sexta-feira, 27 de maio de 2016

INDY500, 100 EDIÇÕES


O Indianapolis Motor Speedway assistirá neste domingo à 100ª edição das 500 Milhas mais famosas do mundo da velocidade. Uma marca histórica a ser comemorada.

            Uma marca histórica será atingida neste domingo no mundo do esporte a motor. As 500 Milhas de Indianápolis, uma das provas mais famosas do mundo inteiro, terá a disputa de sua 100ª edição. Disputada desde 1911, a Indy500 é praticamente a mais antiga corrida de automóvel em disputa até hoje. Para se ter uma idéia, as 24 Horas de Le Mans, outra prova tão famosa e importante no meio quanto a corrida americana, terá este ano sua 84ª edição, sendo disputada anualmente desde 1923. Não fossem as interrupções provocadas pelas duas grandes guerras da primeira metade do século passado, a Indy500 poderia ter comemorado sua centésima edição bem mais cedo, certamente em 2010.
            Largarão 33 carros para as 200 voltas da corrida, que serão feitas no traçado de 2,5 milhas do Indianapolis Motor Speedway, que teve todos os seus ingressos vendidos, cerca de 350 mil, para a corrida deste domingo. Desde o início do mês, Indianapolis já respira velocidade, tendo inclusive a disputa de uma corrida no traçado misto que existe dentro do autódromo, prova que foi vencida pelo francês Simon Pagenaud, da equipe Penske. Mas agora o desafio é muito maior: serão mais de 800 Km de percurso, e não importa qual a posição de largada. Vencerá quem chegar em primeiro ao fim da corrida, e todos que compõem o grid tem chances de serem o felizardo vencedor que levará um prêmio milionário para casa no fim do dia, além de ter a honra de ver seu rosto gravado no troféu Borg-Warner, que reúne as faces de todos os vencedores da corrida.
            A data é para ser memorável, mas infelizmente, os tempos andam bicudos na Indycar, e nem mesmo a Indy500, com toda a sua fama e tradição, parecem conseguir ficar imunes a isso. A corrida deste ano, por exemplo, teve apenas 33 carros inscritos, de modo que todos já estavam automaticamente garantidos no grid. Uma diferença de tempos mais áureos, onde o número de carros inscritos para a disputa da prova chegava quase a 100, tornando a disputa da classificação algo dramático, onde nem mesmo times favoritos conseguiam dar um jeito na situação se não mostrassem sua velocidade na pista. Um exemplo é o fiasco da equipe Penske em 1995, quando não conseguiu classificar nenhum de seus pilotos para a corrida, após uma operação de guerra que fez o time utilizar inclusive o carro do ano anterior, e até chassis emprestados por outra escuderia.
            Os treinos de preparação para a Indy500 também não são mais como antigamente. Os pilotos praticamente passavam um mês inteiro em Indianápolis, e era costume alugarem casas, ao invés de ficarem em hotéis, para se prepararem para a corrida. Haviam dois finais de semana para classificação, sendo que o segundo sábado era o chamado Pole Day, onde eram definidas as primeiras colocações no grid. No segundo domingo, bem como no fim de semana seguinte, eram definidas as posições restantes no grid. Até o pole day, tínhamos praticamente duas semanas de treinos livres, sendo que parte dos dias da primeira semana eram dedicados à avaliação dos pilotos novatos para a corrida. Todo estreante em Indianápolis tinha de passar pelo crivo de pilotos e ex-pilotos da corrida, para mostrarem estar capacitados a correr no circuito oval, que tem seus truques, e costuma ser implacável com os pilotos que subestimam sua grandiosidade e desafio. Vencido o pole day, quem não tinha tempo teria nova chance no fim de semana seguinte, enquanto quem já tinha vaga garantida, usava a terceira semana de treinos para ajustar o carro para a corrida.
