A Fórmula 1 deu a
largada para o campeonato de 2016 na Austrália cheia de expectativas para
confirmar na pista. Como seria de se esperar, houve boas e más notícias sobre o
que pudemos ver no paddock do Albert Park e na corrida.
Em primeiro lugar, as
boas notícias, claro: a Ferrari realmente parece ter se aproximado bem mais da
Mercedes, pelo menos em ritmo de corrida. Sua dupla de pilotos largou bem
melhor que os prateados, e tinha pinta de que poderia vencer a prova inaugural
do campeonato. Mas a Mercedes conseguiu e recuperar da má largada de seus
pilotos, e sabendo aplicar melhor sua estratégia de pneus, venceu a corrida e
ainda fez nova dobradinha, com Lewis Hamilton a secundar seu parceiro Nico
Rosberg, que venceu sua 4ª corrida consecutiva, desde o GP do México do ano
passado. Nas voltas finais da corrida, Sebastian Vettel deu uma certa canseira
em Hamilton na luta pelo 2° lugar, e o inglês só não passou maior sufoco porque
o tetracampeão alemão da Ferrari errou na curva que dá acesso à reta dos boxes
na penúltima volta, garantindo o refresco que o atual campeão da categoria
precisava. Olhando apenas pela linha de chegada, poderia se dizer que a
Mercedes novamente vai dominar a temporada. Possui o carro mais rápido, e seus
pilotos são velozes e competentes. Mas, a se repetir o que se viu no Albert
Park, poderá ser o campeonato mais disputado para o time alemão desde que
passou a dominar a F-1 em 2014. Escuderia e pilotos precisarão suar o macacão
para fazerem valer sua supremacia na pista, com a Ferrari sempre por perto para
desafiá-los e até superá-los, se acertarem na estratégia de corrida. Ainda é
cedo para afirmar que isso irá acontecer, até porque a pista australiana pode
não ser uma indicação clara da relação de forças entre os dois times, mas já é
um alento saber que o perigo vermelho está à espreita dos prateados. E melhor
ainda que Nico Rosberg tenha vencido, pois isso significa que Lewis Hamilton
terá que dar duro para assumir a liderança da competição, de onde poderia ser
extremamente difícil desalojá-lo. Talvez tenhamos um pouco mais de disputa
dentro da esquadra alemã, com certeza. E isso será benéfico para o campeonato.
Um ponto positivo é
que a dupla da Ferrari andou forte e próxima o tempo todo. Kimi Raikkonen,
contudo, precisa se livrar de alguns azares, e na Austrália, acabou sendo
vítima de um incêndio no motor, obrigando-o a abandonar a corrida, quando tinha
tudo para ser 4° colocado, ou quem sabe até discutir a 3ª posição com Vettel mais
à frente na corrida. O time italiano ainda está atrás do alemão, mas a
diferença parece plausível o suficiente para causar algumas complicações na
disputa, que aliada à nova opção de os pilotos terem 3 tipos de compostos de
pneus no fim de semana, podem apimentar a disputa e permitir algumas surpresas.
Aliás, entre as
novidades implantadas pela FIA à F-1 este ano, a opção dos times terem um
terceiro tipo de composto para o fim de semana ampliou sobremaneira as
possibilidades de se utilizarem estratégias diferenciadas na corrida, com
resultados potencialmente mais inesperados. Some-se a isso o comportamento
distinto dos novos tipos de compostos da Pirelli para esta temporada, e alguns
times e pilotos poderão, se souberem jogar direito suas novas cartas, produzir
algumas surpresas na competição mais do que bem-vindas.
