quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

FLYING LAPS – FEVEREIRO DE 2019


            Pois é, nem bem começamos o ano de 2019, e o mês de março já está praticamente à nossa porta, e com ele, o início de vários campeonatos, como a MotoGP, Indycar, e a Fórmula 1. Por isso mesmo, excepcionalmente, estou adiantando para hoje a postagem da sessão Flying Laps, com alguns tópicos sobre alguns acontecimentos ocorridos neste mês de fevereiro, sempre com os tradicionais comentários e observações, já que a partir da semana que vem planejo postar as matérias especiais sobre o início de alguns certames, enquanto as sextas-feiras continuam com as postagens das colunas semanais de costume. Então, uma boa leitura a todos, e até a sessão Flying Laps referente ao mês de março...


Se tem um circuito onde Lucas Di Grassi parece ter uma empatia especial, é o traçado da Formula-E do ePrix da Cidade do México. Há dois anos atrás, o piloto brasileiro conseguiu uma vitória praticamente impensável vindo de último lugar, após efetuar a troca de carros, numa altura da prova onde ninguém esperaria que ele conseguisse chegar até o final. Mas ele não apenas chegou como venceu a corrida, iniciando a arrancada que o levaria ao título da categoria. E nesta atual temporada, o piloto da equipe Audi ABT conseguiu uma nova vitória, partindo para o ataque nas voltas finais para receber a bandeirada no extremo, superando Pascal Wehrlein, da Mahindra, praticamente na linha de chegada, e averbar sua primeira vitória na atual temporada. O brasileiro largou em 2º, atrás de Wehrlein, o pole, mas na freada da primeira curva foi surpreendido por Oliver Rownland, da e.dams, caindo para terceiro. A partir dali, e durante toda a prova, os três pilotos circularam praticamente juntos, destacando-se do restante do pelotão, até que nas voltas finais, o uso do Modo Ataque, e o consumo de energia começaram a fazer diferença. Lucas superou Rowland quando este cruzou a zona de ativação do recurso, perdendo a preferência da curva seguinte, e permitindo ao brasileiro assumir a 2º posição. Dali, Di Grassi partiu ao encalço de Wehrlein, que não havia conseguido abrir vantagem durante a prova. E, na volta final, já com o carro no talo da reserva de energia, Pascal abriu a brecha que permitiu a Lucas tentar a ultrapassagem. A manobra do brasileiro, entretanto, acabou levando o alemão da Mahindra a cortar passagem por uma chicane, voltando ainda à frente do brasileiro, que não desistiu, e manteve a pressão. Mas, com a energia acabando, Wehrlein praticamente viu seu carro perder velocidade ao entrar na reta dos boxes, com Di Grassi desviando do carro da Mahindra, e recebendo a bandeirada em primeiro lugar. O calvário de Wehrlein não se limitou a perder a vitória nos metros finais: por ter cortado a chicane na tentativa de ultrapassagem do brasileiro, e voltar na frente dele, a direção de prova acusou vantagem indevida do piloto, e ele tomou uma punição de 5s ao seu tempo de prova, o que o derrubou da 2º para a 6º posição. E não foi surpresa Pascal criticar as atitudes do brasileiro, que na sua opinião, não lhe deram alternativa além de passar por fora da pista quando Lucas fez a ultrapassagem. Mas Wehrlein se esqueceu que ele deu a oportunidade do brasileiro enfiar o carro, e se isso o levou a ser encostado para fora da pista, ele também não aliviou no freio, para evitar sair da pista. A vitória de Lucas o catapultou para a 4ª posição na classificação, com 34 pontos. Jerôme D’Ambrosio, da Mahindra, com a 4ª colocação na prova mexicana, lidera o campeonato com 53 pontos. Com a punição de Wehrlein, e o fato de alguns pilotos ficarem ser energia nas voltas finais, Antonio Felix da Costa, da BMW Andretti, acabou terminando a corrida em 2º lugar, com Edoardo Mortara, da Venturi, fechando o pódio em 3º. Felix da Costa é o vice-líder do campeonato, com 46 pontos. Sam Bird é o 3º colocado, com 45 pontos, depois de ter sido apenas o 9º colocado, resultado que não foi tão ruim, se levarmos em conta que ele teve de largar em último, devido a problemas na classificação, e o circuito usado na Cidade do México é pouco favorável a ultrapassagens.