O grid da primeira edição das 500 Milhas de Indianápolis: 40 carros largaram em 1911, na prova que foi vencida por Ray Harroun (abaixo).
            Aliás, é bom que se diga: em Indianápolis, quem se classifica é o carro, e não o piloto. Antigamente, ocorria de um time inscrever vários carros, que depois eram “vendidos” a pilotos que quisessem disputar a corrida, e para garantir que largassem, geralmente o time tinha um piloto mais talentoso, que ia para a pista e fazia a classificação, se necessário, para garantir o carro no grid. Por isso mesmo, nos treinos seguintes ao pole day, quem já tinha vaga garantida tinha de ser cauteloso para não sofrer um acidente, e com isso, jogar sua classificação para a corrida pelo ar.
            Por isso mesmo, é um contraponto a esta edição histórica da Indy500 não termos mais candidatos à corrida como havia antigamente. São poucos os pilotos “extras” para a corrida, que perfizeram apenas os 33 carros do grid. Antes, haviam vários times que corriam apenas esta prova, não disputando regularmente o campeonato. E mesmo quem corria todo o certame sempre tentava disponibilizar um carro extra para a corrida das 500 Milhas. Havia quem exagerasse neste quesito. Lembro-me do caso da equipe Dick Simon, que competia com dois pilotos regularmente na competição, mas que chegou a tentar correr com até 6 pilotos na Indy500 em determinada ocasião, chamando pilotos que tivessem grana disponível para pagar pela sua participação, o que valeu o apelido de equipe “rent-a-car” por parte do pessoal. Era uma loucura: além de ter chassis disponíveis (muitas vezes usavam os carros reservas como titulares, e até recorriam aos chassis na oficina, recauchutando carros do ano anterior), o time tinha de contratar turmas de mecânicos para cada carro, em esquema às vezes de emergência. Como não podia deixar de ser, se a preparação dos carros já era meio deficiente com apenas dois carros durante o campeonato, em Indianápolis ficava ainda pior. Mas sempre tinha vários candidatos que queriam tentar a sorte e, quem sabe, entrar para o hall da fama da Indy500.
Capa da edição do Jornal "Indianapolis Star", com a notícia da primeira vitória nas 500 Milhas, obtida por Harroun, em 1911.
            A corrida por isso mesmo sempre atraía alguns nomes de quilate. Al Unser, pai de Al Unser Jr., correu várias edições da corrida mesmo depois de deixar de disputar o campeonato, por exemplo. E havia até o caso de piloto que disputava nada menos do que duas corridas no mesmo dia: Robby Gordon, que era piloto regular da antiga F-Indy, depois que deixou a categoria para correr na Nascar, ainda frequentou Indianápolis por mais alguns anos, e como a Stock Car americana tem no mesmo dia da Indy500 sua mais extensa corrida do calendário, as 600 Milhas de Charlotte, Gordon nem bem recebia a bandeirada em Indy e já se mandava para o aeroporto rumo à cidade onde a Nascar disputaria sua corrida. Ele praticamente corria mais de mil milhas no mesmo dia, isso quando conseguia completar a corrida.
            É algo que infelizmente não ocorre mais. Além de os times presentes não disponibilizarem mais carros extras como antigamente, sumiram também quase todas as escuderias que antes vinham para correr apenas aqui. Um destes times era Menard, que hoje tem sua participação reduzida ao patrocínio no carro de Simon Pagenaud, da Penske, mas que em 1992 e 1993, tentou competir com ninguém menos do que Nélson Piquet. O brasileiro sofreu um pavoroso acidente no primeiro ano, ficando de fora, e teve uma participação discreta no ano seguinte.
            Na edição deste ano, poucos times e pilotos estarão no grid apenas nesta corrida, como é o caso de Budy Lazier, que corre por seu próprio time, a Lazier, e apenas aqui. Ele larga apenas em 32° lugar. Outro é Bryan Clauson, pelo time Jonathan Bird. Times como a Carpenter, KV, Foyt, Rahal-Letterman-Lannigan, disponibilizaram carros extras para outros pilotos. Realmente, comparado ao que já vi há anos atrás, é muito pouco. Ainda mais por se tratar de uma corrida histórica para Indianápolis. Além dos motivos já citados acima, dependendo da modalidade, não há como chamar pilotos de quilate, ou não, para competir em Indy quando eles já tem seus campeonatos prioritários para competir.
            Ou alguém acha coincidência termos o Grande Prêmio de Mônaco no mesmo dia da Indy500? Já imaginou se um piloto de quilate da F-1 resolve se aventurar em Indianápolis, e se dá bem por lá? Antigamente, haviam até quem fizesse isso, mesmo sacrificando sua participação na corrida de Mônaco, como Jim Clark, que aqui veio e venceu em 1965, no mesmo ano em que também foi bicampeão da F-1. Bernie Ecclestone hoje teria um troço com um acontecimento desses, portanto, nada de um dos pilotos de seu categoria querer se aventurar em outras competições. Tanto que foi marcado para este ano uma corrida no mesmo fim de semana das 24 Horas de Le Mans. Muito provavelmente depois que Nico Hulkenberg, competindo pela Porsche no ano passado, venceu a corrida em Sarthe, quando também disputava a F-1 pela Force India.
Juan Pablo Montoya foi o último vencedor das 500 Milhas, no ano passado. Quem levará a vitória neste ano, em sua 100ª edição?
            Uma pena que isso ocorra. E é uma pena também que o prestígio da Indy500 já não seja mais tão forte quanto antigamente, quando isso fazia muitos outros pilotos arriscarem sua participação na prova, não importando como ou de que jeito iriam competir. As dificuldades econômicas infelizmente também contribuíram para a diminuição drástica do número de interessados na aventura. Mesmo assim, a tradição das 500 Milhas segue firme, e a 100ª edição já garante um lugar de destaque na história mundial do automobilismo a esta corrida que será a primeira a poder se chamar de prova centenária, sendo disputada ano após ano, ininterruptamente, com exceção dos anos em que ficou sem ser realizada, unicamente em razão das guerras mundiais. Neste domingo, com todas as arquibancadas lotadas neste circuito, todos os presentes estarão presenciando um momento único, que muitos fãs das corridas e do esporte a motor gostariam de vivenciar em primeira mão. Com problemas ou sem eles, as 500 Milhas continuam com sua mística, seu desafio. Largar pode ser até fácil; chegar à bandeirada final já será um desafio. Mais do que cruzar a famosa Brickyard Line, cada competidor aqui deve sobreviver à corrida acima de tudo. Uma prova que sempre pode apresentar surpresas, boas ou ruins, e que a competição mostra como os pilotos encaram esta corrida.
            Para os fãs do automobilismo, com a decisão da Bandeirantes de não transmitir mais os jogos do Campeonato Brasileiro, abriu um espaço em sua grade que será bem aproveitada para as transmissões ao vivo das corridas da Indycar, começando já neste fim de semana com as 500 Milhas de Indianápolis. Infelizmente, o tratamento dado pela emissora à corrida será apenas o básico, sendo que Téo José, que fará a narração da corrida, não estará em Indianápolis, fazendo o trabalho em estúdio. E, mesmo sabendo que a famosa corrida terá sua 100ª edição, mesmo assim, nenhum material especial sobre este acontecimento foi preparado. Inclusive, a programação da emissora mostra que eles entrarão ao vivo quase na hora da largada, ou seja, nem mesmo haverá tempo de se discutir antes da largada um pouco da história da corrida, que merecia um pouco mais de consideração por parte da Bandeirantes. Mas, como a emissora está com suas verbas meio apertadas, não houve muito esforço em valorizar o acontecimento histórico. Uma pena.
            Resta torcer por nossos pilotos na luta pela vitória. Hélio Castro Neves, três vezes vencedor nesta pista, vai em busca do seu 4° triunfo, o que o igualaria aos maiores vencedores da história da Indy500, A. J. Foyt, Al Unser, e Rick Mears. Tony Kanaan, vencedor na Brickyard Line em 2013, tentará seu segundo triunfo, mas a parada será difícil: tanto Hélio como Tony tiveram alguns problemas de velocidade com seus carros na classificação, e tiveram que fazer novos ajustes visando a corrida. Tony aparentemente melhorou seu ritmo, e espera combinar seu tradicional arrojo com cautela e paciência para avançar na corrida conforme as possibilidades e poupar combustível e equipamento. Velocidade é importante, mas a estratégia de corrida também costuma ser fundamental em Indianápolis. Helinho teve maiores dificuldades para melhorar seu ritmo para a prova, mas está confiante de obter um bom resultado, apesar de saber que a disputa será apertada.
            Que possamos ter uma corrida memorável, com muitas disputas e duelos, e que faça juz de ser a 100ª edição das 500 Milhas de Indianápolis. Que venha a bandeira verde!


Red Bull e Renault estrearam a nova versão da unidade de potência francesa ontem nos treinos livres de Mônaco, mas apenas nos carros de Daniel Ricciardo e Kevin Magnussem, uma vez que apenas duas unidades ficaram prontas para a corrida monegasca. Ricciardo terminou a quinta-feira com o melhor tempo, dando mostras de que os franceses estão a caminho de sua redenção, depois do péssimo desempenho de seus propulsores no ano passado, onde só ganharam mesmo das unidades da Honda. Mas será preciso esperar pela prova seguinte, no Canadá, um circuito onde a potência do motor é exigida, para ver quão grande foi a recuperação da Renault na comparação com as unidades da Mercedes e da Ferrari. Mas na melhor das hipóteses, a Red Bull pode começar a contestar a posição da Ferrari como melhor time depois da Mercedes no campeonato. Já a equipe oficial da montadora francesa precisa trabalhar muito no seu carro, que nas ruas de Monte Carlo, infelizmente não conseguiu mostrar muita coisa, evidenciando os problemas de estabilidade de seu chassi.


Como costuma ser praxe em Mônaco, erros de pilotagem não são perdoados. As ruas monegascas já são particularmente estreitas, e om carros de competição então... bem... os guard-rails são sempre bem convidativos, e tivemos vários pilotos beijando as muretas de proteção, dando bastante trabalho para seus mecânicos, especialmente aqueles que se acidentaram no primeiro treino livre, a exemplo de Felipe Massa, que obrigou a equipe Williams a correr para reparar o carro do brasileiro a tempo para o segundo treino livre. E houve também as tradicionais escapadas de pista, principalmente na Saint-Dévote, a primeira curva do circuito, ponto potencial de enroscos entre os pilotos na largada ou durante a corrida. A pequena igreja de Saint-Dévote que fica ali mais para o fundo precisa mesmo da ajuda de sua santa durante o fim de semana de GP, pois sempre alguém está escapando por ali. A igreja está sempre aberta para receber seus visitantes, mas não é preciso entrar com carro e tudo, dizem os mais bem-humorados quando se fala dos pilotos que ali ou escapam ou se acidentam. No ano passado, a curva viu o acidente entre Romain Grosjean e Max Verstappen, felizmente sem ferimentos para ambos, só prejuízo mesmo em seus carros e terem ficado fora da corrida. Mas o caso mais bizarro desta quinta-feira foi um pequeno bueiro da sarjeta ter sido levantado pela passagem de um carro, e acabou atingindo a McLaren de Jenson Button, que felizmente nada sofreu além do susto, escapando também de sofrer um acidente a alta velocidade na subida para o cassino. A peça foi recolocada no lugar e soldada para maior segurança. E ninguém se machucou nos incidentes, felizmente...

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