Em contrapartida, o
novo formato "dança das cadeiras" adotado poucos dias antes da
corrida mostrou-se um mico daqueles que é de dar vergonha à categoria. Se o Q1
até que mostrou algum agito, o Q2 já esfriou um pouco as expectativas, e o Q3
foi ridículo, com a Mercedes fazendo a primeira fila até com alguma
antecedência, e seus rivais desistindo de forçarem seus carros e se conformando
com as posições que já detinham. Com quase 4 minutos de treinos, ver os pilotos
das duas principais equipes darem por encerrado sua disputa foi o anticlímax
mais arrasador para quem esperava ver os pilotos se digladiando na pista pela
pole-position, que pelas regras da classificação, naquele momento ficariam restritas
apenas aos dois pilotos mais rápidos. Até o fechamento desta coluna, a F-1
declarou que para a próxima corrida volta o sistema usado até o ano passado,
sem o mata-mata durante cada sessão dos Qs. O impacto negativo foi tão forte
que alguns dirigentes de equipes - sim, os mesmos que haviam concordado
"unanimamente" implantar o novo sistema já na Austrália, pedirem
desculpas e darem o braço a torcer de que a nova regra foi um tiro no pé, e que
devia ser descartada, anunciando a volta ao sistema do ano passado já a partir
da etapa do Bahrein. Mas começou a circular a notícia de que o sistema novo será
mantido, afirmando que ele precisa de uma "segunda chance" para
mostrar realmente seu valor. Dizem que errar uma vez é humano, mas persistir no
erro é burrice... E lamento dizer que a F-1 ultimamente anda propensa a tomar
decisões cada vez mais burras em certos aspectos tão óbvios que até uma criança
seria capaz de fazer coisa melhor... Nessas horas o
"ultraprofissionalismo" da F-1 parece piada sem graça, ou no mínimo,
de muito mal gosto...
É verdade que o treino
começou agitado, mas isso durou muito pouco. E quem acabou vitimizado nisso
tudo foram justamente os times mais lentos, que não tinham como ajustar seus
carros para melhor desempenho no pífio tempo em que puderam andar na pista. Não
havia tempo para voltar ao box, reajustar o carro em alguns parâmetros, e sair
de novo para pista, antes que alguns pilotos fossem "degolados" pela
regra do mata-mata. Os times mais fortes, como a Mercedes, davam suas voltas e
já nem precisavam mais fazer nada. E o pior de tudo é que, com o mata-mata, a
pista ia ficando cada vez mais vazia, justamente o contrário do que se precisa,
que é ver os carros disputando os melhores lugares do grid até os instantes
finais. Com o tempo padrão, com a degola sendo feita somente após, os times
menores tinham tempo igual de entrar na pista para tentarem dar o máximo para
largar na melhor posição possível que pudessem. O novo sistema simplesmente
"podou" esse tempo, impedindo-os de conseguirem melhorar sua
performance. Além do vexame no Q3, o sistema não ajudou em nada a deixar o grid
mais embaralhado: tirando Daniil Kvyat, que teve problemas, não houve
praticamente surpresas na disputa das posições. Mas muita gente no paddock
sentiu que, pelo sistema antigo, dava para ter tido mais disputa, e quem sabe,
fazer o pessoal ficar de pé na arquibancada com os duelos por algumas posições.
Com a F-1 precisando
implantar mudanças, resolveu mexer logo e um ponto onde ninguém estava
reclamando. Quando é que eles vão corrigir o que realmente precisa ser mudado?
Parece uma pergunta simples, pena a resposta ser tão complicada...e cada vez
parece apenas piorar...
Outro ponto positivo foi
ver que a disputa no meio do pelotão deverá ser das mais interessantes. Todo
mundo parece estar ali no meio do bolo, com um desempenho melhor ou pior, que
tudo indica poderá variar de pista para pista, e com a nova regra de 3 tipos de
compostos para o fim de semana, deve causar um bom agito nos demais times. Teve
time que mostrou muito mais velocidade do que alguns esperavam, enquanto outros
andaram menos do que prometiam. Uma grata surpresa foi a performance da Toro
Rosso, que andou entre os primeiros colocados no início da corrida, após uma
classificação onde deixaram muita gente surpresa, obtendo tempos fortes e
competitivos. Max Verstappen e Carlos Sainz Jr. só não foram melhor porque a
estratégia de pneus não foi das melhores, além de terem ficado presos atrás de
Valtteri Bottas na parte final da corrida, que por sua vez, também ficou preso
atrás de Nico Hulkenberg. Destaque para os chiliques de Max Verstappen, que
ficou irritadinho por seu parceiro Carlo Sainz não lhe dar passagem na pista. O
garoto chegou no ano passado, causou boas e más impressões, mas se consolidou
como um grande talento, e agora vem com esse mimimi todo? Se ele estava mais
rápido, que ultrapassasse o colega de time. Não só não conseguiu fazê-lo, como
ainda tocou rodas com ele e rodou, por pouco não arruinando a corrida de ambos.
