O belíssimo circuito de Spa-Francorchamps recebe a F-1 na volta das férias de verão na Europa. Hora de voltar ao batente... |
A Fórmula 1 encerrou
suas férias de meio de temporada, e cá estamos nós de volta ao batente, onde hoje
entram na pista novamente os bólidos da categoria. Se o cenário de Hungaroring
nunca deixa saudades, o cenário da volta é dos mais belos e aguardados do ano:
a região das Ardenhas, na Bélgica. É aqui que está localizada a pista preferida
de 9 entre 10 pilotos da categoria máxima do automobilismo, o belo traçado de Spa-Francorchamps,
antigamente composto de estradas públicas que eram fechadas na época do GP para
compor o circuito, mas que atualmente é praticamente um autódromo permanente,
com a abertura de novas estradas que substituíram as que eram usadas para
compor o circuito. Com subidas, descidas, curvas fechadas, curvas de alta, bons
trechos de reta, Spa é uma pista completa, e ao estilo antigo. Impossível não
gostar desta pista... Mas sempre tem alguém que não gosta, mas deixa para lá. O
importante é que é hora do duelo recomeçar, e todo mundo chegou ao circuito com
novidades para mostrar.
Na guerra entre
Ferrari e Mercedes, ambos os times chegaram com novidades para tentar manter-se
à frente do adversário. Se a Ferrari foi melhor no traçado travado da Hungria,
algo que todos já esperavam, aqui em Spa é a Mercedes que assume o papel de favorita,
por se tratar de uma pista de alta velocidade, e cujos trechos de subida, com
destaque para a sequência da Eau Rouge-Raidillon, exigem muito do motor. E para
tanto, o time alemão trouxe vários incrementos em sua unidade de potência, para
simplesmente mandar ver na pista. Não apenas aqui, como em Monza, potência é
fundamental, e cavalaria a menos no motor pode fazer uma grande diferença.
Não por acaso, Renault
e Honda trouxeram pacotes de modificações para seus propulsores, visando
diminuir seu déficit de potência perante as unidades de Ferrari e Mercedes.
Especialmente a Honda, que se vê quase fora daF-1 em 2018 com as negativas de
Sauber e Toro Rosso por suas unidades de potência, e que agora tenta mostrar à
McLaren todas as suas cartadas para continuarem mantendo a parceria no próximo
ano. Os japoneses tiveram de engolir o seu orgulho, e passaram a receber
auxílio da Ilmor, que no ano passado foi responsável pelo incremento de
performance nas unidades da Renault, para tentar salvar o seu projeto de F-1 de
um fracasso quase absoluto. De fato, está havendo melhoras na unidade, massa performance
e confiabilidade ainda estão um tanto aquém do que se poderia esperar. A
fábrica nipônica promete que seu pacote de atualizações é agressivo, para
tentar dar tudo por tudo, e novas evoluções estão programadas para serem
implantadas até o fim da temporada, em número muito maior do programado
inicialmente. A ordem é manter firme a continuidade com a McLaren, e isso envolve
a permanência de Fernando Alonso também. O espanhol, de certa forma, decidiria
seu futuro agora em setembro, mas mudou os planos e deverá fazê-lo somente em outubro.
Certamente, o empenho
dos japoneses deve estar se fazendo sentir, pelo tempo a mais que o bicampeão
deu para tomar sua decisão. Enquanto isso, o time de Woking já confirmou a
renovação de Stoffel Vandoorne para o próximo ano, enquanto tenta garantir que
Alonso fique no time. Os maiores trunfos nessa negociação são garantir o
salário milionário que Fernando ganha no time, e que não encontraria em nenhum
outro lugar, e as promessas do empenho conjunto da Ilmor com a Honda de
conseguirem evoluir o projeto da unidade de potência híbrida para 2018. Um
acordo com a Renault ainda seguiria sendo negociado, mas as chances não andam
lá muito entusiasmantes.
A Honda trouxe um novo pacote de atualizações para tentar não dar vexame na veloz pista belga com a McLaren. Resta saber se vai funcionar... |
Para a Renault, o
palco de Spa é ideal para confirmar as evoluções de seu propulsor. No ano
passado, o time da Red Bull teve uma performance inspirada aqui, e se não
conseguiu discutir a vitória, esteve no pódio, com uma performance sólida e
encorajadora. A idéia é repetir a performance, e mostrar que a marca francesa está
empenhada em evoluir suas marcas. Justamente com a Red Bull, o propulsor francês
evoluiu muito em termos de resultados na segunda metade da temporada passada, e
com o time dos energéticos sempre evoluindo, superou a Ferrari com sobras e foi
vice-campeã. O objetivo é tentar repetir o feito, mas será difícil, uma vez que
o time de Maranello está muito forte este ano.
E, falando novamente
da Ferrari, a escuderia italiana confirmou Kimi Raikkonen por mais um ano na
escuderia. Com o finlandês não ameaçando seriamente Sebastian Vettel, a renovação
de Kimi atende aos desejos do tetracampeão, que não gostaria de ver um
companheiro que lhe desse dor de cabeça ao lado no box. Ainda sem contrato para
2018, a renovação de Raikkonem é um dos agrados para Vettel renovar com o time
rosso. A disputa agora seria pelo tempo de contrato, com Vettel querendo apenas
um ano, já visando a Mercedes em 2019, enquanto os ferraristas querem dois
anos. Um acordo deve ser fechado em breve, até porque a Ferrari gosta de
anunciar suas novidades de pilotos para o ano seguinte em Monza, na Itália, diante
dos tiffosi. A renovação é o caminho mais lógico, uma vez que Sebastian
praticamente não tem para onde ir, se quiser um carro competitivo à mão. Quanto
a Kimi, o time espera que ele repita a performance da Hungria, andando forte,
mas atrás de Vettel, e servindo de escudeiro para o alemão.
Sebastian Vettel chegou a Spa na liderança do campeonato com a Ferrari, e pretende continuar nela. Mas Lewis Hamilton (abaixo) e a Mercedes tem outras idéias... |
Se a Ferrari atenta contra
a competição com sua política tacanha de preferir apenas Vettel, a Mercedes vem
com seus dois pilotos em condições de luta efetiva pela vitória, pelo menos, a
princípio. Valtteri Bottas vem chegando perto da dupla duelista do título, e já
tem tanto Lewis Hamilton quanto Sebastian Vettel na alça de mira. Um erro de
qualquer um deles, e o finlandês pode se incluir de vez na luta pelo título. A
rigor, espero que a Mercedes confirme seu favoritismo nas pistas de alta, pois
isso certamente significará liberdade total para sua dupla de pilotos na pista.
Em tese serão dois pilotos contra apenas um, já que a Ferrari não vai querer
que Raikkonen complique as coisas para Vettel na pista. Mas, estamos falando de
Spa, e se tem um piloto que anda a fundo aqui, é justamente o “Homem de Gelo”. Kimi
ainda se considera capaz de vencer corridas e campeonatos, e a grosso modo,
gostaria mesmo de vê-lo voltar a vencer com o carro vermelho. Só que para isso
acontecer, Vettel terá que ou estar fora da corrida, ou tremendamente
complicado dentro dela, para que o finlandês possa pisar fundo de fato.
Foi extremamente frustrante
vê-lo bem mais rápido que Sebastian em Hungaroring, e ele ter ficado acomodado
em seu papel de escudeiro do alemão, defendendo-o dos ataques da dupla da
Mercedes na prova. Para mim, jogo de equipe, só na última etapa, quando um dos
pilotos não tiver mais chance, e não essa palhaçada premeditada pela Ferrari.
Como também não gostei de ver o que a Mercedes já andou aprontando com Bottas
em alguns momentos este ano, mas pelo menos o time alemão não está podando as
chances de seu finlandês como a Ferrari tem feito como Kimi, que é verdade ter ficado
devendo em várias corridas, mas não deveria ser “proibido” de disputar melhores
posições quando em condições de fazê-lo. Numa comparação entre Ferrari e
Mercedes, esportivamente falando, prefiro a ver a Mercedes ganhar o título, com
seus dois pilotos mais livres na pista em disputa, para mostrar aos italianos
que seu modo de ver as coisas prejudica a emoção nas corridas e o esporte.
Podem me tachar de ingênuo por pensar assim, mas é como vejo que as coisas deveriam
ser realmente, e não como são de fato, onde interesses corporativos ditam os
rumos, e o esporte que se dane. Um time só é verdadeiramente forte quando todos
os seus integrantes podem dar tudo de si, sem restrições, e a Ferrari,
atualmente, é quem mais fere esse pensamento. Que a Mercedes possa disputar o
título sem precisar se rebaixar assim.
Por isso mesmo, é que
Max Verstappen dificilmente será piloto do time italiano se Vettel estiver por
lá. O atrevido holandês já afirmou que não interessa quem está disputando o
título: ele irá partir para cima com tudo o que tem, fazendo a sua corrida. Já
imaginaram ele atropelando a hierarquia da Ferrari? Vettel iria entrar em
parafuso... E, exageros à parte de Max, como o ocorrido na largada da prova da Hungria,
onde ele acabou acertando seu próprio companheiro de time Daniel Ricciardo, é
assim mesmo que os pilotos devem se portar: buscar o melhor resultado possível,
não importa quem esteja à sua frente. O público quer disputa, a emoção dos
duelos, os riscos das ultrapassagens. E os carros atuais permitem aos pilotos
serem muito mais arrojados e determinados do que nos últimos anos. É
simplesmente ir para o duelo na pista, sempre em busca das melhores posições
disponíveis.
Tivemos uma primeira metade
de temporada com alguns bons duelos, e depois de alguns anos, pilotos de mais
de uma escuderia duelando firme pelo título. Se Raikkonem estivesse melhor, e seu
time o permitisse, veríamos uma briga a quatro, e não a dois, com um terceiro
chegando perto rapidamente para engrossar a disputa. No pelotão intermediário
até que temos visto bons pegas, com vários duelos interessantes que só não
foram melhores porque a Williams degringolou rápido, e a McLaren andou para
trás ao invés de ir para a frente. Ambos têm chance de tentarem a redenção parcial
nesta segunda metade do ano, pelo menos antes de se concentrarem na temporada do
ano que vem, e melhorarem significativamente os duelos do segundo bloco.
O duelo pelo título da
temporada tem tudo para ir até o final do ano. Os times não ficaram parados
durante as férias do verão europeu, e certamente várias atualizações nos
bólidos foram feitas visando incrementar o desempenho de seus carros. A
Mercedes havia conseguido sair à frente desde a etapa do Canadá, restando à Ferrari
minimizar os prejuízos. Tanto deu certo que Vettel lidera com alguma folga
sobre Lewis Hamilton, especialmente depois do desastre de Silverstone, quando o
time italiano viu seus pilotos quase irem a nocaute no final da corrida por
problemas nos pneus, enquanto a Mercedes fazia a dobradinha com seus dois pilotos.
Agora, depois destes trabalhos de desenvolvimento realizados nas fábricas, qual
carro estará melhor na pista? A Mercedes continua melhor, ou os italianos conseguiram
recuperar sua performance e enfrentar os alemães de igual para igual, ou de
forma superior? Começaremos a ver isso nos treinos livres de hoje. O duelo
recomeça naF-1!
Antes da corrida deste domingo, será
feita uma homenagem pela F-1 a Michael Schumacher, pela comemoração dos 25 anos
da primeira vitória do piloto que viria a ser o maior campeão e vencedor de
todos os tempos da categoria. Mick Schumacher, filho de Michael, irá guiar o
modelo B194 com o qual o pai foi campeão mundial pela primeira vez em 1994, na pista
belga. Foi aqui que Michael venceu pela primeira vez na F-1, exatamente um ano
após sua estréia, neste mesmo circuito, pilotando a Jordan, substituindo o
belga Bertrand Gachot, que havia sido preso em Londres por agressão. Michael
viria a se tornar o piloto a vencer mais vezes neste circuito, com nada menos
do que seis vitórias, além de se tornar o piloto com mais títulos conquistados na
história, sete, e o que mais provas venceu, 91 corridas. Hoje, o estado do
piloto é praticamente desconhecido do grande público, após sofrer um acidente
esquiando há alguns anos. A família ergueu e mantém a ferro e fogo um silêncio
supremo sobre suas condições, alegando privacidade, de modo que, especulações e
teorias de acordo com os ferimentos sofridos pelo piloto, não dão muitas
esperanças de que ele esteja recuperado do acidente que sofreu.
Uma das marcas recordes obtidas
por Michael Schumacher, contudo, poderá ser igualada neste final de semana, em Spa:
o de pole-positions. O heptacampeão largou 68 vezes na frente, superando Ayrton
Senna por 3 poles a mais. Mas Lewis Hamilton já acumula 67 pole-positions, e
tem tudo para ser o novo recordista nesta modalidade na história da categoria
máxima do automobilismo. Se fizer o melhor tempo, ele igualará as 68 poles de
Michael, e na prática, assumirá a liderança do ranking, já que continua em
atividade, podendo superar de vez a marca já em Monza, na Itália, palco da
próxima corrida. Com relação a títulos, vai levar um tempo até ele ser
igualado: Lewis Hamilton, caso conquiste o título da temporada, será
tetracampeão, e ainda faltarão 3 títulos para igualar Michael. Sebastian Vettel
já é tetracampeão, e se vencer o título de 2017, chegará ao pentacampeonato, e ainda
levará no mínimo até 2019 para conseguir empatar com Schumacher. No que tange
ao número de vitórias, tanto Hamilton quanto Vettel ainda estão longe de chegarem
perto da marca de 91 vitórias do heptacampeão: Lewis é o segundo piloto com
mais vitórias na história até agora, com 57 triunfos; já Sebastian tem 46
vitórias, e estatisticamente, é o 4º colocado no ranking, ainda estando atrás de
Alain Prost, 3º colocado, com 51 vitórias.
Stoffel Vandoorne fará sua
estréia correndo na F-1 em casa, mas o fim de semana já começa complicado para
o jovem belga: se por um lado eleteve aconfirmação da renovaçãodeseucontrato
com a McLaren para a próxima temporada, por outro lado, a Honda precisou
efetuar diversas trocas de componentes em sua unidade de potência, ocasionando
a perda de nada menos do que 35 posições no grid, o que já o coloca largando em
último lugar no grid. Mas já ouvi piadas dizendo que as punições de posições a Vandoorne
são tantas que ele largaria da pista de Zolder, enquanto a corrida é em
Spa-Francorchamps... Melhor que as atualizações prometidas pela Honda dêem
resultado, ou o domingo será um dia extremamente difícil para todo o time da McLaren,
e não apenas para Stoffel...
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