"Empurra que vai..." Pior que não foi... O dilema da temporada 2017 na McLaren-Honda... |
Definitivamente, os
tempos atuais são outros. Na Fórmula 1, imaginem que, no início dos anos 1990,
todo mundo queria uma lasca dos investimentos japoneses na categoria máxima do
automobilismo. Vendo o sucesso alcançado pela Honda no fornecimento de motores
às equipes Williams e depois McLaren, ter uma parceria com a turma da Terra do
Sol Nascente virou uma das prioridades das escuderias. É verdade que nem tudo
dava certo exatamente: a Yamaha, tradicional rival da Honda no mercado de
motos, também resolveu se aventurar como fornecedora de motores, mas suas
empreitadas estiveram longe de conseguir os mesmos resultados, fornecendo
propulsores primeiro para a Zackspeed (1989), e depois para a Jordan (1992).
Mas não era preciso
ter uma parceria restrita ao setor técnico: os japoneses, com sua economia
bombando (eram a segunda potência econômica do mundo, perdendo somente para os
Estados Unidos), e sinônimo de tecnologia de ponta, várias empresas nipônicas
de ramos variados resolveram também patrocinar times na categoria, que via
também receber seus primeiros pilotos nipônicos no grid, Satoru Nakajima (desde
1987) e Aguri Suzuki (1990). Mas, de lá para cá, as coisas mudaram: a economia
japonesa entrou em um período de estagnação (ao modo deles, claro), e o
entusiasmo dos nipônicos pela F-1 também esmoreceu após a perda de Ayrton
Senna, o piloto com quem mais eles se identificavam, personificando a
determinação e a bravura do espírito japonês. Na verdade, o Japão nunca saiu da
F-1, só acalmou os ânimos, e se tornou um parceiro como tantos outros de times
e pilotos na categoria máxima. O período de oba-oba, movido pelo sucesso, e
comemorado de forma entusiástica e até exagerada, nunca mais se repetiu.
Os japoneses ainda
amam a F-1, e ainda há empresas que seguem firmes como patrocinadores de times,
como a Epson, gigante mundial de informática, que estampa seus logos nos carros
da campeã Mercedes. Mas não é preciso mais ficar em um sorteio para ver se terá
direito a comprar ingresso para poder assistir ao Grande Prêmio do Japão. Acreditem,
houve época onde os fãs primeiro tinham que se cadastrar para poderem concorrer
ao direito de comprar o ingresso para a corrida. Tudo porque mais de um milhão
de pessoas queriam ver a corrida, mas impossíveis de serem acomodadas no
autódromo de Suzuka. Portanto, a solução mais justa era sortear o direito de
comprar o ingresso. Hoje, Suzuka ainda enche o autódromo nos fins de semana de
GP, mas dentro de sua capacidade de lotação. A euforia daqueles tempos passou,
embora a paixão pela velocidade continue firme.
Mas nem tudo continuou
exatamente em paz, e é aqui que debato novamente um assunto que todos concordam
que já virou o maior mico da temporada atual na F-1: Sim, mais uma vez, é a Honda
que está na berlinda em sua atual participação na categoria máxima do
automobilismo. No dia 17 de março deste ano, eu já havia escrito uma coluna
onde receava que a terceira temporada da associação McLaren-Honda poderia ter
um outro ano de calvário, tão ou até pior do que os dois anos anteriores. A
pré-temporada havia sido um desastre, e os japoneses pareciam mais perdidos do
que cego em tiroteio. O ano não prometia muitas esperanças. Isso se
confirmaria, ou veríamos alguma esperança em meio às trevas que se
apresentaram?
Bem, infelizmente, não
veio nenhuma esperança... Pelo menos, as que fariam a felicidade dos
envolvidos. A temporada começou do jeito como todos temiam: a McLaren novamente
no fundo do grid, e lutando contra uma nova unidade de potência que não
mostrava nem performance e nem confiabilidade. A situação chegou a um ponto
onde o divórcio do acordo esteve próximo de ser anunciado, não fossem as
negativas da McLaren em conseguir um novo propulsor para 2018, o que ainda
estaria tentando conseguir.
Completamente
desnorteados, os japoneses começaram a procurar novos parceiros para a próxima temporada,
procurando se prevenir de perder a parceria com a escuderia de Woking. Ainda
lembro de 1987, em Monza, quando a Honda anunciou que estava deixando a
Williams para se associar justamente à McLaren. O time de Frank teve que se
virar e correr com motores Judd V-8 aspirados que só permitiram ao time marcar
pontos esporadicamente, já que devia tanto potência quanto confiabilidade. No
ano seguinte, seria a Lotus que ficaria de fora dos planos dos japoneses, mesmo
tendo a presença de Nélson Piquet, o primeiro piloto a conquistar um título de campeão
do mundo com os motores nipônicos. Pois é, a Honda largava sem dó nem piedade.
Agora, é a fábrica japonesa que arrisca levar um pontapé nos fundilhos. Quem
imaginaria uma rejeição dessas, mesmo no ano passado?
A Honda conseguiu o
que muitos imaginavam ser impensável: primeiro, fez um acordo para fornecer
motores à Sauber teoricamente bem aceitável, ainda mais do ponto de vista
financeiro, pois além dos motores a custo zero, a fábrica ainda colocaria
dinheiro no time. Mas, a direção esportiva da escuderia suíça mudou de mãos, e
com isso, o acordo com os japoneses foi literalmente jogado para escanteio, e o
time de Hinwill preferiu continuar a ser impulsionado pelos propulsores da
Ferrari a pagarem mico com as unidades nipônicas. Faz certo sentido: se com um
carro que, quando conseguiu mostrar alguma performance, demonstrou ter boas
qualidades técnicas, a McLaren ainda se arrastou em diversas corridas, mal
conseguindo chegar na zona de pontuação, imaginem aquele que é considerado o chassi
mais fraco do grid, com a pior unidade de potência... Em outros tempos, o
aporte financeiro dos japoneses até compensaria, já que a Sauber vive dias
financeiros delicados, mas pelo visto, o buraco se mostrou tão embaixo que nem
eles quiseram arriscar e afundar ainda mais.
A Sauber desistiu de receber os propulsores da Honda em 2018. Quem imaginaria isso...? |
Então, a próxima
cartada dos nipônicos ventilada no paddock passou a ser com a Toro Rosso, que
seria até comprada pelos japoneses, e receberiam as unidades de potência. Mas
não é que nesta semana acabaram de anunciar que este novo acordo também acabou
de ir para o vinagre? Oficialmente, as justificativas foram de divergências
financeiras. Bem, podem realmente ter sido, mas que ninguém duvide que, feito
um balanço geral das possibilidades, a turma do time B dos energéticos se deu
conta de que as possibilidades de sucesso com os nipônicos não pareciam tão
promissoras quanto às com os franceses, que atualmente equipam os carros
construídos pelo time de Faenza, que bem ou mal, até que tem feito um ano
razoável, apesar dos problemas enfrentados.
Em outras palavras, a
Honda conseguiu ser rejeitada por ambos os times. Realmente, quem poderia
pensarem tal situação há algum tempo atrás? E olha que alguns times, como a Red
Bull ainda agradeceram de forma irônica a Ron Dennis por ele não ter permitido
à Honda fornecer suas unidades de potência a mais nenhum time. Dennis queria
que a McLaren fosse a única a desfrutar das benesses das unidades da Honda, mas
o tiro saiu completamente pela culatra. E, no balanço da primeira metade da temporada,
muitos davam como certo o fim da associação com a McLaren, que engoliria seu
orgulho, e aceitaria correr com qualquer outra unidade de potência do grid.
Mesmo com todos os prós e contras elencados no meu texto de 17 de março, que
continuam plenamente válidos, era cada vez mais certo, conforme a temporada
avançava, que o divórcio entre as partes seria sacramentado a qualquer momento.
