wolf irá se portar no comando de seus pilotos? A Ferrari não teve pudores em favorecer Vettel logo de cara na primeira corrida, mesmo que isso não valesse muita coisa. A Mercedes fará o mesmo?
            No pelotão intermediário, temos tudo para ver uma nova briga acirrada entre vários times. A Hass saiu na frente na Austrália, mas conseguirá repetir a performance aqui nas areias barenitas? A Renault pinta como principal desafiante, mas Toro Rosso e Alfa Romeo estão à espreita para mostrar do que são capazes. E a Racing Point também parece estar pronta para engrossar esta disputa, tendo conseguido uma performance até satisfatória com Lance Stroll na Austrália, mas precisando ser confirmada aqui, para tirarmos as dúvidas. Dúvidas que ainda pendem sobre a real performance da McLaren para este ano, que até deu esperanças de dias melhores com Lando Norris chegando ao Q3 em Melbourne, mas levando um forte abalo com um ritmo não tão forte na corrida, e a quebra do MGU-K de Carlos Sainz Jr.
A Williams continua sua via cruccis em 2019.
            O que não dá para continuar esperando muito é da Williams. Robert Kubica confirmou que aqui no Bahrein ele e George Russel terão novamente que pilotar com o maior cuidado, pois o time ainda não tem peças de reposição em número adequado, o que significa que um exagero ou forçada dos pilotos pode resultar em uma potencial saída de pista, que no caso de danificar algo, pode comprometer todo o final de semana, pela falta de peças. Uma situação completamente ridícula para um time com a história da Williams. Isso já obrigou os pilotos a andarem menos do que gostariam na Austrália, e isso foi há duas semanas. A fábrica não conseguiu aprontar o número de peças necessário até agora? Isso só ajudar a diminuir ainda mais o crédito do time de Grove, que pode até nem conseguir largar, caso seus pilotos não fiquem dentro dos 107% do tempo do pole-position. Seria um desastre a mais para a escuderia, uma das mais tradicionais do grid. Só que tradição não garante resultado, e a McLaren está aí para dar o exemplo, como outro nome tradicional do grid. Mas ao menos o time de Woking parece saber melhor onde está pisando, e como tentar acertar o passo para sair do buraco onde se encontra, algo que a Williams ainda parece estar batendo cabeça, e sem achar uma solução.
            Vejamos, então, uma corrida com chances potenciais de duelos bem mais disputados, até para vermos se as novas regras aerodinâmicas realmente facilitarão as disputas de posição em uma pista de verdade, algo que não pudemos comprovar com a eficácia desejada na pista do Albert Park. Os pilotos confirmaram ter ficado mais fácil se aproximar do carro que vai à frente, o que já é um bom sinal. Mas, como sempre dizem: chegar é uma coisa; ultrapassar é outra! E é hora de vermos como estes novos carros se portarão neste quesito. Pelo bem da disputa, espero que os resultados sejam positivos... Outro tiro no pé, e sem resultados, é tudo que a F-1 não precisa neste momento...


