sexta-feira, 24 de junho de 2016

RETORNO A ROAD AMERICA



A pista de Road America, em Elkhart Lake, em Wisconsin, tem grande preferência do público amante de corridas nos Estados Unidos, e voltará a sediar corridas de uma categoria Indy.

            A competição da Indy Racing League segue em frente, e depois do complicado fim de semana no Texas Motor Speedway, onde a chuva impediu que a corrida fosse realizada a contento em toda a sua plenitude, eis que a categoria norte-americana de monopostos Indy chega ao que pode ser considerado um dos pontos altos da temporada 2016: o retorno de uma competição Indy a Road America, circuito misto localizado em Elkhart Lake, no Estado de Wisconsin. Considerado um dos melhores traçados mistos dos Estados Unidos, demorou para a IRL conseguir finalmente acertar a realização de uma de suas provas no circuito, que fez parte do calendário da Fórmula Indy original de 1982 a 2007, falhando sua presença no calendário da competição em 2005, devido a problemas com patrocínio para bancar a corrida.
            Com cerca de 6,515 Km de extensão, e 14 curvas, a pista de Road America é considerada por muitos a “Spa-Francorchamps” dos Estados Unidos, não apenas pela sua extensão, mas também pelo seu belo visual da natureza à beira da pista, que corta um bom trecho de floresta, onde os pilotos ficam sós durante parte da volta. As longas retas do circuito também são um ponto favorável às disputas de posições, e exigem boa potência do motor, para não mencionar que ainda há algumas curvas de baixa que não dispensam o bom ajuste do equilíbrio do carro. Não é difícil entender porque a grande maioria dos pilotos gosta dessa pista: ela exige um bom acerto que combine velocidade em reta e equilíbrio para não perder tempo nas curvas.
            Road America sempre foi a minha pista preferida no certame da antiga F-Indy. Habituado aos circuitos da F-1, os ovais nunca me despertaram o mesmo fascínio, e os circuitos de rua, apesar de interessantes, não eram tão bons quanto as pistas de autódromos mistos. Eu também curtia muito Laguna Seca e Portland, mas a pista da Califórnia era complicada de ultrapassar, mesmo tendo sua charmosa curva do Saca-Rolha, onde algumas trocas de posição chegavam a acontecer no grito. Road America me lembrava os antigos circuitos da Europa, sem os excessos de frescuras que começavam a tomar conta da categoria máxima do automobilismo com suas medidas de segurança por vezes muito exageradas após o trágico GP de San Marino de 1994, quando vários circuitos foram adaptados “à força” aos novos padrões de segurança implantados. É um traçado com subidas e descidas, muito verde à volta, e onde o público pode acompanhar bons trechos da pista sentados nos morros ao redor, assim como vejo em Spa, na Bélgica, uma das pistas onde o visual ao redor é dos mais belos do mundo do automobilismo.
Pista era uma das preferidas dos pilotos da F-Indy. Jacques Villeneuve (tio) e Jacques Villeneuve (sobrinho) venceram corridas na pista, a exemplo da família Andretti (Mario e Michael), e Fittipaldi (Émerson e Christian).
            O circuito começou a ser construído em 1950, sendo inaugurado em 1955, e desde então já recebeu provas de inúmeras categorias, como a Nascar. As primeiras corridas de monoposto foram realizadas na década de 1970, com a Formula 5000, que teve corridas realizadas entre 1974 e 1976. Em 1982, o circuito passou a fazer parte da Formula Indy, lá permanecendo até a extinção da categoria, no início de 2008, tendo sua última corrida Indy realizada em 2007. Do período da F-Indy, os maiores vencedores da prova foram Mario Andretti, Émerson Fittipaldi, e Michael Andretti, todos eles com três triunfos cada. Mario venceu a corrida em 1983, 1984, e 1987. O brasileiro chegou na frente em 1986, 1988, e 1992. Já Michael faturou as corridas de 1990, 1991, e 1996. O primeiro vencedor, em 1982, foi o mexicano Héctor Rebaque, competindo pela equipe de Gerald Forsythe; o último vencedor, em 2007, foi o francês Sébastien Bourdais, com a