O campeonato da F-E segue bem imprevisível. Com o triunfo de Lucas Di Grassi no ePrix da Cidade do México, tivemos o 4º vencedor diferente de 4 equipes distintas vencendo corridas, algo muito interessante. E tivemos também uma vitória épica do piloto brasileiro, levando a vitória na pista praticamente na bandeirada final, descontada a punição que Wehrlein tomaria pelo corte da chicane. Mas a corrida em si não foi assim tão memorável. Na verdade, a prova mexicana foi agitada apenas no seu início e no seu final. Logo à 2ª volta, Nelsinho Piquet, da Jaguar, acabou colidindo com Jean-Éric Vergne, decolando e acertando o muro externo da Curva Peraltada. Foi dada bandeira vermelha para limpar a pista e retirar o bólido destroçado do brasileiro, que felizmente não se machucou na pancada. Depois de meia hora, a prova foi recomeçada, e salvo uma ultrapassagem aqui e ali, na maior parte do tempo não houve muita ação, inclusive com o trio Wehrlein/Rowland/Di Grassi mantendo posições, uma vez que o traçado da pista infelizmente não tinha nenhum ponto favorável de ultrapassagem. Somente nas últimas voltas as disputas voltaram a se intensificar, com os pilotos fazendo uso do Modo Ataque, e brigando por posições. E quem conseguiu economizar energia, como Lucas, se deu melhor, pois Pascal ficou praticamente sem energia na linha de chegada, mas não foi o único que capitulou nos momentos finais: a dupla da e.dams, Oliver Rowland e Sebastien Buemi, que pareciam ter condições de lutar pela vitória, ficaram sem bateria na volta final, caindo para os últimos lugares, e ficando sem pontuar. Quem também precisou dosar o consumo de energia foi Felipe Massa, que recebeu uma medição de voltas equivocada de seu engenheiro, e gastou mais bateria do que deveria durante parte da corrida, o que o fez perder algumas posições no final da corrida, terminando em 8º, mas marcando seus primeiros pontos na competição, ocupando agora a 16ª posição, com 4 pontos.


Os novos carros da F-E continuam a mostrar um grande incremento de performance e autonomia com os novos carros, baterias e trens de força. Na pista da Cidade do México, Felix Rosenqvist foi o pole-position na edição do ano passado, com o tempo de 1min01s645, enquanto este ano, Pascal Wehrlein fez a pole com o tempo de 59s347, uma diferença de 2s298. A melhor volta da corrida em 2018 foi de Lucas Di Grassi, com 1min02s202, enquanto neste ano, foi de 1min01s112, de Pascal Wehrlein, 1s09 mais veloz. E ainda é preciso lembrar que na corrida de 2018 os pilotos trocavam de carro durante a prova. Mas a velocidade maior dos carros vai tornando as ultrapassagens mais complicadas, pois os trechos de reta são percorridos em menos tempo, dificultando as oportunidades viáveis de se tentar uma ultrapassagem. No caso do traçado da F-E no autódromo Hermanos Rodriguez, que já era difícil de se passar, havia a possibilidade de variar um pouco as estratégias com a troca de carros. Neste ano, sem precisar disso, a maior parte da corrida não foi das mais emocionantes, e mesmo o uso do Modo Ataque não proporcionou muitas variáveis, já que quase todo mundo resolveu usar ao mesmo tempo. Será necessário estudar como melhorar os circuitos usados pela categoria para que a evolução da performance não se torne um problema premente às disputas de posição. Mas uma análise mais apurada só poderá ser feita mesmo ao fim da temporada, com um balanço geral de como a competição se deu neste seu 5º ano de existência.


