A pista de Road America, em Elkhart Lake, em Wisconsin, tem grande preferência do público amante de corridas nos Estados Unidos, e voltará a sediar corridas de uma categoria Indy. |
A competição da Indy
Racing League segue em frente, e depois do complicado fim de semana no Texas
Motor Speedway, onde a chuva impediu que a corrida fosse realizada a contento
em toda a sua plenitude, eis que a categoria norte-americana de monopostos Indy
chega ao que pode ser considerado um dos pontos altos da temporada 2016: o
retorno de uma competição Indy a Road America, circuito misto localizado em
Elkhart Lake, no Estado de Wisconsin. Considerado um dos melhores traçados
mistos dos Estados Unidos, demorou para a IRL conseguir finalmente acertar a
realização de uma de suas provas no circuito, que fez parte do calendário da
Fórmula Indy original de 1982 a 2007, falhando sua presença no calendário da
competição em 2005, devido a problemas com patrocínio para bancar a corrida.
Com cerca de 6,515 Km
de extensão, e 14 curvas, a pista de Road America é considerada por muitos a “Spa-Francorchamps”
dos Estados Unidos, não apenas pela sua extensão, mas também pelo seu belo
visual da natureza à beira da pista, que corta um bom trecho de floresta, onde
os pilotos ficam sós durante parte da volta. As longas retas do circuito também
são um ponto favorável às disputas de posições, e exigem boa potência do motor,
para não mencionar que ainda há algumas curvas de baixa que não dispensam o bom
ajuste do equilíbrio do carro. Não é difícil entender porque a grande maioria
dos pilotos gosta dessa pista: ela exige um bom acerto que combine velocidade
em reta e equilíbrio para não perder tempo nas curvas.
Road America sempre
foi a minha pista preferida no certame da antiga F-Indy. Habituado aos
circuitos da F-1, os ovais nunca me despertaram o mesmo fascínio, e os circuitos
de rua, apesar de interessantes, não eram tão bons quanto as pistas de
autódromos mistos. Eu também curtia muito Laguna Seca e Portland, mas a pista
da Califórnia era complicada de ultrapassar, mesmo tendo sua charmosa curva do
Saca-Rolha, onde algumas trocas de posição chegavam a acontecer no grito. Road
America me lembrava os antigos circuitos da Europa, sem os excessos de frescuras
que começavam a tomar conta da categoria máxima do automobilismo com suas medidas
de segurança por vezes muito exageradas após o trágico GP de San Marino de
1994, quando vários circuitos foram adaptados “à força” aos novos padrões de
segurança implantados. É um traçado com subidas e descidas, muito verde à volta,
e onde o público pode acompanhar bons trechos da pista sentados nos morros ao
redor, assim como vejo em Spa, na Bélgica, uma das pistas onde o visual ao
redor é dos mais belos do mundo do automobilismo.
O circuito começou a
ser construído em 1950, sendo inaugurado em 1955, e desde então já recebeu
provas de inúmeras categorias, como a Nascar. As primeiras corridas de
monoposto foram realizadas na década de 1970, com a Formula 5000, que teve
corridas realizadas entre 1974 e 1976. Em 1982, o circuito passou a fazer parte
da Formula Indy, lá permanecendo até a extinção da categoria, no início de
2008, tendo sua última corrida Indy realizada em 2007. Do período da F-Indy, os
maiores vencedores da prova foram Mario Andretti, Émerson Fittipaldi, e Michael
Andretti, todos eles com três triunfos cada. Mario venceu a corrida em 1983,
1984, e 1987. O brasileiro chegou na frente em 1986, 1988, e 1992. Já Michael
faturou as corridas de 1990, 1991, e 1996. O primeiro vencedor, em 1982, foi o
mexicano Héctor Rebaque, competindo pela equipe de Gerald Forsythe; o último
vencedor, em 2007, foi o francês Sébastien Bourdais, com a Newmann-Hass. O time
de propriedade conjunta de Carl Hass e Paul Newmann, aliás, foi o que mais
venceu em Road America: foram 9 triunfos, obtidos por Mario Andretti (1983,
1984 e 1987), Michael Andretti (1990, 1991, e 1996), Christian Fittipaldi
(1999), Cristiano de Matta (2002), e Bruno Junqueira (2003). Dos times que
competem atualmente na Indycar, apenas Penske, Dale Coyne, Foyt, KV e Ganassi
correram na pista nos tempos da F-Indy. Roger Penske viu seu time vencer apenas
três vezes, em 1989 com Danny Sullivan, em 1992 com Émerson Fittipaldi, e em
1993 com Paul Tracy. Já o time de Chip Ganassi tem apenas duas vitórias no
circuito, onde venceu a prova em 1997, com Alessandro Zanardi, e em 2001 com
Bruno Junqueira.