Se mantiver esta postura, Verstappen vai se tornar um dos pilotos mais chatos
da categoria em tempo recorde.
A Red Bull mostrou
mais performance do que se imaginava, e se não conseguiu ameaçar os ponteiros,
pelo menos superou todos os demais na pista, e com uma estratégia de pneus
diferente, até tentou pressionar Vettel pelo 3° lugar, mas no final, Daniel
Ricciardo fez um ótimo 4° lugar em casa, terminando a cerca de 25s do vencedor,
quando em 2015 terminara a corrida em 6°, mas com uma volta a menos para o
vencedor. Mas o time "matriz" dos energéticos já viu que seu time
"B", a Toro Rosso, vai dar trabalho durante o campeonato, e pode sim
andar à frente deles.
Quem não andou o que
se esperava foi a Williams. Apesar de Felipe Massa ter feito uma corrida
correta, e seu time ter ido muito bem nas estratégias de pneus, ver Felipe
Massa terminar cerca de 58s atrás de Nico Rosberg mostra a diferença do time de
Frank Williams para a Mercedes, e uma diferença de quase 50s para a Ferrari de
Vettel, que eles esperavam pelo menos andar mais próximos. Mas pior mesmo foi o
brasileiro ficar mais de 25s atrás da Red Bull de Ricciardo na bandeirada,
mostrando que será difícil o time inglês manter seu posto de 3ª força, mantido
em Melbourne pela pontuação obtida entre Massa e Bottas.
Quem também não andou
o que prometia foi a Force India, com Nico Hulkenberg terminando em 7°, a quase
1min15s de desvantagem. Com Sérgio Perez longe da zona de pontuação, o time de
Vijay Mallya parece mostrar que ainda não conseguiu mostrar em pistas de média
velocidade a desenvoltura que costuma ter em pistas mais velozes. E a Sauber
também mostrou que terá um ano duro pela frente: tanto Marcus Ericsson quanto
Felipe Nasr não tiveram muitas chances de disputar posições na corrida
australiana. Nasr chegou ao final, mas com uma volta a menos, em 17°, à frente
apenas da Manor de Pascal Wehrlein, que mais uma vez, ocupou o lugar de último
na classificação da corrida. A Manor não deixou de ser um time pequeno, mas seu
desempenho melhorou muito, a pelo menos terminar a corrida com apenas uma volta
a menos do vencedor, já é algo a se comemorar, uma vez que no ano passado, eles
ficavam no mínimo a 2 voltas de distância do vencedor.
A Renault confirmou o
que se esperava: terá muito trabalho pela frente para voltar a ser um time
competitivo. De positivo, Jolyon Palmer fez uma estréia sem comprometer,
andando o que podia, e conseguindo manter atrás de si pilotos com equipamentos
melhores, feito que a pista do Albert Park também deu uma ajuda, continuando a
se mostrar um circuito de difíceis ultrapassagens, como atestou Lewis Hamilton
em sua disputa com Max Verstappen no início da corrida. Com o foco em 2017,
qualquer bom resultado nesta temporada será considerado lucro, mas nem por isso
eles vão deixar de trabalhar duro para evoluir já este ano. Para a etapa da
Espanha, está prevista a estréia de uma nova versão da unidade de potência, uma
vez que a marca francesa foi a que menos usou "tokens" disponíveis
para evoluir seu propulsor, e isso deve proporcionar algum incremento de performance.
