Depois de mais de dois
meses e meio, a F-1 voltou a acelerar fundo na pista esta semana, com a
primeira metade da pré-temporada para o campeonato de 2016, que este ano será
de ridículos 8 dias de testes. E, nesta semana, já se foi metade do tempo que
os times terão para preparar seus carros para a temporada. Por isso mesmo,
alguns times aproveitaram para andar tudo o que tiveram direito em Barcelona,
onde todos permanecem, já que semana que vem os carros voltam à pista aqui de
novo para os últimos 4 dias de testes, antes de tudo ser embarcado para a
Austrália, para a primeira etapa do Mundial, dia 20 de março.
De início, foi bom ver
os novos bólidos apresentados pelas escuderias. Deu para ver detalhes interessantes
nos carros, nos momentos em que os mecânicos não escondiam tudo o que podiam
dos olhares dos jornalistas, tentando manter seus segredos sob sigilo o máximo
possível. Com o regulamento técnico inalterado, a maioria dos times optou por
evoluir seus carros, ao invés de promover mudanças radicais em seus novos
bólidos. Em alguns casos, é preciso comparar as fotos dos novos carros com os
modelos de 2015 para verificar onde as escuderias promoveram mudanças. Em
outros casos, como foi o da Ferrari, com direito a nova pintura, o novo modelo
SF16-H mostrou suas diferenças de forma bem mais nítida.
Apenas a Sauber não
esteve presente com seu novo modelo 2016 em Barcelona. O novo carro só fica
pronto nos próximos dias, e isso já significa uma perda do aproveitamento da
escassa pré-temporada de testes. Ruim para Felipe Nasr e Marcus Ericsson, que
provavelmente terão de se desdobrar para conseguir bons resultados este ano. A
disputa, pelo menos no meio do pelotão, tem tudo para ser embolada. E há bons
indícios para se esperar boa briga neste setor.
Mesmo sabendo que
teste é teste, e corrida é corrida, e levando em conta que muitas vezes os
tempos da pré-temporada não podem ser levados a ferro e fogo, deu para
comprovar alguns fatos nestes primeiros 4 dias de trabalhos na pista. A
temporada, como todos esperam, deve assistir a um embate entre Mercedes e
Ferrari. Todos os demais times vem depois. A esquadra de Maranello terminou sua
primeira bateria de testes com o melhor tempo da semana, com Sebastian Vettel,
e o tetracampeão alemão foi o mais rápido no 1° e 2° dia. Já Kimi Raikkonem
apenas ontem andou mais a fundo, terminando o 4° e último dia na frente. Usando
os novos compostos da Pirelli, entre eles o novo ultramacio, Vettel conseguiu
virar 1min22s810 na terça-feira, e foi praticamente 2s mais rápido que a pole
nesta pista no GP do ano passado. Se levarmos em conta que a temperatura esteve
amena a semana inteira, devemos presumir que os carros serão capazes de andar
ainda mais rápido à frente, e ainda as escuderias poderão exigir seus novos
modelos mais a fundo, evoluindo seu acerto e desenvolvimento. Tanto Vettel
quanto Raikkonem elogiaram o comportamento e o desempenho do novo SF16-H,
afirmando que o novo carro já é melhor do que o modelo de 2015. Isso é um fator
positivo, pois a Ferrari parece ter produzido novamente um excelente carro, e
se coloca efetivamente como real desafiadora da Mercedes. E disputa contra a
toda-poderosa escuderia germânica é tudo o que os torcedores mais querem para
tentar trazer alento à F-1.
O problema é qual será
sua real capacidade de enfrentar o time alemão. A Mercedes em nenhum momento
figurou entre os carros mais velozes propriamente, com exceção do primeiro dia,
mas foi outro ponto que deixou a concorrência assustada na pista da Catalunha:
a fiabilidade e constância dos tempos obtidos tanto por Nico Rosberg quanto por
Lewis Hamilton, que rodaram impressionantes 675 voltas, praticamente 10 GPs da
Espanha, durante os 4 dias, e sem que o novo modelo W07 apresentasse o menor
sinal de problemas mecânicos ou de qualquer outra natureza. E durante toda a
semana, todo o time da Mercedes esbanjava tranquilidade e calmaria. Um
presságio de mau agouro para os rivais. Em nenhum momento seus pilotos foram
para a pista em busca de voltas rápidas, efetuando sempre long runs, sequências
de voltas com tanque cheio e variações de ajustes aqui e ali. Se o W07 será o
carro a ser batido novamente, parece ser apenas questão de tempo para se
comprovar. A única dúvida será o quanto ele será veloz, algo que provavelmente
só seu corpo técnico saiba responder.
