Hora de trazer mais um de meus
antigos textos, e hoje trago a coluna publicada em 3 de julho de 1998, há pouco
mais de 20 anos atrás. O assunto era a letargia da equipe McLaren, que havia
começado aquela temporada arrasando a concorrência, e a meio do campeonato,
começava a sofrer forte pressão da Ferrari. Apesar dos esforços do time
italiano, não foi naquele ano que Michael Schumacher deu ao time vermelho seu
primeiro título em quase duas décadas de jejum, mas mostrava que estava
novamente na briga, e que iria incomodar muito. A McLaren ainda venceria aquela
temporada e a seguinte com Mika Hakkinem, sendo na maioria das corridas o time
a ser batido. Uma tremenda diferença para a escuderia nos dias atuais, onde já
não vence há vários anos, e a recente nova parceria com a Honda deu com os
burros n’água, e neste ano, com um motor pelo menos mais confiável, não
conseguiu produzir um carro que fizesse o time recuperar-se na competição.
Difícil de acreditar, não? Levando-se o exemplo da Williams, que não vence um
campeonato há mais de duas décadas, e apesar de alguns bons momentos recentes,
tem vivido também uma fase de vacas pra lá de magras, muitos se perguntam se o
time fundado por Bruce McLaren se reerguerá de fato na F-1. Apreciem o texto, e
boa leitura...
LETARGIA NA MCLAREN
A
Fórmula 1 terminou a primeira metade da temporada de 1998 com um equilíbrio que
ninguém achava ser possível depois das duas primeiras corridas deste ano,
quando a equipe McLaren literalmente massacrou a concorrência. Domingo passado,
em Magny-Cours, tivemos mais uma dobradinha, mas desta vez da Ferrari, que
durante toda a corrida francesa brigou de igual para igual com os carros
prateados. Michael Schumacher venceu a prova, enquanto Eddie Irvinne ficou em
2º, e foi a primeira dobradinha 1-2 da Ferrari desde o Grande Prêmio da Espanha
de 1990, em Jerez de La
Fronteira, quando Alain Prost venceu e Nigel Mansell ficou em
2º lugar.
A
McLaren que se cuide: embora o circuito francês fosse mais favorável ao
equilíbrio de forças entre Ferrari e McLaren, não há como negar que a Ferrari
está evoluindo a passos largos desde que o campeonato começou, numa tentativa
desesperada de lutar pelo título em bases mais competitivas. Tamanho empenho
objetivava reduzir o desnível de performance para a McLaren, que enfiava mais
de 1s por volta em todos os demais pilotos. A Ferrari evoluiu, mas não foi a
única: a Williams também apresentou progressos, e deverá melhorar sua
competitividade ainda mais com uma versão revisada do FW20 a partir de
Silverstone, onde também irá utilizar a gasolina da Petrobrás, que nos testes
mostrou cerca de 7% mais potencial do que o combustível da Elf que vinha sendo
utilizado pela equipe britânica.
Mas
é a Ferrari que apresenta a maior ameaça à McLaren, simplesmente por ter Michael
Schumacher. E, apesar de a partir de agora as pistas velozes favorecerem mais a
McLaren, como em Silverstone, Hockenhein, Spa-Francorchamps e Monza, a própria
McLaren parece não estar reagindo à altura do que seria de se esperar.
Tome-se
como exemplo o GP da França. Largando muito bem, Schumacher e Irvinne pularam
na frente da dupla da McLaren. Enquanto o bicampeão alemão ia embora, Irvinne
ficava trancando a pista para Mika Hakkinem e David Coulthard, servindo de
escudeiro. Mas engana-se quem pensa que o irlandês ficou fechando a pista para
a dupla da McLaren simplesmente: com exceção de 2 ou 3 ocasiões, em nenhum
momento Irvinne fez qualquer manobra desleal de fechar a porta, segurando quem
vinha atrás de si explicitamente. Hakkinem e Coulthard até conseguiam se
aproximar nas freadas, mas nas retas, únicos pontos de ultrapassagens, a
Ferrari desgarrava, e quando conseguiam alcançá-la, já estavam em outra curva,
onde não se podia tentar mais nada. Sem falar do azar, que derrubou a corrida
de Coulthard. Já Hakkinem teve uma saída de pista, o que denuncia um pouco de
falta de paciência do finlandês, que de franco favorito ao título, vê sua
liderança no campeonato ameaçada seriamente por Schumacher.
Enquanto
a Ferrari avança, a McLaren parece ter estagnado no momento. Se fosse evoluir
de maneira mais regular, a McLaren com certeza ainda lideraria o mundial com
folga. Até mesmo os pneus da Bridgestone parecem ter estagnado também, sem
apresentar mais nenhuma performance superior se comparada com as evoluções da
Goodyear, que como a Ferrari, está dando tudo de si para melhorar seu composto.
Essa
apatia da McLaren pode ser a perdição da escuderia. Ron Dennis sabe muito bem
disso, então surge a pergunta: por que a McLaren parece não evoluir mais? Ou o
chassi MP4/13 está no limite, ou a equipe inglesa perdeu o rumo, ou aconteceu
algo mais? A McLaren sempre foi uma equipe que prezou muito pela evolução do
carro. Até mesmo quando tinha um carro vencedor na associação com a Honda e a
Porsche, mesmo quando o chassi apresentava problemas, o time corria para
resolvê-los. Temos o exemplo de 1990, quando a Ferrari também chegou muito
perto de roubar o título da McLaren. Nos testes, o time tentava melhorar sua
performance tentando aproveitar qualquer idéia que pudesse ser válida. Até
mesmo um bico alto foi experimentado, pois foi na época que surgiram os bicos
elevados na categoria, pela equipe Tyrrel, que em algumas provas chegou a
surpreender com Jean Alesi. A escuderia chegou ao cúmulo de fretar um avião
para levar as peças do novo bico para Monza, onde o time testava, para
experimentar o novo sistema de aerodinâmica que o bico elevado proporcionava.
Mas depois de algumas voltas, o bico acabou descartado, e a McLaren só partiria
para usar um bico elevado em 1995.
Se
a McLaren quiser recuperar toda a sua força no campeonato, é bom que o time
comece a se mexer mais ativamente, caso contrário a parada pode ficar dramática
para Hakkinem e Coulthard, podendo repetir-se até mesmo o que houve ano passado
entre Ferrari e Williams, quando se achou que o time de Frank Williams
dominaria com facilidade. É claro que, para quem quer um campeonato mais
equilibrado, o jeito é torcer contra a McLaren. É hora de ver se o time de Ron
Dennis vai reencontrar-se consigo mesmo e voltar a ditar os rumos do
campeonato...
Jan Magnussen dançou na equipe Stewart. Jos Verstappen substituiu o
piloto dinamarquês já em
Magny-Cours. O holandês andou bem na prova, mas sempre atrás
de Rubens Barrichello. A meu ver, foi uma certa injustiça com Magnussen, que
havia chegado em 6º no Canadá e conseguido seu primeiro ponto na F-1, ao
terminar logo atrás de Rubinho, depois de uma excelente corrida de ambos.
A coisa não anda boa para as equipes Jordan e Prost. Ambos os times,
que tiveram ótimas temporadas em 1997, estão amargando um inferno este ano, sem
terem conseguido marcar um ponto sequer até o presente momento. Nem mesmo o
carro todo revisado que a Prost estreou em Magny-Cours melhorou muito o astral
do time. Na Jordan, a situação é incômoda: o time mostra que tem potencial nos
treinos, mas na corrida, tudo parece desandar e cair por terra. Nas últimas
etapas, ambos os carros ficaram pelo meio do caminho, com problemas mecânicos.
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