sexta-feira, 13 de abril de 2018

BALANÇO DO BAHREIN


A Ferrari largou na frente no GP do Bahrein e apesar de tudo, conseguiu mais uma vitória na temporada com Sebastian Vettel.
            Hoje, quando a F-1 inicia os treinos livres para sua terceira etapa, na China, o assunto principal no paddock, e nas discussões de torcedores mundo afora, é se podemos considerar a Mercedes ainda a grande favorita para vencer o mundial de 2018. Contra todas as expectativas iniciais, eis que Sebastian Vettel venceu as duas primeiras corridas, e lidera a competição, abrindo 17 pontos de vantagem para Lewis Hamilton. Mas, mais importante do que isso, é a Ferrari estar sabendo agir melhor do que a Mercedes, ou pelo menos, errando menos, ou sabendo se virar melhor do que os rivais. E, a exemplo da Austrália, outro problema no pit stop acabou sendo crucial para o resultado da corrida.
            Com um ritmo de corrida consistente e forte, a Mercedes, pega de surpresa na classificação, quando acabou superada pelos pilotos da dupla de Maranello, e já tendo de lidar com o prejuízo da punição pela troca do câmbio do carro de Lewis Hamilton, experimentou mudar a estratégia de corrida, e com isso, inverter a situação. Cientes de que tanto Sebastian Vettel quanto Kimi Raikkonen deveriam fazer dois pit stops, o planejamento era aproveitar o stint inicial de Hamilton com pneus mais duros de modo que o inglês fizesse apenas uma parada. Com uma largada agressiva, e a sorte de não ter o carro quebrado pela esfregada provocada por Max Verstappen, Hamilton logo chegou à 4ª posição. E, com 27 voltas de pista, o inglês foi para seu único pit stop, para ir até o final da corrida. Um pouco antes, Valtteri Bottas também fizera sua parada, e o plano era do finlandês também ir até o final.
            A tática da Mercedes era fazer seus dois pilotos irem se aproximando paulatinamente da dupla ferrarista, de modo que, quando Vettel e Raikkonen parassem, Bottas e Hamilton assumiriam a liderança e vice-liderança da prova. Por isso mesmo, o ritmo dos pilotos prateados, apesar de veloz, não poderia ser forte demais, pois os pneus precisariam ser conservados para o stint final da prova, onde os pilotos de Maranello, devidamente calçados com pneus novos, viriam voando para cima dos prateados, com chances razoáveis de retomarem suas posições. A tática ia sendo executada com perfeição, e começou a preocupar a Ferrari, que viu que sua dupla de pilotos seria superada na pista com as segundas paradas de ambos. Mas era a estratégia necessária: os pneus mais macios aguentariam ir até o fim, e com o risco de ambos os pilotos acabarem sofrendo um estouro dos pneus e arruinando as chances de um bom resultado completamente? Permanecer na pista era um risco muito maior do que fazer a troca. E, com pneus novos e mais velozes, caberia a seus pilotos recuperar o terreno. Mas aí, quando Kimi entrou para sua troca, houve o acidente que mudaria os planos da Ferrari.
            Uma das rodas traseiras não saiu, e com as demais rodas trocadas, o mecânico que comanda a liberação do carro deu sinal verde para o finlandês, que obviamente acelerou conforme a ordem do sinal. Mas um dos mecânicos ainda estava ajudando a tirar a roda traseira, e acabou atropelado pelo bólido, que acertou sua perna, e provocou duas fraturas expostas. Foi um caos nos momentos seguintes. Kimi recebeu ordem para parar imediatamente, sem entender o porquê, e os demais mecânicos ficaram em polvorosa, vendo o que havia acontecido com um dos seus. O atendimento médico foi acionado, mas àquele momento, Vettel não poderia parar para sua troca de pneus. Pior: transtornados com o acidente, os mecânicos poderiam não fazer o trabalho direito no carro do alemão, e poderia ser até pior. Aí, Vettel só recebeu o aviso de que teria de se virar para ir até o final da corrida. Era praticamente um tudo ou nada. Ficar na pista significaria ficar na frente, mas seus pneus aguentariam ir até o final da prova? Sebastian disse que estava com tudo sob controle, mas ele mesmo não sabia se conseguiria.
            E aí foi a Mercedes que marcou bobeira: quando finalmente entendeu que Vettel não iria parar novamente, seus pilotos passaram a acelerar para tirar na pista a diferença que esperavam ver superada na segunda parada dos carros rossos. O problema é que, quando notaram isso, já haviam perdido várias voltas com sua dupla andando em um ritmo forte, mas inferior ao possível, com o intuito de conservar seus compostos e poderem se defender de um ataque dos pilotos da Ferrari nas voltas finais. Só que mesmo com o ritmo mais forte, apenas Bottas alcançou Vettel, e mesmo assim, acabou incapaz de superar o alemão nas voltas finais. Dando tudo de si, em um carro com pneus no limite do desgaste, Sebastian conseguiu conter as investidas de Valtteri, e vencer a corrida em Sakhir. Foi um momento muito especial para ele, já que era seu 200º Grande Prêmio na categoria máxima do automobilismo, coroado com uma mais do que merecida vitória. Para a Mercedes, um bom resultado, mas ao mesmo tempo, frustração por terem sido pegos novamente no contrapé pela Ferrari, que arriscou, e ganhou. Além de muita competência para conseguir levar o carro