Mas, até então, a Honda vinha tentando estabelecer novas parcerias, como
citado, primeiro com a Sauber, e depois com a Toro Rosso. Havia como evitar o
pior, e pelo menos a Honda continuaria na F-1. Agora, depois desta rejeição por
parte destas escuderias, a situação mudou radicalmente. Mas não foram só os
japoneses que levaram negativas: a McLaren também não teria tido a resposta desejada
da Mercedes, e teria tentado apelar até mesmo para a Ferrari, o que demonstra o
desespero em que a situação chegou no time inglês.
Os franceses já levaram uma saraivada de críticas tanto da Red Bull quanto da Toro Rosso mas... Ruim com eles, pior ainda com a Honda, pelo menos para o time de Faenza... |
Realmente, a situação
da Honda ficou bem complicada, e tanto os japoneses como a McLaren estão em uma
sinuca de bico. A escuderia inglesa se aproxima de um momento crucial, onde tem
de começar a decidir como será o bólido de 2018. Negativas de Mercedes e
Ferrari (esta última mais do que óbvia), resta à escuderia de Woking como única
opção possível a Renault, que mesmo não estando uma maravilha, são mais
competitivos do que a Honda. Trocar as unidades japonesas pelas francesas
significaria a saída da Honda, novamente, da F-1, mas, pior de tudo, a marca
nipônica amargaria um fracasso sem precedentes na história recente da
categoria, e um abalo em sua reputação que eles decididamente não querem
carregar. Afinal, eles estão associados a um time com uma estrutura de campeã
na F-1. O carro mostra qualidades, e eles ainda tem um piloto de talento
inquestionável como Alonso, que vem dando o máximo de si na pista, levando o
time literalmente nas costas. Tudo aponta para a Honda como culpada maior do
fiasco do projeto, e não há como negar isso. Mais do que a reputação, é a honra
da Honda e dos próprios japoneses que estão em jogo.
Para tentar evitar
isso a todo custo, Yusuke Hasegawa, chefe do projeto da marca japonesa,
anunciou que eles tentarão promover novas atualizações extras ainda este ano na
unidade, a fim de melhorarem sua performance. A ordem é conseguir convencer não
apenas a McLaren, mas também Fernando Alonso, a permanecerem firmes e juntos na
parceria em 2018. Pelo sim, pelo não, o espanhol já deu um tempo “extra” para
definir o que fará de sua vida no próximo ano até o fim de outubro, quando
antes o prazo era setembro. Fernando sabe que não tem opções mais viáveis à
mesa, e outras categorias como a Indy ou o WEC, não são tão atrativas como
poderiam ser. E perder o espanhol, mesmo mantendo a McLaren, seria um prejuízo
considerável, pois Hasegawa entende perfeitamente que sem o asturiano, os
resultados obtidos até agora pela parceria McLaren/Honda seriam ainda mais pífios.
Sem rumo para 2018? Fernando Alonso adiou o prazo de sua definição para o próximo ano. Opções na mesa ficaram escassas para o espanhol... |
Foi um erro crasso os
japoneses abandonarem o projeto do motor que vinha sendo desenvolvido desde
2014, para apostar em uma arquitetura completamente nova nesta temporada. Até
quem não estava envolvido no projeto já previa que os japoneses estariam dando
um tiro no pé, o que se comprovou, e agora precisam recuperar o terreno a todo
custo. Hasegawa inclusive afirmou que a performance atual do motor é o que
todos esperavam de fato para o início da temporada. De fato, houve uma
evolução, mas a confiabilidade continua pífia, e em um ano onde não há mais
aquela limitação de tokens de desenvolvimento, utilizadas nos últimos anos, o
ano da Honda, mesmo que tivesse começado a temporada com a performance atual da
unidade de potência, continuaria decepcionante.