Newmann-Hass. O time de propriedade conjunta de Carl Hass e Paul Newmann, aliás, foi o que mais venceu em Road America: foram 9 triunfos, obtidos por Mario Andretti (1983, 1984 e 1987), Michael Andretti (1990, 1991, e 1996), Christian Fittipaldi (1999), Cristiano de Matta (2002), e Bruno Junqueira (2003). Dos times que competem atualmente na Indycar, apenas Penske, Dale Coyne, Foyt, KV e Ganassi correram na pista nos tempos da F-Indy. Roger Penske viu seu time vencer apenas três vezes, em 1989 com Danny Sullivan, em 1992 com Émerson Fittipaldi, e em 1993 com Paul Tracy. Já o time de Chip Ganassi tem apenas duas vitórias no circuito, onde venceu a prova em 1997, com Alessandro Zanardi, e em 2001 com Bruno Junqueira.
            Dos pilotos atuais do grid, apenas Scott Dixon, Will Power, Graham Rahal, Juan Pablo Montoya, Simon Pagenaud, Tony Kanaan, Hélio Castro Neves e Sébastien Bourdais disputaram provas no circuito nos tempos da F-Indy, com o francês da equipe KV sendo o último vencedor, em 2007. Como curiosidade, entre os vencedores da corrida, a prova de 1985 foi vencida por Jacques Villeneuve, irmão do falecido Gilles Villeneuve. Em 1994, o filho de Gilles, também chamado Jacques Villeneuve, como o tio, venceu sua primeira corrida na F-Indy justamente na pista de Elkhart Lake, repetindo a dose no ano seguinte, quando foi campeão da categoria.
            Com a categoria tendo problemas para emplacar novas corridas em circuitos de rua, como foi o caso de Baltimore, São Paulo, e mais recentemente Boston, cancelada antes mesmo de acontecer, muitos criticavam a ausência dos circuitos mistos que eram utilizados pela F-Indy original, como Laguna Seca, Portland, e especialmente Road America, uma vez que Mid-Ohio, outra pista da velha categoria, já havia sido incluída há vários anos. Com traçados mais curtos e de ultrapassagens complicadas, Laguna Seca e Portland, apesar do interesse de vários fãs, nunca esteve na ordem do dia para integrar o calendário da Indycar, às voltas com suas próprias diretrizes de buscar novas oportunidades. Mas não era o caso de Road America, circuito do qual os fãs sentiam mesmo muita falta. Algo que, depois de muitas negociações, finalmente foi solucionado, e o tradicional circuito está finalmente de volta ao certame de uma categoria Indy, para felicidade do público amante das corrida. Não foi uma tarefa fácil: quando a Indy original se foi, no início de 2008, e parte de seu espólio acabou agregado à IRL, a pista de Elkhart Lake acabou expurgada do processo, e ficaram ressentimentos que demoraram a cicatrizar. Só em agosto do ano passado a direção da Indycar e os proprietários do circuito finalmente chegaram a termo e puderam anunciar o retorno da pista a um calendário de competições Indy.
Com mais de 6,5 Km, a pista de Road America tem bons trechos de reta e muitas áreas verdes a seu redor.
            Pela posição atual dos times no campeonato, a Penske é a favorita para vencer no circuito, que se torna a pista mais extensa do calendário. E, para melhorar, o quarteto de pilotos de Roger Penske conhece a pista, ou pelo menos a encaram com muito mais naturalidade do que aqueles que nunca lá correram. Já foi feito no ano passado um treino coletivo no circuito, e todos que participaram gostaram da pista, onde entram novamente hoje para os primeiros treinos oficiais. A corrida será transmitida ao vivo pelo canal pago Bandsports no domingo, a partir das 14 horas.
            Para efeito de comparação, o recorde da volta em Road America é de 1min39s866, obtido por Dario Franchiti no ano 2000, quando competia pela equipe Green. A última pole-position, em 2007, foi com o tempo de 1min41s535, obtido por Sébastien Bourdais. Vai ser interessante ver quais os tempos que os atuais carros da categoria serão capazes de alcançar no circuito, que tem tudo para fazer um retorno triunfal ao calendário de um certame Indy. Resta esperar que a corrida seja boa, com várias disputas. E que tenha vindo para ficar em definitivo no calendário da Indycar.