até o final, Vettel contou com a sorte da falha de percepção dos prateados. Se tivessem liberado seus pilotos para darem tudo de si várias voltas mais cedo, Bottas muito provavelmente teria alcançado Sebastian mais cedo, e com mais tempo útil, poderia ter tido sucesso em ultrapassar a Ferrari e vencer a corrida. Hamilton, que terminou 6s5 atrás, poderia ter alcançado o alemão, e quem sabe, talvez até o superado também na pista, já que estaria com pneus mais resistentes. Mas o “se” não conta, e sim os fatos. A Mercedes demorou a compreender o que estava acontecendo e mais uma vez, acabou derrotada pelos italianos, que conseguiram virar o jogo a seu favor, mesmo com todos os riscos. E a prova barenita consegue redimir em parte a chatice que foi a prova australiana, duas semanas antes, e mostrar que teremos uma boa disputa no campeonato, ao contrário do que muitos esperavam inicialmente.
            Sim. A Mercedes não é tão favorita quanto todos imaginavam. O carro prateado ainda é mais veloz, mas não tanto quanto se imaginava, e pior, ainda tem pontos a serem acertados para finalmente render o máximo, a exemplo do que vimos no ano passado. A Ferrari, por sua conta, também tem lá seus motivos para se preocupar, por saber que, em teoria, seu carro tem uma performance um pouco inferior ao da Mercedes, mas nem tanto quando se esperava. E, sabendo interpretar melhor as circunstâncias de corrida, eles podem virar completamente o jogo, enquanto o time alemão não acordar propriamente para estes acontecimentos durante as corridas e suas consequências. Mas, até conseguirem recuperar-se, a Ferrari precisa abrir vantagem, a fim de impedirem uma reviravolta na situação, como houve em 2017, onde Vettel liderou a competição a maior parte do ano, para perdê-la em Monza, e não conseguir recuperar mais.
            A Mercedes precisa reagir, e já. Uma nova derrota neste final de semana, na etapa da China, colocaria ainda mais pressão em Brackley. Hamilton já conseguiu reverter desvantagens bem maiores nos últimos anos, mas não é por isso que o inglês vai fazer corpo mole. Lewis quer ir à forra, e mostrar que vai dar trabalho para ser vencido, sim. Resta saber se a equipe não vai ser pega de surpresa novamente devido a algum percalço inusitado.
            E, falando em percalços, quem levou um belo tombo em Sakhir foi a Red Bull, que viu sua dupla de pilotos ir a nocaute logo no início da corrida. Daniel Ricciardo vinha com boa expectativa para a prova, até seu carro sofrer um apagão e deixar o sorridente australiano sem entender o que houve. Já Max Verstappen, que errou feio no treino de classificação, foi com tudo para cima de Hamilton numa dividida e se lascou, tendo um pneu furado e danificando sua suspensão traseira. “Mad Max” é visto com carinho por Helmut Marko, mas se o holandês não colocar um mínimo de juízo em sua pilotagem, vai azedar as possibilidades de bons resultados que o time dos energéticos não gostaria de prescindir.
            Enquanto isso, na base do come quase quieto, a McLaren vem em 3º no campeonato de construtores, e com Fernando Alonso em 4º na classificação de pilotos. Parece muito, e é: o time de Woking não está tendo aquele desempenho que esperava, mas tem se aproveitado das circunstâncias das corridas para conseguir os pontos que seus rivais mais bem competitivos estão perdendo pelos mais variados motivos. Mas há muito trabalho para ser feito nos carros laranjas de modo que eles melhorem seu ritmo, e nesse ponto, Fernando Alonso tem sido até otimista demais com as possibilidades imediatas de melhora de performance. O time prometia melhorar no Bahrein, mas não foi o que se viu. Ao menos, eles reconhecem que estão tendo dificuldades, e que precisam dar duro para solucioná-las. Enquanto isso, graças a Alonso, e também ao belga Stoffel Vandoorne, o time vai conquistando pontos perdidos pelos rivais, e ostentando uma posição quase invejável na classificação de pilotos e construtores. Resta saber até quando...
            Enquanto isso, quem teve uma mudança espetacular foi a Toro Rosso, que com uma pilotagem espetacular de Pierre Gasly, e uma performance firme do seu carro, obteve uma incrível 5ª posição no grid de largada, e um 4º lugar na bandeirada final que fez todos no time pularem de imensa alegria, e com todos os méritos. Melhor ainda foi ver Brendon Hartley ainda exibir um desempenho sólido na pista, mesmo que não tenha pontuado, o que mostrou que o carro e o motor, depois do desempenho sofrível visto no Albert Park, parece ter retomado o rumo esperado exibido nos testes da pré-temporada, após a marca japonesa efetuar a troca das unidades de potência nos dois carros do time. Foi também o melhor resultado da Honda desde seu retorno em 2015, já que nos três anos de parceria com a McLaren, o melhor que eles conseguiram havia sido 5ºs lugares. Veremos se aqui em Shanghai os carros de Faenza conseguirão mostrar esse mesmo desempenho, que seria muito festejado por todos, por trazer mais um time à luta no meio do pelotão, e ao que pode ser o começo da redenção da Honda na F-1 atual, depois da fracassada reunião com a McLaren nos últimos três anos. A Red Bull está acompanhando atenta a essa evolução.
  
Pierre Gasly marcou seus primeiros pontos na F-1 com um muito festejado 4º lugar para a Toro Rosso, e com todos os méritos.
         
Mas, se a performance da Toro Rosso merece festejos, já a Williams desperta preocupações. Sergey Sirotkin e Lance Stroll em nenhum momento foram competitivos em Sakhir, e foram os últimos carros a receberem a bandeirada. O time de Grove já não inspirava muitas esperanças na pré-temporada, mas já na segunda corrida, acabou superado com facilidade pela Sauber, que se imaginava o pior carro do grid, posição que agora parece ser do chassi FW41, que mesmo contando com o potente motor da Mercedes, não consegue servir de trunfo para a escuderia. Felipe Massa livrou-se de um abacaxi tremendo, porque mesmo com sua experiência e capacidade, dificilmente conseguiria levar o time muito mais adiante, tamanha a falta de ritmo do novo carro, que conseguiu ser 1s4 mais lento este ano na classificação do que no ano passado, justamente com o brasileiro, no grid em Sakhir. O problema não são apenas os pilotos, mas o carro também. Tudo indica que o ano vai ser complicado, para se corrigir esse problema: Lance Stroll já anda ficando impaciente com a falta de competitividade do chassi, e seu pai, Lawrence Stroll, esteve no Bahrein acompanhando tudo. Não seria difícil ele levar o filho para outro time mais promissor, e junto, os muitos milhões de dólares investidos na Williams, o que seria um duro golpe nas finanças do time, que vai enfrentar um belo desfalque no próximo ano, com a perda do patrocínio da Martini, e da premiação do campeonato de construtores, já que o time, do jeito que está, deve figurar firme na rabeira da competição. Situação inimaginável há poucos anos, quando se esperava que a escuderia voltasse a figurar entre as protagonistas, depois das temporadas de 2014 e 2015.
 
Marcus Ericsson também surpreendeu com a Sauber, marcando os primeiros pontos na temporada, e deixando a Williams na rabeira da classificação.
          
Na luta para tentar se recuperar, a Force India conseguiu seu primeiro ponto no ano, mas ainda tem muito que remar para conseguir fazer isso com menos esforço e sorte. Até Marcus Ericsson, normalmente um piloto que todos consideram de segunda categoria, andou muito bem, e estreou os primeiros pontos da Sauber na temporada, com uma performance consistente e firme.
            Mas, melhor do que tudo, é que a corrida barenita mostrou disputas, ultrapassagens, suspense, e brigas por posições, tudo o que os fãs mais querem ver nas provas da F-1, e não procissões como a de Melbourne. Isso também traz boas expectativas para a prova deste final de semana, no circuito de Shanghai, que deve ver muitas disputas, talvez até mais do que na corrida do Bahrein. A conferir já a partir dos treinos livres de hoje.

 

 
A Formula-E chegou à Europa para a mais nova prova de seu calendário, em Roma, capital da Itália. O circuito montado nas ruas da cidade eterna tem 2,84 Km de extensão, com um total de 21 curvas. A pista, localizada no distrito Esposizione Universale, aproveita o belo visual de alguns dos pontos turísticos da metrópole no local, com a linha de largada e chegada estando localizada na Via Cristóvão Colombo, com os carros correndo ao redor do Obelisco de Marconi, e tendo como pano de fundo o Colosseo Quadrato, um edifício simbólico da arquitetura fascista, uma vez que Benito Mussolini tencionava sediar no local uma feira mundial, e por isso, foi escolhido pelo ditador italiano para comemorar o fascismo na década de 1940. Hoje, o distrito é um grande centro residencial e empresarial. O canal pago Fox Sports 2 transmitirá o VT do treino de classificação a partir das 10:00, com a corrida sendo exibida ao vivo a partir das 11:00 Hrs., no horário de Brasília. Jean-Éric Vergne defende a liderança do campeonato e, com 30 pontos de vantagem, mesmo que não pontue, ainda sairá da capital italiana na frente na classificação.

O traçado da pista da F-E para o ePrix de Roma.

Nenhum comentário: