sexta-feira, 14 de abril de 2017

ALONSO ROUBA A CENA


Sem perspectivas de bons resultados com o carro capenga da McLaren, Alonso surpreendeu o mundo da F-1 com o anúncio de que irá disputar as 500 Milhas de Indianápolis em maio agora, no lugar do GP de Mônaco.

            Depois de assistirmos a uma boa corrida da Fórmula 1 na China, com uma ajudinha providencial de São Pedro, que molhou a pista e ofereceu as condições imprevisíveis que sempre ajudam a categoria máxima do automobilismo a oferecer corridas muito mais interessantes do que o esperado, eis que a categoria chegou ao Bahrein para a disputa da terceira corrida da temporada, com expectativas em alta de vermos outra prova com bons duelos e emoções, a confirmarem que o que vimos na Austrália não será a tônica da competição em 2017. Mas, as expectativas para o fim de semana ficaram em segundo plano com o anúncio de Fernando Alonso disputar as 500 Milhas de Indianápolis deste ano, em um acordo com a equipe Andretti Autosport, Honda, e a própria McLaren. Não se fala em outra coisa aqui no paddock barenita, e a sensação é mais do que compreensível.
            Fernando Alonso é destaque na temporada por estar correndo com um carro pouco competitivo, fruto de uma união que até agora não rendeu o que todos esperavam. Mesmo assim, o bicampeão espanhol deu show nas duas corridas disputadas até agora, levando no braço um carro que não lhe dá a mínima chance de disputar as primeiras posições. E ainda por cima, abandonando por problemas mecânicos. Tudo indica que, se a performance não melhorar, o espanhol pula fora em 2018. Para onde? Muitos gostariam de saber, e pelo sim, pelo não, Lewis Hamilton já tratou de enaltecer seu atual parceiro de equipe Valtteri Bottas, como o melhor companheiro que poderia ter, procurando resguardar seu terreno e garantir que a cúpula da Mercedes, que sabe que a presença de Alonso poderia tumultuar a equipe, sim, mas que dependendo do rendimento do finlandês, pode ser necessário garantir o poderio do time na pista. E com Fernando no box ao lado, Hamilton pode ter alguns pesadelos nada agradáveis...
            O que começou como uma brincadeira ganhou ares sérios quando os contatos começaram a ser feitos. E tudo está acertado para a participação do espanhol em Indianápolis. Logicamente, ele perderá o Grande Prêmio de Mônaco, que é disputado no mesmo dia, mas pelo modo como a McLaren está pouco competitiva, o sacrifício não parece tão ruim assim. Em Indy, Alonso terá a seu dispor um chassi igual ao de todos no grid, e com um motor Honda que vem dando as cartas no momento na competição da categoria estadunidense, como mostram as vitórias de Sébastien Bourdais e James Hinchcliffe nas duas provas até agora disputadas, em São Petesburgo e Long Beach. E a participação de Alonso também marcará o retorno da McLaren à célebre corrida, onde já competiu nos anos 1970, onde obteve três vitórias no famoso oval de Indiana.
            Tudo acabou acertado neste final de semana passado na China, e Alonso irá alinhar inclusive um carro com a famosa pintura laranja original da McLaren, em homenagem ao fundador do time, Bruce McLaren. E a equipe Andretti é a atual campeã de Indianápolis, tendo vencido a corrida no ano passado, com o novato Alexander Rossi. E justamente por isso fica a expectativa do que Alonso poderá conseguir na Indy500. Se um novato considerado um “zé ninguém” por muitos até então conseguiu essa proeza, o que o asturiano, tido como piloto mais completo da F-1, não poderá conseguir? Claro, convém ir devagar um pouco com a empolgação, mas a chance de uma vitória existe, sim. Mas Indianápolis tem suas nuances, e Fernando, apesar de seu talento, precisará dominar os segredos e particularidades da pista oval, e contar com uma boa estratégia de box, e se garantir na pista. E convenhamos: as chances de um bom resultado em Indy serão potencialmente muito maiores do que em Mônaco, dado o atual estado de competitividade da McLaren, que já adiantou que deverá contar com Jenson Button na corrida monegasca, substituindo o espanhol.
            Alonso quer conquistar a Tríplice Coroa do Automobilismo, como são encaradas as 24 Horas de Le Mans, as 500 Milhas de Indianápolis, e o Grande Prêmio de Mônaco de F-1. Fernando já venceu duas vezes no famoso principado, e nunca escondeu que gostaria de estar em Le Mans. Há dois anos, surgiu uma chance, mas Ron Dennis e a Honda vetaram a participação do espanhol, que foi convidado pela Porsche para integrar o seu terceiro carro na corrida. E o veto ficou ainda mais amargo quando o piloto viu Nico Hulkenberg, escolhido em seu lugar, vencer a corrida, e garantir fama pelo restante do ano. Felizmente, a direção da McLaren hoje está a cargo de outra pessoa, Zak Brown, e ele tem uma mentalidade diferente, e está muito empolgado em proporcionar essa chance a Alonso, que pode marcar o retorno efetivo da McLaren ao circuito oval. É verdade também que a Honda, ciente de que está devendo, e muito, melhores resultados na F-1, tem nesta participação de Alonso na Indy500 uma forma de compensação ao piloto, que vem tirando leite de pedra de um carro e motor pouco competitivos, e ajudando a minimizar um pouco a vergonha que a fábrica nipônica está tendo de encarar na F-1. Uma vergonha que felizmente não existe na Indy, onde seus times estão muito competitivos no momento, tendo apenas a Penske como time capaz de enfrentá-los.