A prova de Le Mans este ano começou com chuva, mas o verdadeiro drama viria nos seus minutos finais para a potencial vencedora, a Toyota.
Como não poderia deixar de ser, as 24 Horas de Le Mans foi o costumeiro show de emoções a rodo durante toda a realização da corrida, com direito a um final completamente inesperado e injusto para muitos, quando o Toyota N° 5 do trio Anthony Davidson/Kazuki Nakajima/Sébastien Buemi perdeu a corrida nos últimos 6 minutos da prova, entregando a vitória de mão beijada para o Porsche N° 2 do trioMarc Lieb/Neel Jani/Romain Dumas. Mas no automobilismo tem a máxima de que “para chegar em primeiro, primeiro é preciso chegar”, e foi extremamente doloroso para a Toyota ver seu carro falhar justo nos momentos finais de uma corrida de 24 horas. Por uma questão de apenas 6 minutos, quando o protótipo nipônico começou a andar devagar pela pista de Le Sarthe, a fábrica japonesa falhou novamente em tentar a conquista histórica de Le Mans. A escuderia divulgou nesta quinta-feira que o defeito provável foi causado por uma falha na ligação do tubo de ar entre o turbo e o intercooler do motor. Seja como for, foi realmente triste o desempenho notável do time japonês, que dominou a grande prova, perder dessa maneira. Mas assim é o automobilismo: ganha-se umas, perde-se muito mais. A vitória da Porsche elevou para 18 o número de triunfos da marca alemã na tradicional prova de longa duração, aumentando o seu recorde de vitórias, mas mesmo a Porsche reconhece que o mérito maior de vencer seria de seus rivais nipônicos, na divulgação de uma mensagem de apoio e reconhecimento aos seus concorrentes, num exemplo belo e elogioso do clima de “fair play” que felizmente impera nesta bela corrida. Infelizmente, por causa de um item do regulamento, que determina que um carro tem de completar a volta no circuito após a bandeirada de chegada ser dada ao vencedor, o carro N° 5 da Toyota ainda perdeu o direito de ser classificado, e com isso, quem acabou herdando a segunda colocação foi justamente o outro carro do time japonês, o N° 6, pilotado pelo trio Stéphane Sarrazin/mike Conway/Kamui Kobayashi, mesmo tendo cruzado a linha de chegada 3 voltas atrás. O carro N° 5 ainda conseguiu voltar a andar, mas tendo completado a última volta em 11 minutos, ele estourou o tempo limite determinado pelo regulamento. Dominadora em 2015, a Porsche não demonstrou a mesma força este ano, mas conseguia se manter no duelo com a Toyota, que surpreendeu pelo seu forte ritmo desde o início, a ponto de a desvantagem do time vencedor do ano passado ser de cerca de 1 minuto, quando aconteceu o improvável ao carro japonês líder. Desse modo, todas as três grandes equipes da categoria LMP1 tiveram seus percalços na mítica corrida francesa este ano. Os atuais campeões do Mundial de Endurance, o trio Timo Bernhard/Mark Webber/Brendon Hartley tiveram um problema de bateria por volta da 9ª hora de corrida que praticamente acabou com as chances de vitória. Eles ainda conseguiram chegar aos boxes e reparar o carro, que terminou apenas na 13ª posição, com 38 voltas a menos. Para a Audi, a situação foi ainda pior, sem conseguir discutir o andamento com os rivais Porsche e Toyota, os carros de Ilgolstadt viraram figurantes na briga, e ainda viram o carro n° 7 ter problemas com furos nos pneus e em outros lugares, perdendo várias voltas para reparar os percalços: o resultado foi o 3° lugar com o carro N° 8, conduzido por Lucas Di Grassi, Loïc Duval, e Oliver Jarvis, com 12 voltas de desvantagem, enquanto o N° 7 chegou ainda mais atrás, em 4°, com 17 voltas a menos. Isto é Le Mans, e todos já começam a pensar na corrida do ano que vem, pensando novamente na chance de fazer melhor do que neste ano. E a Toyota vai demorar um bom tempo para esquecer o drama do último domingo...
Sem potência, o carro N° 5 da Toyota arrastou-se nos minutos finais, perdendo uma vitória há muito esperada pela fábrica japonesa em Sarthe.


Os pilotos brasileiros tiveram uma corrida complicada nas 24 Horas de Le Mans este ano. Competindo pela Audi, Lucas Di Grassi nunca teve ritmo para lutar pela vitória, e no final, só subiu ao pódio pela derrota do Toyota que tinha tudo para vencer a corrida. O 3° lugar nem pôde ser comemorado direito se levarmos em conta que o carro onde Lucas competia chegou nada menos do que 12 voltas atrás do vencedor, num resultado que ficou muito ruim para um time do porte da Audi, que problemas de percurso à parte, nunca mostrou o mesmo ritmo dos adversários. Ainda na categoria LMP1, Nelsinho Piquet, competindo pela Rebellion acabou classificado em 29° na classificação geral, com 330 voltas completadas. Já na LMP2, Oswaldo Negri Junior, por sua vez, teve uma honrosa 14ª posição no geral, seguido logo a seguir pelo carro que teve Bruno Senna na competição. Pipo Derani e seus colegas ficaram em 42° lugar. Na LMGT-Pro, Fernando Rees e seus colegas da Aston Martin ficaram em 24° lugar. Melhor sorte na próxima oportunidade, e ao mesmo tempo, felicitações por terem conseguido, à maneira de cada um, completar a corrida em Sarthe, onde simplesmente sobreviver às 24 horas da corrida já pode ser considerado um grande feito...


Se as 24 Horas de Le Mans foram de emoção com o pé no fundo no acelerador, a estréia da F-1 na capital do Azerbaijão, Baku, trouxe a prova mais enfadonha da categoria máxima do automobilismo na atual temporada. De positivo mesmo, apenas a beleza da cidade e ver que a pista de rua realmente se mostrou rápida. Por outro lado, times e pilotos pareceram conservadores demais na corrida, com estratégias simplesmente muito similares entre todos, e com menos disputas do que se seria de supor. No fim de semana, alguns pilotos chegaram a afirmar que o circuito de rua tinha condições de segurança inferiores às de outras pistas, mas a F-1 não teve incidentes de monta como se imaginava. Por outro lado, fala-se que, temendo causarem acidentes em demasia, todos os pilotos teriam sido “prudentes” na disputa do GP. Verdade ou não, a corrida perdeu feio a disputa das atenções automobilísticas no fim de semana, ainda mais rolando a decisão dramática das 24 Horas de Le Mans na França, que roubou a atenção até de quem estava na sala de imprensa do circuito, que diga-se de passagem, ficou bem longe do paddock, irritando quem precisava correr de um ponto a outro. Na opinião de muitos, os pilotos meio que se “acovardaram”, e poderiam ter feito uma corrida muito melhor em Baku. Vejamos o que acontecerá no ano que vem então... Mas o público quer ver mesmo é briga na pista, e não procissões em alta velocidade. Que depois não venham reclamar novamente que a F-1 está perdendo sua atratividade...

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