Depois de assistirmos
a uma boa corrida da Fórmula 1 na China, com uma ajudinha providencial de São
Pedro, que molhou a pista e ofereceu as condições imprevisíveis que sempre
ajudam a categoria máxima do automobilismo a oferecer corridas muito mais
interessantes do que o esperado, eis que a categoria chegou ao Bahrein para a
disputa da terceira corrida da temporada, com expectativas em alta de vermos
outra prova com bons duelos e emoções, a confirmarem que o que vimos na
Austrália não será a tônica da competição em 2017. Mas, as expectativas para o
fim de semana ficaram em segundo plano com o anúncio de Fernando Alonso
disputar as 500 Milhas de Indianápolis deste ano, em um acordo com a equipe
Andretti Autosport, Honda, e a própria McLaren. Não se fala em outra coisa aqui
no paddock barenita, e a sensação é mais do que compreensível.
Fernando Alonso é
destaque na temporada por estar correndo com um carro pouco competitivo, fruto
de uma união que até agora não rendeu o que todos esperavam. Mesmo assim, o
bicampeão espanhol deu show nas duas corridas disputadas até agora, levando no
braço um carro que não lhe dá a mínima chance de disputar as primeiras
posições. E ainda por cima, abandonando por problemas mecânicos. Tudo indica
que, se a performance não melhorar, o espanhol pula fora em 2018. Para onde?
Muitos gostariam de saber, e pelo sim, pelo não, Lewis Hamilton já tratou de
enaltecer seu atual parceiro de equipe Valtteri Bottas, como o melhor
companheiro que poderia ter, procurando resguardar seu terreno e garantir que a
cúpula da Mercedes, que sabe que a presença de Alonso poderia tumultuar a
equipe, sim, mas que dependendo do rendimento do finlandês, pode ser necessário
garantir o poderio do time na pista. E com Fernando no box ao lado, Hamilton
pode ter alguns pesadelos nada agradáveis...
O que começou como uma
brincadeira ganhou ares sérios quando os contatos começaram a ser feitos. E
tudo está acertado para a participação do espanhol em Indianápolis. Logicamente,
ele perderá o Grande Prêmio de Mônaco, que é disputado no mesmo dia, mas pelo
modo como a McLaren está pouco competitiva, o sacrifício não parece tão ruim
assim. Em Indy, Alonso terá a seu dispor um chassi igual ao de todos no grid, e
com um motor Honda que vem dando as cartas no momento na competição da
categoria estadunidense, como mostram as vitórias de Sébastien Bourdais e James
Hinchcliffe nas duas provas até agora disputadas, em São Petesburgo e Long
Beach. E a participação de Alonso também marcará o retorno da McLaren à célebre
corrida, onde já competiu nos anos 1970, onde obteve três vitórias no famoso
oval de Indiana.
Tudo acabou acertado
neste final de semana passado na China, e Alonso irá alinhar inclusive um carro
com a famosa pintura laranja original da McLaren, em homenagem ao fundador do
time, Bruce McLaren. E a equipe Andretti é a atual campeã de Indianápolis,
tendo vencido a corrida no ano passado, com o novato Alexander Rossi. E
justamente por isso fica a expectativa do que Alonso poderá conseguir na
Indy500. Se um novato considerado um “zé ninguém” por muitos até então
conseguiu essa proeza, o que o asturiano, tido como piloto mais completo da
F-1, não poderá conseguir? Claro, convém ir devagar um pouco com a empolgação,
mas a chance de uma vitória existe, sim. Mas Indianápolis tem suas nuances, e
Fernando, apesar de seu talento, precisará dominar os segredos e
particularidades da pista oval, e contar com uma boa estratégia de box, e se
garantir na pista. E convenhamos: as chances de um bom resultado em Indy serão
potencialmente muito maiores do que em Mônaco, dado o atual estado de
competitividade da McLaren, que já adiantou que deverá contar com Jenson Button
na corrida monegasca, substituindo o espanhol.
Alonso quer conquistar
a Tríplice Coroa do Automobilismo, como são encaradas as 24 Horas de Le Mans,
as 500 Milhas de Indianápolis, e o Grande Prêmio de Mônaco de F-1. Fernando já
venceu duas vezes no famoso principado, e nunca escondeu que gostaria de estar
em Le Mans. Há dois anos, surgiu uma chance, mas Ron Dennis e a Honda vetaram a
participação do espanhol, que foi convidado pela Porsche para integrar o seu
terceiro carro na corrida. E o veto ficou ainda mais amargo quando o piloto viu
Nico Hulkenberg, escolhido em seu lugar, vencer a corrida, e garantir fama pelo
restante do ano. Felizmente, a direção da McLaren hoje está a cargo de outra
pessoa, Zak Brown, e ele tem uma mentalidade diferente, e está muito empolgado
em proporcionar essa chance a Alonso, que pode marcar o retorno efetivo da
McLaren ao circuito oval. É verdade também que a Honda, ciente de que está
devendo, e muito, melhores resultados na F-1, tem nesta participação de Alonso
na Indy500 uma forma de compensação ao piloto, que vem tirando leite de pedra
de um carro e motor pouco competitivos, e ajudando a minimizar um pouco a
vergonha que a fábrica nipônica está tendo de encarar na F-1. Uma vergonha que
felizmente não existe na Indy, onde seus times estão muito competitivos no
momento, tendo apenas a Penske como time capaz de enfrentá-los.
