O circuito de Sakhir,no Bahrein, é o palco da segunda etapa do campeonato da F-1 em 2018. |
A Fórmula 1 inicia
hoje os treinos livres para a segunda etapa do Mundial de 2018, e a pergunta
que todos se fazem aqui no paddock em Sakhir é como a Liberty Media poderá
ajudar a categoria a superar o marasmo da competição e voltar a seus bons
tempos, e exibir disputas muito mais atrativas na pista. O grupo, atual dono da
categoria máxima do automobilismo, marcou para hoje uma apresentação de seus
planos para o futuro da categoria, com vistas aos anos próximos, e
especialmente a partir de 2021, uma vez que o atual Pacto de Concórdia, que
estabelece direitos e deveres aos participantes, tem validade até o fim de
2020. Enquanto isso, algumas medidas aqui e ali procuram dar uma renovada no
visual e nos trejeitos da F-1.
Gostei do novo tema
musical da categoria. Parece dinâmico e tem por objetivo glorificar os pilotos
nas cenas como os grandes protagonistas do espetáculo, sem esquecer dos demais
e de suas escuderias. E as medidas já tomadas paulatinamente desde o ano
passado estão ajudando a dissipar aquele péssimo clima asséptico que imperava
por todo o ambiente. Os pilotos e times estão mais abertos, mais interativos
com os fãs. A F-1 parece ter voltado a ser mais humana, e menos distante do
grande público. O próximo passo é oferecer um canal de streaming por assinatura
com diversas opções em relação às transmissões “convencionais”, como forma de
apresentar melhor o show. Iniciativa mais do que válida.
O problema é que a
categoria convive com certas imbecilidades, para não dizer idiotices, que
lamentavelmente jogam contra, e pior, teima-se em complicar a situação, pela
falta de vontade de resolver o assunto a contento, baseando-se em princípios e
regras que já se mostraram completamente inúteis para os propósitos de melhorar
a competição. E ruim mesmo é ver que interesses e picuinhas pessoais continuam
impedindo categoria de tomar decisões mais razoáveis, pra não falar que isso já
virou guerra de egos.
Falarei de um dos
itens mais óbvios de todos: a limitação das unidades de potência disponíveis a
cada piloto. Há mais de 10 anos, a categoria resolveu dar um basta nos gastos
excessivos que os propulsores significavam para os times. Estabeleceu-se um
“congelamento” do desenvolvimento dos motores, de modo que as fábricas
gastassem menos, e por tabela, cobrassem menos dos times pelo seu uso. Também
se estabeleceu um limite de motores por temporada, sendo que ao usar novas
unidades além desse limite, o piloto seria punido com a perda de posições no
grid, como também é feito em relação ao sistema de câmbio. Mas, depois de
vários anos, impunha-se novos desafios, e chegamos à nova Era Turbo híbrida,
com uma geração completamente nova de unidades de potência. Até aí, tudo bem.
Mas, eis que
resolveram estreitar a limitação de motores por temporada. E muito pior do que
era antes. Se em 2013 cada piloto podia dispor de 8 motores para todo o
campeonato, em 2014, com propulsores totalmente novos, esse limite baixou para
5. Depois, o limite ficou em 4, e este ano, chegamos à limitação esdrúxula de
apenas 3 unidades por piloto, em um certame de 21 corridas. Palhaçada geral,
que acarreta uma série de ações em consequência dessa idiotice sem tamanho. Uma
delas é a pasmaceira dos treinos livres na sexta-feira, com todos os times
procurando andar apenas o estritamente necessário, para poupar quilometragem
das unidades, que precisam ter a duração ideal por pelo menos 7 corridas. Cada
motor e sistemas componentes adicionais acarretarão perdas de posições no grid,
portanto, todos os times tentam fazer os equipamentos sofrerem o mínimo
desgaste possível. Só que, com isso, os treinos livres de sexta, que já não
costumam empolgar tanto, ficam ainda mais broxantes, pois o público não vê os
pilotos andando na pista tanto quanto poderiam. As escuderias até que tentaram
voltar ao limite de 4 unidades, mas para mudar a regra, era preciso
unanimidade... E é claro que acabou tendo um time que não concordou, o que
jogou por terra a tentativa de bom senso. O motivo: corte de gastos.
Limitação das unidades de potência a apenas 3 unidades por temporada por piloto é completamente ridícula e joga contra a melhoria da competição. |
Já expliquei isso em
colunas anteriores, e reforço meu ponto de vista: a economia de gastos com a
utilização de menos unidades de potência é completamente inútil. O valor não
cai, muito pelo contrário, cada unidade a menos disponível a torna ainda mais
cara, porque a conta do contrato divide-se em menos unidades. Mas alguns
parecem teimar em defender suas posições sem se dar conta de quão ridículas são
suas colocações. Não é questão de torrar dinheiro com os motores, mas dispor de
mais unidades melhoraria as atividades, pelos times não terem de ficar
controlando a ferro e fogo o desgaste de seus equipamentos. Voltar a um número
de unidades mais razoável poderia aumentar a disputa, e proporcionar mais
pegas. Ou ninguém viu Lewis Hamilton justificar-se de desistir de lutar pela
vitória nas voltas finais da corrida da Austrália com Sebastian Vettel
unicamente para poupar seu motor? E olhe que a unidade da Mercedes é a mais
durável da F-1 atual. Verdade ou não, em teoria, com possibilidade de utilizar
mais propulsores por temporada, Hamilton poderia ter atacado mais o piloto da
Ferrari, e quem sabe proporcionado um duelo muito mais empolgante pela vitória
no Albert Park. A F-1 saiu perdendo nessa. E os fãs também, pois eles querem
disputa na pista. E o ganho econômico infelizmente não se justifica.
