quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1997 – 28.11.1997



            Voltando a publicar um de meus antigos textos, trago hoje a coluna que foi publicada no dia 28 de novembro de 1997, que trazia um pequeno balanço da atuação dos pilotos brasileiros nos campeonatos de competição pelo mundo. Alguns nomes, como Hélio Castro Neves e Tony Kanaan, fizeram uma bela carreira, e estão por aí até hoje. Outros, infelizmente, sumiram do mapa, ou suas carreiras não decolaram como se esperava, o que normal no mundo do automobilismo, pois nem sempre as coisas transcorrem da maneira como se esperava. Dá para ver como nossos pilotos conseguiam conquistar o mundo na época, disputando vários certames pelo mundo afora, e mostrando seu talento, em um momento onde nosso automobilismo nacional produzia uma leva de pilotos que, se não eram gênios como foram Émerson Fittipaldi, Nélson Piquet, e Ayrton Senna, eram bons o suficiente para impressionarem europeus, norte-americanos, etc, onde quer que fossem para competir. Hoje, infelizmente, graças ao declínio das competições nacionais, em virtude de uma CBA cada vez mais inoperante, vimos nosso número de representantes minguar a cada ano. O olha que muitos torcedores ainda reclamavam da falta de resultados, já que não vencíamos nos principais campeonatos, como a F-CART e a F-1. Mas, comparado com o que temos hoje, éramos felizes e não sabíamos.
            Enquanto o automobilismo brasileiro não voltar a ser o que era, o destino de nossos pilotos no exterior se resumirá a alguns poucos que terão a sorte de conseguir competir lá fora. As levas de profissionais brasileiros que a cada ano desembarcavam mundo afora para dar seguimento às suas carreiras, infelizmente hoje são coisa do passado. Um passado que talvez nunca volte, a persistir o panorama atual. Aproveitem o texto, e em breve trago outros por aqui...


BRASIL REVIEW 1997

            Perto de encerrar mais um ano, é hora de fazer uma retrospectiva dos pilotos brasileiros presentes nos campeonatos internacionais de automobilismo deste ano. E a torcida não pode reclamar muito, pois nossas feras da velocidade tiveram o melhor desempenho dos últimos anos. E a conta não é modesta: nada menos do que 6 campeonatos e 5 vice-campeonatos conquistados, o que dá uma idéia do sucesso de nossos pilotos em 1997.
            O último a integrar a lista de títulos foi Bruno Junqueira, que na etapa de Florianópolis, domingo passado, válida pelo campeonato de F-3 Sul-Americano, faturou o título por antecipação, deixando o argentino Nestor Furlan com o vice-campeonato. E Bruno fez a conquista em grande estilo, ao vencer pela 7ª vez no ano. Não é pouco.
            Mas a categoria onde passamos de novo perto do título foi a da F-CART. Nossos representantes, apesar de só terem conquistado 1 vitória, marcaram presença pela regularidade. Gil de Ferran, mesmo sem vencer nenhuma corrida, foi vice-campeão. Só faltou mais sorte aos nossos pilotos para chegar ao título.
            Na F-1, já era de se esperar um ano de poucos resultados. Rubens Barrichello voltou à sua melhor fase, e levou a nova equipe Stewart a brilhar em algumas corridas e classificações, enquanto o carro não quebrava. Já Pedro Paulo Diniz evoluiu muito em conceito nos bastidores da categoria, e conseguiu até alguns desempenhos notáveis com a TWR-Arrows, um carro também muito limitado em diversas provas. Já Tarso Marques, nas poucas ocasiões em que o carro da Minardi andou a contento, mostrou o seu talento. Quem se deu mal foi Ricardo Rosset, pela entrada furada da Lola na F-1. Para aqueles que dizem que o Brasil não tem mais piloto, a afirmação é totalmente furada. Temos piloto sim, mas eles precisam de equipamento à altura para brilhar.
            Não por coincidência, justamente nas categorias monomarcas, isto é, que utilizam equipamento igual para todos os pilotos, tivemos os desempenhos mais notáveis. Vejam o caso da Indy Lights, onde os brasileiros praticamente massacraram a concorrência. Das 13 corridas do campeonato, 8 foram vencidas por brasileiros. Tony Kanaan faturou o título. Hélio Castro Neves foi o vice-campeão, e para completar o show brasileiro, Cristiano da Matta ainda foi o 3º colocado no campeonato. Se por um lado Tony e Hélio correram pela Tasman, e Cristiano pela Brian Stewart, duas equipes de estrutura invejável dentro de sua própria categoria, o equipamento foi basicamente igual para todos: chassi Lola, motor Buick atmosférico e pneus Firestone. Não há como negar que o talento de nossos pilotos não tenha feito nenhuma diferença.
            Outra categoria monomarca internacional é a F-Opel, onde também são utilizados chassis e motores iguais para todos. E foi nessa categoria que Marcelo Battistuzzi arrepiou os europeus, faturando os campeonatos europeu e alemão da categoria, obtendo a incrível marca de 9 vitórias no ano. Mais significativo é o fato de que, ao iniciar a temporada, Battistuzzi nem era considerado favorito ao título, especialmente por ocupar a posição de 2º piloto em sua equipe, a Vergani. Mas Marcelo não se intimidou e botou seu pé direito para trabalhar. O resultado está aí, e Battistuzzi deve disputar a F-3000 em 1998. Bons convites não faltam...
            Voltando de novo para este lado do Atlântico, e de volta aos EUA, tivemos Zaqueu Morioka como vencedor da F-Ford 2000 Americana. Curioso ainda é que Zaqueu não teve manager nenhum. Morioka praticamente se associou à sua equipe e ainda cuidou meticulosamente de toda a verba que tinha disponível. Com todo este trabalho extra-pista, o desempenho de nosso “samurai” tupiniquim deixou os americanos de queixo caído.
            Na F-3000, último degrau para a F-1, voltamos a faturar o caneco da categoria. Ricardo Zonta foi imparável no campeonato com 3 vitórias, sem contar o triunfo do início da temporada, da qual foi desclassificado por irregularidades em seu carro. Zonta foi impecável e já começou sua ascençao à F-1. Já fez diversos testes com a Jordan em configuração com as novas regras de 1998 e assombrou a equipe e outros profissionais da categoria com sua velocidade e capacidade técnica, dando sempre dados precisos para acertar o carro. Para 1998, o caminho deverá ser esse, piloto de testes, mas que ninguém se surpreenda se o vir já em algum grid de largada no próximo ano.
            E na Inglaterra, berço mundial do automobilismo, nossos pilotos também marcaram presença. Neste caso, foi Luciano Burti, que disputou e venceu o campeonato de F-Vauxhall. Burti correu pela equipe de Paul Stewart, e derrotou todos os favoritos do certame, o que incluiu até Justin Wilson, que era seu próprio companheiro de equipe.
            Esses foram nossos campeões em 1997. Mas, além deles, tivemos inúmeros outros pilotos que brilharam nas pistas, embora em níveis mais modestos. Antonio Pizzonia, por exemplo, faturou o Festival de Inverno da F-Vauxhall Jr. Enrique Bernoldi conseguiu vencer 1 prova na F-3 inglesa. Mário Haberfeld conseguiu 2 vitórias na mesma categoria. Na F-Ford 2000 americana, Luciano Zanguirolami venceu uma etapa do certame, assim como Urubatan Helou Jr. Na F-Vauxhall, Wagner Ebrahim conquistou 4 vitórias no campeonato. A lista de brasileiros que venceram corridas ainda vai longe, e a lista de nossos representantes pelo mundo afora é ainda maior. Ficaria difícil relacionar e comentar aqui o desempenho de todos eles.
            Nossos pilotos disputaram diversas categorias. Das conhecidíssimas F-1, F-CART, Indy Lights e outras mais, até categorias praticamente desconhecidas por aqui, como a Vectra Challenge, a Copa Mégane Michelin, o Norte Americano de Turismo, entre muitos outros. Nossos pilotos estiveram praticamente por quase todo o mundo. Comparados em número, os títulos podem parecer poucos, mas não são. O automobilismo, apesar de todos os interesses que o envolvem, ainda é basicamente o mundo da competição. E o importante, além de vencer, é competir, mas é claro que os nossos pilotos sempre lutarão pela vitória quando puderem fazê-lo. Que em 1998 eles consigam ainda mais títulos no automobilismo do que em 97.
            E viva o Brasil nas pistas!

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