O campeonato da F-E inicia sua quarta temporada neste final de semana, em Hong Kong. |
O mundo do
automobilismo não para. Encerrada a temporada da Fórmula 1, com a corrida
insossa de Yas Marina, no fim de semana passado, eis que neste final de semana
temos o início de outro campeonato: é a vez da Fórmula-E acelerar seus
propulsores elétricos, dando início à quarta temporada do certame, e tendo o
brasileiro Lucas Di Grassi como atual campeão, tentando ser o primeiro a
conquistar um segundo título. Mas a disputa promete ser acirrada pela taça,
pois Sébastien Buemi, vice-campeão no último ano, também quer o bi, e tem tudo
para infernizar a vida de Lucas no duelo.
Antes de tudo, uma
péssima notícia a relatar: o ePrix de São Paulo, que deveria ocorrer em março
do ano que vem, teve a tomada puxada! O desejo de privatizar a torto e a
direito do prefeito de São Paulo, capital, simplesmente melou tudo, porque o
complexo do Anhembi, onde a corrida seria realizada, inclusive até aproveitando
parte do desenho da pista montada para receber a Indycar há alguns anos, é um
dos ativos que o prefeito quer passar à iniciativa privada. O problema é que o
processo para isso, tocado da forma destrambelhada que os órgãos públicos
costumam fazer nesse país, deixou a prova sem garantias de ser realizada. A
SPTuris, que administra o Anhembi, inclusive nem tinha data confirmada para a
prova da F-E. Lembrando das palhaçadas que ocorreram em Brasília para tentar
receber a Indycar, desta vez pelo menos o prejuízo será menor, já que
praticamente nada foi feito no Anhembi, enquanto em nossa “distinta” capital
federal, colocaram o autódromo abaixo para reformar tudo, e jogou-se muito
dinheiro fora nesta brincadeira que não teve graça nenhuma. A única coisa a se
perder é a credibilidade de nosso país para receber eventos esportivos. Aliás,
depois das maracutaias ocorridas na Copa do Mundo e nas Olimpíadas, melhor que
o Brasil não receba nada mesmo...
Voltando ao que
interessa, que é a competição na F-E, a categoria começa acelerando com tudo já
em uma rodada dupla nas ruas de Hong Kong, com uma corrida no sábado, e outra
no domingo. Serão as únicas provas da quarta temporada neste ano, ficando todas
as demais corridas para 2018. Teríamos 14 corridas, mas com o cancelamento da
prova brasileira, temos então 13 provas no calendário da competição. Mas ainda
há esperança de que os organizadores consigam uma prova substituta para o lugar
da finada corrida tupiniquim, em que pese o retrospecto da categoria pesar
contra: quando a Bélgica teve sua etapa de Bruxelas cancelada, não conseguiram
arrumar nenhuma outra corrida para substituí-la.
Pista da etapa de Hong Kong. Corridas terão 45 voltas no traçado de apenas 1,89 Km de extensão. |
A competição dos
carros elétricos vem atraindo as atenções das grandes fábricas, e elas estão
entrando na categoria. Se já tínhamos o envolvimento firme da Renault, com o
time da e.dams, e também da Citroen, através da DS, em parceria com a Virgin,
no ano passado vimos a estréia da Jaguar, como time oficial de fábrica. Ao lado
destas importantes marcas, temos a presença da Mahindra, construtora de carros
e caminhões indiana, e da Penske, um dos maiores conglomerados dos Estados
Unidos na área de transportes e competição esportiva. E nesta temporada, já
temos a presença oficial da Audi, que assumiu de vez sua operação com a equipe
Abt. Para a próxima temporada, a BMW também virá para o grid, o que já está
fazendo de forma mais incisiva em sua cooperação com o time da Andretti. A
Renault deverá sair de cena, mas terá seu lugar ocupado pela Nissan, e outras
duas gigantes alemãs, Porsche e Mercedes, também já estão fazendo seus planos
para o certame.
Todos temem, contudo,
que a chegada de tantas fábricas acabe promovendo uma explosão de custos na
categoria, o que poderia comprometer sua atratividade como um campeonato
equilibrado e acessível. Caberá à organização tomar as devidas medidas para
impedir que isso aconteça, estabelecendo critérios e parâmetros claros de modo
a limitar o poderio financeiro destas fábricas no desenvolvimento dos
equipamentos de competição, hoje restritos aos trens de força e conjuntos de
câmbios. Só o desenvolvimento autônomo do sistema de baterias, por exemplo, já
faria o custo das mesmas mais do que dobrarem. Por isso, os setores que poderão
continuar sendo trabalhados nos carros em busca de maior performance deverão
continuar limitados. A idéia é estabelecer limites claros, e os times e
fábricas que deem o seu melhor nestes setores designados. Para acomodar tanta
gente, o número de equipes no grid deverá ser ampliado, para pelo menos 13
escuderias e 26 pilotos, o que deverá aumentar a emoção das disputas, com mais
competidores ralando nas pistas por seu espaço.