Fernando Alonso e a McLaren chamaram mais atenção pelo pavoroso acidente do espanhol do que pela performance propriamente. Felizmente, Alonso saiu ileso, mas o susto foi grande. |
Enquanto isso, a
McLaren confirmou que realmente está melhor do que em 2015, mas que vai ter
problemas pela frente. Se por um lado eles conseguiram até se classificar de
forma satisfatória no meio do grid, o ritmo de corrida infelizmente deixou a desejar,
tanto que Jenson Button finalizou a corrida em 14°, a uma volta de diferença do
líder, resultado similar à da última corrida do ano passado. É preciso melhorar
em todo os parâmetros, e para os pilotos, os problemas estão também no chassi
MP4/31, que precisará de muito trabalho de desenvolvimento. O ponto positivo é
que, muito mais fiável este ano, a unidade de potência da Honda, mesmo ainda
sendo a mais fraca do grid, agora permite que se possa analisar a performance
do carro como um todo, e o que se viu é que o novo carro de Woking ainda está
devendo muito em relação a outros carros do grid, e isso apenas no seu aspecto
técnico. O ponto positivo é que o chassi é extremamente seguro, conforme se viu
no assustador acidente de Fernando Alonso durante a prova, após acertar Estéban
Gutierrez por trás na freada da curva Sports Center.
E foi altamente
gratificante ver o mais novo time da categoria, a Hass, obter uma bela 6ª
posição com Romain Grosjean logo em sua corrida de estréia, marcando
importantes pontos, e mostrando que seu longo ano de preparação foi um fator
muito importante para entrar na F-1 com o pé direito, ao contrário dos outros
times que fizeram sua entrada em 2010, sem uma estrutura e preparação decentes
para encarar os desafios impostos pela categoria máxima do automobilismo. Se na
classificação, a Hass encarou as dificuldades normais de um time estreante,
largando seus pilotos na 10ª fila, à frente apenas da dupla da Manor, na
corrida, Grosjean soube conduzir seu novo carro em toda a sua capacidade, e
aproveitou muito bem para trocar pneus durante a interrupção da prova, evitando
assim um pit stop onde perderia certamente várias posições na corrida. E,
depois disso, ainda soube conservar seu equipamento para andar forte o
suficiente a fim de chegar nesta honrosa posição final, tendo atrás de si
vários pilotos com carros tecnicamente mais competitivos, mas que falharam em
não conseguir a ultrapassagem na pista. Descontada a normal dificuldade imposta
pelo circuito do Albert Park em oferecer pontos de ultrapassagem decentes,
Grosjean soube manter sua posição com todos os méritos, não
"trancando" nenhuma tentativa de ultrapassagem de seus perseguidores,
muito pelo contrário: estes foram incapazes de fazer valer seu melhor
equipamento para superar o piloto da estreante Hass. Gene Hass, contudo, mantém
os pés no chão, e sabe que várias dificuldades ainda virão pela frente nesta
temporada de estréia, mas com Grosjean mostrando sua categoria como fez na
Austrália, certamente os obstáculos que surgirem pela frente serão encarados
com competência e seriedade necessárias. E, com certeza, deverão ser capazes de
aproveitar as oportunidades que surgirem para obter resultados importantes,
como fizeram em Melbourne.
A nova equipe Hass estreou com o pé direito na F-1, e conseguiu um belo 6° lugar com Romain Grosjean em Melbourne. |
A corrida de estréia
deu para o gasto. Não foi um espetáculo, mas também não foi exatamente a
pasmaceira que se imaginava. Ferrari e Mercedes tiveram um duelo apenas
razoável pela vitória, encerrado assim que Rosberg assumiu a liderança. Dali
para trás, houve alguns bons duelos entre vários pilotos e escuderias, mas que
poderiam ter sido muito melhores se a pista fosse mais favorável a
ultrapassagens. Talvez nas próximas corridas possamos ter uma idéia melhor de
como os demais times estão em relação uns aos outros. Na frente, Mercedes e
Ferrari mostraram estar bem adiante de todos os outros times.
A F-1 segue agora para
as areias escaldantes do Bahrein, em Sakhir, na semana que vem, onde talvez
possamos confirmar as boas impressões deixadas pela categoria na Austrália, e
quem sabe, corrigir os passos errados tomados, e tentar pelo menos ir na
direção realmente correta do que precisa ser discutido para melhorar o show da
F-1 como esporte e entretenimento. E quem sabe possamos realmente ter
esperanças de que o campeonato deste ano terá realmente mais competição e
disputa, e que pelo menos possamos torcer com mais gosto do que nos últimos
dois anos. A esperança é a última que morre...
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