Chegamos a Montreal,
para o Grande Prêmio do Canadá, onde a F-1 costuma apresentar corridas bem
interessantes e disputadas, e uma das minhas pistas favoritas do campeonato.
Depois da vitória de Lewis Hamilton em Mônaco, há duas semanas, todos querem
saber se o atual campeão irá manter firme sua reação na competição, e partir
para a caça ao líder Nico Rosberg, que teve sua primeira corrida abaixo das
expectativas justamente em sua casa, em Monte Carlo. A vantagem do piloto
alemão ainda é bem satisfatória, o que significa que Hamilton, mesmo que vença
a corrida canadense, terá de torcer para um mau resultado de seu parceiro de
equipe, a fim de maximizar seu triunfo.
Em meio a tudo isso,
um assunto que foi levantado durante a semana é sobre o jejum de vitórias
brasileiras na F-1. O último triunfo foi em 2009, obtido por Rubens Barrichello
no Grande Prêmio da Itália, em Monza. De lá para cá, nenhum piloto do Brasil
tornou a subir ao degrau mais alto do pódio na categoria máxima do
automobilismo nacional. O “recorde” anterior da entressafra de triunfos
tupininquins na F-1 era do período da última vitória de Ayrton Senna, em 1993,
no Grande Prêmio da Austrália, até o Grande Prêmio da Alemanha de 2000, onde
Rubens Barrichello venceu pela primeira vez na categoria, totalizando 2.458
dias entre uma vitória e outra. Esse número de jejum de vitórias verde-amarelas
na F-1 foi atingido no último domingo, ou seja, já estamos vivenciando a maior
entressafra de vitórias nacionais na principal categoria automobilística do
planeta, e com perspectivas nada animadoras de ser encerrada tão cedo.
Temos apenas dois
representantes na F-1 atualmente. Felipe Massa, pela Williams; e Felipe Nasr,
pela Sauber. Nas atuais condições de seus carros, infelizmente eles precisam de
um milagre para conseguir vencer. Para Massa, a tarefa é menos impossível, mas
não menos difícil. A Williams tem um bom carro, mas sua evolução para este ano
não acompanhou as principais rivais, como Ferrari e Red Bull, e está cada vez
mais distante da toda-poderosa Mercedes, de onde havia se aproximado bastante
no fim da temporada 2014. Para Felipe Nasr, tido como nova esperança brasileira
na categoria, não há milagre que o permita fazer muito mais do que vem
demonstrando o carro da escuderia suíça, que já viveu melhores dias.
Durante a semana, essa
“seca” de triunfos brasileiros na F-1 foi discutida em fóruns de internet, em
programas especializados, como o novo Fox Nitro, e esmiuçados por jornalistas
especializados, como Flávio Gomes e Lívio Oricchio, entre outros. Lívio trouxe
uma análise bem acurada do problema, que é mais abrangente do que muitos
imaginam, apontando algumas das principais dificuldades que a nossos pilotos
enfrentam em sua formação no pífio automobilismo nacional de que dispomos
atualmente. Definitivamente, há um monte de problemas que contribuem para a
falta de renovação do plantel de pilotos brasileiros no automobilismo
internacional, e falta muita vontade e disposição por parte de muitos para se
quebrar esse momento ruim em que vivemos. A CBA praticamente tira seu corpo
fora, como se não tivesse nada a ver com isso, e pior ainda, culpa o momento de
crise econômica para justificar as dificuldades, além de quase se “santificar”
pelo quase nada que faz atualmente, como se isso fosse um favor que ela presta
de boa vontade, quando na verdade nem consegue fazer sua obrigação direito.
Desnecessário eu elencar ^novamente tudo o que já foi dito nas análises da
semana feitas por Flávio e Lívio em seus respectivos canais.
Mas a consequência de
termos cada vez menos representantes nacionais em competições de peso mundo
afora é real e cada vez mais séria. Na F-1, Felipe Massa provavelmente deixará
a categoria em pelo menos umas três temporadas, talvez mais, talvez menos.
Nasr, por outro lado, precisa lutar para não ser tragado pelo momento ruim de
seu time, situação que já “matou” a carreira de muitos pilotos talentosos na
categoria. No horizonte, Pedro Piquet, Pietro Fittipaldi, e Jaime Sette Câmara
despontam como mais prováveis pilotos brasileiros a surgirem para a F-1, mas o
caminho até lá ainda será tremendamente árduo, e lá chegando, precisam cair no
lugar certo, e no momento certo. Caso contrário, vencer continuará sendo um
objetivo distante e algo que os torcedores brasileiros só se lembrarão olhando
para o passado.
O momento de jejum de
vitórias de nossos pilotos na F-1 vem fazendo o interesse da grande torcida
diminuir ano após ano. Não apenas nos índices de audiência, mas na própria
cobertura especializada que havia em nosso país. Basta ver o exemplo de “O
Estado de São Paulo”, que mal vem falando da F-1 atualmente, reduzindo o
noticiário a meras notas rápidas em sua seção de esportes. No caso da Globo,
então, pior ainda: a corrida deste fim de semana será mostrada apenas em VT na madrugada
de domingo para segunda feira, após jogo do Brasil pela Copa América. Quem
quiser assistir direito à corrida precisará apelar ao canal pago SporTV. Aliás,
a Globo reduziu seu staff de corridas para esta temporada: Apenas a equipe de
reportagem está presente nos autódromos este ano, ficando narrador e
comentaristas fazendo o trabalho em estúdio, no Brasil, pelo menos até este
momento do campeonato.
Não que nossos pilotos
não tenham conseguido brilhar lá fora: Lucas Di Grassi luta pelo título da F-E,
tendo obtido sua primeira vitória no Mundial de Endurance; na IRL, Hélio Castro
Neves é o 3° colocado no campeonato, e tanto ele quanto Tony Kanaan tem carro e
equipes para vencer corridas na categoria; Pipo Derani fez bonito nas 24 Horas
de Daytona, e repetiu a dose em Sebring. Mas, e daí? A imprensa tem feito uma
cobertura pífia destes bons resultados, obtidos em categorias, na prática,
desconhecidas para a grande massa dos torcedores nacionais. Apenas os
aficionados, que acompanham as competições do esporte a motor com mais atenção,
tem tido conhecimento destes bons momentos. E, justamente por serem categorias
“estranhas” a esse grande público, o interesse do mercado nacional em explorar
o meio automobilístico é praticamente nulo.
Sem o grande público para
ter interesse, as empresas nacionais, que já foram muito solícitas em apoiar
nossos pilotos, hoje pensam muito antes de investir em alguém. Além do fator
crise, que certamente atrapalha, a relação custo-benefício tem sido cada vez
mais invocada quando se tem algum projeto de fato para o setor. A desculpa da
crise é muito conveniente, mas em tempos onde nosso país vivia inflação
galopante e tinha a economia mais fraca do que hoje, havia muitas empresas
apoiando não apenas nosso automobilismo, como patrocinando diversos pilotos,
desde suas primeiras categorias de competição. Hoje, isso praticamente sumiu,
fora o agravante de os valores atuais necessários para o devido aporte ter
aumentado a níveis absurdos também. Mas antigamente havia o interesse do grande
público, e isso justificava a maior disposição das empresas em apoiar nossos
pilotos. E, lamentavelmente, o público seleto que realmente gosta de
automobilismo no Brasil, que curte as corridas, conhece as categorias em
disputa, seus pilotos e times, e segue com afinco as provas, não tem um número
que seja interessante para atrair potenciais interessados. Falta o que se chama
“massa crítica”, que é quando o público potencial passa a atrair de fato o
interesse de algum investidor ou de um projeto se sustentar firmemente voltado
apenas para esse nicho de mercado.
Daí a diferença para
países da Europa, como Itália, Alemanha. França, ou Inglaterra: tenham ou não
pilotos fortes na F-1, eles possuem campeonatos firmes e um automobilismo
poderoso porque há um grande público que curte as corridas e disputas do
esporte a motor. E as empresas lutam pela atenção desse público, e sabem
cultivá-lo. Pilotos recebem investimentos fortes já nos campeonatos de kart,
empresas e montadoras investem nos certames, etc. Há uma cultura de fomento ao
automobilismo, que é bem gerida na sua maioria, e que é vista com seriedade. No
Brasil, perdeu-se essa cultura, que infelizmente dependeu muito das conquistas
de nossos representantes na F-1, que sempre foi nossa maior vitrine desde as
primeiras vitórias de Émerson Fittipaldi. E, nos tempos de hoje, onde o
profissionalismo foi levado a níveis cada vez mais altos, quando se olha para o
passado e vê o que nossos pilotos conseguiram naqueles tempos, pode-se dizer
que quase se chega a acreditar em alguns milagres.
Tivemos três pilotos
fora de série, Émerson Fittipaldi, Nélson Piquet e Ayrton Senna, e muitos bons
pilotos, que souberam honrar o capacete que vestiram, mas que para o grosso da
torcida, se não venciam, simplesmente não prestavam ou eram tachados de
“fracos”, “submissos”, “incompetentes”, além de outros adjetivos menos
elogiosos. E esse comportamento da grande torcida, de só valorizar vencedores
e/ou campeões, ajudou-nos a chegar no nosso estado atual, embora não seja o
único culpado por tudo.
Nossa atual “seca” na
categoria máxima do automobilismo, em condições normais, tem tudo para ir
muito, muito longe. Em tese, termos pilotos na F-1 já poderia ser considerado
um privilégio: são apenas 22 carros, com pilotos que vem do mundo inteiro, e
temos ali, no momento, dois representantes. Mas, para a grande maioria da
torcida, isso não basta... É considerado tão somente como obrigação... Muita
coisa precisa mudar no Brasil para que tenhamos novamente condições de fornecer
pilotos em quantidade e qualidade para o mundo do automobilismo, de modo a
facilitar o encaixe de um potencial piloto a ser novamente campeão na categoria
máxima do automobilismo. Do jeito como está atualmente, nossos poucos pilotos
que chegam lá fora precisam literalmente correr em dois páreos ao mesmo tempo
só para tentarem tirar a diferença de preparação que os pilotos europeus já
contam.
O problema é que pedir
mudanças no Brasil atualmente está sendo uma via cruccis das mais complicadas.
Nossa situação política, então, nem se fala... Parece que o brasileiro terá de
sofrer muito e passar do fundo do poço, para ver se toma jeito e realmente muda
sua mentalidade... Algo que lamentavelmente também se aplica às nossas gestões
esportivas, incluída aí a inoperante CBA, que continua teimando em se fazer de
surda às prementes necessidades de nosso automobilismo nacional, que sobrevive
aos trancos e barrancos, podendo literalmente capotar mais dia, menos dia, e
nunca mais conseguir retomar a competição...
Acostumem-se, portanto,
com o jejum de triunfos na F-1...
Esta pista de Montreal exige
bastante de dois componentes dos carros: motor e freios. Há bons trechos de
retas, onde os propulsores são exigidos a fundo, entrecortados por curvas de
baixa que necessitam de freadas bem fortes, como a curva do Hairpin, um dos
pontos mais favoráveis para se tentar ultrapassagens, onde os carros chegam em
alta velocidade, passando logo a seguir para o trecho de maior aceleração da
pista. Não é difícil os bólidos terem problemas com os freios neste circuito.
Os bons trechos de aceleração, com destaque para a porção da pista que conduz à
reta dos boxes, exigem bastante dos motores, e esse é um detalhe interessante
para vermos como ficou o desempenho global das novas atualizações na unidade de
potência da Renault, que foi muito bem em Mônaco, e já tinha conquistado
elogios dos engenheiros nos treinos realizados na pista de Barcelona. Mas
potência não é algo determinante na pista monegasca, o que não é o caso aqui
desta pista, onde a força bruta do motor conta muito. Se as atualizações feitas
conseguiram aproximar realmente o desempenho da Renault em relação a Mercedes e
Ferrari, será algo muito positivo para a competição, pois significa que a Red
Bull poderá voltar a disputar firme as primeiras colocações nas corridas.
Depois dos resultados que vimos em Barcelona e Monte Carlo, há suspeita de que
a própria Ferrari já teria ficado para trás em relação ao time dos energéticos,
mas acredito que aqui no Canadá poderemos ter uma melhor avaliação do potencial
de competitividade da Red Bull com a nova versão do motor Renault, e se eles
estão realmente conseguindo superar o desempenho competitivo da Ferrari.
Aguardemos pelos primeiros treinos livres de hoje.
O belo circuito Gilles Villeneuve, montado na Ilha de Notre Dame, no Rio São Lourenço, em Montreal, requer freadas fortes e motores potentes, e recebe a F-1 neste final de semana... |
A nova competitividade da Red
Bull acendeu o sinal vermelho em Maranello, aliás. O time rosso trouxe
atualizações em sua unidade de potência para este GP, confiante em retomar sua
posição de principal adversária da Mercedes. A Ferrari também confia nas
características desta pista para superar a Red Bull, uma vez que o circuito
canadense não privilegia tanto o equilíbrio do chassi do carro, o que significa
que também a Williams, e até a Force India, pensam alto para a corrida deste
final de semana. Para o time de Frank Williams, é o momento de compensar o mau
resultado da corrida de Mônaco, que voltou a evidenciar a fraqueza do seu carro
em pistas travadas e de baixa velocidade, ponto vulnerável mais do que
conhecido no ano passado, e que deveria ter sido pelo menos minimizado no
projeto do carro deste ano. Já está se tornando consenso no paddock que a
Williams terá de repensar sua base de projeto para 2017, pois a atual,
concebida em 2014, parece não conseguir mais evoluir o suficiente para superar
os adversários mais diretos, como Ferrari e Red Bull, o que deve relegar a
escuderia à 4ª colocação na relação de forças da F-1 atual. Não seria uma
posição exatamente ruim, mas se pensarmos que a McLaren está lutando bravamente
para evoluir, se tiver êxito, possivelmente no ano que vem, e a Williams mantiver
sua atual linha de pensamento, pode cair mais uma posição...
Nenhum comentário:
Postar um comentário