Felipe Nasr não teve uma estréia muito tranquila na F-E. Novo piloto da equipe Dragon para o restante da temporada (com exceção da prova do ePrix de Roma, onde ele defenderá seu título de campeão no certame do IMSA Wheater Tech Sportscar), Felipe até que se saiu bem nos treinos, pegando o jeito do carro, e largando até na frente do companheiro de equipe, já experiente na categoria, José Maria Lopez, em 14º (o argentino largou logo atrás, em 15º). Mas, na corrida, o brasileiro acabou levando alguns toques dos adversários, que o fizeram rodar, além de danificar levemente o carro, em mais de uma oportunidade, o que fez com que Nasr acabasse caindo para as últimas posições, sem conseguir se recuperar. Ele acabou classificado em 19º, o último a cruzar a bandeirada. Com um pouco mais de experiência em corrida, ele certamente vai mostrar o seu talento, pelo menos dentro das limitações da equipe de Jay Penske, que não tem exatamente empolgado pelos resultados. Mas Felipe é mais um brasileiro que viu perder sua chance na F-1 e reorganizar sua carreira fora da categoria máxima do automobilismo. E ele não se arrepende dos novos caminhos que trilhou desde então. Resta o reconhecimento por parte da imensa maioria que se diz torcedora de automobilismo neste país, e não apenas por parte daqueles que realmente curtem e entendem o mundo das disputas do esporte a motor...


E o estoniano Ott Tanak, da Toyota, faturou o Rali da Suécia. A segunda prova do Mundial de Rali não foi gentil com o campeão Sébastien Ogier, que ficou praticamente longe da luta pela vitória após muitos problemas, e só não saiu de mãos abanando por completo porque levou 2 pontos para casa no Power Stage, ao marcar o 4º melhor tempo. Mas com o triunfo em terras suecas, Tanak assumiu a liderança do campeonato, com 47 pontos. Thierry Neuville, da Hyundai, terminou a prova em 3º lugar, o que lhe valeu a vice-liderança do Mundial, com 40 pontos. Ogier caiu para a 3ª posição, com 31 pontos. Ainda é cedo para dizer que o piloto francês terá muito trabalho para revalidar o seu atual título, até porque foram disputadas apenas 2 corridas no campeonato, e ainda temos mais 12 etapas pela frente. Mas ajuda saber que Ogier não está com a vida fácil. Fica a dúvida se Tanak irá conseguir desgarrar na dianteira. Mas para a Toyota, que recentemente venceu o Rali Dakar, não seria nada mal faturar também o título do Mundial de Rali. E, na disputa de construtores, a marca japonesa lidera o campeonato, com 58 pontos, apenas 1 de vantagem para a Hyundai, com 57. A Citroen vem logo atrás, com 47 pontos, enquanto a Ford é a última colocada, com 30. Outro destaque da etapa sueca foi o finlandês Esapekka Lappi, que foi o 2º colocado, defendendo a Citroen, e que travou um belo duelo com Thierry Neuville, levando a melhor sobre o piloto belga por 3s no cômputo geral de tempos. Sebastien Loeb, de volta à competição, terminou em 7º lugar, e ocupa a 6ª posição no campeonato, com 18 pontos. Lappi é o 5º colocado, com 19 pontos. A próxima etapa do campeonato é o Rali do México, entre os dias 7 e 10 de março.


Hélio Castro Neves confirmou que estará presente novamente nas corridas que a Indycar disputará em Indianápolis este ano, a exemplo do que ocorreu no ano passado. Piloto da equipe Penske no campeonato do IMSA Wheater Tech Sportscar, Helinho irá disputar o GP de Indianápolis, no traçado misto do autódromo da capital do Estado de Indiana, bem como as 500 Milhas de Indianápolis. Para tanto, o brasileiro participou dos testes que a Penske realizou no Circuito das Américas neste mês, ao lado dos demais pilotos do time de Roger Penske que defendem seu time na Indycar, Simon Pagenaud, Will Power, e Josef Newgarden. Fica a torcida por um bom desempenho de Helinho, em especial pela chance de vencer pela 4ª vez na Brickyard Line, onde triunfou pela última vez em 2009. Já vão 10 anos desde a última “escalada” do Homem-Aranha na grade da pista. Será que ele encerra o jejum este ano?


As chances de a Indycar retornar à Austrália em 2020 continuam boas, mas nada ainda está garantido. No projeto de expandir o campeonato para além das fronteiras dos Estados Unidos, apenas uma coisa é certa: o Brasil não tem prioridade nas conversas para voltar a sediar uma etapa da competição, e os dirigentes são os mais claros e óbvios possíveis: só com garantias firmes nosso país poderá voltar ao calendário. E não se pode tirar a razão deles, depois dos acontecimentos ocorridos dos últimos anos, que prejudicaram e muito nossa credibilidade como país sério e capaz de sediar grandes eventos. E até recuperarmos a confiança desse pessoal, pode ir um longo tempo, além de precisarmos colocar a economia em ordem, o que ajudaria muito também. Melhor todo mundo esperar sentado...
 



