sexta-feira, 6 de abril de 2018

IMBECILIDADES A TODA PROVA

O circuito de Sakhir,no Bahrein, é o palco da segunda etapa do campeonato da F-1 em 2018.

            A Fórmula 1 inicia hoje os treinos livres para a segunda etapa do Mundial de 2018, e a pergunta que todos se fazem aqui no paddock em Sakhir é como a Liberty Media poderá ajudar a categoria a superar o marasmo da competição e voltar a seus bons tempos, e exibir disputas muito mais atrativas na pista. O grupo, atual dono da categoria máxima do automobilismo, marcou para hoje uma apresentação de seus planos para o futuro da categoria, com vistas aos anos próximos, e especialmente a partir de 2021, uma vez que o atual Pacto de Concórdia, que estabelece direitos e deveres aos participantes, tem validade até o fim de 2020. Enquanto isso, algumas medidas aqui e ali procuram dar uma renovada no visual e nos trejeitos da F-1.
            Gostei do novo tema musical da categoria. Parece dinâmico e tem por objetivo glorificar os pilotos nas cenas como os grandes protagonistas do espetáculo, sem esquecer dos demais e de suas escuderias. E as medidas já tomadas paulatinamente desde o ano passado estão ajudando a dissipar aquele péssimo clima asséptico que imperava por todo o ambiente. Os pilotos e times estão mais abertos, mais interativos com os fãs. A F-1 parece ter voltado a ser mais humana, e menos distante do grande público. O próximo passo é oferecer um canal de streaming por assinatura com diversas opções em relação às transmissões “convencionais”, como forma de apresentar melhor o show. Iniciativa mais do que válida.
            O problema é que a categoria convive com certas imbecilidades, para não dizer idiotices, que lamentavelmente jogam contra, e pior, teima-se em complicar a situação, pela falta de vontade de resolver o assunto a contento, baseando-se em princípios e regras que já se mostraram completamente inúteis para os propósitos de melhorar a competição. E ruim mesmo é ver que interesses e picuinhas pessoais continuam impedindo categoria de tomar decisões mais razoáveis, pra não falar que isso já virou guerra de egos.
            Falarei de um dos itens mais óbvios de todos: a limitação das unidades de potência disponíveis a cada piloto. Há mais de 10 anos, a categoria resolveu dar um basta nos gastos excessivos que os propulsores significavam para os times. Estabeleceu-se um “congelamento” do desenvolvimento dos motores, de modo que as fábricas gastassem menos, e por tabela, cobrassem menos dos times pelo seu uso. Também se estabeleceu um limite de motores por temporada, sendo que ao usar novas unidades além desse limite, o piloto seria punido com a perda de posições no grid, como também é feito em relação ao sistema de câmbio. Mas, depois de vários anos, impunha-se novos desafios, e chegamos à nova Era Turbo híbrida, com uma geração completamente nova de unidades de potência. Até aí, tudo bem.
            Mas, eis que resolveram estreitar a limitação de motores por temporada. E muito pior do que era antes. Se em 2013 cada piloto podia dispor de 8 motores para todo o campeonato, em 2014, com propulsores totalmente novos, esse limite baixou para 5. Depois, o limite ficou em 4, e este ano, chegamos à limitação esdrúxula de apenas 3 unidades por piloto, em um certame de 21 corridas. Palhaçada geral, que acarreta uma série de ações em consequência dessa idiotice sem tamanho. Uma delas é a pasmaceira dos treinos livres na sexta-feira, com todos os times procurando andar apenas o estritamente necessário, para poupar quilometragem das unidades, que precisam ter a duração ideal por pelo menos 7 corridas. Cada motor e sistemas componentes adicionais acarretarão perdas de posições no grid, portanto, todos os times tentam fazer os equipamentos sofrerem o mínimo desgaste possível. Só que, com isso, os treinos livres de sexta, que já não costumam empolgar tanto, ficam ainda mais broxantes, pois o público não vê os pilotos andando na pista tanto quanto poderiam. As escuderias até que tentaram voltar ao limite de 4 unidades, mas para mudar a regra, era preciso unanimidade... E é claro que acabou tendo um time que não concordou, o que jogou por terra a tentativa de bom senso. O motivo: corte de gastos.
Limitação das unidades de potência a apenas 3 unidades por temporada por piloto é completamente ridícula e joga contra a melhoria da competição. 
            Já expliquei isso em colunas anteriores, e reforço meu ponto de vista: a economia de gastos com a utilização de menos unidades de potência é completamente inútil. O valor não cai, muito pelo contrário, cada unidade a menos disponível a torna ainda mais cara, porque a conta do contrato divide-se em menos unidades. Mas alguns parecem teimar em defender suas posições sem se dar conta de quão ridículas são suas colocações. Não é questão de torrar dinheiro com os motores, mas dispor de mais unidades melhoraria as atividades, pelos times não terem de ficar controlando a ferro e fogo o desgaste de seus equipamentos. Voltar a um número de unidades mais razoável poderia aumentar a disputa, e proporcionar mais pegas. Ou ninguém viu Lewis Hamilton justificar-se de desistir de lutar pela vitória nas voltas finais da corrida da Austrália com Sebastian Vettel unicamente para poupar seu motor? E olhe que a unidade da Mercedes é a mais durável da F-1 atual. Verdade ou não, em teoria, com possibilidade de utilizar mais propulsores por temporada, Hamilton poderia ter atacado mais o piloto da Ferrari, e quem sabe proporcionado um duelo muito mais empolgante pela vitória no Albert Park. A F-1 saiu perdendo nessa. E os fãs também, pois eles querem disputa na pista. E o ganho econômico infelizmente não se justifica.
            Mas, infelizmente, uma regra que foi criada para proteger os times menores de atitudes enfiadas goela abaixo pelos times mais fortes hoje se tornou um empecilho quando se torna necessário mudar algo. Dependendo do assunto, é a Williams que vota contra, outras é a Force India, Sauber, e por aí vai. E com isso, algumas medidas teoricamente fáceis, que poderiam melhorar a qualidade da competição, acabam sendo impossibilitadas de serem aplicadas. Invariavelmente, as maiores justificativas são a contenção de gastos. Não é segredo que alguns times estão em situação meio complicada, mas perto do que vem ocorrendo em termos gerais, os gastos “evitados” com algumas modificações simples são um verdadeiro tiro no pé.
            E o que dizer do halo? Nada contra aumentar a segurança, mas a implantação do dispositivo foi feita de forma drástica e sem dar chance de se experimentar outras alternativas. A Indycar parece ir por um caminho melhor com o windscreen, algo que vi a F-1 praticamente ignorar depois que Sebastian Vettel disse ter ficado zonzo após uma única volta, e que merecia ser melhor analisado para ver senão seria mais eficiente, além de se mostrar muito mais harmônico com o visual dos bólidos. E nem é preciso dizer a imensa maioria detestou aquilo, por enfeiar os carros, fora que a eficácia do dispositivo é questionável, e pode vir a ser um problema no caso de ocorrer uma capotagem, dependendo das circunstâncias, o que espero que não seja preciso confirmarmos. Se no ano passado, com as novas normas técnicas os carros voltaram a ter um design mais aceitável pelo público, a introdução do halo jogou tudo por terra. Mas para a FIA, que se dane a opinião do público: é pela segurança dos pilotos, portanto, que tratem de engolir isso. Ninguém é contra aumentar a segurança, mas como já afirmei em outras ocasiões, tratar isso como uma obsessão leva os dirigentes geralmente a meterem os pés pelas mãos, e esse objetivo de proteger melhor a cabeça dos pilotos poderia ter sido melhor desenvolvido e planejado.
Uma das alternativas ao halo, o aeroscreen foi abandonado e descartado sem maiores testes de viabilidade e eficácia.
            E temos ainda outras regras que poderiam ser facilmente abolidas pois não servem mais para seu propósito inicial. Uma delas é simplesmente obrigar os pilotos a largarem com os mesmos pneus com que fizeram suas melhores marcas no Q2, entre os que participam do Q1. E a regra do parque fechado, impossibilitando que os times mexam nos carros entre o final do treino de classificação e a corrida propriamente. Antigamente, tínhamos o warm up, um treino de meia hora na manhã de domingo, dia da corrida, onde os pilotos davam algumas voltas na pista e faziam o acerto final dos carros para a prova. Essa regra do parque fechado foi para dar mais chances de os times menores conseguirem andar um pouco mais perto dos times de ponta, mas isso nunca funcionou a contento. Pior, hoje, quando a corrida começa com chuva, e os treinos foram no seco, os times só podem fazer modificações mínimas no set up dos carros, e o resultado é que a F-1 parece ter pavor de chuva atualmente, com a direção de prova acionando o safety car em condições que, no passado, os pilotos corriam com a maior naturalidade, ou para falar de modo mais contundente, sem as frescurites que exibem hoje. Essa é uma regra que poderia muito bem acabar, e com a volta do warm up, o público ganharia mais tempo de carros na pista, e os bólidos, em caso de chuva, poderiam ser ajustados adequadamente para o piso molhado, proporcionando aos pilotos terem maior controle de seus carros, pelo ajuste fino para a situação, e com isso, dando mais segurança à condução na chuva. Mas, alguém aí propõe isso? Não, muito pelo contrário, e com isso, mais uma vez a categoria se aferra a um procedimento que poderia ser muito melhor, mas não é. E, neste caso, novamente a regra absurda da limitação das unidades de potência seria invocada para não termos o retorno do warm up, que seria mais um treino no fim de semana, e por conseguinte, mais chance de desgaste do equipamento, e caímos de novo na justificativa de que o warm up inflacionaria os custos de competição. Tudo se revela um verdadeiro círculo vicioso, de onde não se consegue sair, e pior, não se quer sair.
Com a limitação de motores a apenas três unidades por temporada, os times andam o mínimo possível nos treinos livres, frustrando o público que quer ver os carros na pista.
            Já citei também que o limite de jogos de pneus por piloto no final de semana poderia ser ampliado. Dos atuais 7 jogos, porque não 9, ou talvez 10? Em várias corridas recentes nos últimos anos, em vários momentos das provas os pilotos se concentravam em conservar seus pneus, em lugar de acelerar. Isso começava já nos treinos livres, com todo mundo andando menos para guardar pneus para a classificação, e para a corrida. Com mais alguns pneus, todo mundo poderia ficar menos preocupado em poupar pneus, e acelerar por mais tempo nos treinos, e na corrida. Mas, aumentar o número de jogos de pneus não adiantaria por si só... Não quando motores, câmbio, e outros equipamentos estão limitados, pois estes outros continuam oferecendo aos times justificativas para andarem menos do que poderiam.
            A Fórmula 1 tem muito a fazer para se livrar de alguns hábitos que até faziam sentido quando foram adotados, mas que com o passar dos anos, tornaram-se inúteis em seus objetivos, e poderiam muito bem ser repensados, de forma a melhorarem a qualidade do show da competição. E não é preciso fazer um “liberou geral” no que tange às quantidades, mas apenas de revisá-los adequadamente, de forma a aliviar a camisa de força no qual se transformaram na F-1, impedindo a categoria máxima do automobilismo de render melhores corridas e disputas.
            É como as tentativas que fazem de tentarem melhorar as chances de ultrapassagens, mas ninguém pensa em limitar o excesso de downforce dos carros, e sua aerodinâmica dependente de condições ideais, dando ênfase na sustentação mecânica em lugar da aerodinâmica. Os mesmos times que querem melhores chances de ultrapassar seus rivais na pista também não querem que seus carros possam ser mais facilmente superados numa disputa de posição na pista. E assim, tudo continua igual, e nada melhora de fato. Pelo menos, não como poderia ser realmente feito.
            O mundo mudou, e o modo como as pessoas buscam entretenimento também. Ou a F-1 se livra de algumas idiotices que teima em manter, ou suas opções de se tornar novamente mais atraente ficam limitadas ao que aceitam discutir, e não ao que realmente precisa ser feito. Será que a categoria tomará jeito? Sempre tenho esperanças, mas continua sendo muito complicado continuar sendo otimista assim... Mas, a esperança sempre é a última que morre, portanto...


A Indycar disputa amanhã à noite sua segunda corrida na temporada. Depois da prova de estréia nas ruas de São Petesburgo, agora é a vez da pista oval do Phoenix International Raceway, circuito de apenas1 milha de extensão. Todos estão na expectativa para ver o que os novos aerokits poderão influenciar no desenrolar da corrida. Em São Petesburgo, o menor downforce oferecido pelos carros fez alguns pilotos deixarem os carros escaparem em algumas disputas de posição e aceleradas além da conta. Mas um circuito oval exige outro tipo de abordagem, e a expectativa é que vejamos disputas muito mais numerosas entre os pilotos. É a prova de estréia de Pietro Fittipaldi, entre aquelas que acertou contrato para correr pela Dale Coyne, e pelo menos, ele já conhece a pista, já que testou lá na pré-temporada. Mas teste é teste, e corrida é corrida, portanto, está na hora de ver o que o neto de Émerson poderá mostrar de sua capacidade em uma categoria TOP de monopostos norte-americana. Quem também espera fazer uma boa corrida é Matheus Leist, que causou boa impressão na Flórida, e que agora quer ter o seu primeiro resultado efetivo. Vencedor em São Petesburgo, Sebastien Bourdais lidera o campeonato defendendo a Dale Coyne. Será que o francês continuará com sua boa fase neste início de competição? A Bandeirantes transmite a corrida ao vivo a partir das 22:30 Hrs. horário de Brasília, na noite deste sábado.


A MotoGP faz sua visita à América do Sul, para a disputa do GP da Argentina, no circuito de Termas de Rio Hondo. Na pista, o italiano Andrea Dovizioso defende a liderança do campeonato, com a vitória obtida no GP do Qatar, que abriu o calendário da classe rainha do motociclismo este ano. Mas Marc Márquez certamente tem outras idéias na cabeça, e poderemos ver um novo duelo entre os dois pilotos, que tem tudo para repetir este ano a disputa ferrenha pelo título. Mas que ninguém ignore a dupla da Yamaha, e em especial Valentino Rossi, que com o 3º lugar obtido em Losail, mostra que vai dar trabalho. Só não dá para prever quanto porque a Yamaha ainda desperta certa desconfiança, depois do campeonato irregular no ano passado, quando começou como favorita, e acabou virando coadjuvante, sem conseguir entrar na disputa pelo título entre Márquez e Dovizioso. O canal pago SporTV2 transmite a corrida ao vivo a partir das 15 horas de domingo, horário de Brasília.

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