Nelsinho Piquet disse adeus à Jaguar e à Formula-E.
Nesta quinta-feira soube da notícia de que Nelsinho Piquet está fora da Formula-E. Oficialmente, ele e seu time, a Jaguar, concordaram em encerrar seu contrato para o brasileiro se dedicar a outros projetos, entre eles, a Stock Car Brasil, cujo campeonato começa na próxima semana, e no qual o filho do tricampeão Nélson Piquet deseja se concentrar unicamente. Mas, na prática, Nelsinho há tempos vinha devendo resultados na F-E, e é uma pena o piloto encerrar sua participação na categoria desta maneira. Nelsinho foi o primeiro campeão da nova categoria, mostrando talento e capacidade. Infelizmente, os dois anos seguintes foram infrutíferos porque seu time, a antiga China Racing, atual Nio, errou a mão no desenvolvimento de seu equipamento, e Piquet não conseguiu defender seu título, e nem sequer voltar a subir ao pódio. Na temporada do ano passado, Nelsinho passou a defender a Jaguar, um time de fábrica que desejava evoluir na competição, e tinha no brasileiro um grande trunfo para levar o time para as primeiras colocações. Apesar da competitividade ainda não permitir vencer, a Jaguar já oferecia muito mais possibilidades que a Nio, e as primeiras provas de Nelsinho foram boas, com resultados constantes, e fazendo crer que o retorno ao pódio, e até mesmo conseguir levar a Jaguar a disputar a vitória na F-E, seriam apenas questão de tempo, já que o desempenho da escuderia realmente vinha evoluindo. Mas, de um momento para o outro, Nelsinho passou a ver tudo dar errado, e além do azar, também começou a cometer erros. Iniciou-se uma fase ruim para o piloto, algo que não é anormal, podendo ocorrer com qualquer um. Afinal, nas 5 primeiras corridas, havia conquistado 3 4ºs lugares e 1 6ª posição, com 45 pontos, e figurando entre os primeiros colocados graças à sua constância. Mas dali em diante, Piquet ficou zerado por nada menos do que 6 provas, voltando a marcar pontos apenas na etapa final da competição, em Nova Iorque, com um 7º lugar, terminando o ano em 9º lugar, com 51 pontos. Mas seu parceiro, o australiano Mith Evans, terminou o ano em 7º, com 68 pontos, e conquistando o primeiro pódio e primeira pole da Jaguar na F-E. Algo não estava indo bem, mas todo piloto tem seus momentos de baixa, onde apesar do talento, as coisas parecem não se encaixar. Para a 5ª temporada, com os novos carros Gen2, a expectativa era de que, a exemplo da 1ª temporada, quando todo mundo ainda precisava conhecer as potencialidades de seus carros, a capacidade de Nelsinho com os novos bólidos pudesse gerar frutos, com todos tendo de ver os novos limites dos novos monopostos adotados. Infelizmente, não foi o que vimos. Piquet marcou apenas 1 ponto, logo na etapa inicial, na Arábia Saudita, mas viu o parceiro Mith Evans conseguir um 4º lugar, e sair na sua frente no novo certame. E dali em diante, nada mais de positivo para o brasileiro. Enquanto Evans foi marcando pontos em todas as provas, ocupando no momento a 11ª colocação, com 36 pontos, Nelsinho ficou estancado com apenas 1 ponto, que lhe rende no momento a 20ª posição em um campeonato com 24 pilotos tendo feito alguma participação. Pior, Piquet ainda se envolveu em um forte acidente na etapa da Cidade do México, e no fim de semana passado, em Sanya, China, acabou batendo sozinho durante a corrida, depois de largar em último lugar. A situação fica ruim se compararmos com o desempenho de Evans, que também largou entre os últimos, em 20º, e conseguiu terminar em 9º, em uma corrida que teoricamente foi complicada para a Jaguar, mas onde o piloto inglês conseguiu resultados que Nelsinho infelizmente ficou devendo. Resultados que alguém de sua capacidade deveriam ser possíveis. Não foram apenas azares, mas performances ruins também, que infelizmente abreviaram sua permanência na categoria. Piquet era um dos poucos pilotos que havia disputado todas as 51 provas do campeonato da F-E desde a sua estréia, em 2014. Espero que ele consiga se reencontrar na Stock Car, onde já competiu no ano passado, tendo participado de 19 provas, e terminado a temporada em 15º lugar, com apenas 65 pontos, desempenho que também ficou abaixo do esperado pela maioria dos torcedores e imprensa especializada. Só para comparar, Lucas Di Grassi, que a exemplo de Nelsinho também dividiu o ano entre a F-E e a Stock Car, venceu 3 provas, e terminou a competição em 12º lugar, com 127 pontos. Problemas de adaptação e de equipe à parte, o filho do tricampeão Nélson Piquet realmente não conseguiu apresentar resultados como se esperava no campeonato nacional. Vejamos se terá melhor sorte este ano, dedicando-se exclusivamente a esta competição. Que seja apenas uma fase ruim, e Nelsinho consiga reerguer sua carreira no automobilismo, e mostrar o talento que herdou de seu pai, que superou inúmeras dificuldades e obstáculos para chegar à F-1, e conseguir ser tricampeão na categoria máxima do automobilismo.