A Audi é o novo reforço oficial na categoria, como time de fábrica. E pretende lutar novamente pelo título, com o atual campeão, o brasileiro Lucas Di Grassi (abaixo). |
Esta nova temporada
tem tudo para ser bem disputada. O regulamento técnico quase não sofreu
mudanças, então, a expectativa é que os times apresentem performances mais
parelhas. Logicamente, a e.dams deve continuar tendo o melhor carro, mas a Audi
Abt deve continuar a ser a maior adversária. O know-how desenvolvido pela
Renault a credencia a ter o equipamento mais competitivo do grid, enquanto
todos se perguntam como a Audi, agora como um time oficial de fábrica, e não
apenas parceira, terá incrementado o desempenho de seu time, para desafiar a
mais bem-sucedida escuderia do certame nestes primeiros três campeonatos
disputados. Mas Virgin e Mahindra tem tudo para incomodarem estes dois times,
se não por todo o campeonato, pelo menos em várias provas, e quem sabe até
aprontando algumas surpresas. Pelos tempos dos testes da pré-temporada, a Nio
(ex-China e NexTev) parece ter encontrado o rumo do crescimento. No meio do
pelotão, a Jaguar, última colocada do campeonato passado, está pronta para
aplicar os conhecimentos adquiridos na pista e conta agora com Nelsinho Piquet,
o primeiro campeão da categoria, para ajudar a chegar às primeiras colocações o
quanto antes. A Techeetah, por usar o mesmo equipamento da Renault, não pode
ser subestimada, apesar de não ter impressionado como se esperava nos testes.
Mas seu principal nome, Jean-Éric Vergne, é um piloto muito rápido, e
certamente vai incomodar a concorrência. Ele só precisa dosar um pouco seu
ímpeto para evitar que seu arrojo seja seu maior inimigo. No que tange aos
pilotos, o grande mote deve ser novamente o duelo Di Grassi-Buemi. Quem será o
primeiro bicampeão da categoria dos carros elétricos? Ninguém pode descartar
nenhum deles da luta pelo título nesta nova temporada. A dúvida é se teremos
mais alguém para se intrometer neste duelo a dois. Na Audi Abt, apesar de
algumas boas corridas, Daniel Abt não assusta ninguém, e não é um nome cotado
para sequer vencer corridas. Na e.dams, Nicolas Prost já conseguiu vencer
algumas etapas, mas na comparação com seu companheiro Buemi, o filho de Alain
Prost até agora não conseguiu incomodar o piloto suíço. Na Virgin, Sam Bird é o
nome mais forte, e pode surpreender se o carro colaborar, uma vez que ele
raramente desperdiça oportunidades quando elas aparecem; e na Mahindra, Felix
Rosenqvist chegou como quem não queria nada, e foi logo surpreendendo os
concorrentes, chegando até a ganhar corrida, terminando a temporada passada em
3º lugar. E prometendo mais para esse ano, sem medo de tentar vôos mais altos
em sua segunda temporada completa na competição.
Andretti, Dragon e
Venturi ainda não mostraram a que vieram, apesar de alguns brilharecos aqui e
ali, e pelo que se viu nos testes da pré-temporada, ainda não será desta vez
que elas conseguirão o destaque que procuram, apesar do maior envolvimento de
seus parceiros técnicos. A maior atração da Andretti é a contratação do japonês
Kamui Kobayashi, que durante sua estada na F-1, fez a festa dos torcedores com
suas performances inspiradas. Pode até faltar carro para Koba, mas entusiasmo
ele nunca ficou devendo, e o nipônico deverá ser uma das atrações neste fim de
semana de estréia da nova temporada, em Hong Kong, na China, que também foi
palco da primeira corrida da temporada passada.
Esta deverá ser a
última temporada em que haverá a troca de carros durante as corridas. Trata-se
do último ano em que os times correrão com o sistema de baterias desenvolvido
pela área de tecnologia da Williams, time que compete na F-1. Para a quinta
temporada, todos utilizarão um novo conjunto, produzido pela McLaren, com muito
mais potência, e que deve permitir aos pilotos disputar as corridas sem
necessidade de mudar de carro. Neste ano, os pilotos poderão utilizar 10 Kw de
força a mais durante as corridas e classificações, o que irá tornar as provas
mais rápidas, mas também aumentará as dificuldades para os pilotos e as
equipes, já que a carga das baterias continua igual à da última temporada.
Portanto, os pilotos precisarão ser velozes, e ao mesmo tempo, saber dosar o
consumo de energia, do contrário, poderão ficar pelo meio do caminho, caso
gastem mais do que devem. Para tanto, os times e fabricantes também fizeram
mudanças em suas caixas de câmbio, tentando otimizar o desempenho, e ganhar
performance sem comprometer a autonomia e desempenho do equipamento, de acordo
com suas necessidades e possibilidades.
