sexta-feira, 13 de outubro de 2017

FERRARI A NOCAUTE


Lewis Hamilton comandou com autoridade o Grande Prêmio do Japão desde a largada (abaixo) e venceu novamente, ainda mais por ver seu principal rival, Sebastian Vettel, abandonar a corrida.

            A rodada asiática da Fórmula 1 acabou sendo uma ducha de água fria para aqueles que esperavam que a disputa do campeonato se estendesse até a etapa final, em Abu Dhabi. Finda a corrida em Monza, todo mundo esperava que, ao assumir a liderança do campeonato, Lewis Hamilton ainda teria de suar o macacão para chegar ao tetracampeonato, afinal, as provas de Spa e Monza confirmaram ser de favoritismo para o carro prateado da Mercedes, mas as etapas seguintes tenderiam a jogar mais para o lado da Ferrari. Bom, a teoria meio que se comprovou, mas a realidade acabou tendo outros ares também.
            Em Singapura, a Ferrari comprovou que estava mais forte e Sebastian Vettel tinha tudo para retomar a dianteira do campeonato. Só que um incidente na largada deixou a dupla ferrarista a ver navios, e para comprovar o ditado de que desgraça pouca é bobagem, quem foi que venceu a prova em Marina Bay? Justamente Lewis Hamilton, que abria um caminhão de vantagem para o piloto alemão e, teoricamente, começava a encaminhar sua conquista do título da temporada de 2017. Ficava a dúvida se esse abandono da Ferrari teria o mesmo impacto do abandono sofrido por Hamilton em Sepang, na Malásia, no ano passado, quando o inglês sofreu uma quebra de motor que deixou Nico Rosberg em situação bem confortável no campeonato, passando a administrar os resultados nas últimas quatro provas do ano, o que fez com competência e garantiu seu primeiro e único título na F-1. Bom, se o problema na largada em Singapura foi ruim, dali em diante, a Ferrari ficou em uma situação realmente complicada, como nunca havia visto até então na temporada.
            Em Sepang, a Mercedes novamente apareceu com um ritmo não tão eficiente, como em Singapura. Oportunidade perfeita para a Ferrari tentar novamente uma revanche, e esquecer o desastre de Marina Bay. Só que os carros apresentaram problemas: Kimi Raikkonem, coitado, ficou fora de combate antes mesmo de largar, e nem teve gosto de curtir largar na primeira fila do grid, ao lado de Hamilton. E Vettel, com problemas em peças do motor, que tiveram de ser trocadas, foi obrigado a largar na última posição, tendo de fazer uma corrida de recuperação. A boa notícia é que Hamilton, apesar da pole na Malásia, não venceu a corrida, cuja vitória ficou com Max Verstappen. A má notícia é que o inglês foi o 2º colocado, e Vettel, mesmo tirando tudo do carro, foi o 4º colocado, o que confirma que o time italiano tinha ótimas possibilidades de ter vencido a corrida ou, no mínimo, chegar à frente das Mercedes. Mas a fiabilidade do equipamento acabou por jogar por terra as possibilidades de uma diminuição da desvantagem de Sebastian frente a Lewis. Com isso tudo, foram duas provas onde as expectativas eram de uma Ferrari muito mais forte que a Mercedes, e pelo ritmo dos treinos, isso se comprovou, com os carros alemães a não conseguirem dominar como se imaginava. Mas, performance menor à parte, se teve uma coisa que o time alemão mostrou foi fiabilidade: tanto Hamilton quanto Valtteri Bottas não tiveram percalços mecânicos comprometedores em ambas as etapas, pelo menos ao nível que vimos pelos lados dos boxes de Maranello. Claro, os desaires de pista do time rosso em Sepang também deram sua contribuição aos problemas mecânicos...
            E chegamos então a Suzuka. Pista complexa, com um bom número de curvas, mas também de alta velocidade em certos trechos que favoreciam o modelo W08 de Brackley, e que poderiam ser uma dificuldade adicional para serem superados pelo modelo SF-70H de Maranello. Performance superior à parte, Lewis Hamilton esteve imparável em Suzuka. Não que Vettel estivesse muito atrás, mas mesmo tendo conseguido a 2ª posição no grid, muito à custa do braço do alemão, a diferença imposta por Lewis já dava a entender que, se nada de errado ocorresse pelos lados da Mercedes, restaria a Sebastian apenas ver Hamilton aumentar ainda mais a diferença e correr cada vez mais para abraçar o troféu do título de campeão deste ano. Mas, quis o destino que a Ferrari sofresse ainda mais do que esperava.
            No grid, um certo pânico no carro de Vettel. Uma tentativa de conserto, e o alemão consegue largar, mas sem chances de pular à frente do rival da Mercedes, sua única chance de tentar fazer frente à situação na corrida. Hamilton, depois de ficar “trancado” atrás de Max Verstappen aqui no Japão no ano passado, sabia que se desse mole na largada, poderia perder as chances de vencer, e no arranque do grid, tratou de conseguir fazer a primeira curva na frente. Sebastian ainda manteve-se firme na 2ª posição, e almejava pelo menos diminuir o prejuízo. Só que as esperanças ferraristas foram para o ralo: o problema no motor do carro do alemão não tinham sido corrigidos, e Vettel, já perdendo ritmo na pista, recolheu aos boxes para abandonar, de forma contundente, enquanto via Lewis obter um novo triunfo, e praticamente colocar a mão na taça de campeão da temporada. Pior de tudo foi o motivo do abandono: um problema numa das velas do motor. Sim, um carro construído com tecnologia de ponta, como o da F-1, ter um enguiço por problemas com uma vela de motor. Incrível, não e?
Sebastian Vettel: abandono no Japão deixou o alemão quase sem chances de impedir o tetracampeonato de Hamilton.