Um ponto negativo continua a assombrar a carreira de Nelsinho perante os torcedores brasileiros: o episódio do Cingapuragate, onde o brasileiro bateu de forma premeditada o seu carro durante o GP de Cingapura de 2008, para favorecer seu companheiro de equipe Fernando Alonso a conseguir vencer a corrida, numa trama orquestrada principalmente por Flavio Briatore, chefão da equipe oficial da Renault na época. A picaretagem foi denunciada no ano seguinte, e Briatore, assim como Pat Symonds, acabaram banidos da F-1. Symonds retornou há alguns anos, dirigindo a área técnica da Williams, até se aposentar em definitivo, enquanto Briatore não voltou até hoje, se bem que não parece nem um pouco incomodado com isso. E Nelsinho acabou rifado da F-1, tendo de reconstruir sua carreira, tendo competido em diversas categorias, como a Nascar, rali, WEC, até reencontrar o sucesso na F-E, sendo o seu primeiro campeão. Infelizmente, nos últimos tempos, as coisas não vinham correndo bem, e afirmar que pode competir melhor se dedicando apenas a uma competição é uma desculpa que não pega muito entre os torcedores, haja visto que vários pilotos da F-E dividem sua atividade também com o Mundial de Endurance, sem comprometer sua eficiência ao volante, dependendo da competitividade do carro que tem à sua disposição.


A MotoGP chegou à América do Sul para a disputa do GP da Argentina, em Termas de Rio Hondo. Andrea Dovizioso, depois do duelo ferrenho com Marc Márquez na etapa de estréia, no Catar, lidera o campeonato, e diferente do ano passado, pretende conservar a primeira colocação na classificação, mas já antevendo que poderá ter novo duelo com o atual campeão da equipe Honda. Será que a Ducati manterá a mesma força exibida em Losail? E Márquez será novamente um páreo duro para o italiano? Fica também a dúvida se a Yamaha poderá render mais do que mostrou na última corrida, ansiando poder lutar pelo pódio e pela vitória, ou se será suplantada pelos concorrentes. E, claro, todo mundo vai querer ver se Jorge Lorenzo, que teoricamente está recuperado, irá finalmente mostrar a que veio na Honda, depois de uma performance muito abaixo do esperado no Catar, quando foi suplantado com sobras imensas por Márquez. A etapa argentina será exibida ao vivo no SporTV2 a partir das 15:00 Hrs, pelo horário de Brasília.


A F-1 terá dois dias de testes no Bahrein na próxima semana, com participação de vários pilotos, e entre eles, Fernando Alonso, que voltará a pilotar um carro de F-1, depois de se despedir da categoria máxima do automobilismo no ano passado. O asturiano, que agora ocupa o cargo de embaixador da McLaren, irá conduzir o novo MCL34 com o objetivo de ajudar no seu desenvolvimento, dada a sua experiência e capacidade. Mas quem estará na pista também será o brasileiro Pietro Fittipaldi, que terá nova chance de andar com o carro da Hass, e pretende aproveitar a oportunidade para ir ganhando ainda mais a confiança do time, visando tornar-se titular da escuderia para 2020, depois de um resultado que agradou muito ao corpo técnico quando pode andar com o VF-19 na pré-temporada, em Barcelona. Para a McLaren, será interessante ver o que Alonso poderá render com o carro deste ano, em comparação com o resultado que for obtido na prova barenita, já que o desempenho do carro em Melbourne não impressionou muito, apesar do clima mais otimista e realista da escuderia britânica.

quarta-feira, 27 de março de 2019

COTAÇÃO AUTOMOBILÍSTICA – MARÇO DE 2019


            Depois de um longo inverno (no hemisfério norte, claro), eis que a Cotação Automobilística está de volta, com uma avaliação de alguns dos principais acontecimentos do mundo da velocidade neste mês de março, com o início de alguns dos principais campeonatos do esporte a motor pelo mundo afora, sempre com meus comentários a respeito. Estejam ou não de acordo, apreciem o texto, naquele tradicional esquema de sempre: em alta (cor verde), na mesma (cor azul), e em baixa (cor vermelha). Uma boa leitura a todos, e a Cotação Automobilística retorna no final de abril, com as avaliações dos acontecimentos do próximo mês. Até lá.



EM ALTA:

Disputa na MotoGP 2019: O campeonato da classe rainha do motociclismo começou com o pé embaixo na prova de Losail, no Catar. E com disputa acirrada do início ao fim, com direito a repeteco do duelo entre Marc Márquez e Andrea Dovizioso visto em 2018, e com nova vitória do piloto da Ducati na linha de chegada, em briga direta com o atual campeão da equipe da Honda, que duelaram curva a curva nas voltas finais, num espetáculo de competição que anda faltando em algumas outras categorias mundo afora. E a corrida teve disputas ferrenhas no pelotão da frente, com os 5 primeiros colocados recebendo a bandeirada na chegada separados por 0s6, e o 6º e 7º chegando a menos de 3s atrás, com vários destes pilotos andando juntos a corrida inteira. Ainda é cedo para dizer se esse panorama irá se repetir nas próximas corridas, mas ao menos no início, a MotoGP inicia seu campeonato deste ano exibindo um grande espetáculo, bem ao seu estilo. Se conseguir manter essas disputas pelas demais provas, teremos uma grande competição este ano...

Disputa na Formula-E 2018-2019: Apesar das punições que são anunciadas por vezes com muito atraso, gerando até mudanças no resultado geral das corridas, a 5ª temporada da Formula-E está saindo melhor que a encomenda em termos de disputas. Foram 6 pilotos diferentes de 6 times diferentes vencendo nas 6 provas disputadas até aqui da atual temporada, com nenhum piloto conseguindo se sobressair sobre os demais. Já vimos a BMW Andretti andando muito forte, mas vencendo apenas uma corrida, o mesmo acontecendo com a Techeetah, e acompanhando os triunfos de Audi, Venturi, Mahindra e Virgin. Até aqui, os 6 primeiros colocados na classificação estão separados por apenas 10 pontos, em um cenário onde nenhum deles está conseguindo distanciar-se dos outros, e com a possibilidade de mais gente do grid engrossar a disputa, dependendo do resultado das corridas. A F-E precisa acertar suas posições sobre detalhes do regulamento a respeito do comportamento na pista, e em ser mais célere na avaliação de situações que possam gerar punição aos pilotos durante as corridas, mas ninguém pode negar que o campeonato está mais imprevisível do que nunca. E é isso que motiva os fãs a acompanharem as provas, em um certame que continua crescendo ano após ano...

Equipe Penske na Indycar: Apesar do equilíbrio de performances na pré-temporada, o time de Roger Penske tem conseguido se sobressair levemente sobre os rivais neste início de temporada da Indycar 2019. Josef Newgarden venceu a etapa inicial em São Petesburgo, com Will Power também subindo ao pódio, e o australiano só não venceu no Circuito das Américas por ter sido atrapalhado por uma bandeira amarela, e ter tido um enguiço no carro no que seria o último pit stop. O norte-americano e o australiano tem andado muito forte, e entre os primeiros colocados, em um certame onde a constância é fundamental para se chegar à disputa do título. O time da Penske pode não estar impondo uma hegemonia, a exemplo da Mercedes na F-1, mas é sempre candidato à vitória, e até o presente momento, tem tudo para lutar pelos primeiros lugares nas corridas em pistas urbanas e mistas do campeonato. Falta comprovar, contudo, como irá se comportar nas corridas em ovais.

Colton Herta: O filho de Brian Herta fez história nas categorias Indy ao vencer a etapa do Circuito das Américas, segunda prova do campeonato, e tornar-se o mais jovem vencedor da história das categorias Indy até hoje, aos 18 anos, 11 meses e 22 dias. O piloto da Harding já havia feito uma corrida honesta em São Petesburgo, terminando em 8º lugar, e em Austin, fez uma bela classificação, largando em 4º, e mostrando que o resultado não era apenas algo fortuito: o jovem Colton acelerou fundo durante toda a corrida, distanciando-se dos demais pilotos junto com o pole Will Power e Alexander Rossi, que sumiram na frente da concorrência. Mesmo que tenha sido beneficiado pela bandeira amarela que alijou Power e Rossi das primeiras colocações, o jovem Herta voltou a acelerar fundo para cruzar a linha de chegada em primeiro lugar, mantendo sob controle Josef Newgarden, da Penske, e Ryan Hunter-Reay, da Andretti, que nunca tiveram chance de discutir a primeira colocação com o garoto. Herta agora é o vice-líder do campeonato, com 75 pontos, atrás apenas de Newgarden, com 93. E assim como Rossi impressionou quando, novato na Indycar, venceu a Indy500 em 2016, e se tornou uma das estrelas da competição, o jovem Herta tem tudo para se projetar com destaque neste ano. E ele vai fazer questão de mostrar como sabe acelerar fundo...

Felipe Nasr e Pìpo Derani no IMSA Weather Tech Sportscar: A dupla brasileira da equipe Action Express já começou a mostrar a que veio, ao faturar as 12 Horas de Sebring, e embolar a disputa pelo título da categoria de endurance dos Estados Unidos. Felipe e Pipo haviam sido 2º colocados em Daytona, e agora com o triunfo, junto com Eric Curran, empatam com Jordan Taylor e Renger Van Der Zande na pontuação do campeonato, sendo classificados em 2º apenas pelo critério de desempate do regulamento. Mas, mais do que o resultado, é a performance de ambos na pista que vem chamando a atenção, com pilotagens precisas, determinadas, e sem se envolverem em confusões, especialmente na parte da prova disputada sob chuva, onde Pipo simplesmente foi para a liderança, e abriu vantagem de todos. Campeão da categoria no ano passado, Felipe Nasr inicia sua luta para chegar ao bicampeonato, enquanto Pipo busca seu primeiro título. Basta terem um carro decente em mãos para mostrarem o que podem fazer.



NA MESMA:

Equipe McLaren: O time de Woking precisou refletir bastante sobre os erros cometidos no ano passado para tentar iniciar sua recuperação rumo aos primeiros lugares nas corridas, ciente de que será um processo que pode levar tempo. E assim, com uma postura bem pés no chão, o time concebeu o carro deste ano, com vistas a dar os primeiros passos para tentar voltar a ser vitorioso no médio e longo prazo. Ao menos na pré-temporada, a McLaren teve uma preparação sem problemas como não se via há muito tempo. Mas a disputa no pelotão do meio este ano promete ser mais acirrada do que nunca, e mesmo com o progresso feito no projeto do carro deste ano, as melhoras esperadas pelo time parecem não ter sido tão evidentes assim. Apesar de Lando Norris ter conseguir largar entre os 10 primeiros, o time não teve o ritmo esperado na Austrália, e ainda exibiu a primeira quebra da unidade de potência do ano, saindo zerada dos pontos, ao lado da Williams. Sem a pressão por resultados imediatos que Fernando Alonso exigiria, o time espera que o ambiente mais tranquilo o ajude a evoluir com mais eficiência, a exemplo do que a Honda conseguiu na Toro Rosso no ano passado. Mas a escuderia vai precisar dar duro para escalar o pelotão, que parece estar mais parelho do que nunca, e deve ter muitos competidores batalhando a fundo pelas mesmas posições.

Ferrari: O time de Maranello fechou a pré-temporada com a certeza de que poderia ser o time a ser batido, ou pelo menos, um forte favorito à vitória. Mas a escuderia rossa começou o ano toda atrapalhada em Melbourne, sem conseguir incomodar a novamente favorita Mercedes, e sendo até superada pela Red Bull, que conseguiu andar forte o suficiente para superar a dupla rossa. Além de não conseguir entender porque foi tão mais lenta do que se imaginava, a Ferrari ainda deu o dito pelo não dito, e as promessas de disputa entre sua dupla de pilotos esfarelaram-se logo na primeira prova, com Charles LeClerc sendo proibido de superar Sebastian Vettel na pista, quando andava muito mais rápido que o piloto alemão, numa atitude que o time italiano cansou de exibir de forma insultante para o público que deseja competição de verdade nas corridas. Se era para ter um piloto de novo submisso, não precisavam do monegasco: podiam ter continuado com Kimi Raikkonem, que mostrou muito mais raça e desenvoltura no seu novo time, a Alfa Romeo, além de estar bem mais feliz e aliviado por estar fora das politicagens do time de Maranello. Política de primeiro piloto sendo levada assim logo na primeira corrida? Para muitos, a Ferrari já perdeu a credibilidade na temporada, e se os resultados não mudarem, cabeças poderão rolar em breve na Itália...

Transmissão da Globo na F-1: Entra ano, sai ano, e a transmissão da Globo para a F-1 parece não sair da mesmice. Galvão Bueno parece adorar monopolizar as atenções e as falas sobre o que está acontecendo na pista, enquanto no SporTV o clima é mais equilibrado e informativo, e sem estrelismos. Felipe Giaffone entrou no lugar de Lito Cavalcante e Max Wilson, e não comprometeu, sabendo dar explicações a respeito das novas regras e não se furtando a admitir que ainda está se acostumando no novo canal. Enquanto isso, na transmissão da Globo, pela enésima vez Galvão cita Ayrton Senna, chegando a mostrar o capacete de sua última vitória, na Austrália em 1993, e chegando a falar para ninguém tocar na peça, como se Reginaldo Leme e Luciano Burti fossem dois celerados que não saberiam dar o devido respeito ao que estava ali sendo exposto. Mesmo que agora em 2019 façam 25 anos da morte de Senna, já começar uma transmissão falando mais uma vez do tricampeão mostra que a Globo e o narrador continuam reféns do passado, chegando em alguns momentos a dar até a impressão de que Senna, se vivo, ainda estaria disputando corridas na F-1. Leme e Burti acabam tendo de aguentar cada uma, e sem poderem se expressar com sua real capacidade de informar o público como seria necessário fazer para melhorar o nível de transmissão...

Brasileiros na Indycar 2019: Apesar do resultado satisfatório obtido por Tony Kanaan no Circuito das Américas, na segunda etapa do campeonato da Indycar deste ano, ninguém pode se iludir muito: nossos representantes terão um ano complicado pela frente. O time de A. J. Foyt ainda não conseguiu melhorar o seu desempenho, e tanto Kanaan quanto Matheus Leist vão ter de suar o macacão mais do que imaginavam para conseguir arrancar algum resultado mais destacado na competição. No ano passado, o time estava se reestruturando para melhorar sua base de competição na pista, mas até o presente momento, os resultados não vieram. Vai ser preciso paciência para os torcedores no acompanhamento de nossos representantes na categoria.

Equipe Yamaha na MotoGP: O time de Valentino Rossi e Maverick Viñalez teve em 2018 a pior temporada dos últimos anos, ficando completamente sem possibilidades de lutar pelo título. Tendo isso em mente, era preciso reagir para voltar à briga nesta temporada, e os testes de Losail e Sepang até deram alguns indícios de melhora, que acabaram corroborados pela pole de Viñalez no GP do Catar. Mas parece que ainda falta um pouco mais para o time dos três diapasões voltar a lutar firme pelas vitórias, e então pelo título. Maverick caiu para o meio do pelotão assim que largou, e apesar de se recuperar, não foi além do 7º lugar. Rossi, largando a meio do grid, fez uma corrida de recuperação prodigiosa, mas chegou ao 5º lugar, e apesar da proximidade com os líderes, não tinha como avançar mais. Em um momento onde Honda e Ducati são as maiores forças, e a Suzuki parece estar ainda mais forte, a Yamaha tem de se mexer para não cair ainda mais para trás, e passar outro ano como coadjuvante na classe rainha do motociclismo.



EM BAIXA:

Equipe Williams: O time do velho Frank é a decepção do ano. Não contente em ter tido uma temporada medíocre em 2018, a escuderia de Grove conseguiu a proeza de piorar para este ano, não conseguindo terminar o carro a tempo na pré-temporada, e até chegando à Austrália sem ter peças de reposição suficientes para andar adequadamente, de modo que seus pilotos tiveram que ser muito cuidadosos para não se acidentarem com o carro. Em nenhum momento George Russel e Robert Kubica conseguiram tirar velocidade decente do novo FW42, e foram sempre os últimos no grid e na pista. Como desgraça pouca é bobagem, Pady Lowe, novo chefe técnico do time desde o ano passado, tirou uma “licença” que é vista mais como uma demissão por baixo dos panos, depois de não conseguir fazer um bólido decente. Campeão da F-2 no ano passado, Russel não terá muito o que fazer em seu ano de estréia, enquanto Robert Kubica, que tanto lutou para voltar ao grid da F-1, vê o seu sonho virar rapidamente um pesadelo do qual poucas chances terá de se livrar, e que certamente jogará por terra o seu empenho em mostrar que voltou a pilotar na categoria máxima do automobilismo...

Daniel Ricciardo: O piloto australiano deixou a Red Bull por não confiar no trabalho da Honda, e por não aturar mais o estrelismo desvairado da direção do time com Max Verstappen. Preferiu ir para a Renault, onde ganharia mais, e teria, nas suas palavras, uma atenção mais sóbria e imparcial, além de ajudar o time a elevar seu desempenho. Para o início, infelizmente as coisas não correram muito bem justo em seu país natal, a Austrália: Daniel acabou superado por Nico Hulkenberg, que largou à sua frente e fez uma corrida honesta, dentro das possibilidades, ainda mais limitadas do que as da Red Bull, de seu time. Já Ricciardo acabou arruinando sua prova logo na largada, ao danificar o bico de seu carro, perder terreno e tempo para consertá-lo, e acabando por abandonar a corrida. Acabou também levando uma chamada de Cyril Abiteboul lembrando-o que não está mais no time dos energéticos, e que as capacidades da Renault não são as mesmas de seu ex-time. Como desgraça pouca é bobagem, o australiano ainda viu seu ex-time chegar ao pódio com o 3º lugar de Max Verstappen, mas pelo menos, viu que seu substituto no time não foi bem na corrida, se é que isso serviu de consolo... Ricciardo vai ter de suar o macacão mais do que esperava este ano, para fazer juz à sua aposta pela Renault nos próximos dois anos, enquanto para a Red Bull ele já virou praticamente um proscrito, recebendo agora apenas as mágoas da escuderia...

Romain Grosjean: O piloto da equipe Hass teve um campeonato complicado no ano passado, quando teve azares e/ou problemas em várias etapas, perdendo inúmeras oportunidades de bons resultados com o carro competitivo de seu time. E Grosjean começou 2019 num dejávu pouco agradável, ao novamente ter de abandonar uma corrida por um fato inusitado, que no caso do Albert Park, foi ver seu time errar de novo no pit stop, e prender mal uma das rodas, desta vez na frente do carro, obrigando-o a abandonar a corrida, enquanto o companheiro Kevin Magnussem tinha uma corrida sem maiores percalços e terminou como o melhor do “resto” do trio da frente. Parece que Romain vai precisar de uma reza brava para evitar de sofrer novamente uma temporada complicada como a de 2018, e especialmente, não se meter em confusão por culpa própria, se quiser manter o seu lugar na escuderia, que tem o brasileiro Pietro Fittipaldi na reserva, com potencial de virar titular em 2020... Pelo menos no Albert Park, a culpa foi do time, e não do piloto, e ele conseguiu evitar sofrer um acidente ao ver a roda começar a se soltar...

