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A associação da McLaren com a Honda não produziu os resultados esperados, agora a esperança está com os propulsores da Renault. |
O ano de 2017 já está
chegando ao fim, e muitos já estão com o pensamento firme em 2018. A temporada
da F-1 já ficou para trás, mas o ritmo segue frenético nas fábricas e sedes das
escuderias, visando o próximo campeonato. Muitos esperam que a temporada do ano
que vem seja melhor do que a deste ano, que até começou com boas perspectivas
de um duelo firme entre Ferrari e Mercedes, mas que acabou vendo mais uma vez
um triunfo dos alemães, em que pese o time de Maranello ter feito bonito boa
parte do ano, e perdido terreno justo na reta final, devido a azares e alguns
percalços, que foram devidamente aproveitados por Lewis Hamilton e a turma de
Brackley para manterem o domínio do time prateado que vem desde 2014. Um duelo
que todos esperam, repita-se em 2018, com uma Red Bull mais forte, com direito
a bons duelos na pista. Mas, há também a forte expectativa do que poderá render
a nova e inédita associação McLaren-Renault, cujas partes estão correndo em
ritmo mais do que acelerado para otimizarem seus recursos a fim de mostrarem
tudo o que podem no próximo ano.
A expectativa é mais
do que justificada. Os últimos três anos do time de Woking, em parceria com a
Honda, foram um desastre quase completo em termos de resultados. Aclamada por
todos, a expectativa era que ambos voltassem a ter glórias como nos velhos anos
1980 e 1990. Mas os nipônicos não conseguiram apresentar uma unidade de
potência nem competitiva, e muito menos fiável. Depois de um ano encorajador em
2016, este ano, onde se pelo menos esperava poder voltar a pontuar com
regularidade, e quem sabe disputar alguns pódios, o que se viu foi um
retrocesso brutal, com o novo motor parecendo voltar à estaca zero, o que
motivou o rompimento da parceria entre ambos. Restou à McLaren as únicas
unidades disponíveis na praça, as da Renault. A Honda, por sua vez, irá
respirar ares menos exigentes na Toro Rosso.
Mais uma vez, todos
começam a nutrir altas esperanças de que a nova aliança dê frutos e o time de
Woking, assim como a marca francesa, voltem a fazer sucesso e serem o destaque.
Poderíamos dizer que já vimos esse filme antes, mas há alguns bons presságios
que o colocam em nível diferente do que vimos na associação com os japoneses. O
primeiro deles é que a Renault tem um conhecimento muito melhor da tecnologia
das unidades híbridas, e embora seus propulsores ainda não se equivalam às
unidades produzidas pela Mercedes ou pela Ferrari, ainda são muito superiores
às da Honda. Portanto, seu ritmo de desenvolvimento para 2018 já parte de um
patamar bem mais elevado, enquanto os japoneses terão que recuperar muito
terreno para atingirem o mesmo nível. Parte disso já foi visto neste ano, mas
mesmo assim, o ano começou tão mal que isso não serviu de consolo.
A Renault quer voltar
a ser campeã novamente, mas mantém os pés no chão, embora tenha sofrido
recentemente para equilibrar performance e confiabilidade. Com a ajuda da
Ilmor, os franceses conseguiram sanar parte de seus problemas, e conseguiram
uma notável evolução de seu projeto. Só não foram melhores porque Mercedes e
Ferrari não ficaram parados. Embora a parceria com a Ilmor não esteja mais
ativa, os franceses tiveram um ano bem razoável: seu melhor time, a Red Bull,
venceu três corridas e foi 3ª colocada no mundial de construtores. E seu time
de fábrica foi 6º colocado, mostrando evolução bem satisfatória. Em 2018, além
de continuar a contar com a Red Bull, terá outro time de alto nível técnico, a
McLaren, a unir forças, e essa nova associação é que está dando ainda mais
entusiasmo para os franceses mostrarem do que são capazes. As críticas recentes
feitas pela Red Bull à montadora francesa ainda estão frescas na memória, e o
time austríaco só voltou atrás porque não teria motores para competir, já que as
rivais Ferrari e Mercedes recusaram-se a fornecer suas unidades. Pesou na
decisão de ambos, além do risco de fortalecer um adversário potencialmente
perigoso, o modo pouco educado e extremamente agressivo de Helmut Marko nas
críticas ao equipamento, até certo ponto justificáveis, mas não toleradas a tal
nível público, que serviu para denegrir a imagem da marca. Tendo agora outro
time capacitado para equipar, a Renault quer ver a McLaren andar de novo na
frente, se não de Mercedes e Ferrari, pelo menos da Red Bull, para calar a boca
de seus dirigentes.
