A magia das 500 Milhas
de Indianápolis atacou novamente, e a 100ª edição da prova mais famosa do
automobilismo mundial viu um novato ascender do posto de piloto de meio do grid
a tornar-se o mais novo herói do mítico templo da velocidade que é o
Indianapolis Motor Speedway, marca que certamente poderá dar novo rumo à sua
carreira nas pistas, pois nenhum vencedor da Indy500 pode ser tratado como um
simples competidor.
Alexander Rossi é mais
um piloto que simplesmente não conseguiu engrenar na F-1 a ver que existe todo
um grande mundo fora da categoria máxima do automobilismo para competir, e
apesar de ainda ser oficialmente o piloto reserva da equipe Manor, e talvez ter
até chance de competir nas últimas corridas da temporada, caso se confirme a
falta de patrocínio de Rio Haryanto para toda a temporada, sua carreira agora
deve se voltar para os Estados Unidos. Nascido em Auburn, na Califórnia,
Estados Unidos, Rossi direcionou sua carreira visando chegar à F-1, mas a
realidade financeira da categoria máxima do automobilismo não lhe permitiu
fincar raízes nela, e este ano, ganhou a chance de disputar a Indy, com muito
mais chances d que ficar esperando uma chance em algum time de fim de pelotão. Fazendo
uma temporada honesta, com resultados medianos, sem exageros, mas também não
cometendo muitos erros, Rossi venceu a Indy500 tendo o mérito de sobreviver
ileso onde vários outros pilotos gabaritados não conseguiram permanecer
inteiros. E, com a estratégia de paradas comandada pelo ex-piloto Bryan Herta,
coube a Alexander acelerar firme para se tornar o herói do dia da centésima
edição das 500 Milhas de Indianápolis, um momento único no mundo do esporte a
motor, tornando-se o primeiro novato a vencer a corrida desde o triunfo de
Hélio Castro Neves em 2001. Mas Helinho já vinha de uma temporada bem-sucedida
no ano anterior, onde venceu suas primeiras corridas pela F-Indy original, e
deu início à sua marca “registrada” de comemorar suas vitórias, subindo no
alambrado e acenando para a torcida, ganhando a alcunha de “Homem-Aranha”.
Quando o brasileiro chegou e venceu a Indy500, já era um nome conhecido do
público. Alexander Rossi é diferente: ele era praticamente um desconhecido até
cruzar a Brickyard Line na frente no último domingo. De ilustre novato
desconhecido, seu nome agora está em centenas de matérias publicadas em
jornais, revistas e sites do mundo inteiro.
A badalação para quem
vence a Indy500 é intensa. O vencedor tem uma extensa agenda para tratar dos
mais variados assuntos, bem como comparecer a eventos e cumprir um ritual de
procedimentos que nem cabe relacionar
aqui, sendo um dos mais conhecidos posar ao lado de seu carro com o famoso
troféu Borg-Warner, que terá seu rosto esculpido e adicionado nele. Jantares,
festas de patrocinadores, entrevistas, visitas beneficentes, etc... E se tudo
isso já era rotineiro numa edição “convencional” das 500 Milhas, este ano, por
se tratar da comemoração da 100ª edição da prova, adquire ares ainda mais
glamorosos e extensos. Afinal, não é qualquer dia que temos uma corrida ter sua
centésima edição, ainda mais uma Indy500.
E exatamente por isso,
muito comemorado pela mídia norte-americana, que soube tratar o evento com a
grandiosidade que a marca da centésima edição merecia. Foram diversas matérias veiculadas
pelos principais órgãos de imprensa e publicações especializadas, além do
material exibido pela rede ABC, que transmitiu a corrida, com várias histórias
e homenagens aos personagens que fizeram parte da história do famoso oval, que
teve suas primeiras corridas disputadas praticamente na terra, para depois
verem o piso de tijolos, e finalmente o asfalto. Do primeiro vencedor da edição
original de 1911, Ray Harroun, até Alexander Rossi, o último a triunfar, no
domingo passado, as 500 Milhas de Indianápolis viveram uma rica e longa
história que atingiu um patamar invejável no mundo do esporte a motor. Apenas
as 24 Horas de Le Mans, e o Grande Prêmio de Mônaco de F-1, possuem estatura de
atração à altura da Indy500, se bem que nos últimos tempos, Mônaco vive mais do
glamour e das festas que a F-1 promove no pequeno principado do que pela emoção
da corrida em si.
E emoção foi algo que
não faltou nas 500 Milhas deste ano. Praticamente metade do grid poderia ser
considerada candidata à vitória, ostentando performances variadas, mas
aguerridas, incluídos aí a dupla brasileira, Tony Kanaan e Hélio Castro Neves,
que já subiram no Victory Line e estavam à busca de repetir mais uma vez suas
conquistas. Uma parada emergencial a poucas voltas do final acabaram com as
chances do baiano, que mesmo assim terminou a corrida em 4° lugar. Para Hélio,
o azar de ter a asa traseira danificada num toque com J.R. Hildebrand arruinou
suas possibilidades de conquistar a 4ª vitória e unir-se ao panteão sagrado
daqueles que venceram a Indy500 em quatro oportunidades, acabando o brasileiro
da Penske cruzando a linha de chegada em um imerecido 11° lugar. A Penske e
Hélio estavam afinados, tanto na pista quanto nos boxes, e as chances de
vitória eram boas. Mas a Indy500 é cheia de surpresas, e nada garantiria que
Alexander Rossi não vencesse mesmo que alguns pilotos não tivessem seus
percalços. Ele soube acelerar fundo, pilotou como um veterano, e mereceu beber
o leite da vitória ao fim da corrida, onde faturou quase R$ 10 milhões com a
premiação pela vitória, além de outros bônus variados. E foi uma vitória
dramática para o piloto, que cruzou a linha de chegada 4s à frente de Carlos
Muñoz, praticamente no cheiro de combustível: seu carro parou poucas centenas
de metros adiante, já com o tanque vazio. Rossi já estava desacelerando
lentamente na última volta, enquanto os outros pilotos, com combustível farto,
voavam baixo na pista, e todos se perguntavam se ele conseguiria cruzar a linha
de chegada, quando entrou na reta dos boxes ainda com razoável embalo, e
felizmente a perda radical de velocidade só se pronunciou mesmo após cruzar a
famosa Brickyard Line. E Indianápolis é assim: já vi casos de pilotos que
tinham a vitória à vista, para perderem-na em questão de segundos, e até mesmo
a poucos metros da bandeirada de chegada. Em 2011 J.R. Hildebrand liderava e
vinha para vencer quando bateu na última curva da última volta, entregando a
vitória de bandeja para Dan Wheldon. Hildebrand ainda cruzou a linha em segundo
lugar, com seu carro se arrastando após a batida no muro. Rossi correu risco
parecido, e seu carro poderia ter engasgado em plena reta de chegada e lhe
feito perder a vitória, mas o risco de apostar numa estratégia diferente dos
demais pilotos deu certo, e se tem uma coisa que todo torcedor de corridas
gosta, é de uma vitória no extremo das chances. Economizando combustível o
máximo que pôde sem deixar de ser veloz, Rossi passou raspando na linha entre a
vitória e a derrota, e deu a vitória. Foi por pouco, suada, e por isso mesmo,
muito comemorada. Novamente, é a magia de Indianápolis em ação, para dar à
conquista uma dimensão muito maior do que a de sobreviver a uma corrida de mais
de 800 quilômetros de percurso, que por si só já é um feito.
Outro ponto a se
comemorar é que a corrida deste ano foi relativamente tranquila, com poucos
acidentes durante sua disputa. Cerca de 8 pilotos tiveram seus enguiços com o
famoso circuito oval, mas nenhum acidente foi violento, e todos os pilotos
saíram andando ilesos de seus carros, sem nenhum problema de monta, passando
pelos exames médicos apenas por questão de rotina em casos de acidentes na
pista oval do circuito de Indiana. Fora isso, tivemos alguns toques e empurrões
nos boxes, mas nada que ferisse alguém. Não houve nenhum problema grave na área
do pit line, que na grande história da Indy500 já viveu momentos escabrosos e
até dramáticos envolvendo pilotos e mecânicos, e nem sempre com bons
desenlances.
Mas a semana de sonho
de Alexander Rossi já ficou para trás. Hoje ele já entra na pista em Detroit
para a rodada dupla do campeonato que será disputada neste fim de semana. Não
terá o glamour nem a importância da Indy500, mas pouco importa: ele já ganhou
literalmente o seu ano em 2016. O que vier agora é lucro. E que possa
aproveitar as oportunidades que sua nova fase da carreira em sua terra natal
possa lhe apresentar.
Lewis Hamilton enfim desencantou
na temporada atual da F-1. O tricampeão mundial por pouco não teve sua
classificação prejudicada no Q3 no sábado, quando surgiu um problema no motor
que, felizmente, foi sanado pelos mecânicos e ainda o devolveu à pista em tempo
de fazer a 3ª melhor marca. Se é verdade que contou com a benevolência de Nico
Rosberg, que abriu caminho ao ver que não tinha ritmo para segurar o colega de
time atrás de si, por outro lado mereceu elogios pela tática ousada de fazer
apenas uma parada, e depois conseguir ir praticamente até o final da prova de
Mônaco com os pneus ultramacios, que ninguém esperava que durassem tanto como se
viu nas ruas do principado. Melhor ainda para Lewis foi ver Rosberg terminar em
um 7° lugar, perdendo a 6ª colocação na última volta, e com isso reduzir sua
desvantagem para 24 pontos para o alemão, que ainda tem muita folga na
classificação d campeonato. É cedo para dizer que Hamilton está retomando a
disputa, mas depois do que vimos este ano nas etapas disputadas até aqui, é
preciso ver o que acontecerá numa disputa homem a homem entre Hamilton e
Rosberg, quando nenhum deles tiver problemas, para vermos quem de fato está
mais forte no duelo deste ano pelo título. A vitória de Hamilton em Mônaco
reacende a chama da disputa, e deve garantir a atratividade das próximas
etapas, a começar por Montreal, onde Lewis promete vir forte para engatar de
vez sua reação na competição. Rosberg que fique de sobreaviso...
Cada vez que vejo uma corrida sob
chuva ter de ser iniciada com safety car, vejo o quanto a F-1 está acovardada e
cheia de frescura atualmente. Não se trata de flertar com a insegurança, mas os
pilotos da categoria não estão ali para ficar zanzando atrás do carro de
segurança à toa. OK, Mônaco e seus guard rails muito próximos poderiam fazer um
estrago monumental em caso de bobeira na largada, mas que ficasse apenas na
primeira volta. Outra idiotice que vejo hoje em dia é não permitir mudar o set
up dos carros em caso de prova que comece com chuva. Nos velhos tempos, quando
a corrida seria disputada sob piso molhado, os pilotos e equipes tinham um
treino extra de quinze minutos para ajustarem os carros. E eles iam para a
pista, sem essas idiossincrasias de hoje. Um ajuste nas suspensões, bem como
nas asas dos carros, já lhes daria muito mais condições de enfrentar melhor o
piso molhado, mas a “santa” FIA parece que não enxerga da mesma maneira,
servindo atualmente mais para inventar regras imbecis do que regras de bom
senso. Ao menos, não foram idiotas a ponto de manter o Safety Car até que a
pista secasse, mas chegaram perto disso, a ponto de irritar alguns pilotos, que
queriam que a corrida começasse de fato logo de uma vez. Depois, quando se
perguntam porque a F-1 anda perdendo popularidade, dá vontade jogar esses caras
do alto do pier de Monte Carlo... e sem salva-vidas...
Simplesmente ridícula a posição
da equipe Sauber com relação ao enrosco entre seus pilotos Marcus Ericsson e
Felipe Nasr durante o GP de Mônaco domingo passado. Ericsson precisando pedir
permissão para ultrapassar o companheiro de equipe? Que vá e passe logo! Não
dizia que estava mais rápido, ora essa? Mas Mônaco é Mônaco, e se não dá para
passar, é preciso ser mais audacioso e arrojado, e não ser estúpido como o
sueco foi, resolvendo atacar logo nas Rascasse. Nunca vi algum piloto se dar
bem numa tentativa de ultrapassagem por ali. Não dá para fazer a tomada sem
entrar no rumo do outro carro, e o resultado só poderia ser aquele. A Sauber
fala que não aponta culpados pela manobra, mas isso é o mínimo que deveria
fazer. Abomino o jogo de equipe, não importa quem o pratique. Se um piloto é
bom, que mostre isso na pista, e não fique dependendo de firulas dos boxes ou
da direção da equipe. Na minha opinião, a única ordem da Sauber deveria ser
para os pilotos não baterem um no outro. Se quiser passar, e tiver condições,
que vá e passe, tomando o cuidado óbvio de um não acabar com a corrida do
outro. O pretenso jogo de equipe defendido pelo time suíço em sua declaração
aos fãs soa mais como uma afronta ao torcedor que quer ver a disputa na pista,
e não nas ordens de box. Compreendo o jogo de equipe apenas em situações
extremas, do tipo de disputa final de um título, o que não quer dizer que acho
justificável. Aliás, A Sauber já não merece muito do meu respeito por conta do
que fez com Felipe Massa em 2002, quando o brasileiro foi demitido em virtude
de ignorar ordens da equipe para ceder posição na pista para seu companheiro
Nick Heidfeld. Da mesma forma como a Ferrari também para mim não terá nunca
toda a simpatia pelos jogos de equipe praticados na Era Schumacher, que começou
lá em 1997, quando o time só tinha olhos para Michael e chegava a reduzir seus
companheiros de equipe a meros lacaios obedientes. Estou sendo radical? Talvez,
mas isso porque defendo mesmo é a disputa na pista, a essência da competição,
que anda meio combalida com algumas frescuras adotadas pela F-1 nas últimas
décadas em alguns de seus times.
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