sexta-feira, 14 de setembro de 2018

DIXON VS ROSSI

O circuito de Infineon, em Sonoma, faz sua despedida do calendário da Indycar com mais uma decisão de título.

            A temporada 2018 da Indycar chega ao fim neste domingo. O circuito de Infineon, em Sonoma, na Califórnia, marca o encerramento da competição, e também da participação do autódromo no calendário da categoria. Com problemas financeiros para fechar a conta dos custos da corrida, a Indycar não estará lá em 2019. O palco final do calendário, entretanto, continuará ali pelos ares californianos: Laguna Seca ocupará o seu lugar. Mas enquanto o ano que vem não chega, temos uma forte disputa na pista, entre os dois postulantes ao título da temporada: Scott Dixon, da Ganassi; e Alexander Rossi, da Andretti. O neozelandês chegou a Sonoma com uma vantagem de 29 pontos na classificação, mas isso não é garantia de nada nesta etapa final do certame.
            O motivo é a pontuação dupla, que a direção da categoria aplica a esta corrida por ser o encerramento do campeonato, critério bem questionável, por ser apenas uma corrida em circuito misto como qualquer outra. Quando foi criado, o lance da pontuação dupla era utilizado nas corridas de 500 Milhas, que convenhamos, possuem um diferencial em relação às demais provas, pelo seu tamanho de duração, e por sua importância (caso das 500 Milhas de Indianápolis). Mas, por isso mesmo, os 29 pontos do piloto da Ganassi ainda constituem uma vantagem significativa, se Dixon souber se manter firme na sua meta na corrida. Para Rossi, a estratégia é apenas uma: atacar, e ir com tudo. Não bastará chegar à frente de Scott, Alexander precisará contar com um bom azar do rival para abocanhar o título. E esse é seu principal problema.
            Dixon é um dos mais experientes e vitoriosos pilotos das categorias Indy, e pode-se afirmar que, nas últimas duas décadas, o neozelandês é o piloto de números mais expressivos na competição. Somadas as temporadas da F-Indy original (2000 e 2001), mais as temporadas da IRL (2003 em diante), Dixon acumula 44 vitórias, 28 poles e 4 títulos. E o mais interessante, é que de 2003 até hoje, Scott guiou única e exclusivamente na Chip Ganassi, conferindo, ao lado do escocês Dario Franchiti, também dono de 4 títulos, a fase mais expressiva de sucesso da equipe na categoria atual. E Dixon costuma aliar velocidade a estratégia e constância, e em várias ocasiões, também muita sorte, como ocorreu na última corrida, em Portland, onde o piloto da Ganassi acabou se envolvendo no acidente da primeira volta onde Marco Andretti acabou capotando até. Mas Dixon conseguiu evitar de bater, e ainda voltar à corrida, onde deu sorte com uma bandeira amarela, e terminou à frente de Rossi, que tinha tudo para demolir a vantagem de pontos do neozelandês, e a viu aumentar ligeiramente. E Scott quase não erra nas corridas, e ainda por cima, seu estilo de pilotagem por vezes consegue poupar o equipamento e seu combustível de formas que os outros não conseguem, o que em várias ocasiões se revelou um trunfo importante para sobrepujar os rivais na disputa.
Scott Dixon (acima) chega para a decisão com 29 pontos de vantagem, mas pontuação dobrada favorece revide do rival Rossi, que tem tido desempenho superior nas últimas corridas (abaixo).
            Logo no seu primeiro ano na IRL, Dixon chegou chegando, assim como a Ganassi, e foi campeão. O bicampeonato veio apenas em 2008, e intervalo semelhante marcou a chegada do tricampeonato, em 2013. E, em 2015, o último título, este quando chegou justamente a Sonoma como azarão na competição, capitaneada pelo colombiano Juan Pablo Montoya. Mas Montoya se atrapalhou na corrida, e quando tentou reagir, já era tarde: Dixon venceu a prova, e empatou em pontos com o piloto da Penske, levando o troféu por ter 3 vitórias contra 2 do colombiano, numa derrota que Juan Pablo não digeriu até hoje. Isso ilustra bem o desafio que Alexander Rossi tem neste domingo, para tentar chegar ao seu primeiro título na competição.
