Lewis Hamilton comandou com autoridade o Grande Prêmio do Japão desde a largada (abaixo) e venceu novamente, ainda mais por ver seu principal rival, Sebastian Vettel, abandonar a corrida. |
A rodada asiática da
Fórmula 1 acabou sendo uma ducha de água fria para aqueles que esperavam que a
disputa do campeonato se estendesse até a etapa final, em Abu Dhabi. Finda
a corrida em Monza, todo mundo esperava que, ao assumir a liderança do
campeonato, Lewis Hamilton ainda teria de suar o macacão para chegar ao
tetracampeonato, afinal, as provas de Spa e Monza confirmaram ser de
favoritismo para o carro prateado da Mercedes, mas as etapas seguintes tenderiam
a jogar mais para o lado da Ferrari. Bom, a teoria meio que se comprovou, mas a
realidade acabou tendo outros ares também.
Em Singapura, a
Ferrari comprovou que estava mais forte e Sebastian Vettel tinha tudo para
retomar a dianteira do campeonato. Só que um incidente na largada deixou a
dupla ferrarista a ver navios, e para comprovar o ditado de que desgraça pouca
é bobagem, quem foi que venceu a prova em Marina Bay? Justamente Lewis Hamilton, que abria
um caminhão de vantagem para o piloto alemão e, teoricamente, começava a
encaminhar sua conquista do título da temporada de 2017. Ficava a dúvida se
esse abandono da Ferrari teria o mesmo impacto do abandono sofrido por Hamilton
em Sepang, na Malásia, no ano passado, quando o inglês sofreu uma quebra de
motor que deixou Nico Rosberg em situação bem confortável no campeonato,
passando a administrar os resultados nas últimas quatro provas do ano, o que
fez com competência e garantiu seu primeiro e único título na F-1. Bom, se o
problema na largada em Singapura foi ruim, dali em diante, a Ferrari ficou em
uma situação realmente complicada, como nunca havia visto até então na
temporada.
Em Sepang, a Mercedes
novamente apareceu com um ritmo não tão eficiente, como em Singapura. Oportunidade
perfeita para a Ferrari tentar novamente uma revanche, e esquecer o desastre de
Marina Bay. Só que os carros apresentaram problemas: Kimi Raikkonem, coitado,
ficou fora de combate antes mesmo de largar, e nem teve gosto de curtir largar
na primeira fila do grid, ao lado de Hamilton. E Vettel, com problemas em peças
do motor, que tiveram de ser trocadas, foi obrigado a largar na última posição,
tendo de fazer uma corrida de recuperação. A boa notícia é que Hamilton, apesar
da pole na Malásia, não venceu a corrida, cuja vitória ficou com Max
Verstappen. A má notícia é que o inglês foi o 2º colocado, e Vettel, mesmo
tirando tudo do carro, foi o 4º colocado, o que confirma que o time italiano
tinha ótimas possibilidades de ter vencido a corrida ou, no mínimo, chegar à
frente das Mercedes. Mas a fiabilidade do equipamento acabou por jogar por
terra as possibilidades de uma diminuição da desvantagem de Sebastian frente a
Lewis. Com isso tudo, foram duas provas onde as expectativas eram de uma
Ferrari muito mais forte que a Mercedes, e pelo ritmo dos treinos, isso se
comprovou, com os carros alemães a não conseguirem dominar como se imaginava.
Mas, performance menor à parte, se teve uma coisa que o time alemão mostrou foi
fiabilidade: tanto Hamilton quanto Valtteri Bottas não tiveram percalços
mecânicos comprometedores em ambas as etapas, pelo menos ao nível que vimos
pelos lados dos boxes de Maranello. Claro, os desaires de pista do time rosso
em Sepang também deram sua contribuição aos problemas mecânicos...
E chegamos então a
Suzuka. Pista complexa, com um bom número de curvas, mas também de alta
velocidade em certos trechos que favoreciam o modelo W08 de Brackley, e que
poderiam ser uma dificuldade adicional para serem superados pelo modelo SF-70H
de Maranello. Performance superior à parte, Lewis Hamilton esteve imparável em Suzuka. Não que Vettel
estivesse muito atrás, mas mesmo tendo conseguido a 2ª posição no grid, muito à
custa do braço do alemão, a diferença imposta por Lewis já dava a entender que,
se nada de errado ocorresse pelos lados da Mercedes, restaria a Sebastian
apenas ver Hamilton aumentar ainda mais a diferença e correr cada vez mais para
abraçar o troféu do título de campeão deste ano. Mas, quis o destino que a
Ferrari sofresse ainda mais do que esperava.
No grid, um certo
pânico no carro de Vettel. Uma tentativa de conserto, e o alemão consegue
largar, mas sem chances de pular à frente do rival da Mercedes, sua única
chance de tentar fazer frente à situação na corrida. Hamilton, depois de ficar
“trancado” atrás de Max Verstappen aqui no Japão no ano passado, sabia que se
desse mole na largada, poderia perder as chances de vencer, e no arranque do
grid, tratou de conseguir fazer a primeira curva na frente. Sebastian ainda
manteve-se firme na 2ª posição, e almejava pelo menos diminuir o prejuízo. Só
que as esperanças ferraristas foram para o ralo: o problema no motor do carro
do alemão não tinham sido corrigidos, e Vettel, já perdendo ritmo na pista,
recolheu aos boxes para abandonar, de forma contundente, enquanto via Lewis
obter um novo triunfo, e praticamente colocar a mão na taça de campeão da
temporada. Pior de tudo foi o motivo do abandono: um problema numa das velas do
motor. Sim, um carro construído com tecnologia de ponta, como o da F-1, ter um
enguiço por problemas com uma vela de motor. Incrível, não e?
Sebastian Vettel: abandono no Japão deixou o alemão quase sem chances de impedir o tetracampeonato de Hamilton. |
São problemas com algo
tão ínfimo que fica difícil de acreditar, mas é isso mesmo. Uma vela acabou com
a corrida de Vettel em Suzuka, e o estrago foi grande: Hamilton venceu, e abriu
nada menos do que 59 pontos de vantagem para o alemão. Faltando quatro corridas
para terminar o campeonato, podemos dizer que a Ferrari já foi a nocaute depois
de Suzuka. Restam 100 pontos em jogo, e se correr com a cabeça, Hamilton nem
precisa mais subir ao pódio para ser campeão, administrando os resultados. Mais
ainda: dependendo da combinação de resultados, Lewis pode conquistar o
tetracampeonato já na próxima corrida, nos Estados Unidos, no circuito de
Austin, onde há dois anos atrás em faturou o tricampeonato, vencendo a prova.
Para que isso ocorra, o inglês precisa vencer a corrida e torcer para Vettel
terminar de 7º para trás. Pelo que a Ferrari conseguiu nas últimas corridas, o
perigo da disputa do título terminar já na prova do Texas é grande, mas, tanto
Hamilton quanto Vettel se recusam a aceitar o fim do jogo antecipadamente. Um
pouco de prudência não faz mal a ninguém, embora as chances de o alemão
conseguir reverter qualquer desvantagem, mesmo que pouca, a essa altura, é
mínima.
Somente se a Mercedes
sentir e ver que não tem chances de vitória, Hamilton deverá batalhar por um
resultado que pelo menos mantenha sua vantagem na pontuação a maior possível.
Para Vettel, agora virou um tudo ou nada, e com chances cada vez maiores de dar
em nada. Ele
precisa partir para o ataque com tudo, e não apenas vencer, mas torcer para que
Hamilton sofra os azares que o afligiram nas últimas etapas. Não é impossível,
só que a vantagem de Lewis já é tamanha que ele precisaria ficar sem marcar
pontos por pelo menos duas corridas seguidas, e Vettel mesmo vencendo estas
duas provas, ainda ficaria 9 pontos atrás. Mas Hamilton ficar fora de combate
não é apenas o que Sebastian necessita: ele precisa também superar a Red Bull,
que vem crescendo de produção nas últimas corridas, e no Japão, mesmo que
Vettel não tivesse problemas, teria dificultado e muito a disputa para Vettel
subir ao pódio, pelo menos em 2º lugar. Na corrida da Malásia, Vettel afirmou
que a boa performance das Red Bull poderia ser um aliado inesperado, na
expectativa de que tanto Max Verstappen quanto Daniel Ricciardo poderiam roubar
de Hamilton posições melhores nas corridas. Agora, o papel se inverteu: Vettel
precisa torcer para que eles não comprometam suas chances de obter melhores
resultados, e com isso, inviabilizar sua reação na competição.
Mas, o nocaute sofrido
pela Ferrari nestas últimas corridas foi tão forte, que neste momento, mais do
que tentar alcançar Hamilton no campeonato, Vettel precisa se cuidar é para não
ser ultrapassado por Valtteri Bottas. O finlandês está apenas 13 pontos atrás
do alemão na classificação, pelo andar da carruagem, tem tudo para terminar o
ano com o vice-campeonato, deixando Vettel em 3º, situação constrangedora para
quem começou o ano de forma tão positiva e de que dava esperanças de levar o
time rosso novamente ao título, algo que não vê desde 2007, quando Kimi
Raikkonem foi campeão pelo time de Maranello. O trabalho desenvolvido pela
Ferrari durante a temporada, para deixar o modelo SF-70H à altura do chassi W08
da Mercedes foi digno de elogios. A unidade de potência italiana está quase no
mesmo nível da Mercedes, e em várias etapas, o carro italiano foi muito mais
competitivo do que o alemão, com Vettel dando tudo de si e mais um pouco para
se manter sempre no páreo da disputa, mesmo quando a Mercedes e Hamilton
apareciam em vantagem. O
trabalho desenvolvido pelo novo grupo de engenheiros que assumiu o projeto
inacabado desenvolvido por James Allison foi bem coeso, e eles souberam não
apenas finalizar o projeto, mas desenvolvê-lo sem comprometê-lo. Pelo menos,
até agora.
Mas, curiosamente, foi
o mesmo James Allison, que dispensado pela Ferrari no ano passado, hoje é o
responsável por fazer o time alemão retomar a dianteira na competição. O
trabalho de desenvolvimento do modelo W08, especialmente a partir de Barcelona,
quando importantes modificações foram introduzidas, recolocaram o carro
prateado como o bólido a ser batido na maioria das corridas em diante,
obrigando a Ferrari a redobrar seus esforços para tentar se manter não apenas à
altura, mas à frente dos alemães. E eles conseguiram efetuar um belo trabalho.
Mas, infelizmente, nem tudo saiu como o esperado, e algumas quebras aqui e ali
começaram a comprometer os resultados. Como poderiam ter ocorrido também com a
Mercedes.
Muitos poderão dizer
que o azar de Vettel nestas corridas comprometeu todo o campeonato, e até certa
medida, têm razão. Mas, um campeonato é a soma dos esforços desenvolvidos
durante todo o ano, e sempre há os bons e os maus momentos. A competição em
alto nível exige um esforço concentrado de tudo e de todos. E por mais perfeita
que seja a sintonia de todas as partes e componentes, sempre há algum momento
em que as coisas não funcionam como deveriam. Nem sempre é justo, se
considerarmos os esforços louváveis dos integrantes da disputa, mas é como as
coisas ocorrem. A Mercedes conseguiu se manter longe de alguns problemas dos
quais a Ferrari não conseguiu se esquivar, e na pista, Lewis Hamilton vem
pilotando na sua melhor forma, levando-o a aproveitar da melhor maneira possível
todas as oportunidades que surgiram até agora na temporada. Sua conquista do
tetracampeonato será mais do que merecida, e com 71 poles e 61 vitórias no
currículo, quer queiram, quer não queiram, Hamilton já é um dos gigantes da
história da F-1. A conquista do título de 2017 apenas ratificará o que já é
conhecido por todos.
Sebastian Vettel, pelo
seu lado, nada tem a se envergonhar de sua campanha nesta temporada. Ele vem
dando o máximo de si, pilotando como pode. Seu pentacampeonato pode não vir este
ano, mas o futuro ainda está cheio de possibilidades. Sua hora chegará. Mas,
neste momento, é Hamilton quem tem tudo para comemorar. Cabe à Ferrari, ao
menos, se recuperar deste seu nocaute nas últimas corridas, e pelo menos
terminar o ano dignamente, e mostrando sua melhor forma, de maneira a
dignificar não apenas os seus esforços, mas também a conquista de Lewis, em ter
vencido oponentes dignos de luta na pista...
Ver carros construídos com uma
tecnologia de ponta como a empregada pela F-1 ainda terem problemas
relativamente banais com peças comuns pode não ser exatamente comum, mas eles
aconteceu. No Grande Prêmio do Canadá de 1993, Ayrton Senna, então na McLaren,
duelava com Michael Schumacher, da Benetton, pelo 2ª lugar na corrida, quando o
carro do brasileiro apresentou uma pane, e Ayrton saiu da corrida na parte
final. O motivo do abandono foi um problema no alternador, que afetou a ignição
do motor Ford V-8 de Senna, uma outra reles peça comum, que acabou com a
corrida do brasileiro naquele dia... E Vettel agora terá história parecida para
contar em sua carreira, quando ele ficou fora de combate no GP do Japão por
causa de uma simples vela de ignição. Ah, e ainda falaram a marca da danada:
era NGK. Alguém aí usa essas velas no seu carro? Será que depois dessa a
Ferrari trocará de fornecedor de velas?
E Daniil Kvyat volta ao cockpit
da Toro Rosso na corrida dos Estados Unidos. O motivo é que seu substituto,
Pierre Gasly, tem etapa decisiva aqui no Japão, no mesmo final de semana, e
isso acaba criando outro problema para o time de Faenza: Carlos Sainz Jr.
despediu-se da escuderia em Suzuka, e já em Austin ele corre pela Renault,
substituindo Jolyon Palmer, que finalmente foi despedido pela escuderia
francesa, como muitos esperavam há tempos. Só que o time B de Dietrich
Mateschitz na F-1 não tem nenhum outro piloto para colocar no lugar. Comenta-se
que, nesta prova, a Toro Rosso poderia competir com o atual campeão da Indycar,
Josef Newgarden, uma solução pontual, mas que daria ao campeão atual da Indycar
o gostinho de pilotar na F-1, justamente no GP de seu país na categoria. Seria
interessante, mas até o momento, nada oficial foi anunciado. Vejamos se
conseguem resolver isso...
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