Pelo seu lado, a
Ferrari acumulou 353 voltas na pista, mas apesar dos bons tempos marcados em
voltas rápidas, o time italiano teve alguns percalços com Kimi Raikkonem,
quando o carro apresentou alguns problemas técnicos. Nada grave, e prontamente
solucionado, mas que roubaram ao time italiano algum tempo que poderia ter sido
melhor aproveitado. Mesmo assim, seus pilotos conseguiram angariar também bons
long runs, mostrando que o bólido italiano também tem um excelente grau de
confiabilidade. Se a Ferrari também estiver escondendo muito bem o jogo do
potencial do novo SF16-H, poderemos ver um bom embate entre os italianos e os
alemães. Talvez na semana que vem tenhamos uma idéia mais clara de qual o real
potencial de velocidade de cara bólido, ou no mais tardar apenas em Melbourne,
ou na segunda etapa da temporada, em Sakhir, no Bahrein.
Se é consenso de que
Mercedes e Ferrari estão à frente na lista de favoritos, no restante do grid a
situação é bem mais complicada de se prever, o que não deixa de ser bom. Red
Bull, Williams e Force India tem tudo para fazerem uma briga de foice pela
posição de 3ª força no campeonato. O time dos energéticos apresentou um
monoposto que conseguiu impressionar em alguns momentos pela velocidade
alcançada, e se considerarmos que o motor Renault, agora com preparação da
Ilmor para o time austríaco, ainda não está rendendo o que eles esperam,
pode-se esperar um incremento de performance que dará a Daniel Ricciardo e
Daniil Kvyat a chance de apresentarem bons resultados. O chassi RB12, produzido
com ajuda de Adrian Newey, mostrou equilíbrio e o melhor de tudo, fiabilidade,
conseguindo rodar tanto quanto a Ferrari durante os 4 dias, ou seja, 330 voltas
na pista. E Daniel Ricciardo apresentou ritmos constantes e firmes durante seus
long runs, indício altamente positivo, se levarmos em conta os infortúnios
enfrentados pelo time austríaco nas duas últimas pré-temporadas. Se a base do
novo chassi corresponder ao potencial, só mesmo a unidade de potência irá
segurar a evolução do time de Dietrich Mateschitz, porque recursos para
desenvolver o chassi não faltarão, e mesmo com um bom orçamento para
desenvolver o motor de forma independente, há limites para o que poderá ser
implementado, por força do regulamento.
Pelo seu lado, a Force
India não andou tanto quanto o time dos energéticos. Acumulou apenas 294
voltas, e contou com seus pilotos titulares, Nico Hulkenberg e Sérgio Perez,
por apenas um dia cada um, tendo treinado os outros dois dias com Alfonso Celis.
Mas o time de Vaijay Mallya não deixou de impressionar quando Hulkenberg foi o
mais veloz na quarta-feira, com um tempo apenas 0s3 mais lento que a marca
obtida por Vettel no dia anterior. É cedo para afirmar que a Force India será a
3ª força no campeonato, mas tem tudo para embolar a disputa neste terreno com a
Red Bull e a Williams, pelo menos no início do campeonato. O problema maior da
escuderia será o desenvolvimento efetivo do novo modelo VJM09: enquanto o time
tiver orçamento para investir em sua melhoria, a Force India poderá ter a
chance de fazer sua melhor temporada desde que estreou na F-1.
O novo modelo RB12 tem tudo para ser um excelente carro. E se o motor colaborar, os rivais que se cuidem... |
Pelo seu lado, a
Williams mostrou um certo conservadorismo talvez até exagerado no seu novo
modelo FW38, muito similar ao do ano passado. Em nenhum momento o time de Frank
Williams procurou andar entre os primeiros, acumulando muita quilometragem,
rodando 356 voltas com Felipe Massa e Valtteri Bottas nos 4 dias. Ambos os
pilotos, porém, elogiaram bastante o comportamento do carro, mas já anteviram,
pelo que os adversários mostraram, que a luta para o time se manter como 3ª
força será bem mais árdua este ano, e o próprio Felipe Massa já adiantou que
Red Bull e Force India provavelmente darão trabalho. Competir com Ferrari e a
própria Mercedes já parecem metas difíceis de se alcançar.
Um pouco mais atrás,
vamos encontrar a Toro Rosso, a Renault, McLaren, e a estreante Hass. O time
"B" dos energéticos começou a se entender com a unidade de potência
da Ferrari, que diga-se de passagem, é a do ano passado. Como o time competia
com a unidade da Renault, toda a parte traseira precisou ser revista para
acomodar o propulsor italiano, que em tese pode oferecer mais performance do
que a unidade francesa atual. Com cerca de 412 voltas completadas, a Toro Rosso
foi o time que mais andou depois da Mercedes, e apesar de alguns percalços
técnicos, o novo modelo STR11 conseguiu apresentar boa fiabilidade e
consistência em sua performance, que deverá evoluir assim que todos tiverem
melhor conhecimento das potencialidades do motor Ferrari, e conseguirem
desenvolver melhor o monoposto. Assim como a maioria dos times que testaram na
pista catalã, o objetivo da escuderia foi conhecer melhor seu novo carro, antes
de colocar sua velocidade efetivamente à prova.