Dos pilotos atuais do
grid, apenas Scott Dixon, Will Power, Graham Rahal, Juan Pablo Montoya, Simon
Pagenaud, Tony Kanaan, Hélio Castro Neves e Sébastien Bourdais disputaram
provas no circuito nos tempos da F-Indy, com o francês da equipe KV sendo o
último vencedor, em 2007. Como curiosidade, entre os vencedores da corrida, a
prova de 1985 foi vencida por Jacques Villeneuve, irmão do falecido Gilles
Villeneuve. Em 1994, o filho de Gilles, também chamado Jacques Villeneuve, como
o tio, venceu sua primeira corrida na F-Indy justamente na pista de Elkhart
Lake, repetindo a dose no ano seguinte, quando foi campeão da categoria.
Com a categoria tendo
problemas para emplacar novas corridas em circuitos de rua, como foi o caso de
Baltimore, São Paulo, e mais recentemente Boston, cancelada antes mesmo de
acontecer, muitos criticavam a ausência dos circuitos mistos que eram utilizados
pela F-Indy original, como Laguna Seca, Portland, e especialmente Road America,
uma vez que Mid-Ohio, outra pista da velha categoria, já havia sido incluída há
vários anos. Com traçados mais curtos e de ultrapassagens complicadas, Laguna
Seca e Portland, apesar do interesse de vários fãs, nunca esteve na ordem do
dia para integrar o calendário da Indycar, às voltas com suas próprias
diretrizes de buscar novas oportunidades. Mas não era o caso de Road America,
circuito do qual os fãs sentiam mesmo muita falta. Algo que, depois de muitas
negociações, finalmente foi solucionado, e o tradicional circuito está
finalmente de volta ao certame de uma categoria Indy, para felicidade do público
amante das corrida. Não foi uma tarefa fácil: quando a Indy original se foi, no
início de 2008, e parte de seu espólio acabou agregado à IRL, a pista de
Elkhart Lake acabou expurgada do processo, e ficaram ressentimentos que
demoraram a cicatrizar. Só em agosto do ano passado a direção da Indycar e os
proprietários do circuito finalmente chegaram a termo e puderam anunciar o
retorno da pista a um calendário de competições Indy.
Com mais de 6,5 Km, a pista de Road America tem bons trechos de reta e muitas áreas verdes a seu redor. |
Pela posição atual dos
times no campeonato, a Penske é a favorita para vencer no circuito, que se
torna a pista mais extensa do calendário. E, para melhorar, o quarteto de
pilotos de Roger Penske conhece a pista, ou pelo menos a encaram com muito mais
naturalidade do que aqueles que nunca lá correram. Já foi feito no ano passado um
treino coletivo no circuito, e todos que participaram gostaram da pista, onde
entram novamente hoje para os primeiros treinos oficiais. A corrida será
transmitida ao vivo pelo canal pago Bandsports no domingo, a partir das 14
horas.
Para efeito de
comparação, o recorde da volta em Road America é de 1min39s866, obtido por
Dario Franchiti no ano 2000, quando competia pela equipe Green. A última
pole-position, em 2007, foi com o tempo de 1min41s535, obtido por Sébastien
Bourdais. Vai ser interessante ver quais os tempos que os atuais carros da
categoria serão capazes de alcançar no circuito, que tem tudo para fazer um
retorno triunfal ao calendário de um certame Indy. Resta esperar que a corrida
seja boa, com várias disputas. E que tenha vindo para ficar em definitivo no
calendário da Indycar.
A prova de Le Mans este ano começou com chuva, mas o verdadeiro drama viria nos seus minutos finais para a potencial vencedora, a Toyota. |
Como não poderia deixar de ser,
as 24 Horas de Le Mans foi o costumeiro show de emoções a rodo durante toda a
realização da corrida, com direito a um final completamente inesperado e
injusto para muitos, quando o Toyota N° 5 do trio Anthony Davidson/Kazuki
Nakajima/Sébastien Buemi perdeu a corrida nos últimos 6 minutos da prova,
entregando a vitória de mão beijada para o Porsche N° 2 do trioMarc Lieb/Neel
Jani/Romain Dumas. Mas no automobilismo tem a máxima de que “para chegar em
primeiro, primeiro é preciso chegar”, e foi extremamente doloroso para a Toyota
ver seu carro falhar justo nos momentos finais de uma corrida de 24 horas. Por
uma questão de apenas 6 minutos, quando o protótipo nipônico começou a andar
devagar pela pista de Le Sarthe, a fábrica japonesa falhou novamente em tentar
a conquista histórica de Le Mans. A escuderia divulgou nesta quinta-feira que o
defeito provável foi causado por uma falha na ligação do tubo de ar entre o
turbo e o intercooler do motor. Seja como for, foi realmente triste o desempenho
notável do time japonês, que dominou a grande prova, perder dessa maneira. Mas
assim é o automobilismo: ganha-se umas, perde-se muito mais. A vitória da
Porsche elevou para 18 o número de triunfos da marca alemã na tradicional prova
de longa duração, aumentando o seu recorde de vitórias, mas mesmo a Porsche
reconhece que o mérito maior de vencer seria de seus rivais nipônicos, na
divulgação de uma mensagem de apoio e reconhecimento aos seus concorrentes, num
exemplo belo e elogioso do clima de “fair play” que felizmente impera nesta
bela corrida. Infelizmente, por causa de um item do regulamento, que determina
que um carro tem de completar a volta no circuito após a bandeirada de chegada
ser dada ao vencedor, o carro N° 5 da Toyota ainda perdeu o direito de ser
classificado, e com isso, quem acabou herdando a segunda colocação foi
justamente o outro carro do time japonês, o N° 6, pilotado pelo trio Stéphane
Sarrazin/mike Conway/Kamui Kobayashi, mesmo tendo cruzado a linha de chegada 3
voltas atrás. O carro N° 5 ainda conseguiu voltar a andar, mas tendo completado
a última volta em 11 minutos, ele estourou o tempo limite determinado pelo
regulamento. Dominadora em 2015, a Porsche não demonstrou a mesma força este
ano, mas conseguia se manter no duelo com a Toyota, que surpreendeu pelo seu
forte ritmo desde o início, a ponto de a desvantagem do time vencedor do ano
passado ser de cerca de 1 minuto, quando aconteceu o improvável ao carro japonês
líder. Desse modo, todas as três grandes equipes da categoria LMP1 tiveram seus
percalços na mítica corrida francesa este ano. Os atuais campeões do Mundial de
Endurance, o trio Timo Bernhard/Mark Webber/Brendon Hartley tiveram um problema
de bateria por volta da 9ª hora de corrida que praticamente acabou com as chances
de vitória. Eles ainda conseguiram chegar aos boxes e reparar o carro, que
terminou apenas na 13ª posição, com 38 voltas a menos. Para a Audi, a situação
foi ainda pior, sem conseguir discutir o andamento com os rivais Porsche e
Toyota, os carros de Ilgolstadt viraram figurantes na briga, e ainda viram o
carro n° 7 ter problemas com furos nos pneus e em outros lugares, perdendo
várias voltas para reparar os percalços: o resultado foi o 3° lugar com o carro
N° 8, conduzido por Lucas Di Grassi, Loïc Duval, e Oliver Jarvis, com 12 voltas
de desvantagem, enquanto o N° 7 chegou ainda mais atrás, em 4°, com 17 voltas a
menos. Isto é Le Mans, e todos já começam a pensar na corrida do ano que vem, pensando
novamente na chance de fazer melhor do que neste ano. E a Toyota vai demorar um
bom tempo para esquecer o drama do último domingo...
Sem potência, o carro N° 5 da Toyota arrastou-se nos minutos finais, perdendo uma vitória há muito esperada pela fábrica japonesa em Sarthe. |
Os pilotos brasileiros tiveram
uma corrida complicada nas 24 Horas de Le Mans este ano. Competindo pela Audi,
Lucas Di Grassi nunca teve ritmo para lutar pela vitória, e no final, só subiu
ao pódio pela derrota do Toyota que tinha tudo para vencer a corrida. O 3°
lugar nem pôde ser comemorado direito se levarmos em conta que o carro onde
Lucas competia chegou nada menos do que 12 voltas atrás do vencedor, num
resultado que ficou muito ruim para um time do porte da Audi, que problemas de
percurso à parte, nunca mostrou o mesmo ritmo dos adversários. Ainda na
categoria LMP1, Nelsinho Piquet, competindo pela Rebellion acabou classificado
em 29° na classificação geral, com 330 voltas completadas. Já na LMP2, Oswaldo
Negri Junior, por sua vez, teve uma honrosa 14ª posição no geral, seguido logo
a seguir pelo carro que teve Bruno Senna na competição. Pipo Derani e seus
colegas ficaram em 42° lugar. Na LMGT-Pro, Fernando Rees e seus colegas da
Aston Martin ficaram em 24° lugar. Melhor sorte na próxima oportunidade, e ao
mesmo tempo, felicitações por terem conseguido, à maneira de cada um, completar
a corrida em Sarthe, onde simplesmente sobreviver às 24 horas da corrida já
pode ser considerado um grande feito...
Se as 24 Horas de Le Mans foram de
emoção com o pé no fundo no acelerador, a estréia da F-1 na capital do
Azerbaijão, Baku, trouxe a prova mais enfadonha da categoria máxima do
automobilismo na atual temporada. De positivo mesmo, apenas a beleza da cidade
e ver que a pista de rua realmente se mostrou rápida. Por outro lado, times e
pilotos pareceram conservadores demais na corrida, com estratégias simplesmente
muito similares entre todos, e com menos disputas do que se seria de supor. No
fim de semana, alguns pilotos chegaram a afirmar que o circuito de rua tinha
condições de segurança inferiores às de outras pistas, mas a F-1 não teve
incidentes de monta como se imaginava. Por outro lado, fala-se que, temendo
causarem acidentes em demasia, todos os pilotos teriam sido “prudentes” na
disputa do GP. Verdade ou não, a corrida perdeu feio a disputa das atenções
automobilísticas no fim de semana, ainda mais rolando a decisão dramática das
24 Horas de Le Mans na França, que roubou a atenção até de quem estava na sala
de imprensa do circuito, que diga-se de passagem, ficou bem longe do paddock,
irritando quem precisava correr de um ponto a outro. Na opinião de muitos, os
pilotos meio que se “acovardaram”, e poderiam ter feito uma corrida muito
melhor em Baku. Vejamos o que acontecerá no ano que vem então... Mas o público
quer ver mesmo é briga na pista, e não procissões em alta velocidade. Que
depois não venham reclamar novamente que a F-1 está perdendo sua
atratividade...
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