Brasil sediando corridas internacionais: Que a situação do Brasil anda complicada, ninguém pode contrariar. O que não significa que o pessoal não tente imaginar dias melhores, com esperança de nosso país ser mais bem visto pela turma dos campeonatos internacionais de competições do esporte a motor. Mas, neste quesito, lamentavelmente, não somos prioridade de quase ninguém. Temos a Fórmula 1, e milagre, teremos novamente uma etapa do Mundial de Endurance em 2020. Mas é só. A Indycar quer ampliar seus horizontes, mas depois das lambanças perpetradas pelos organizadores e políticos nacionais, podem esquecer isso tão já. Do mesmo modo, a Formula-E tem várias cidades na fila de espera, e não pegou bem a patacoada envolvendo o Anhembi no ano passado quando deveríamos ter nossa etapa no calendário. MotoGP é outra categoria que até teria interesse, mas as negociações não vão para frente. E no meio disso tudo, ainda temos que aguentar notícias furadas a respeito do autódromo de Deodoro no Rio de Janeiro, que por enquanto não saiu do papel, mas já chegaram até a falar que teríamos a F-1 nele, ou afirmarem também que a Indycar correria nas ruas ao lado do sambódromo carioca. Enquanto não formos um país realmente sério, vamos continuar quase marginais no que tange à maioria dos campeonatos internacionais, e é melhor irem dando graças pelo pouco que temos por aqui, pois até isso podemos perder se fizermos besteira, o que não está muito longe de acontecer, também...

Sebástien Buemi: O Campeão da 2ª temporada da Formula-E parece não atravessar uma fase muito auspiciosa nos últimos dois anos na categoria de carros elétricos. Vice-campeão da terceira temporada, quando foi derrotado por Lucas Di Grassi, o piloto suíço teve um ano um pouco discreto na 4ª temporada, sem conseguir vencer, mesmo que tenha terminado o ano em 4º lugar, e sem ter conseguido converter as três poles que marcou em novos triunfos. Nesta temporada, os problemas parecem continuar, e Buemi não vem conseguindo manter o mesmo nível, ocupando, após 6 corridas, apenas a 13ª posição na classificação. Problemas à parte pela mudança do trem de força da e.dams (saiu a Renault, entrou a Nissan, do mesmo grupo automotivo), o suíço já vem sendo assombrado pelo novo companheiro de equipe, o britânico Oliver Rowland, que apesar de não ter marcado pontos na maioria das corridas, lutou firme pela vitória em Sanya, na China, e já deixou Sebástien para trás na pontuação (27 pontos contra 19 de Buemi). O suíço ainda acabou provocando um acidente com Robert Frijins e Lucas Di Grassi na etapa chinesa, que o levou a tomar uma punição, e continuar sem resultados de monta nesta 5ª temporada, tendo como melhor chegada o 6º lugar a corrida inicial, na Arábia Saudita. Nos três primeiros anos da F-E, Buemi estabeleceu sua reputação como o piloto mais rápido na pista, dispondo de um bom carro, e sabendo fazer bom uso dele, predicados que parecem ficar cada vez mais no passado. Competição mais acirrada e equilibrada à parte, Sebástien precisa retomar as performances que o fizeram ser um dos grandes destaques da categoria, a fim de voltar a discutir vitórias, e quem sabe o título, ou será engolido pelos concorrentes, e até pelo novo companheiro de equipe...