            O piloto da Andretti, contudo, não tem do que se envergonhar de sua temporada e de sua carreira na Indycar, onde estreou em 2016, justo no ano em que Dixon defendia seu último título. Rossi marcou presença naquela temporada por sua vitória nas 500 Milhas de Indianápolis, sendo que no resto da temporada, seu desempenho foi bem modesto, terminando em 11º com 430 pontos. No ano passado, ele melhorou seu desempenho, e foi o 7º colocado, com 494 pontos, e uma nova vitória, agora no circuito misto de Watkins Glen. E, mais importante: superou seus companheiros no time de Michael Andretti, que tinha Ryan Hunter-Reay, Takuma Sato, e Marco Andretti. O rapaz já mostrava a que vinha na competição. E este ano, apesar de alguns percalços em algumas corridas, ele veio fincar sua bandeira no degrau mais alto do pódio, com triunfos em Long Beach, Mid-Ohio, e nas 500 Milhas de Pocono, seu segundo triunfo numa prova de 500 milhas e em superspeedway. E mostrando velocidade ao marcar 3 poles no ano, contra apenas uma em 2017. E deixando seus colegas na Andretti ainda mais para trás. E com um segundo lugar e 4 terceiros, ele subiu ao pódio em metade das etapas da temporada. Algo a se respeitar. Seu pior resultado foi um 16º lugar em Road America, um 12º na segunda corrida de Detroit, um 11º no Alabama, um 9º em Iowa, e um 8º em Toronto. E nenhum abandono, o que é muito importante.
            Mas Dixon também não fica devendo: ele venceu na primeira corrida em Detroit, na etapa do Texas, e em Toronto, e tal qual seu rival, também marcou 4 terceiros lugares e um segundo, também subindo ao pódio em metade das corridas. Seus piores momentos no ano foram em Long Beach (11º lugar) e em Iowa (12º lugar), sendo que no restante das provas, Dixon nunca terminou abaixo do 6º lugar, o que demonstra que ele segue constante e aproveitando todas as oportunidades que tem surgido à sua frente. E também terminando todas as corridas, sem abandonar nenhuma delas, evitando se envolver em confusões.
Com as vitórias de Mid-Ohio (acima) e Pocono, Rossi entrou firme na briga pelo título.
            Se no quesito piloto Dixon tem um currículo invejável, e experiência que o qualifica como favorito na competição para levar o título, quando passamos a analisar os times, entretanto, o panorama se inverte. A Andretti tem tido um ano bem mais positivo do que a Ganassi, em termos de resultados. E isso pode ter reflexos na etapa final, como já vem tendo nas últimas corridas, sem que isso desmereça os esforços de Rossi na pista. O time de Michael Andretti, aliás, tem sua melhor chance de finalmente voltar a conquistar um título na competição desde 2012, quando Ryan Hunter-Reay foi campeão, defendendo a Andretti Autosports. De lá para cá, a escuderia ficou à sombra do duelo Ganassi X Penske desde 2013, com 2 campeonatos vencidos pela Ganassi, e 3 da Penske. E, com os pilotos de Roger já praticamente de fora das possibilidades de título (matematicamente, a chance existe, mas a combinação de resultados é extremamente difícil de ser obtida, tanto por Will Power quanto por Josef Newgarden, que estão empatados em 511 pontos). E nem Michael, e muito menos Rossi, vão querer perder essa chance de conquistar o caneco. Rossi quer se firmar de vez na categoria, e esta é apenas sua terceira temporada completa na competição. Até então, ele havia disputado 5 corridas pela Manor na Fórmula 1 em 2015, em Cingapura, Japão, Estados Unidos, México e Brasil, tendo como melhor classificação um 12º lugar em Austin. Voltar de vez para os Estados Unidos e disputar a categoria norte-americana foi sua melhor escolha de carreira, visto que as vagas na F-1 dificilmente se abririam para ele em times mais competitivos.
            Se a Andretti esteve fora da disputa do título nos últimos anos, e só agora volta a ter chances reais, por outro lado a Ganassi foi a maior adversária do time de Roger Penske nos últimos anos. Mesmo estando por diversas vezes em condição inferior ao maior time da categoria, Chip Ganassi conseguia manter sua escuderia como principal rival, e um oponente que não podia ser subestimado, mesmo em 2016, quando também ficou de fora da luta, e a disputa virou um duelo caseiro entre os times da Penske. Só que, do ano passado para cá, a escuderia de Chip perdeu bastante de seu poderio, especialmente financeiro. A saída da Target, depois de estar presente com o time desde sua fundação, lá no início dos anos 1990, no ano passado, foi muito sentida, e junto com a marca da rede de lojas, outras marcas também debandaram, o que reduziu os recursos disponíveis. E mesmo com a entrada de novos patrocinadores, o time mostrou que já não tinha mais a mesma força e capacidade técnica de preparação e reação de antes. Por isso mesmo, Chip começou a apostar todas as suas fichas apenas em Dixon, e acabou por negligenciar os demais pilotos que competiam pela escuderia, entre eles Tony Kanaan, que decidiu deixar o time por não concordar com a forma como as coisas estavam sendo geridas, e não sendo ouvido em suas opiniões. E isso só se acentuou este ano, com todos os recursos da escuderia direcionados para o carro do neozelandês, de forma praticamente escancarada.
            Estratégia correta ou não, o fato é que Dixon, com tantos anos de casa, está mostrando que a aposta em seu taco é o que restou à Ganassi para ainda tentar se manter vencedora, já que o time foi reduzido à metade, de 4 para apenas 2 carros este ano, e o companheiro de Dixon, Ed Jones, não deve ter o contrato renovado para 2019, e há boatos de que Felix Rosenqvist, que disputou o campeonato da Formula-E, pode ser titular do time no próximo ano, trazendo importante patrocínio para ajudar a pagar as contas. É um pouco injusto para com Jones, afinal ele não tem tido o mesmo apoio de competição que o neozelandês, e portanto, seus resultados deveriam ser relativizados, mas o velho Chip não é do tipo sentimental, e se for preciso sacrificar o resto da escuderia para manter Dixon nas melhores condições possíveis de competição, isso será feito. E mesmo o carro de Scott não exibe a fartura de patrocinadores dos tempos da Target, isso é mais do que visível. E se isso ocorre com um piloto de seu calibre, pode-se entender a aposta da Ganassi no piloto.
Leal à Ganassi, Dixon tem levado o time nas costas. Escuderia do velho Chip não tem mais a força financeira e capacidade técnica de antes.
            E mesmo assim, a escuderia tem andado entre os primeiros graças unicamente à capacidade de Dixon, pois em muitas etapas, o carro não tem rendido, e isso começou a afetar até mesmo o neozelandês, que teve alguns treinos preocupantes nas últimas provas, mas conseguiu superar as adversidades com seu talento, e sorte de ver a maioria dos adversários tendo azares que ele conseguiu evitar. Um perigo que pode vir a ocorrer em Sonoma. O circuito é bastante travado, e estreito em vários pontos, o que dificulta muito as ultrapassagens. Dixon precisará marcar Rossi para evitar que o estadunidense consiga terminar em uma posição que lhe permita ser campeão. Mas, do alto de sua experiência, e diante das condições de competitividade ligeiramente inferiores de seu time, o neozelandês sabe que precisará partir para o ataque: largar e chegar na frente de Alexander, se necessário, para não dar chance para o azar. Ou, no pior dos casos, estar bem atrás dele, de modo que seus 29 pontos de vantagem garantam o título. Mas, se algo der errado, e acabar largando muito atrás do rival, vai precisar de toda a sua capacidade e experiência para reverter a situação, e isso pode ser tremendamente complicado, ou talvez impossível, dependendo das circunstancias da corrida no momento. Largar na frente, numa pista travada como Infineon, portanto, é mais do que essencial para minimizar problemas na disputa de posições. Entretanto, este é um dos aspectos em que a Ganassi demonstra sua queda de performance: Dixon só tem uma pole na temporada, em Gateway, e mesmo assim, foi porque não houve o treino de classificação, por causa da chuva, e o nelozelandês partiu na posição de honra por liderar o campeonato. E Rossi já largou na frente em 3 provas. Por isso, o duelo deverá pegar fogo logo nos treinos.
            Rossi, por seu lado, também precisará ir para o tudo ou nada. Em desvantagem na pontuação, não há nenhuma estratégia além de largar na frente e chegar na frente, de preferência com o maior número de competidores entre ele e o neozelandês. E se tem exibido um lado arrojado e determinado na disputa de posições, o piloto da Andretti também tem se destacado por mostrar ter um lado estrategista incomum, que não pode ser subestimado. Em Gateway, Rossi inclusive conseguiu surpreender na tática, parando uma vez a menos que os concorrentes, e terminar em 2º lugar, em um desempenho no melhor estilo demonstrado por Dixon tantas vezes. Tudo pode acontecer na corrida de domingo, e seja quem for o vencedor, o título estará em boas mãos, pois ambos os pilotos fizeram campanhas excelente durante a temporada, conseguindo se sobressair frente aos adversários com talento, muita garra, e administração tática de suas provas, e um pouco de sorte também, afinal, nenhum piloto é campeão sem um pouco de boa sorte.
            A corrida será transmitida ao vivo pelo canal pago Bandsports a partir das 19:30 Hrs., pelo horário de Brasília. E que vença o melhor. E que Sonoma ao menos apresente uma boa corrida em sua despedida da competição...


A Ferrari, e principalmente Sebastian Vettel, chegou a Cingapura sob uma intensa pressão, depois dos acontecimentos vividos em Monza, na semana passada. O piloto alemão vem sendo muito questionado e cobrado nas redes sociais, depois dos erros cometidos nas provas do atual campeonato, especialmente pelo fato de o time de Maranello possuir o melhor carro da competição, e mesmo assim, não estar liderando nem o campeonato de pilotos, ou o de construtores. Se nos últimos anos a desculpa foi a falta de competitividade frente a uma Mercedes quase suprema, ou pelo menos superior, no caso do ano passado, agora que está tecnicamente à frente, soa mesmo como heresia estar perdendo o duelo para Lewis Hamilton e sua escuderia alemã. E o circuito de Marina Bay, em teoria, é um bom lugar para o piloto e a Ferrari colocarem ordem na situação. Nos últimos anos, a Mercedes sempre teve neste circuito urbano um de seus pontos fracos no campeonato, com os times rivais, como a própria Ferrari, e a Red Bull, a serem mais competitivos. O problema é que, no ano passado, a incursão ferrarista aqui terminou em desastre logo na largada, com Vettel espremendo Max Verstappen no arranque, acabando por tocar no holandês, que por sua vez tocou em Kimi Raikkonen, e todos bateram, terminando suas provas ali mesmo. E quem venceu? Lewis Hamilton, que dava aqui sua arrancada decidida para o tetracampeonato, depois de assumir a liderança da competição justamente em Monza. Este ano, o ambiente nos boxes do time italiano aqui na Cidade-Estado do sudeste asiático não está nem um pouco tranquilo, e se acham que não pode ficar pior, se na bandeirada no domingo Hamilton abrir ainda mais vantagem de Vettel, a crise pode se instalar de vez na escuderia. A Mercedes sabe que desferiu um golpe fortíssimo na rival na Itália, na casa deles, e portanto, vai vir com tudo a que tiver direito para não apenas tentar manter a vantagem alcançada na classificação, como aumenta-la, e com isso desestabilizar os rivais vermelhos. Não vai ser uma tarefa fácil: a Ferrari, e especialmente Sebastian, estão mordidos, e mais do que nunca, estão a fim de dar o troco nos prateados. O problema é que pode ter mais gente no meio dessa briga. Se a Red Bull se acertar bem aqui, eles vão querer disputar a vitória. E com mais candidatos competitivos na pista, a situação tende a ficar mais complicada para todos, tornando os erros na prova potencialmente muito mais danosos. Vamos ver quem saberá e conseguirá ter o melhor desempenho neste final de semana...
 
Largada da corrida de Cingapura no ano passado teve um acidente múltiplo envolvendo principalmente as duas Ferraris. A pressão no time italiano este ano é muito maior. O que vai acontecer agora?

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