Graham Hill (no carro), ao lado de Parnelli Jones e Jim Clark. Hill foi o único piloto a vencer a Indy500, Mônaco na F-1, e as 24 Horas de Le Mans.
            Apenas um piloto conseguiu até hoje vencer a Tríplice Coroa: Graham Hill. Outros pilotos campeões da F-1 já disputaram a Indy500, mas sem obter vitória em todas as outras provas. Jim Clark, no ano de 1965, também sacrificou sua participação no GP de Mônaco para estar presente em Indianápolis, e venceu a corrida. O escocês voador ainda venceria 6 corridas na F-1, faturando o bicampeonato de maneira incontestável. Émerson Fittipaldi foi duas vezes campeão em Indianápolis, mas nunca venceu em Mônaco. Mario Andretti também tentou, e não conseguiu. Nélson Piquet não conseguiu vencer em nenhuma das duas corridas, assim como Nigel Mansell. Jacques Villeneuve venceu a Indy500 antes de ir para a F-1, mas acumulou dois abandonos no principado nas temporadas de 1996 e 1997, quando tinha carro para discutir a vitória. Dos pilotos que estarão no grid de Indianápolis este ano, Juan Pablo Montoya, mesmo não tendo sido campeão da F-1, já venceu em Mônaco, e é bicampeão da Indy500. Falta ao colombiano disputar a corrida em Sarthe para tentar completar a lista de conquistas.
            A parada de Alonso em Indianápolis, entretanto, não deve ser tão fácil como muitos imaginam. O mítico circuito oval tem seus segredos, e mais do que tudo, exige respeito daqueles que o desafiam. Que Alonso é talentoso e tudo o mais, não se discute, mas só o talento não garantirá que o espanhol chegue e vença na Brickyard Line. Fernando precisará se aplicar nos treinos livres para aprender a dinâmica da pilotagem no circuito oval, em especial a arte de andar no meio do pelotão, que é onde os pilotos costumam passar mais tempo durante a prova. E as reações do carro no circuito também são diferentes das reações que um monoposto apresenta em um circuito misto. Nos velhos tempos, quando a Indy fazia um mês de treinos praticamente no circuito, todo mundo já largava “calejado” para as 200 voltas na pista. Atualmente, os treinos são bem mais reduzidos, e se isso, por um lado ajuda Alonso a manter seus compromissos na F-1, perdendo apenas os compromissos relativos à etapa de Mônaco, por outro lado reduz substancialmente o tempo de treinos que poderiam lhe dar maior experiência para encarar a corrida.
            Será preciso ver também como será a preparação do carro da Andretti para o espanhol. E, mesmo que a escuderia apresente um carro bem acertado, capaz de proporcionar a Fernando disputar a vitória, ele não estará sozinho na pista. Vários outros pilotos com capacidade e equipamento para vencer também estarão na parada, e não se pode nunca ignorar a chance de surgir um acidente pela frente. Indianápolis não costuma perdoar ninguém, e não é um calouro ou um veterano que deixará de ir para o muro se algo inesperado surgir e colocar tudo a perder. Pelo sim, pelo não, Alonso sai daqui do Bahrein direto para os Estados Unidos, onde irá à sede da Andretti Autosports, em Indianápolis, para conhecer a escuderia e o carro que irá conduzir. Fernando também estará presente no próximo final de semana na etapa seguinte do campeonato da Indy, em Barber, no Alabama, para conhecer o modo de trabalho do time na pista, e já ir se familiarizando com os procedimentos e modo de agir do time. Em seguida, Alonso volta para a Europa, para a disputa do GP em Sochi, na Rússia. Volta depois para se familiarizar mais com a estrutura da Indy, e retorna para a disputa do GP da Espanha, em Barcelona. As próximas semanas serão de ritmo intenso para Alonso.
Peter Revson, no carro, ao lado de Denis Hulme, no carro da McLaren preparado para a disputa das 500 Milhas de Indianápolis de 1971.
            Antigamente, com a direção de Bernie Ecclestone, dificilmente Alonso poderia disputar a prova americana sem criar algumas escaramuças. Ecclestone colocaria toda sorte de empecilhos para barrar tal iniciativa, pois no seu entender, Alonso está dando valor a uma prova de uma categoria rival, e para o velho Bernie, a F-1 é tudo. Ele podia até reconhecer o valor de uma Indy500 ou de uma 24 Horas de Le Mans, desde que não criassem concorrência com o seu campeonato. Ele não gostou do cartaz que Nico Hulkenberg ganhou por sua vitória nas 24 Horas de Le Mans há dois anos, tanto que no ano passado, marcou a prova do Azerbaijão para o mesmo final de semana, para podar as idéias de qualquer um que quisesse fazer o mesmo. Na sua concepção, quem está comprometido com a F-1 não deveria competir em nenhuma outra categoria. Felizmente, Bernie não está mais mandando na F-1, e o próprio Liberty Media acha o projeto de Alonso e da McLaren bem interessante, pela divulgação que cria para ambos. Novos tempos que por enquanto deixam a F-1 menos estressante e mais respirável, enfim.
            Boa sorte a Alonso em seu novo desafio. Ele só tem a ganhar. E a F-1 e a Indycar também.