Graham Hill (no carro), ao lado de Parnelli Jones e Jim Clark. Hill foi o único piloto a vencer a Indy500, Mônaco na F-1, e as 24 Horas de Le Mans. |
Apenas um piloto
conseguiu até hoje vencer a Tríplice Coroa: Graham Hill. Outros pilotos
campeões da F-1 já disputaram a Indy500, mas sem obter vitória em todas as
outras provas. Jim Clark, no ano de 1965, também sacrificou sua participação no
GP de Mônaco para estar presente em Indianápolis, e venceu a corrida. O escocês
voador ainda venceria 6 corridas na F-1, faturando o bicampeonato de maneira
incontestável. Émerson Fittipaldi foi duas vezes campeão em Indianápolis, mas
nunca venceu em Mônaco. Mario Andretti também tentou, e não conseguiu. Nélson
Piquet não conseguiu vencer em nenhuma das duas corridas, assim como Nigel
Mansell. Jacques Villeneuve venceu a Indy500 antes de ir para a F-1, mas
acumulou dois abandonos no principado nas temporadas de 1996 e 1997, quando
tinha carro para discutir a vitória. Dos pilotos que estarão no grid de
Indianápolis este ano, Juan Pablo Montoya, mesmo não tendo sido campeão da F-1,
já venceu em Mônaco, e é bicampeão da Indy500. Falta ao colombiano disputar a
corrida em Sarthe para tentar completar a lista de conquistas.
A parada de Alonso em
Indianápolis, entretanto, não deve ser tão fácil como muitos imaginam. O mítico
circuito oval tem seus segredos, e mais do que tudo, exige respeito daqueles
que o desafiam. Que Alonso é talentoso e tudo o mais, não se discute, mas só o
talento não garantirá que o espanhol chegue e vença na Brickyard Line. Fernando
precisará se aplicar nos treinos livres para aprender a dinâmica da pilotagem
no circuito oval, em especial a arte de andar no meio do pelotão, que é onde os
pilotos costumam passar mais tempo durante a prova. E as reações do carro no
circuito também são diferentes das reações que um monoposto apresenta em um
circuito misto. Nos velhos tempos, quando a Indy fazia um mês de treinos praticamente
no circuito, todo mundo já largava “calejado” para as 200 voltas na pista.
Atualmente, os treinos são bem mais reduzidos, e se isso, por um lado ajuda
Alonso a manter seus compromissos na F-1, perdendo apenas os compromissos
relativos à etapa de Mônaco, por outro lado reduz substancialmente o tempo de
treinos que poderiam lhe dar maior experiência para encarar a corrida.
Será preciso ver também
como será a preparação do carro da Andretti para o espanhol. E, mesmo que a
escuderia apresente um carro bem acertado, capaz de proporcionar a Fernando
disputar a vitória, ele não estará sozinho na pista. Vários outros pilotos com
capacidade e equipamento para vencer também estarão na parada, e não se pode
nunca ignorar a chance de surgir um acidente pela frente. Indianápolis não
costuma perdoar ninguém, e não é um calouro ou um veterano que deixará de ir
para o muro se algo inesperado surgir e colocar tudo a perder. Pelo sim, pelo
não, Alonso sai daqui do Bahrein direto para os Estados Unidos, onde irá à sede
da Andretti Autosports, em Indianápolis, para conhecer a escuderia e o carro
que irá conduzir. Fernando também estará presente no próximo final de semana na
etapa seguinte do campeonato da Indy, em Barber, no Alabama, para conhecer o
modo de trabalho do time na pista, e já ir se familiarizando com os
procedimentos e modo de agir do time. Em seguida, Alonso volta para a Europa,
para a disputa do GP em Sochi, na Rússia. Volta depois para se familiarizar
mais com a estrutura da Indy, e retorna para a disputa do GP da Espanha, em
Barcelona. As próximas semanas serão de ritmo intenso para Alonso.
Peter Revson, no carro, ao lado de Denis Hulme, no carro da McLaren preparado para a disputa das 500 Milhas de Indianápolis de 1971. |
Antigamente, com a
direção de Bernie Ecclestone, dificilmente Alonso poderia disputar a prova
americana sem criar algumas escaramuças. Ecclestone colocaria toda sorte de
empecilhos para barrar tal iniciativa, pois no seu entender, Alonso está dando
valor a uma prova de uma categoria rival, e para o velho Bernie, a F-1 é tudo.
Ele podia até reconhecer o valor de uma Indy500 ou de uma 24 Horas de Le Mans,
desde que não criassem concorrência com o seu campeonato. Ele não gostou do
cartaz que Nico Hulkenberg ganhou por sua vitória nas 24 Horas de Le Mans há
dois anos, tanto que no ano passado, marcou a prova do Azerbaijão para o mesmo
final de semana, para podar as idéias de qualquer um que quisesse fazer o
mesmo. Na sua concepção, quem está comprometido com a F-1 não deveria competir
em nenhuma outra categoria. Felizmente, Bernie não está mais mandando na F-1, e
o próprio Liberty Media acha o projeto de Alonso e da McLaren bem interessante,
pela divulgação que cria para ambos. Novos tempos que por enquanto deixam a F-1
menos estressante e mais respirável, enfim.