O time dos energéticos
pode até reclamar novamente dos propulsores Renault, que por mais um ano,
estiveram devendo frente a Mercedes e Ferrari, mas ninguém pode negar que a Red
Bull também não teve aquele carro competitivo que esperava. Precisou que Adrian
Newey intervisse no projeto do RB13 para que ele ficasse bem mais competitivo.
Outro problema foi que o carro quebrou demais, primeiro com Max Verstappen, e
depois com Daniel Ricciardo, e muitas vezes, por problemas completamente
alheios à unidade de potência, de modo que a conta da temporada não ter sido
tudo o que esperavam tem de ser dividida entre ambos, e não apenas jogada na
conta na Renault. Mas com um bom chassi, os resultados aparecem, e todo mundo viu
que a McLaren parece ter produzido um excelente carro nesta temporada.
O modelo MCL32 até
começou claudicante, tamanhas eram as falhas e quebras da Honda, mas assim que
o propulsor nipônico passou a apresentar um mínimo de performance, as
qualidades do chassi projetado por Peter Prodromou começaram a ser notadas. E,
na reta final da temporada, a McLaren tinha mais performance do que a Williams,
por exemplo, mesmo com o time de Grove usando o motor da Mercedes, o melhor da
categoria. Eis a diferença que um bom projeto pode fazer. E tudo dá a entender
que a linha de desenvolvimento do chassi da McLaren deve seguir em ascenção em
2018, agora com um propulsor bem mais confiável. Para tanto, a área de
engenharia em Woking está trabalhando em ritmo alucinante, procurando descontar
o tempo perdido com a assinatura tardia do acordo, realizada apenas em outubro.
Eric Bouiller declarou que este atraso está quase recuperado, e os prognósticos
na escuderia são os melhores possíveis.
Todos estão
entusiasmados em poder dar a volta por cima, e se colocar o time inglês como
candidato às vitórias ainda seja esperar demais, imaginar a McLaren em um nível
de competitividade parelho ao que a Red Bull mostrou este ano não seria
impossível. Prodromou trabalhou com Newey na Red Bull, e parece que aprendeu
bem com Adrian, e terá enfim a chance de mostrar sua capacidade frente a seu
velho mestre. Com a mesma unidade de potência em seus bólidos, fará a diferença
a qualidade do chassi. A nível de pilotos, é consenso que a Red Bull tem a
dupla mais forte do grid, mas a McLaren tem Fernando Alonso, e o espanhol está
andando mais do que nunca. Só o fato de ter tido que arrancar leite de pedra
com o carro inglês nestes últimos três anos evidencia o quanto ele precisou
melhorar sua pilotagem, para extrair tudo e mais um pouco do que o carro tem a
oferecer. Stoffel Vandoorne ainda precisa mostrar a que veio, mas já deu
mostras de conseguir andar bem próximo de Alonso, e até na frente. Com um
equipamento mais constante e confiável, e um ânimo completamente renovado, a
dupla da McLaren vai querer mostrar sua velocidade.
Teria sido esse ânimo
a fonte da nota recente em que Lewis Hamilton estaria vetando a contratação de
Fernando Alonso pela Mercedes? A lógica faz sentido: se Fernando disputar as
primeiras colocações, superando outros pilotos mais bem equipados, seu nome,
que estará livre ao fim de 2018, seria bem disputado no mercado, em tese. E se
a Mercedes não ficar satisfeita com Valtteri Bottas, será que o espanhol seria
o seu substituto? Hamilton, feliz com o novo parceiro finlandês, obviamente não
gostaria nem um pouco de dividir os boxes com o asturiano novamente. Fernando,
por sua vez, com um equipamento competitivo, pode virar um pesadelo para os
rivais na pista. E em termos de chamar atenção, ninguém pode ignorar que Alonso
se reinventou nestes últimos anos, sempre conseguindo chamar a atenção, mesmo
com seus fracos resultados. Sua disputa das 500 Milhas de Indianápolis este ano
o colocou em outro patamar no esporte, e ele se prepara para reafirmar isso
ainda mais em 2018, com a disputa das 24 Horas de Daytona e das 24 Horas de Le
Mans. Um piloto em alta evidência, e extremamente competitivo e motivado.
Segurem o espanhol!
Curiosamente, a
McLaren nunca competiu com as unidades da Renault. Mesmo na época em que os
franceses dominaram a F-1 nos anos 1990, na época o time de Woking encarou os
rivais com motores da Honda (1991 a 1992), Ford (1993), Peugeot (1994) e
Mercedes (1994 a 1997). Tradicional rival da Renault, a Peugeot iniciou sua
participação em 1994 com a McLaren como time oficial, e até que não fizeram
feio, dada o noviciado do projeto. Mas Ron Dennis, impaciente, querendo um
retorno às vitórias o mais rápido possível, deu um pé na bunda dos franceses, e
trouxe os propulsores da Mercedes, que só começaram a mostrar serviço a partir
de 1997. O bom do atual momento é que Ron Dennis não está mais na McLaren, e
depois do período de vacas magérrimas dos últimos três anos, a paciência com a
Renault será muito substancial, e muito mais parcimoniosa do que a da Red Bull,
que certamente pretende observar a evolução da Honda na Toro Rosso para ver se
valerá a pena usar os propulsores nipônicos em 2019, quando a Renault fala que
pretende deixar de equipar o time dos energéticos, cansada das críticas que
andou recebendo deles.
Pelo sim, pelo não, o
empenho tanto de Renault quanto da McLaren é significativo. Tanto que a Renault
resolveu encerrar sua participação “formal” na Formula-E, deixando a competição
a cargo de sua subsidiária, a Nissan, que continuará desenvolvendo o seu
projeto atual, só para centrar suas forças na F-1. Vencer com a McLaren terá um
significado importante para os franceses, e isso trará benefícios também a seu
time de fábrica, que deve se fortalecer ainda mais. Na McLaren, o carro deverá
ficar ainda melhor na aerodinâmica, pois as unidades de potência da Renault já
chegaram com algumas vantagens bem significativas, entre elas a necessidade
muito menor de refrigeração, o que demandará radiadores menores nas laterais,
permitindo trabalhar melhor na aerodinâmica deste setor, além do fato de serem
mais econômicas que as nipônicas, permitindo um consumo menor com mais potência
disponível. Mesmo com o consumo obedecendo a limites pelo novo regulamento, os
propulsores da Honda, por consumirem mais, tinham que ser dosados, de forma a
seus pilotos não sofrerem uma pane seca, o que diminuía ainda mais a potência.
São pontos em que o carro já está ganhando vantagem em relação a esta
temporada.
Pelo lado da Renault,
o ganho de potência verificado no México, visto como um teste para o limite do
novo propulsor, foi bem apreciado, em que pese a confiabilidade ter sido
comprometida, um aspecto que certamente está sendo trabalhado no projeto da
nova unidade de potência. Se conseguirem promover este incremento de
performance e manter a confiabilidade, se não vai igualar a força de Mercedes e
Ferrari, irá diminuir consideravelmente a diferença para elas. Mas, calma aí:
os alemães e os italianos também estão trabalhando com afinco para deixarem
seus propulsores ainda melhores do que já são, portanto, nada de comemorações
antecipadas. Teremos de esperar até os testes da pré-temporada para vermos em
que patamar todos estarão.
Há outro fator
importante, que é o histórico: Fernando Alonso foi bicampeão pela Renault, em
2005 e 2006, e voltar a trabalhar com o asturiano, o único a ser campeão pelo
time da fábrica, é outro grande incentivo para todos na parceria darem o máximo
de si. Claro que história não vence corrida, como a própria associação com a
Honda demonstrou, mas não deixa de ser um fator emocional e afetivo importante.
Fernando terá a chance de fazer a Renault voltar a ser vencedora, mesmo que
seja pela McLaren. A torcida é grande para que consiga, e com isso, aumentar a
disputa nas corridas da F-1.
Um ponto que muitos se
perguntam é se a McLaren terá recursos financeiros para custear todo esse
desenvolvimento, de forma a voltar a ser competitiva na F-1. É uma preocupação
lógica, afinal, o Grupo McLaren dispendeu uma soma vultuosa para comprar a
parte que pertencia a Ron Dennis. O acordo com a Honda também provia a
escuderia de F-1 de um grande aporte de recursos, além do pagamento do salário
de Fernando Alonso, que continuou ganhando seu salário astronômico, como se
ainda estivesse disputando vitórias e títulos, um dinheiro que não será reposto
no novo acordo feito junto à Renault. Junte a isso o fato do time não possuir
um patrocinador principal desde 2014, e dado os gastos realizados pelo Grupo
McLaren como um todo, é mais do que lógico supor que os recursos de competição
não serão tão fartos como nos últimos anos. Mas Eric Bouiller e Zak Brown
garantem que o novo acordo de competição com os propulsores da Renault já tem
um grande orçamento reservado para manter no mais alto nível o desenvolvimento
do futuro MCL33, e que com as expectativas mais otimistas de resultados
decorrentes do uso da unidade de potência francesa, vários patrocínios em
potencial estão perto de serem fechados, de modo a garantir que haverá recursos
mais do que suficientes para a empreitada correr em boas mãos.
Realmente, pelo seu
histórico e importância na F-1, todos esperam que a McLaren renasça em 2018, e
volte a disputar as primeiras posições. Apesar de algumas decisões equivocadas,
e de alguns projetos não terem dado os resultados esperados, a mentalidade do
time, de voltar a vencer, continua firme, e com passos decisivos nesta direção.
Algo bem diferente do que temos visto, por exemplo, na Williams nos últimos
anos, onde o conservadorismo do time, e a falta de um foco claro sobre sua
dupla de pilotos, além de pensamentos equivocados, parecem minar completamente
as expectativas de a escuderia voltar a disputar as vitórias. Um exemplo é a
novela em que se transformou a escolha de seu segundo piloto para 2018, até o
fechamento deste texto, ainda não definido de fato. E é por essa diferença de
atitude e de pensamento, que eu acredito muito mais no renascimento da McLaren
do que em um retorno da Williams aos bons resultados na F-1. Uma opinião que
muitos compartilham, e que não é difícil entender o porquê... Que venha 2018, e
possamos confirmar na prática as expectativas de competição desta nova
associação inédita na história da F-1! Até o ano que vem!
Esta é a última coluna de 2018.
Depois de um ano cansativo, acompanhando vários campeonatos, corridas e
disputas, hora de dar uma pausa, e retornar com tudo em janeiro para o início
de um novo ano cheio de competições e pegas no mundo da alta velocidade mundo
afora. Um bom Natal e um Feliz Ano Novo a todos. E que venha 2018! Até mais!
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