Pascal Wehrlein volta enfim ao cockpit da Sauber aqui no Bahrein. Antonio Giovinazzi, que o substituiu nas duas corridas realizadas até aqui fez um excelente trabalho na Austrália, surpreendendo a muitos, especialmente pelo fato de ter andado apenas no terceiro treino livre e ido direto para a classificação, além de ter recebido a bandeirada de chegada sem cometer um erro sequer. Infelizmente, o italiano conseguiu também a proeza, negativa, de bater forte com o carro duas vezes no fim de semana na China, o que certamente não ajudou muito a garantir sua boa imagem da primeira prova. De qualquer maneira, a Sauber até que conseguiu andar razoavelmente bem para o equipamento de que dispõe, mas a cada corrida os times rivais devem melhorar sua performance, e as chances de pontuar, que já são ruins, devem ficar ainda piores, tanto faz com qual dos pilotos o time alinhe na pista. E na China, Marcus Ericsson foi o último colocado a receber a bandeirada, e olhe que a chuva no início da corrida até que poderia ter dado uma força para o time suíço...


Felipe Massa e pisos molhados definitivamente não se entendem. Depois de fazer uma prova competente em Melbourne, Massa realizou outro treino de classificação dentro das possibilidades da Williams, sendo o melhor piloto do “resto” do grid, fora Mercedes, Ferrari e Red Bull. Mas bastou a corrida começar para ver que não apenas o piloto brasileiro não conseguiu capitalizar o ambiente anormal de pista molhada que se apresentava de início como mesmo com a corrida prosseguindo e o asfalto ficando cada vez mais seco, como o próprio carro da Williams demonstra ter neste tipo de condição um ponto fraco que já deveria ter sido devidamente estudado e, no mínimo, corrigido. Com Lance Stroll em mais um dia negativo, agora abandonando por toque com outro carro, as chances do time de Grove de pontuar literalmente foram para o vinagre com Felipe andando para trás nas posições, sendo superado até mesmo por Fernando Alonso com o carro problemático da McLaren. Massa finalizou a corrida em 14° lugar, a uma volta do vencedor, e só não ficou em último porque a Sauber estava muito pior. Mas, com um carro que é teoricamente a quarta força do grid, a equipe técnica da Williams terá de redobrar seus esforços para amenizar este problema que já aflige seus projetos nos últimos anos...


Lewis Hamilton e Sébastian Vettel chegaram a Sakhir com uma vitória cada um e o mesmo número de pontos: 43. Pelo critério de desempate, Vettel lidera a competição por ter sido o primeiro a vencer na temporada. O desempate se dará aqui nas areias barenitas, e todo mundo quer ver novamente o pega que deve ser a tônica do campeonato deste ano. Na Austrália, Vettel e a Ferrari conseguiram se dar melhor e surpreender a Mercedes para confirmar que a boa forma dos testes da pré-temporada não eram fogo de palha. Na China, foi a vez de Hamilton dar o troco e comandar a corrida com mão firme e não permitir que o alemão da Ferrari desse bote semelhante. Aliás, a Ferrari, dessa vez, não foi tão eficiente quanto na Austrália, o que deu uma ajuda ao piloto inglês. Mas, apesar de Sébastian ter sido segundo e andado muito forte, ele nunca conseguiu ameaçar Lewis diretamente no circuito chinês. Aliás, para alguns, Hamilton poderia ter andado até mais forte do que andou em Shanghai, mas preferiu não forçar demais para poupar o equipamento. Blefe ou realidade? A Ferrari joga que a Mercedes ainda é o melhor carro. Quanto disso é tática para aliviar a pressão ou disfarçar o real potencial do time italiano ainda é preciso saber com precisão. A Mercedes parece mais veloz em voltas lançadas, enquanto a Ferrari parece mais eficiente em ritmo de corrida. Domingo teremos outra chance de aferirmos nova relação de forças entre as duas escuderias.

Um comentário:

Anônimo disse...

O certo seria a FIA não permitir a marcação de nenhum dos campeonatos diretamente administrados por ela em corridas chave como Indy500 e 24 horas de Le Mans... O importante é o fortalecimento do automobilismo e não apenas da F1... O futebol tem essa mesma política quando campeonatos do mundo inteiro estão disponíveis para fãs do esporte. A canibalização do esporte só tras prejuízo para o próprio esporte... Tio Bernie agora está com a Fórmula E, mas pra mim o negócio dele era jogar bingo ou tratar da fazenda de café que ele tem no interior de São Paulo