Mas, infelizmente, uma
regra que foi criada para proteger os times menores de atitudes enfiadas goela
abaixo pelos times mais fortes hoje se tornou um empecilho quando se torna
necessário mudar algo. Dependendo do assunto, é a Williams que vota contra,
outras é a Force India, Sauber, e por aí vai. E com isso, algumas medidas
teoricamente fáceis, que poderiam melhorar a qualidade da competição, acabam
sendo impossibilitadas de serem aplicadas. Invariavelmente, as maiores
justificativas são a contenção de gastos. Não é segredo que alguns times estão
em situação meio complicada, mas perto do que vem ocorrendo em termos gerais,
os gastos “evitados” com algumas modificações simples são um verdadeiro tiro no
pé.
E o que dizer do halo?
Nada contra aumentar a segurança, mas a implantação do dispositivo foi feita de
forma drástica e sem dar chance de se experimentar outras alternativas. A
Indycar parece ir por um caminho melhor com o windscreen, algo que vi a F-1
praticamente ignorar depois que Sebastian Vettel disse ter ficado zonzo após
uma única volta, e que merecia ser melhor analisado para ver senão seria mais
eficiente, além de se mostrar muito mais harmônico com o visual dos bólidos. E
nem é preciso dizer a imensa maioria detestou aquilo, por enfeiar os carros,
fora que a eficácia do dispositivo é questionável, e pode vir a ser um problema
no caso de ocorrer uma capotagem, dependendo das circunstâncias, o que espero
que não seja preciso confirmarmos. Se no ano passado, com as novas normas
técnicas os carros voltaram a ter um design mais aceitável pelo público, a
introdução do halo jogou tudo por terra. Mas para a FIA, que se dane a opinião
do público: é pela segurança dos pilotos, portanto, que tratem de engolir isso.
Ninguém é contra aumentar a segurança, mas como já afirmei em outras ocasiões,
tratar isso como uma obsessão leva os dirigentes geralmente a meterem os pés
pelas mãos, e esse objetivo de proteger melhor a cabeça dos pilotos poderia ter
sido melhor desenvolvido e planejado.
Uma das alternativas ao halo, o aeroscreen foi abandonado e descartado sem maiores testes de viabilidade e eficácia. |
E temos ainda outras
regras que poderiam ser facilmente abolidas pois não servem mais para seu
propósito inicial. Uma delas é simplesmente obrigar os pilotos a largarem com
os mesmos pneus com que fizeram suas melhores marcas no Q2, entre os que
participam do Q1. E a regra do parque fechado, impossibilitando que os times
mexam nos carros entre o final do treino de classificação e a corrida
propriamente. Antigamente, tínhamos o warm up, um treino de meia hora na manhã
de domingo, dia da corrida, onde os pilotos davam algumas voltas na pista e
faziam o acerto final dos carros para a prova. Essa regra do parque fechado foi
para dar mais chances de os times menores conseguirem andar um pouco mais perto
dos times de ponta, mas isso nunca funcionou a contento. Pior, hoje, quando a
corrida começa com chuva, e os treinos foram no seco, os times só podem fazer
modificações mínimas no set up dos carros, e o resultado é que a F-1 parece ter
pavor de chuva atualmente, com a direção de prova acionando o safety car em condições
que, no passado, os pilotos corriam com a maior naturalidade, ou para falar de
modo mais contundente, sem as frescurites que exibem hoje. Essa é uma regra que
poderia muito bem acabar, e com a volta do warm up, o público ganharia mais
tempo de carros na pista, e os bólidos, em caso de chuva, poderiam ser
ajustados adequadamente para o piso molhado, proporcionando aos pilotos terem
maior controle de seus carros, pelo ajuste fino para a situação, e com isso,
dando mais segurança à condução na chuva. Mas, alguém aí propõe isso? Não,
muito pelo contrário, e com isso, mais uma vez a categoria se aferra a um
procedimento que poderia ser muito melhor, mas não é. E, neste caso, novamente
a regra absurda da limitação das unidades de potência seria invocada para não
termos o retorno do warm up, que seria mais um treino no fim de semana, e por
conseguinte, mais chance de desgaste do equipamento, e caímos de novo na
justificativa de que o warm up inflacionaria os custos de competição. Tudo se
revela um verdadeiro círculo vicioso, de onde não se consegue sair, e pior, não
se quer sair.
Com a limitação de motores a apenas três unidades por temporada, os times andam o mínimo possível nos treinos livres, frustrando o público que quer ver os carros na pista. |
Já citei também que o
limite de jogos de pneus por piloto no final de semana poderia ser ampliado.
Dos atuais 7 jogos, porque não 9, ou talvez 10? Em várias corridas recentes nos
últimos anos, em vários momentos das provas os pilotos se concentravam em
conservar seus pneus, em lugar de acelerar. Isso começava já nos treinos
livres, com todo mundo andando menos para guardar pneus para a classificação, e
para a corrida. Com mais alguns pneus, todo mundo poderia ficar menos
preocupado em poupar pneus, e acelerar por mais tempo nos treinos, e na
corrida. Mas, aumentar o número de jogos de pneus não adiantaria por si só...
Não quando motores, câmbio, e outros equipamentos estão limitados, pois estes
outros continuam oferecendo aos times justificativas para andarem menos do que
poderiam.
A Fórmula 1 tem muito
a fazer para se livrar de alguns hábitos que até faziam sentido quando foram
adotados, mas que com o passar dos anos, tornaram-se inúteis em seus objetivos,
e poderiam muito bem ser repensados, de forma a melhorarem a qualidade do show
da competição. E não é preciso fazer um “liberou geral” no que tange às
quantidades, mas apenas de revisá-los adequadamente, de forma a aliviar a
camisa de força no qual se transformaram na F-1, impedindo a categoria máxima
do automobilismo de render melhores corridas e disputas.
É como as tentativas
que fazem de tentarem melhorar as chances de ultrapassagens, mas ninguém pensa
em limitar o excesso de downforce dos carros, e sua aerodinâmica dependente de
condições ideais, dando ênfase na sustentação mecânica em lugar da
aerodinâmica. Os mesmos times que querem melhores chances de ultrapassar seus
rivais na pista também não querem que seus carros possam ser mais facilmente
superados numa disputa de posição na pista. E assim, tudo continua igual, e
nada melhora de fato. Pelo menos, não como poderia ser realmente feito.
O mundo mudou, e o
modo como as pessoas buscam entretenimento também. Ou a F-1 se livra de algumas
idiotices que teima em manter, ou suas opções de se tornar novamente mais
atraente ficam limitadas ao que aceitam discutir, e não ao que realmente
precisa ser feito. Será que a categoria tomará jeito? Sempre tenho esperanças,
mas continua sendo muito complicado continuar sendo otimista assim... Mas, a
esperança sempre é a última que morre, portanto...
A Indycar disputa amanhã à noite
sua segunda corrida na temporada. Depois da prova de estréia nas ruas de São
Petesburgo, agora é a vez da pista oval do Phoenix International Raceway,
circuito de apenas1 milha de extensão. Todos estão na expectativa para ver o
que os novos aerokits poderão influenciar no desenrolar da corrida. Em São
Petesburgo, o menor downforce oferecido pelos carros fez alguns pilotos
deixarem os carros escaparem em algumas disputas de posição e aceleradas além
da conta. Mas um circuito oval exige outro tipo de abordagem, e a expectativa é
que vejamos disputas muito mais numerosas entre os pilotos. É a prova de
estréia de Pietro Fittipaldi, entre aquelas que acertou contrato para correr
pela Dale Coyne, e pelo menos, ele já conhece a pista, já que testou lá na
pré-temporada. Mas teste é teste, e corrida é corrida, portanto, está na hora
de ver o que o neto de Émerson poderá mostrar de sua capacidade em uma
categoria TOP de monopostos norte-americana. Quem também espera fazer uma boa
corrida é Matheus Leist, que causou boa impressão na Flórida, e que agora quer
ter o seu primeiro resultado efetivo. Vencedor em São Petesburgo, Sebastien
Bourdais lidera o campeonato defendendo a Dale Coyne. Será que o francês
continuará com sua boa fase neste início de competição? A Bandeirantes
transmite a corrida ao vivo a partir das 22:30 Hrs. horário de Brasília, na
noite deste sábado.
A MotoGP faz sua visita à América
do Sul, para a disputa do GP da Argentina, no circuito de Termas de Rio Hondo.
Na pista, o italiano Andrea Dovizioso defende a liderança do campeonato, com a
vitória obtida no GP do Qatar, que abriu o calendário da classe rainha do motociclismo
este ano. Mas Marc Márquez certamente tem outras idéias na cabeça, e poderemos
ver um novo duelo entre os dois pilotos, que tem tudo para repetir este ano a
disputa ferrenha pelo título. Mas que ninguém ignore a dupla da Yamaha, e em
especial Valentino Rossi, que com o 3º lugar obtido em Losail, mostra que vai
dar trabalho. Só não dá para prever quanto porque a Yamaha ainda desperta certa
desconfiança, depois do campeonato irregular no ano passado, quando começou
como favorita, e acabou virando coadjuvante, sem conseguir entrar na disputa
pelo título entre Márquez e Dovizioso. O canal pago SporTV2 transmite a corrida
ao vivo a partir das 15 horas de domingo, horário de Brasília.
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