sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

NAS AREIAS DO DAKAR 2017


Os "loucos do deserto" estão novamente em ação: É a disputa do Dakar 2017!

            Nada como iniciar um novo ano cheio de expectativas. E 2017 começou já acelerando fundo, com o principal rali do planeta, o Dakar, entrando mais uma vez em ação. A principal competição off-road do mundo deu a largada para a sua 38ª edição na ruas da cidade de Assunção, capital do Paraguai, com uma largada promocional no dia 1° de janeiro, e os pilotos partindo para o tudo ou nada no dia 2. Hoje, dia 6, os competidores estarão disputando a 5ª etapa, entre as cidades de Tupiza a Oruro, na Bolívia, com um percurso total de 692 km, com um trecho especial de 447 km. Para amanhã, a 6ª etapa compreende a rota entre Oruro e La Paz, capital da Bolívia, com um total de 786 km a serem percorridos, dentre eles 527 km. No domingo, dia 8, é o momento de descanso para todos na capital boliviana, antes de pegar as trilhas e mandar pau nas máquinas na segunda e última semana de competição. A chegada está prevista para o dia 14, em Buenos Aires, na Argentina. Resta saber quem conseguirá chegar inteiro até lá. A competição este ano passará por apenas 3 países: Paraguai, Bolívia, e Argentina, e ainda assim, a participação no Paraguai será praticamente restrita à largada da disputa, que ocorreu na capital do país. A Argentina concentrará a grande maioria das etapas, e mesmo a participação na Bolívia será breve. Infelizmente, o Chile ficou de fora, e mesmo o Peru também não pôde receber a competição este ano. E o Brasil, com praticamente uma década vendo o rali ser realizado nos países aqui ao lado, permanece praticamente ignorado pela competição.
            E quando se fala em tudo ou nada numa competição de rali, o sentido não é nem um pouco figurado. Por maior que seja a preparação, o talento dos pilotos e navegadores, ou o suporte por trás de cada competidor, a natureza do percurso pode se revelar implacável e desafiadora, de modo que é preciso também uma questão de sorte para conseguir chegar ao final de cada etapa sem maiores percalços. É a vontade de desafiar a natureza do percurso que move os “loucos do deserto”, como ficaram apelidados os competidores do Dakar, devido ao fato de antigamente o rali ser disputado no norte do continente africano, cruzando vastos trechos do deserto do Saara. Aliás, esta é a 9ª edição do rali desde que ele passou a ser disputado aqui, na América do Sul, em virtude do aumento dos perigos de ataques terroristas em território africano, no final da década passada. E que, infelizmente, tudo indica que tão cedo o Dakar não retornará a suas terras natais, pois a violência terrorista só tem aumentado nos últimos anos, numa cena deplorável onde pessoas matam outras pessoas em nome de crenças e posições por vezes ridículas e cretinas, para dizer o mínimo, e onde reina a hipocrisia de outras pessoas que defendem intervenções a fim de resolver o problema, mas ao mesmo tempo, criticam ferozmente quando há ações neste sentido, e interesses diversos em conflito não conseguem chegar a um denominador comum que permita trabalhar para uma solução do problema, que só parece ficar ainda pior.
            Voltando ao rali propriamente, a edição deste ano já mostra que os competidores estão mesmo tendo uma surpresa atrás da outra. De novatos e pilotos desconhecidos a veteranos da competição e campeões, o Dakar 2017 não está deixando ninguém reclamar que as coisas estão monótonas. Que o diga o catariano Nasser Al-Attiyah, campeão da categoria carros em 2015: o piloto da Toyota acabou acertado um barranco na etapa de quarta-feira, disputada entre as cidades de San Miguel de Tucumán e San Salvador de Jujuy, na Argentina. O impacto da batida fez o veículo perder uma das rodas, e os danos ao carro foram extensos demais para poderem ser reparados. Bicampeão da competição off-road na categoria veículos, tendo vencido também a edição de 2011, Nasser Al-Attiyah tentava demonstrar conformismo com o erro cometido, mas não conseguia escondera frustração por ter de esperar mais um ano para tentar vencer novamente o Dakar. O catariano era novamente um dos nomes favoritos na sua categoria, tanto que estava liderando a disputa entre os carros, até o problema com o barranco. Al-Attiyah e seu navegador já tinham tomado um susto logo no primeiro dia de competições, quando seu Toyota também apresentou um princípio de incêndio, mas que acabou controlado com os extintores de bordo, de modo que ainda conseguiram ganhar a disputa no primeiro estágio.
            Pior sorte teve o australiano Toby Price: defendendo novamente a KTM na categoria das motos, onde foi o vencedor da categoria no ano passado, sofreu uma queda violenta nesta quinta-feira, durante a disputa da 4ª etapa, entre San Salvador de Jujuy, na Argentina, até Tupiza, na Bolívia. E o estrago foi grande, e não apenas na moto: Price fraturou o fêmur, precisando ser resgatado de helicóptero devido aos ferimentos. E mais um favorito a ficar de molho até a edição 2018 do Dakar...
            O susto com Toby Price não foi o único momento de tensão para a KTM: na quarta-feira, o eslovaco Ivan Jakes, em meio a um grande esforço para melhorar sua posição nas motos, acabou sendo atingido por um raio durante a competição. Chovia forte no momento, e o piloto, mesmo escapando relativamente ileso da descarga elétrica, seguiu firme na competição, embora tenha relatado ter sentido problemas de visão, tonturas e uma concussão. Jakes conseguiu terminar o dia em 15° lugar na competição de motos, e passou por um exame completo para verificar se não ficaram sequelas do raio. E ele voltou à competição na quinta-feira, e pelo menos até o encerramento desta coluna, seguia firme na disputa.
            Na disputa entre os carros, o clima está mesmo embaralhado no Dakar 2017. Se Al-Attiyah foi o vencedor do primeiro dia e dava pinta de que ia fazer os rivais comerem poeira a bordo de seu Toyota, a história durante a semana acabou sendo meio diferente. Na terça-feira, quem deu o ar da graça foi o francês Sébastien Loeb, que venceu a segunda etapa, e de quebra, claro, assumiu a liderança da categoria para a Peugeot. Mas, na quarta-feira, só para não deixar ninguém esquecendo de que ele também estava na competição, Stéphane Peterhansel, praticamente uma lenda viva do Dakar, com nada menos do que 28 participações na competição, mostrou que aos 51 anos ninguém pode subestimá-lo, e venceu a etapa e subiu para a terceira colocação geral até então, promovendo uma trinca da Peugeot na classificação dos carros, já que Carlos Sainz estava na segunda colocação. Mas nesta quinta-feira, tanto Loeb quanto Peterhansel tiveram seus reveses na disputa, e quem venceu a parada foi Cyril Despres, também da Peugeot. Com a vitória na etapa, Despres, que já foi pentacampeão no Dakar competindo na categoria das motos, nas edições de 2005, 2007, 2010, 2012, 2013, assumiu também a liderança na competição de carros, apresentando uma vantagem de pouco mais de 4 minutos para Peterhansel, o vice-líder. Loeb acabou caindo para a 4ª posição, com quase 7 minutos de atraso, tendo sido superado pelo finlandês Mikko Hirvonen, da X-Raid. E nem mencionei que Carlos Sainz viu o mundo de cabeça para baixo nesta quinta-feira, ao capotar com seu carro. O piloto espanhol precisou chamar a assistência, e com o carro literalmente remendado, só terminou a etapa de ontem com 2 horas de atraso para Despres, e ficando praticamente de fora das primeiras posições e possivelmente das chances de vitória na competição, e de continuar no rali. Os mecânicos da Peugeot certamente não devem ter dormido nesta última noite...
            Na classe dos pesos-pesados, os caminhões, a Kamaz saiu na frente na competição, com o trio formado pelos pilotos Eduard Nikolaev, Evgeny Yakovlev, e Vladimir Rybakov. Só que eles despencaram em seguida, e fecharam a quinta-feira com a 3ª colocação geral. O trio Gerard De Rooy, Moises Torrallardona e Darek Rodewald, da Iveco, que chegaram a ter três pneus furados no início da competição, em um único dia, reagiram e conseguiram vencer ontem, subindo para a 5ª colocação geral, com a liderança indo parar nas mãos do trio Dmitry Sotnikov, Igor Leonov e Ruslan Akhmadeev, também da Kamaz, que finalizaram ontem em 4° lugar. E a disputa entre os caminhões tem apresentado as menores diferenças até aqui entre vários competidores, sendo impossível apontar quem é o favorito na disputa. Qualquer descuido em uma etapa, e o tradicional ditado “qual foi a placa do caminhão...?” não será mero jogo de palavras... Tudo pode acontecer.
O trajeto do Dakar 2017: Paraguai, Bolívia e Argentina. Chile e Peru ficaram de fora nesta edição. E o Brasil segue sendo ignorado...
            Em meio a disputa, é claro que o Brasil tem seus representantes na competição. Na classe dos SSVs, onde foram alocados os veículos UTVs, que até o ano passado competiam juntamente com os carros, temos a dupla Leandro Torres e Lourival Roldan, e eles estão conseguindo fazer bonito, tendo obtido uma bela vitória na 3ª etapa do rali, e assumindo a 2ª colocação na categoria. Mas, com quase 2 horas de desvantagem para a dupla líder, formada por Mao Ruijin e Sébastien Delaunay, eles vão precisar remar muito para descontar essa diferença. E tentarem se manter vivos na disputa, pois a expectativa é que apenas 6 SSVs permaneçam na disputa, e ainda nem chegamos à metade do percurso do rali.
            Na categoria carros, temos apenas Sylvio Barros, competindo junto com o italiano Rafael Capoani, com um Mini. Até esta quinta-feira, eles ocupavam a 11ª posição geral, conseguindo se livrar das encrencas pelo caminho que vitimaram alguns dos concorrentes. Na categoria dos quadriciclos, temos Marcelo Medeiros, competindo com um modelo Yfm700R da Yamaha. Medeiros chegou a vencer a primeira etapa dos quadriciclos, mas na quarta-feira, o piloto se acidentou, e precisou ser socorrido pela direção da prova, dando adeus à competição neste ano. Apesar de um ferimento na cabeça, e de suspeitas de fraturas, Marcelo passava bem até o fechamento desta coluna, não correndo nenhum perigo, além de ter de esperar mais um ano para retornar ao Dakar...
            Nas motos, temos Gregorio Caselani, Richard Fliter, ambos competindo com motos Honda, e Ricardo Martins, disputando a competição com uma Yamaha. Até o final das etapas desta quinta-feira, eles continuavam em ação no rali, com Richard Fliter ocupando a 61ª colocação geral. Ricardo Martins era estava em 72º lugar, e Gregório Caselani estava classificado em 108º. E isso resume a participação brasileira no rali este ano. Mas, mesmo que nossos pilotos não estejam tão bem colocados nas motos, vale lembrar que chegar ao final da competição já pode ser considerado uma vitória, e a prova este ano está sendo considerada bem difícil, e como já mencionei, muita gente está tendo surpresas pelo caminho durante a competição, que está longe de ser chata e insossa. E é bom lembrar que ainda temos um longo caminho a ser percorrido no Dakar até a chegada em Buenos Aires, e nem chegamos ainda à metade da disputa. Muita coisa ainda pode acontecer até todos, ou pelo menos quem conseguir se manter inteiro na disputa, verem a linha de chegada na capital argentina no dia 14.
            E, pelo menos por enquanto, não há registro de muitos feridos na competição, nem de mortes, o que pode ser considerado um alívio por todos os fãs e pela organização do rali, que já viu edições com muito mais acidentes, e até vítimas fatais. Que tudo pelo menos corra dentro da normalidade até a linha de chegada, e que todos os competidores possam encerrar sua participação na prova deste ano sem maiores complicações. E podem apostar que no ano que vem, os “loucos do deserto” estarão novamente em ação, para disputarem mais uma edição daquele que se tornou o mais famoso rali do mundo, mesmo que não seja o maior da categoria. E não podemos esquecer que no ano que vem o Dakar praticamente comemora 40 anos de vida, desde que a primeira edição foi disputada na passagem de 1978/1979. Não fosse não termos a disputa do rali em 2008, quando a competição foi cancelada por causa dos perigos dos malucos terroristas, esta seria a 39ª edição, e no próximo ano, seriam comemorados os 40 anos com a 40ª edição. Os 40 anos serão comemorados de qualquer jeito, embora seja a 39ª edição, e o rali esteja muito longe de onde começou a ser disputado.
            Mas é o preço a se pagar por um mínimo de segurança, enquanto o mundo não consegue resolver um problema que vem se agravando nos últimos tempos, e que o mundo do esporte a motor infelizmente pouco significa para uma corja de doidos que cada dia parece se espalhar mais, e demonstrando que não possui o mínimo respeito pelos outros. O Dakar foi apenas uma das vítimas desse pessoal, que espero que mais dia menos dia seja erradicado da face da Terra. A humanidade já tem problemas demais, para ainda termos um bando de malucos e doidos como esses, que não farão falta alguma... Posso parecer radical ao dizer isso, mas infelizmente, parece não haver outra solução...
            E que os melhores mostrem do que são capazes e conquistem os merecidos prêmios na disputa do Dakar 2017...


Enquanto o ano de 2016 terminou sem um anúncio da Mercedes sobre quem será o companheiro de Lewis Hamilton na escuderia de Fórmula 1 para 2017, o ano de 2017, pelo menos até agora, ainda não viu o desfecho da situação desencadeada por Nico Rosberg, o atual campeão da categoria, de pendurar o capacete poucos dias após vencer o campeonato. Tudo parece caminhar realmente para a confirmação de Valtteri Bottas, com o possível retorno de Felipe Massa da aposentadoria à Williams para a temporada deste ano. Mas, por enquanto, sem nada confirmado. Vai dar o óbvio que todos esperam, ou ainda podemos assistir a outra surpresa? Poderemos saber a resposta a qualquer momento. Façam suas apostas...

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