Na melhor das
hipóteses, a parceria deve se manter em 2018, pela única falta de opção para
ambas as partes. A Renault, última esperança dos ingleses, não parece propensa a
aumentar de três para quatro seu número de equipes associadas, e portanto, terá
que se virar realmente com os japoneses na próxima temporada, que a rigor,
seria realmente a última chance dos nipônicos se redimirem na categoria. Sair
seria um desastre para a honra e a imagem da marca japonesa. Já a McLaren, por
mais que deteste, no momento não pode prescindir do apoio financeiro dos
japoneses ao time, que não conseguiu repor os patrocinadores perdidos nos
últimos anos. É um abraço de afogados no momento, mas também é a única
esperança de ambos se salvarem. Todos terão que ser pacientes por mais um ano,
se quiserem se salvar, entre mortos e feridos. O problema é que nos últimos
anos, a temporada seguinte sempre foi aguardada com muita ansiedade e
expectativa de melhoras, no estilo “agora a coisa vai...”, mas dessa vez, o
entusiasmo michou de vez, a ponto de unicamente se pensar em outro termo, o “tomara
que não piore ainda mais...”. O que irá realmente ocorrer? Todo mundo está trabalhando
duro para achar uma resposta, tanto em Woking, na Inglaterra, quanto em Sakura,
no Japão. Ninguém está fazendo corpo mole.
Resta saber se todo
este esforço será finalmente recompensado em 2018. No momento, não dá para ter
certeza de absolutamente nada...
O campeonato 2017 da Indycar
entra em sua reta final, e neste final de semana os pilotos estarão na pista
para outra prova de 500 milhas, desta vem no velocíssimo circuito trioval de
Pocono, em Long Pond, Pensilvânia. Depois, os pilotos ainda terão a prova de
Gateway, última etapa em circuito oval da temporada. As duas corridas finais,
em Watkins Glen e Sonoma, ocorrem em circuitos mistos. Josef Newgarden lidera o
campeonato por uma pequena margem, com apenas 7 pontos de vantagem para o brasileiro
Hélio Castro Neves. Mas Helinho, por sua vez, está apenas 1 ponto à frente de
Scott Dixon, e ter o neozelandês nos calcanhares não permite que se possa
baixar a guarda. Simon Pagenaud, o atual campeão, vem 10 pontos atrás do
brasileiro, e também é um oponente perigoso. Will Power, um pouco mais atrás,
também não pode ser subestimado. Prova disso é que no ano passado o australiano
foi o vencedor em Pocono, e está determinado a chegar junto de seus companheiros
na Penske para a decisão do título. Hélio costuma andar bem nos superspeedways,
e ele teve uma boa performance em Pocono em 2015, mas no ano passado sofreu um
acidente bizarro nos boxes quando Alexander Rossi literalmente capotou em cima
dele durante uma das paradas da prova, tirando os dois pilotos da competição. O
brasileiro, aliás, que pode ser transferido para o IMSA Weather Tech Sportscar,
onde a Penske também irá competir em 2018, quer mais do que nunca chegar ao
título da Indycar, e com isso, continuar na categoria de monopostos dos Estados
Unidos. Se for campeão, Roger Penske ficará em uma saia justa para colocá-lo
para defender seu time em outro certame. Por enquanto, o destino do brasileiro
ainda não foi oficialmente definido, mas Helinho tem obrigação moral, e para si
próprio, de ser campeão pela Penske na Indycar, objetivo que vários de seus
companheiros da escuderia já conquistaram desde que ele passou a pilotar para
Roger Penske, de 2000 para cá, como Gil de Ferran, Sam Horsnish Jr., Will Power,
e Simon Pagenaud. E agora ainda tem Josef Newgarden entusiasmado para deixar o
brasileiro ainda na fila de espera. Se Hélio quer ser campeão, o momento é
agora... Ou poderá ser nunca...
A pista de alta velocidade de Pocono sedia a segunda prova de 500 Milhas da temporada 2017 da Indycar. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário