Está
na hora de começar mais uma temporada da Fórmula 1. Neste final de semana,
todos os times estão embarcando rumo a Melbourne, onde no próximo final de
semana será dada a largada do mundial, com a disputa do Grande Prêmio da
Austrália. Tivemos a pré-temporada mais magra de que há notícia: apenas 8 dias
de treinos, e realizados unicamente na pista de Barcelona, palco já mais do que
conhecido dos times e dos fãs que acompanham a competição. E o que podemos
esperar do campeonato deste ano? Mais uma temporada sob domínio da Mercedes, ou
teremos mais competição e disputa do que a dos últimos dois campeonatos?
No
que tange à disputa pelas primeiras posições, a Mercedes infelizmente tem tudo
para continuar na frente. O time alemão conseguiu produzir novamente um carro
de grande potencial, e pior de tudo, extremamente fiável. Somadas todas as
voltas e quilometragem percorridas pela dupla de pilotos, Nico Rosberg e Lewis
Hamilton, a escuderia alemã andou o equivalente a quase 20 GPs nestes 8 dias,
um número considerável, mas que assustou a concorrência mais pelo fato de não
ter enfrentado uma quebra sequer, a não ser no último dia de treinos. Se é
verdade que o clima estava ameno na Catalunha, e que durante a disputa do
campeonato as temperaturas estarão bem mais elevadas, por outro lado é
preocupante notar que em raros momentos Hamilton e Rosberg aceleraram pra valer
o modelo W07, o que indica que o verdadeiro potencial do novo carro ainda está
para ser revelado. Uma prova disso é que eles rodaram a maior parte do tempo
com os compostos médios, poucas vezes recorrendo aos supermacios e ultramacios.
Mas,
se não foi possível aferir a velocidade absoluta dos carros alemães, seus
stints em simulações de corrida indicam que a escuderia deve ditar o ritmo da
competição. A única dúvida é quanto de vantagem eles terão sobre os rivais. O
fato de em nenhum momento os membros da escuderia demonstrarem preocupação com
os trabalhos desempenhados na pista apenas mostra que eles conseguiram cumprir
com seu cronograma, e que salvo surpresas, a concorrência é que terá que se
preocupar. Resta saber efetivamente qual será a vantagem dos carros prateados. Em
teoria, o melhor que pode acontecer será uma dobradinha da Mercedes em Melbourne,
uma vez que a pista do Albert Park não serve de referência exata para o
desempenho dos times em toda a temporada. Já em Sakhir, no Bahrein, a realidade
mais exata deverá se mostrar, e se a Mercedes ainda assim andar mais forte do
que a concorrência, talvez seja o caso de esperar 2017 para vermos um certame
mais disputado e equilibrado. Ou talvez não...
A
Ferrari mostrou nos testes que será a adversária da Mercedes. Depois de colocar
a casa em ordem no ano passado, o time de Maranello produziu um carro
totalmente novo, de acordo com as idéias do novo diretor técnico James Allison.
A unidade de potência melhorou bastante, a ponto de afirmarem que já está
equiparada à da Mercedes, o que pode ser um exagero, mas que certamente está
mais próxima. O time italiano foi o que mais forte andou na maioria dos
treinos, conseguindo os tempos mais expressivos tanto com Kimi Raikkonen quanto
com Sebastian Vettel, mas também rodaram longos stints simulando corrida e
outras situações. Com o equivalente a 13 GPs rodados nos testes, apesar de
enfrentar problemas em alguns dias, a Ferrari mostra que também tem um carro
veloz e estável. Resta saber qual a sua real força comparada com a Mercedes. Os
mais otimistas chegam a afirmar que o novo SF16-H vai beliscar os calcanhares
do novo W07 com uma frequência muito maior do que o pessoal da Mercedes
imagina, mas os mais realistas dizem que a assombrosa fiabilidade do carro
alemão preocupa por indicar que não foi exigido em todo o seu potencial. Há
quem fale que, em velocidade absoluta, e dependendo do tipo de pista, a Ferrari
esteja mais de 1s atrás dos prateados. Em ritmo de corrida, a diferença deve
ficar, em tese, pela metade, por volta. Alguns cálculos feitos levando-se em
conta a quantidade de voltas percorridas com os pneus, o tipo de composto, e
estimativas de combustível, apontam para esta diferença, mas é óbvio que os
times não expuseram todas as suas cartas durante a pré-temporada. Um dado
extremamente positivo é que o novo modelo criado em Maranello é um bom carro, e
com excelente potencial de desenvolvimento, e eles prometem desembarcar na
Austrália já com algumas novidades em relação ao visto no último dia de testes.