            São problemas com algo tão ínfimo que fica difícil de acreditar, mas é isso mesmo. Uma vela acabou com a corrida de Vettel em Suzuka, e o estrago foi grande: Hamilton venceu, e abriu nada menos do que 59 pontos de vantagem para o alemão. Faltando quatro corridas para terminar o campeonato, podemos dizer que a Ferrari já foi a nocaute depois de Suzuka. Restam 100 pontos em jogo, e se correr com a cabeça, Hamilton nem precisa mais subir ao pódio para ser campeão, administrando os resultados. Mais ainda: dependendo da combinação de resultados, Lewis pode conquistar o tetracampeonato já na próxima corrida, nos Estados Unidos, no circuito de Austin, onde há dois anos atrás em faturou o tricampeonato, vencendo a prova. Para que isso ocorra, o inglês precisa vencer a corrida e torcer para Vettel terminar de 7º para trás. Pelo que a Ferrari conseguiu nas últimas corridas, o perigo da disputa do título terminar já na prova do Texas é grande, mas, tanto Hamilton quanto Vettel se recusam a aceitar o fim do jogo antecipadamente. Um pouco de prudência não faz mal a ninguém, embora as chances de o alemão conseguir reverter qualquer desvantagem, mesmo que pouca, a essa altura, é mínima.
            Somente se a Mercedes sentir e ver que não tem chances de vitória, Hamilton deverá batalhar por um resultado que pelo menos mantenha sua vantagem na pontuação a maior possível. Para Vettel, agora virou um tudo ou nada, e com chances cada vez maiores de dar em nada. Ele precisa partir para o ataque com tudo, e não apenas vencer, mas torcer para que Hamilton sofra os azares que o afligiram nas últimas etapas. Não é impossível, só que a vantagem de Lewis já é tamanha que ele precisaria ficar sem marcar pontos por pelo menos duas corridas seguidas, e Vettel mesmo vencendo estas duas provas, ainda ficaria 9 pontos atrás. Mas Hamilton ficar fora de combate não é apenas o que Sebastian necessita: ele precisa também superar a Red Bull, que vem crescendo de produção nas últimas corridas, e no Japão, mesmo que Vettel não tivesse problemas, teria dificultado e muito a disputa para Vettel subir ao pódio, pelo menos em 2º lugar. Na corrida da Malásia, Vettel afirmou que a boa performance das Red Bull poderia ser um aliado inesperado, na expectativa de que tanto Max Verstappen quanto Daniel Ricciardo poderiam roubar de Hamilton posições melhores nas corridas. Agora, o papel se inverteu: Vettel precisa torcer para que eles não comprometam suas chances de obter melhores resultados, e com isso, inviabilizar sua reação na competição.
            Mas, o nocaute sofrido pela Ferrari nestas últimas corridas foi tão forte, que neste momento, mais do que tentar alcançar Hamilton no campeonato, Vettel precisa se cuidar é para não ser ultrapassado por Valtteri Bottas. O finlandês está apenas 13 pontos atrás do alemão na classificação, pelo andar da carruagem, tem tudo para terminar o ano com o vice-campeonato, deixando Vettel em 3º, situação constrangedora para quem começou o ano de forma tão positiva e de que dava esperanças de levar o time rosso novamente ao título, algo que não vê desde 2007, quando Kimi Raikkonem foi campeão pelo time de Maranello. O trabalho desenvolvido pela Ferrari durante a temporada, para deixar o modelo SF-70H à altura do chassi W08 da Mercedes foi digno de elogios. A unidade de potência italiana está quase no mesmo nível da Mercedes, e em várias etapas, o carro italiano foi muito mais competitivo do que o alemão, com Vettel dando tudo de si e mais um pouco para se manter sempre no páreo da disputa, mesmo quando a Mercedes e Hamilton apareciam em vantagem. O trabalho desenvolvido pelo novo grupo de engenheiros que assumiu o projeto inacabado desenvolvido por James Allison foi bem coeso, e eles souberam não apenas finalizar o projeto, mas desenvolvê-lo sem comprometê-lo. Pelo menos, até agora.
            Mas, curiosamente, foi o mesmo James Allison, que dispensado pela Ferrari no ano passado, hoje é o responsável por fazer o time alemão retomar a dianteira na competição. O trabalho de desenvolvimento do modelo W08, especialmente a partir de Barcelona, quando importantes modificações foram introduzidas, recolocaram o carro prateado como o bólido a ser batido na maioria das corridas em diante, obrigando a Ferrari a redobrar seus esforços para tentar se manter não apenas à altura, mas à frente dos alemães. E eles conseguiram efetuar um belo trabalho. Mas, infelizmente, nem tudo saiu como o esperado, e algumas quebras aqui e ali começaram a comprometer os resultados. Como poderiam ter ocorrido também com a Mercedes.
            Muitos poderão dizer que o azar de Vettel nestas corridas comprometeu todo o campeonato, e até certa medida, têm razão. Mas, um campeonato é a soma dos esforços desenvolvidos durante todo o ano, e sempre há os bons e os maus momentos. A competição em alto nível exige um esforço concentrado de tudo e de todos. E por mais perfeita que seja a sintonia de todas as partes e componentes, sempre há algum momento em que as coisas não funcionam como deveriam. Nem sempre é justo, se considerarmos os esforços louváveis dos integrantes da disputa, mas é como as coisas ocorrem. A Mercedes conseguiu se manter longe de alguns problemas dos quais a Ferrari não conseguiu se esquivar, e na pista, Lewis Hamilton vem pilotando na sua melhor forma, levando-o a aproveitar da melhor maneira possível todas as oportunidades que surgiram até agora na temporada. Sua conquista do tetracampeonato será mais do que merecida, e com 71 poles e 61 vitórias no currículo, quer queiram, quer não queiram, Hamilton já é um dos gigantes da história da F-1. A conquista do título de 2017 apenas ratificará o que já é conhecido por todos.
            Sebastian Vettel, pelo seu lado, nada tem a se envergonhar de sua campanha nesta temporada. Ele vem dando o máximo de si, pilotando como pode. Seu pentacampeonato pode não vir este ano, mas o futuro ainda está cheio de possibilidades. Sua hora chegará. Mas, neste momento, é Hamilton quem tem tudo para comemorar. Cabe à Ferrari, ao menos, se recuperar deste seu nocaute nas últimas corridas, e pelo menos terminar o ano dignamente, e mostrando sua melhor forma, de maneira a dignificar não apenas os seus esforços, mas também a conquista de Lewis, em ter vencido oponentes dignos de luta na pista...


Ver carros construídos com uma tecnologia de ponta como a empregada pela F-1 ainda terem problemas relativamente banais com peças comuns pode não ser exatamente comum, mas eles aconteceu. No Grande Prêmio do Canadá de 1993, Ayrton Senna, então na McLaren, duelava com Michael Schumacher, da Benetton, pelo 2ª lugar na corrida, quando o carro do brasileiro apresentou uma pane, e Ayrton saiu da corrida na parte final. O motivo do abandono foi um problema no alternador, que afetou a ignição do motor Ford V-8 de Senna, uma outra reles peça comum, que acabou com a corrida do brasileiro naquele dia... E Vettel agora terá história parecida para contar em sua carreira, quando ele ficou fora de combate no GP do Japão por causa de uma simples vela de ignição. Ah, e ainda falaram a marca da danada: era NGK. Alguém aí usa essas velas no seu carro? Será que depois dessa a Ferrari trocará de fornecedor de velas?


E Daniil Kvyat volta ao cockpit da Toro Rosso na corrida dos Estados Unidos. O motivo é que seu substituto, Pierre Gasly, tem etapa decisiva aqui no Japão, no mesmo final de semana, e isso acaba criando outro problema para o time de Faenza: Carlos Sainz Jr. despediu-se da escuderia em Suzuka, e já em Austin ele corre pela Renault, substituindo Jolyon Palmer, que finalmente foi despedido pela escuderia francesa, como muitos esperavam há tempos. Só que o time B de Dietrich Mateschitz na F-1 não tem nenhum outro piloto para colocar no lugar. Comenta-se que, nesta prova, a Toro Rosso poderia competir com o atual campeão da Indycar, Josef Newgarden, uma solução pontual, mas que daria ao campeão atual da Indycar o gostinho de pilotar na F-1, justamente no GP de seu país na categoria. Seria interessante, mas até o momento, nada oficial foi anunciado. Vejamos se conseguem resolver isso...

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