Boa sorte a Alonso em
seu novo desafio. Ele só tem a ganhar. E a F-1 e a Indycar também.
Pascal Wehrlein volta enfim ao
cockpit da Sauber aqui no Bahrein. Antonio Giovinazzi, que o substituiu nas
duas corridas realizadas até aqui fez um excelente trabalho na Austrália,
surpreendendo a muitos, especialmente pelo fato de ter andado apenas no
terceiro treino livre e ido direto para a classificação, além de ter recebido a
bandeirada de chegada sem cometer um erro sequer. Infelizmente, o italiano
conseguiu também a proeza, negativa, de bater forte com o carro duas vezes no
fim de semana na China, o que certamente não ajudou muito a garantir sua boa
imagem da primeira prova. De qualquer maneira, a Sauber até que conseguiu andar
razoavelmente bem para o equipamento de que dispõe, mas a cada corrida os times
rivais devem melhorar sua performance, e as chances de pontuar, que já são
ruins, devem ficar ainda piores, tanto faz com qual dos pilotos o time alinhe
na pista. E na China, Marcus Ericsson foi o último colocado a receber a
bandeirada, e olhe que a chuva no início da corrida até que poderia ter dado
uma força para o time suíço...
Felipe Massa e pisos molhados
definitivamente não se entendem. Depois de fazer uma prova competente em
Melbourne, Massa realizou outro treino de classificação dentro das
possibilidades da Williams, sendo o melhor piloto do “resto” do grid, fora
Mercedes, Ferrari e Red Bull. Mas bastou a corrida começar para ver que não
apenas o piloto brasileiro não conseguiu capitalizar o ambiente anormal de
pista molhada que se apresentava de início como mesmo com a corrida
prosseguindo e o asfalto ficando cada vez mais seco, como o próprio carro da
Williams demonstra ter neste tipo de condição um ponto fraco que já deveria ter
sido devidamente estudado e, no mínimo, corrigido. Com Lance Stroll em mais um
dia negativo, agora abandonando por toque com outro carro, as chances do time
de Grove de pontuar literalmente foram para o vinagre com Felipe andando para
trás nas posições, sendo superado até mesmo por Fernando Alonso com o carro
problemático da McLaren. Massa finalizou a corrida em 14° lugar, a uma volta do
vencedor, e só não ficou em último porque a Sauber estava muito pior. Mas, com
um carro que é teoricamente a quarta força do grid, a equipe técnica da
Williams terá de redobrar seus esforços para amenizar este problema que já
aflige seus projetos nos últimos anos...
Lewis Hamilton e Sébastian Vettel
chegaram a Sakhir com uma vitória cada um e o mesmo número de pontos: 43. Pelo
critério de desempate, Vettel lidera a competição por ter sido o primeiro a
vencer na temporada. O desempate se dará aqui nas areias barenitas, e todo
mundo quer ver novamente o pega que deve ser a tônica do campeonato deste ano.
Na Austrália, Vettel e a Ferrari conseguiram se dar melhor e surpreender a
Mercedes para confirmar que a boa forma dos testes da pré-temporada não eram
fogo de palha. Na China, foi a vez de Hamilton dar o troco e comandar a corrida
com mão firme e não permitir que o alemão da Ferrari desse bote semelhante.
Aliás, a Ferrari, dessa vez, não foi tão eficiente quanto na Austrália, o que
deu uma ajuda ao piloto inglês. Mas, apesar de Sébastian ter sido segundo e
andado muito forte, ele nunca conseguiu ameaçar Lewis diretamente no circuito
chinês. Aliás, para alguns, Hamilton poderia ter andado até mais forte do que
andou em Shanghai, mas preferiu não forçar demais para poupar o equipamento.
Blefe ou realidade? A Ferrari joga que a Mercedes ainda é o melhor carro.
Quanto disso é tática para aliviar a pressão ou disfarçar o real potencial do
time italiano ainda é preciso saber com precisão. A Mercedes parece mais veloz
em voltas lançadas, enquanto a Ferrari parece mais eficiente em ritmo de
corrida. Domingo teremos outra chance de aferirmos nova relação de forças entre
as duas escuderias.
Um comentário:
O certo seria a FIA não permitir a marcação de nenhum dos campeonatos diretamente administrados por ela em corridas chave como Indy500 e 24 horas de Le Mans... O importante é o fortalecimento do automobilismo e não apenas da F1... O futebol tem essa mesma política quando campeonatos do mundo inteiro estão disponíveis para fãs do esporte. A canibalização do esporte só tras prejuízo para o próprio esporte... Tio Bernie agora está com a Fórmula E, mas pra mim o negócio dele era jogar bingo ou tratar da fazenda de café que ele tem no interior de São Paulo
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