Com os melhores tempos da pré-temporada, a Ferrari está pronta para tentar desafiar a Mercedes. Mas quão perto os italianos estão realmente dos alemães? |
Tirando
estas duas escuderias, aí sim o panorama sugere uma boa disputa. Se pudéssemos
ficar sem Mercedes e Ferrari, todos concordam que aí sim teríamos um campeonato
bem embolado. Williams, Force India e Red Bull conseguiram mostrar bons
desempenhos durante os testes, mostrando que seus novos carros são um passo à
frente dos modelos utilizados em 2015. A Williams pareceu não mostrar muito a
que veio na primeira sessão de testes, mas resolveu mostrar serviço na segunda
sessão coletiva, com Valtteri Bottas a conseguir tempos expressivos, assim como
Felipe Massa. Mas a dupla de pilotos de Frank Williams é a primeira a admitir
que Ferrari e Mercedes estão em outro nível, e que alcançar mesmo a Ferrari
pode ser uma tarefa complicada. E, antes fosse somente esse o problema: a Red
Bull apresentou um carro que demonstrou ser um excelente chassi, pelo comportamento
do monoposto observado nas curvas da pista de Barcelona. Não fosse o motor
Renault, agora com preparação da Ilmor, rebatizado de TAG-Heuer, ainda ser uma
incógnita sobre seu incremento de performance do ano passado para cá, e o time
das bebidas energéticas poderia ser o favorito a ficar como 3ª força da
competição. Mas se o motor continuar apresentando um déficit de potência
pronunciado como foi no ano passado, as chances nas pistas velozes não serão
das melhores. Um ponto positivo é que o propulsor francês parece ter adquirido
mais fiabilidade, e isso já ajudou na pré-temporada, permitindo que a escuderia
fizesse com louvor seu cronograma de testes. Mas talvez o time a apresentar o
melhor ganho de performance seja a Force India. O novo carro mostrou velocidade
e se a escuderia de Vijay Mallya foi apenas a 7ª em distância percorrida, seus
pilotos demonstraram satisfação com os resultados das simulações de corrida,
dando a entender que o novo VJM-09 é bem mais competitivo que o modelo 2015. Um
dado interessante a ser levantado sobre os carros destes três times é que suas
bases são distintas: o chassi RB12 é uma evolução do modelo RB11 de 2015, e o
grupo coordenado por Rob Marshall, com consultoria de Adrian Newey, está bem
mais experiente e calejado, e neste ponto, conseguiram claramente evoluir o
projeto, que nasceu falho no início da temporada passada, mas cresceu
significativamente na parte final da temporada, com o intenso trabalho de
desenvolvimento. Já o que modelo VJM-09 da Force India é também uma evolução do
modelo do ano passado, que só estreou efetivamente a meio da temporada, e fez a
escuderia dar um bom salto de performance em relação ao modelo usado até então,
que possuía outro tipo de base. Pelo seu lado, o carro da Williams ainda parece
calcado na boa base lançada em 2014, que fez o time renascer, o que pode
sugerir que sua linha de desenvolvimento, apesar de ainda ser efetiva, estar
perto do limite de potencial do projeto. No ano passado, a escuderia claramente
estagnou na parte final da temporada, dando margem aos rivais para superá-la em
várias pistas onde isso não deveria ser possível, ou pelo menos, fácil como foi
feito. Sugerindo uma linha de desenvolvimento mais conservadora, espera-se que
pelo menos o novo FW38 tenha tido corrigida a falta de downforce que penalizava
o modelo nas pistas de baixa velocidade e mais travadas, onde o chassi FW37
perdia claramente para vários outros carros. A disputa entre os 3 times está
aberta, e pode ser bem interessante.
Logo
atrás, Toro Rosso foi o time que mais andou na pré-temporada, depois da campeã
Mercedes, o equivalente a 16 GPs, um dado importante sobre a fiabilidade do
novo modelo STR11, que terá a unidade de força da Ferrari do ano passado, que
segundo alguns, já lhes dará uma vantagem significativa em relação à antiga
unidade da Renault. Em voltas lançadas, a dupla Max Verstappen e Carlos Sainz
Jr. conseguiu tempos melhores do que a da Red Bull, mas como seus recursos em
relação ao time matriz são mais escassos, a escuderia de Faenza terá de aproveitar
o início da temporada para conseguir seus melhores resultados, antes que os
rivais possam colocar-se à frente, e as ambições da escuderia são pelo menos se
intrometer na luta que deverá ser travada entre Williams, Red Bull e Force
India. No ano passado, a Toro Rosso chegou perto de terminar o campeonato na 6ª
posição, e tem tudo para obter sua melhor classificação de construtores em 2016, a se confirmar o seu
bom potencial. Se ficar atrás apenas dos times já citados, repetirá sua posição
de 2008, quando foi 6ª colocada, com direito a pole e vitória de Sebastian
Vettel no GP da Itália.
Sobre
a McLaren, foi bom ver a escuderia andando de forma decente novamente,
cumprindo um grande cronograma de voltas, e experimentando suas soluções para
desenvolvimento do novo MP4/31, que deixaram a dupla de pilotos e a direção do
time esperançosos de dias melhores. Pior do que 2015 não poderia ficar,
realmente, mas ainda há muito a se fazer até o time de Woking voltar a figurar
entre os favoritos. A nova unidade de potência da Honda ganhou significativa
fiabilidade, uma característica muito importante para se trabalhar a contento,
pois no ano passado ou o conjunto quebrava com irritante frequência ou
apresentava enguiços sistemáticos que não se permitia desenvolver um trabalho
consistente de desenvolvimento. Por outro lado, o incremento de potência, mesmo
tendo sido bom, ainda não permite tirar toda a desvantagem para as unidades
mais potentes da Mercedes e Ferrari. Mas a escuderia está trabalhando duro para
se reerguer, e chegará ao Albert Park com um novo conjunto aerodinâmico que não
conseguiu testar em Barcelona, mas que deve ajudar a evoluir sua performance. A
McLaren deve ficar no meio do grid, mas é incerto dizer qual o verdadeiro
potencial do time. Mas todos esperam que o pior tenha ficado para trás, em
2015. Agora a ordem é avançar para a frente.
Com
relação a quem vai ocupar as últimas posições, a pergunta parece difícil.
Sauber, Manor, Renault, e a novata Hass tem tudo para fazer uma boa batalha de
fim de grid, mas nada garante que estes times não possam surpreender e largar
mais à frente. Mas cada time tem seu próprio trunfos e percalços. A Hass, que
já nasce bem estruturada, após um ano inteiro de preparação para estrear na
competição, mantém os pés no chão, e sabe que seu primeiro ano será bem
complicado: o time teve a menor quilometragem de testes da pré-temporada, e o
carro apresentou vários problemas em alguns dias, o que é absolutamente normal
para um time novato. Os tempos de volta não foram lá muito empolgantes, mas o
importante é que o time possui uma estrutura e pessoal competente para
desenvolver o equipamento, e uma dupla de pilotos que deve pelo menos não
comprometer na pista. A Manor, ex-Marussia, é o time que mais evoluiu seus
tempos em comparação a 2015, mas como a escuderia correu o ano passado com um
chassi 2014, a
supreendente evolução de cerca de 6s em relação aos tempos de 2015 deve ser
relativizada. Contado com apoio técnico e a unidade de potência da Mercedes, a
Manor não vai deixar de ser um time pequeno, mas deve começar a apresentar uma
performance mais condizente com um time de F-1, e deixar de ser o pesadelo das
ultrapassagens sobre retardatários visto até o ano passado. Enquanto isso, a
Sauber, mais uma vez, inicia o ano com o caixa financeiro pendurado. O novo
modelo C35 parece ter nascido bem, mas o time só treinou com o novo carro
durante 4 dias. Mesmo assim, conseguiu acumular uma quilometragem considerável,
o que é extremamente positivo diante das dificuldades econômicas que afligem a
escuderia suíça, que revelou esta semana estar com vários salários atrasados, e
teve até sua presença em Melbourne questionada diante destes problemas
financeiros, o que certamente será um grande revés para manter o
desenvolvimento do carro durante o ano, que deverá perder competitividade
frente a rivais com mais folga orçamentária. A missão de Marcus Ericsson e
Felipe Nars é a mais clara possível: aproveitar toda e qualquer oportunidade
que surgir para pontuar, antes que fiquem para trás em relação aos demais
times.
A
relação de times se fecha com a Renault, que recomprou seu antigo time, que nos
últimos anos correu com o nome Lotus. Como a escuderia foi reassumida apenas em
dezembro, todo o projeto de desenvolvimento do novo carro acabou prejudicado. Foi
feito um enorme esforço para recuperar o terreno perdido, mas mesmo assim,
resultados de monta só deverão surgir mesmo em 2017. A própria Renault já
admite que a temporada de 2016 será de transição, e com muita luta para superar
as adversidades, tanto na área do chassi quando da unidade de potência, que
precisa evoluir em potência, tendo ganho muito mais fiabilidade em relação a
2015. Será interessante ver o esforço dos franceses para se recuperar na
competição ao longo do ano. Apesar dos trancos e barrancos, o modelo R16 parece
demonstrar algum potencial para evoluir bem durante o ano, e com os recursos de
que a Renault dispõe, eles não vão economizar para chegar mais à frente. O
quanto conseguirão é que fica na dúvida.
Aguardemos,
portanto, os primeiros treinos livres em Melbourne, para vermos efetivamente
quem é quem na temporada 2016 da F-1. E preparemo-nos para voltar a acelerar
com tudo...
A Formula-E chegou ao México para a disputa de sua nova etapa, e a
primeira em um autódromo de verdade. A corrida mexicana será disputada no
trecho oval do circuito Hermanos Rodriguez, na Cidade do México. Com algumas
chicanes e curvas, incluída a Peraltada e o trecho dentro do estádio de
baseball, o traçado tem 2,09
Km de extensão, e a corrida será disputada em 43 voltas,
às 16 horas locais. O canal pago Fox Sports 2 transmite a prova ao vivo a
partir das 18:45 Hrs. Sébastien Buemi lidera o campeonato, com Lucas Di Grassi
em seus calcanhares, na 2ª colocação. O piloto suíço é o favorito para vencer,
mas a categoria tem sido pródiga em aprontar algumas surpresas. Vejamos o que a
etapa mexicana irá nos mostrar. A garantia de público é alta, e o circuito
deverá estar bem cheio para acompanhar disputa da categoria dos carros
monopostos elétricos, que prometem ser o futuro da industria automobilística, o
que numa cidade como a capital mexicana, que já foi considerada a cidade mais
poluída do mundo, ter grande interesse no desenvolvimento deste tipo de
tecnologia.
Traçado que será utilizado pela F-E na prova da Cidade do México neste sábado. |
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