Terceiro colocado no último campeonato, Felix Rosenqvist quer dar vôos mais altos, e incomodar os favoritos Lucas Di Grassi e Sébastien Buemi. |
O equipamento básico
dos carros continua a ser o mesmo: chassis fabricados pela Sparks, com pneus
fornecidos pela Michelin. No campo comercial, a F-E atraiu mais um parceiro: a
grife de roupas da Hugo Boss, que vem se juntar a outros nomes já estabelecidos
na categoria, como a TAG Heuer, Allianz, Qualcomm, Julius Bar e DHL, entre
outras. E a Fox Sports também continua firme na categoria, sendo responsável
pela sua transmissão para inúmeros países no mundo inteiro, entre eles o
Brasil, verá todas as provas ao vivo nos dois canais do grupo nas operadoras de
TV paga nacionais.
Confesso que sentirei
falta das trocas de carros: era um diferencial da categoria, mais por necessidade,
óbvio. Mas poderia ser mantido, e ao invés disso, resolvessem correr em pistas
maiores, mesmo que ainda nas ruas, mas com extensões decentes, que permitissem
mais duelos e opções de ultrapassagens, aumentando a emoção das corridas.
Algumas pistas são curtas demais, e possuem trechos tremendamente complicados,
dificultando sobremaneira as lutas por posições. Por enquanto, o único
autódromo de fato a fazer parte do calendário é o da Cidade do México, onde
usam o pequeno oval do Circuito Hermanos Rodriguez, com algumas variantes. E,
claro, o circuito de rua de Marrakesh, capital do Marrocos, já usado em outras
competições automobilísticas, que já é normalmente curto.
A pista do traçado do
ePrix de Hong Kong tem apenas 1,86 Km de extensão, com 10 curvas, sendo duas
delas em grampos de baixa velocidade. A reta oposta é o único ponto favorável
para ultrapassagens, que serão bem complicadas, portanto, largar bem é crucial
para se obter um bom resultado. No ano passado, a vitória foi de Sébastien Buemi,
com uma recuperação impressionante de Lucas Di Grassi, que terminou em 2º
lugar. O pódio foi completado por Nick Heidfeld, da Mahindra, com o time
indiano começando bem aquela temporada. O grid de largada, contudo, apresentou
surpresas, com a primeira fila sendo ocupada pelos pilotos da NexTev, atual
Nio, com Nelsinho Piquet inclusive largando na pole. Mas, durante a prova, o
ritmo de corrida da equipe chinesa não era das melhores, e Piquet e seu
companheiro, Oliver Turvey, caíram lá para trás, terminando em 11º e 8º,
respectivamente. Buemi, que largara em 5º, não teve dificuldades para vencer a
corrida e largar na frente no início do terceiro campeonato da categoria.
Estaremos novamente
representados no grid por Lucas Di Grassi, o atual campeão, firme no time da
Audi Abt; e Nelsinho Piquet, primeiro campeão da categoria, agora competindo
pela Jaguar. São dois nomes de muito respeito dentro da F-E. Nelsinho esteve
alijado da disputa pelo título nas duas últimas temporadas, devido à aposta
equivocada de seu antigo time nos equipamentos utilizados, e espera voltar
paulatinamente às primeiras posições nas corridas ajudando no desenvolvimento
do time da Jaguar. O time da fábrica inglesa ainda está aprendendo as
particularidades da competição, mas não veio para ser uma figurante. Até a
disputa das primeiras etapas, não dá para aferir a evolução alcançada para esta
segunda temporada. Mas, por mais que tenha crescido, os rivais também se
aprimoraram. Resta saber quem fez o melhor trabalho de desenvolvimento.
Ambas as corridas
serão transmitidas ao vivo pelo canal pago Fox Sports, nas madrugadas, no
horário das 5 horas. Portanto, preparem suas torcidas, que a disputa vai
começar, e em alta tensão...
Robert Kubica concentrou as
atenções da imprensa no teste realizado esta semana no circuito de Yas Marina,
em Abu Dhabi, na última atividade oficial das escuderias da F-1 este ano. O
polonês cumpriu o programa de testes estipulado pela Williams, que se furtou de
declarar maiores informações a respeito da performance de Robert. Disse de
forma sucinta que ele deu conta das tarefas, e que era complicado fazer uma
avaliação correta a respeito da situação. Obviamente, pelo fato de Kubica ainda
não ter sido anunciado oficialmente como piloto do time, fica tudo na
condicional. Aparentemente, Robert está sem problemas com relação à resistência
física para guiar os atuais carros da F-1, o que é muito bom. Mas fica a dúvida
sobre sua performance, se será tão boa como muitos esperam. Uma dúvida que não
deve ser pequena, caso contrário, a Renault, onde ele fez testes há alguns
meses, poderia ter cogitado seu nome por mais tempo, antes de ir atrás de
Carlos Sainz Jr. De qualquer forma, o retorno do piloto polonês à F-1, depois
do violento acidente de rali onde quase perdeu a vida, será algo a ser muito
comemorado...
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