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

PRÉ-TEMPORADA: PRIMEIRA SEMANA

Na primeira semana de pré-temporada da F-1 2019, a Ferrari sai na frente (acima), enquanto a Mercedes terá de reverter rapidamente as expectativas se não estiver à altura (abaixo).

            A Fórmula 1 encerrou a primeira de suas duas semanas de treinos da pré-temporada 2019 com algumas indicações interessantes, e algumas constatações. A mais comentada é a excelente forma exibida pela Ferrari, que mostrou que seu novo chassi SF-90 conjuga eficiência e velocidade. Ainda não dá para saber exatamente todo o potencial do carro, mas as belas linhas do projeto desenvolvido pelo corpo técnico de Maranello vem surpreendendo desde meados de 2017, e até prova em contrário, este pode ser o ano em que o time italiano poderá abalar e encerrar a supremacia da Mercedes. O humor dos integrantes da escuderia era tão bom que podemos apostar que o SF-90 será provavelmente o carro a ser batido, salvo surpresas de última hora.
            Claro, terminar os dois primeiros dias de testes coletivos com os melhores tempos, primeiro com Sebastian Vettel, e depois com Charles LeClerc, é um bom indicativo, e a felicidade estampada no rosto de Vettel diz que ele está feliz com o carro, e especialmente com sua performance. Quando o carro corresponde, Sebastian costuma ser um furacão ao volante. Depois de um ano de mais baixos que altos em 2018, Vettel quer dar a volta por cima e calar muitos críticos e detratores. E parece que terá boas oportunidades de fazê-lo este ano. Ainda mais porque nenhum dos pilotos da dupla rossa sequer chegou a usar os pneus mais macios, de maior aderência e velocidade. Em outras palavras, o carro pode ser ainda mais rápido do que demonstrou nestes primeiros quatro dias de testes. Será que veremos o seu real potencial na próxima semana?
            Embora o clima no box da campeoníssima Mercedes tenha estado tranquilo durante a semana, dá para notar que a performance da rival Ferrari está deixando os prateados atentos. Hamilton não se furtou a afirmar que a Ferrari neste momento está mais veloz, assim como Valtteri Bottas, e Toto Wolf também mostrou que a situação precisa ser analisada, confidenciando que o carro italiano poderia ser 0s5 mais veloz, em classificação. Se o time alemão acostumou-se a “esconder” o jogo para não assustar a concorrência, e exibir todas as suas armas, fica sempre aquela pontinha de dúvida se Wolf e Hamilton não estão jogando para a torcida, de modo a colocar a pressão do favoritismo para os lados de Maranello. Mas não parece ser o caso: a preocupação com a forma do novo carro da Ferrari é legítima, e tudo indica que a Mercedes pode mesmo não ser mais veloz que os italianos. Este vai ser um final de semana corrido na fábrica de Brackley, para se tentar reverter as expectativas. E, dependendo do trabalho a ser desenvolvido, podemos ter mudanças já na próxima semana, e obviamente, para Melbourne. Por enquanto, a Ferrari parece estar à frente, com a Pirelli estimando uma vantagem de 0s5 realmente.
            Muito se falou a respeito das linhas aerodinâmicas dos dois bólidos, em especial para a harmonia do design de ambos os projetos, mesmo com abordagens diferentes: enquanto o carro alemão tem várias aletas e componentes aerodinâmicos, o modelo italiano é mais “limpo”, sem tantos penduricalhos. O fato de não precisar de tantas abas na aerodinâmica indica que a estabilidade e desenvolvimento são mais simples, e principalmente, eficientes, a ponto de dispensar apoios extras na carenagem externa. Já o carro da Mercedes, por demonstrar vários apêndices aerodinâmicos, indica precisar da sustentação destas peças. E ao que parece, a Ferrari tem muito do que se orgulhar, pela performance exibida durante esta semana, e sem mencionar também outro detalhe muito importante: confiabilidade. O time italiano não enfrentou praticamente nenhum problema durante os quatro dias, acumulando nada menos do que 598 voltas, ou o equivalente a 9,1 corridas. Um sinal de alerta para a Mercedes, embora esta também tenha andado até um pouco mais, 610 voltas, ou o equivalente a 9,3 corridas, sem enfrentar problemas aparentes. Hamilton foi o piloto que mais rodou, com 307 voltas na pista. Valtteri Bottas deu 303 giros, e dividiu a segunda posição com Vettel, que também cumpriu 303 voltas. E LeClerc ficou pouca coisa atrás, com 295 voltas completadas. Ambos os carros mostraram confiabilidade extrema. Será interessante ver se a Mercedes conseguirá reagir, e vermos quanto potencial a Ferrari ainda pode extrair de seu carro neste início da competição.
            Correndo por fora, em tese, vem a Red Bull, que se ainda não fez tempos de encher os olhos, função que acabou sendo da Toro Rosso na quarta e na quinta-feira, por outro lado, mostrou durabilidade: as unidades de potência da Honda não apresentaram nenhum problema tanto no time principal quanto no time B, um feito para os japoneses, que desde sua estréia na era híbrida, em 2015, nunca conseguiram enfrentar a pré-temporada sem passar por um calvário que colocava em xeque as expectativas mais otimistas. No ano passado, eles melhoraram, mas ainda tiveram problemas, o que não se verificou até agora. Claro que podem estar usando menos potência para garantir quilometragem, mas mesmo assim, não vermos nenhum problema, mesmo que mínimo, ter surgido, é altamente animador, e coloca expectativas cada vez mais otimistas de que aposta da equipe austríaca na Honda se mostrou mais do que acertada, sendo finalmente um time oficial de fábrica. E a cúpula da equipe não perde chance de alfinetar a antiga parceria Renault, ainda que indiretamente, ao rasgar elogios sobre a performance das unidades de potência nipônicas, que eles afirmam serem excelentes, e que nunca tiveram uma pré-temporada tão boa quanto a atual. Foram 475 voltas nesta semana, o equivalente a 7,2 corridas, sem enfrentarem nenhum problema no carro. E Max Verstappen fez coro também pelo bom momento vivido até aqui na pré-temporada, dando a entender que tudo está encaixado no lugar certo. Para o bem da competição, claro que todos querem ver a Red Bull novamente disputando vitórias a cada prova, e não vencendo apenas ocasionalmente. O carro mostrou equilíbrio e estabilidade quando foi à pista, mostrando que, mais uma vez, a escuderia produziu um carro muito bom sob o comando de Adrian Newey. Resta comprovar se o mago das pranchetas conseguirá equilibrar a competição na aerodinâmica se o propulsor da Honda ainda negar fogo no embate direto contra as unidades Mercedes e Ferrari. Até porque eles já consideram implicitamente a Renault fora de combate nesta disputa. Outra indireta nas entrelinhas contra os franceses. Essa briga ainda vai dar o que falar...
Red Bull: por enquanto, só sorrisos na nova associação com a Honda.
            E, ajudando a melhorar o clima para a turma dos energéticos, a Toro Rosso até terminou os testes de quarta-feira na frente, com o regressado Daniil Kvyat, e ontem, o novato Alexander Albon baixou ainda mais a marca obtida pelo russo. Mas claro, não esquecendo que a escuderia sediada em Faenza usou os compostos mais macios, o que relativiza o resultado. Mas também indicando que o novo STR14 tem tudo para engrossar a briga no pelotão intermediário.
            Enquanto isso, os times da Renault, a começar pela escuderia de fábrica, tiveram uma semana produtiva, mas sem que possamos avaliar o real potencial. O time oficial começou a semana de forma tímida, e até enfrentando alguns percalços aqui e ali, mas mostrando evolução nos tempos sempre, para terminar a primeira semana com o tempo mais rápido de todos, com 1min17s393, obtido ontem por Nico Hulkenberg mas, tal como feito pela Toro Rosso, utilizando os pneus mais macios. O novo modelo RS19 parece ter muito mais potencial do que o carro da última temporada, mas é preciso ver qual é seu verdadeiro nível de performance, para ver se a escuderia realmente poderá lutar mais à frente, e tentar se aproximar mais da dupla favorita Ferrari e Mercedes, e se mostrar capaz de superar a desafeta Red Bull. E outro ponto a deixar todo mundo tranquilo também foi no quesito confiabilidade, com nada menos do que 433 voltas completadas. A escuderia teve alguns problemas com o seu DRS, provocando a quebra da asa traseira, e limitando o seu uso na maior parte do tempo de teste, mas nada que seja um problema comprometedor. Em aspectos gerais, o carro não compromete.
            Pelos lados do outro time equipado com a unidade de potência francesa, a McLaren, ainda não é possível mensurar o real potencial do novo MCL34, que Lando Norris assumiu ser completamente diferente do MCL33. O time conseguiu até ficar entre os primeiros nos dois primeiros dias, mas usando pneus mais macios. Norris conseguiu uma marca de 1s1 de diferença para o carro da Renault, mas utilizando um composto mais duro. Mas o grande diferencial no time de Woking é que é a primeira pré-temporada desde 2015 que o time consegue andar a contento, sem enfrentar problemas técnicos que não apenas colocavam à mostra os problemas do projeto, de 2015 a 2017 com a Honda, e no ano passado em sua adaptação ao propulsor da Renault, como podiam até comprometer toda a expectativa para a temporada. Com mais tranquilidade para rodar na pista e adquirir dados do novo bólido, parece que a escuderia inglesa começará sua recuperação visando voltar a ser um time de ponta. Mas falta comparar as performances com os demais concorrentes para ver a real posição da McLaren frente aos demais, e confirmar se eles de fato estão recuperando o terreno perdido. Norris e Carlos Sainz Jr. rodaram juntos 445 voltas, um número expressivo, se compararmos com os números das últimas pré-temporadas. Um problema a menos, portanto. Fica a dúvida do que sua nova dupla de pilotos poderá render com o bólido, agora que Fernando Alonso saiu, um revés a ser considerado.
            Quem também tem o potencial real a ser desvendado é a Alfa Romeo, que conseguiu também mostrar confiabilidade com Kimi Raikkonen e Antonio Giovinazzi, com 546 voltas, com o finlandês a terminar os testes da semana com a 4ª melhor marca, mas também equipado com os pneus mais macios, de modo que ainda precisaremos conhecer o real patamar da escuderia. Agora praticamente um time “B” da Ferrari, a Alfa Romeo, ex-Sauber, traz de forma oficial a marca italiana de volta ao grid como um time próprio, ainda que a tecnologia seja ferrarista, e não exatamente Alfa Romeo. Com uma nova dupla, e parte do projeto do carro inspirado no eficiente SF-90, e contando com a experiência de Kimi Raikkonen, o time sediando em Hinwill tem tudo para evoluir em relação às marcas obtidas no ano passado, quando tinha tudo para ser a lanterna, mas conseguiu alguns bons resultados e performances com Charles LeClerc. O time enfrentou alguns problemas durante a semana, mas conseguiu impressionar um pouco de forma relativa, com Raikkonen ficando entre os primeiros no último dia, mas também fazendo uso dos pneus mais macios. Mas o importante foi ter conseguido rodar bastante, mesmo com os problemas que tiveram. Antonio Giovinazzi cumpriu 255 voltas, enquanto Raikkonen deu 252. O finlandês está motivado como poucas vezes se viu nos últimos anos, e tem tudo para liderar o crescimento do time, e servir de mentor para Giovinazzi, uma vez que Kimi raramente se indispõe com outros pilotos
Ares distintos: expectativa de dias mais otimistas na McLaren (acima), enquanto a Williams pode reviver a temporada desastrosa do ano passado com o novo FW42, e o time batendo cabeça na direção e área técnica(abaixo).
            Mas quem está de olho em ser a principal força depois das grandes é a Hass. A escuderia de Gene Hass foi a melhor do resto do grid em 2018, e só não faturou o 4º posto pelas barbeiragens de sua dupla de pilotos, que perdeu vários bons resultados durante o ano se complicando sozinha, descontado obviamente a furada do time na prova da Austrália, esta sem culpa de Romain Grosjean ou de Kevin Magnussem, que ganharam mais uma temporada para provarem do que são capazes. O time teve vários percalços no início, mas conseguiu botar alguma ordem na casa, e mostrar que pode dar trabalho: foram 323 voltas na pista, com ótimas perspectivas de manterem o status alcançado na última temporada, e até tentar chegar mais nos carros da frente. E quem também não deu vexame foi Pietro Fittipaldi, que teve chance de andar com o modelo VF-19, e não comprometeu, evoluindo suas passagens a cada volta, e pegando a mão firme do carro, o qual irá ajudar a desenvolver no simulador da equipe. Se Magnussem e Grosjean não se envolverem em confusões, a Hass tem boas chances de atingir seus objetivos.
            E temos a equipe com o nome mais ridículo do grid: a Racing Point, ex-Force India, que salva da falência pelo grupo coordenado por Lawrence Stroll, terá enfim uma temporada sem percalços financeiros, tanto que a fábrica da escuderia, ao lado de Silverstone, será ampliada, para contar com os melhores recursos técnicos disponíveis. Mantida a competência da escuderia, que nos últimos anos mostrou como gerir bem seus recursos e obter os melhores resultados possíveis, poderíamos esperar um ano extremamente positivo para o time, não? Bom, não começou tão bem como o esperado. O novo chassi RP19 teve vários problemas, com Lance Stroll e Sergio Perez completando apenas 248 voltas, ocupando a penúltima posição em quilometragem nos testes, e com tempos não muito entusiasmantes, quando conseguiram imprimir ritmo aos trabalhos. O que dá esperanças de que o time cresça é que não é a primeira pré-temporada onde eles apresentam dificuldades, tendo sempre conseguido apresentar um bom trabalho de desenvolvimento do projeto, e recuperar parte do tempo perdido. Com maiores recursos, espera-se pelo menos que consigam tirar o atraso e sanar eventuais problemas com mais rapidez que nos últimos anos, quando o orçamento apertado não permitia um desenvolvimento com mais afinco da performance, limitando a evolução do carro. Mas a equipe técnica comandada por Andrew Green tem tudo para dar a volta por cima, e vermos um time com potencial para brigar pela liderança do segundo pelotão. E é bom que estejam preparados, pois tudo indica que esta briga será renhida entre vários times do meio do grid para ver quem será o melhor depois dos grandes.
            Faltou mencionar alguém? Sim, faltou... Depois do ano tenebroso que tiveram no ano passado, era de se esperar que a Williams se sentasse, e discutisse os motivos que a levou a ser a última colocada. A escuderia conseguiu manter um orçamento decente para 2019, com novos patrocinadores substituindo a Martini, e o investimento da família Stroll, e com um novo corpo técnico coordenado por Paddy Lowe projetando o novo FW42 em bases completamente novas, a esperança é de que a escuderia de Frank Williams acertasse melhor seus parâmetros. E não é que conseguiram não evoluir, como parecem ter até piorado? O novo carro praticamente não ficou pronto a tempo, e a escuderia chegou a Barcelona com o carro, mesclado com partes do modelo 2018, para só ontem, no último dia, andar de fato, tendo perdido o tempo da quarta para fazer o necessário shakedown dos sistemas. O resultado não poderia ser outro: últimas colocações para sua dupla de pilotos, com um carro que não é o FW42 por completo, o qual provavelmente só veremos semana que vem. Mas, além da falta de performance, são mais preocupantes os sinais internos vindos da escuderia, com seu corpo de funcionários a ter sua paciência esgotada com as decisões de comando tanto de Claire Williams como de Paddy Lowe, cujas diretrizes podem ter levado o projeto do novo carro a alguns erros crassos que dificilmente serão corrigidos. Para alguns, a cabeça tanto de Claire como de Paddy deveria rolar, pois se ruim com eles, pior não pode ficar.
            Uma lástima para um dos times mais tradicionais da história da F-1, e que parece não conseguir corrigir os erros cometidos nos últimos tempos. A menos que tudo mude na última sessão de testes, a escuderia inglesa tem tudo para ter outro ano para esquecer. Mas é difícil acertar o rumo, quando a própria equipe parece não ter coesão e um rumo definido.
            Na próxima terça-feira, todo mundo de volta na pista. E depois, hora de embarcar para a Austrália. O começo do campeonato de aproxima. E as expectativas crescem cada vez mais por um bom ano, com mais disputas e duelos. A esperança é a última que morre, afinal...
Renault: prometendo chegar mais à frente este ano, com o novo RS19, e sua nova unidade de potência, e um enfoque exclusivo na F-1.