Enquanto isso, a
Renault procurou verificar tanto quanto possível o seu novo modelo RS16,
nascido ainda sob o nome Lotus. Como a fábrica francesa concluiu a reaquisição
do time apenas em dezembro, o projeto do carro acabou prejudicado em seu
desenvolvimento, que deveria ter começado bem antes. O atraso também significou
mudanças radicais na traseira do bólido, pela troca de propulsores, dos
Mercedes para os Renault. Como a fábrica francesa já foca o campeonato de 2017,
este ano deverá ser de transição, o que não significa que a escuderia vai se
contentar em ter um desempenho pífio no campeonato. E a pré-temporada já está
mostrando as dificuldades da empreitada: o time francês foi um dos que menos
andou na semana, tendo sempre apresentado problemas variados no carro que
consumiram bom tempo de pista. Só nesta quinta-feira é que Kevin Magnussem
conseguiu andar num ritmo mais forte, terminando em 2° lugar, e mesmo assim,
com um tempo quase 2s mais lento que a Ferrari de Kimi Raikkonem, mesmo estando
com pneus mais lentos. Mas o foco em consertar os problemas apresentados pelo
novo carro foi sendo sentido gradativamente, de modo que na quarta-feira,
Magnussem conseguiu dar 111 voltas, e a quilometragem foi valiosa para a
escuderia.
A McLaren até
conseguiu ter um início mais decente nesta pré-temporada, pelo menos nos dois
primeiros dias. Jenson Button e Fernando Alonso conseguiram dar mais de 200
voltas, e se os tempos não foram exatamente empolgantes, deixou todo mundo na
equipe animado com a possibilidade de fazer bem mais do que em 2015. Até
Fernando Alonso se entusiasmou, dando a entender que o potencial do novo carro
é certamente bom, e que a unidade de potência da Honda, se não está no nível
desejado, pelo menos avançou significativamente. Mas se tudo correu de forma
até dentro do script na segunda e na terça, quarta e quinta a história foi
diferente: Button ainda conseguiu dar cerca de 50 voltas, mas o time se viu às
voltas com problemas mecânicos no carro, e nesta quinta-feira, foi ainda pior,
com Alonso praticamente nem conseguindo treinar, dando apenas 3 giros na pista
e ficando o resto do tempo nos boxes, enquanto os mecânicos consertavam novos
problemas que surgiram. Mais comedido, Eric Bouiller preferiu não fazer
expectativas sobre o real potencial do time de Woking para esta temporada.
Depois do ano desastroso de 2015, um pouco de prudência vem bem a calhar, mas é
desejo de todos que a escuderia consiga se reerguer, não apenas por ser a
McLaren, mas também pela Honda, que terá um ano decisivo para apagar a má impressão
deixada no ano passado, quando não conseguiu mostrar uma unidade de força
decente, perdendo feio em todos os parâmetros possíveis de comparação. Nesta
semana, Yasuhisa Arai, que comandava o projeto da fábrica nipônica na F-1,
acabou dispensado, e certamente o ano de 2015 pesou na decisão da Honda. Agora,
é preciso redobrar esforços para evitar um novo vexame em 2016.
O novo conjunto McLaren MP4/31 Honda até que começou bem os testes em Barcelona, mas problemas não demoraram a surgir no carro. Mas pior do que 2015 esta temporada não poderá ser...ou pode? |
O time estreante da
temporada, a Hass, começou mostrando serviço, e embora tenha sido a escuderia a
rodar menos que todas na pista de Barcelona, mostrou um carro bem construído, e
com potencial para fazer bonito no bloco intermediário. Mesmo assim, o
noviciado se fez sentir quando Romain Grosjean por pouco não sofreu um acidente
feio quando seu carro perdeu a asa traseira no primeiro dia de testes, na
segunda-feira. A escuderia tratou de reforçar a peça, e pelo menos não sofreu
nenhum outro incidente similar no restante dos dias. E Grosjean até conseguiu
mostrar um pouco da velocidade do bólido do time norte-americano, ao fechar a
quarta-feira com o 2° melhor tempo, ainda que na casa de 1min25s8. O ano de
preparação de 2015 mostra que Gene Hass iniciará sua trajetória na F-1 com o pé
direito, e quem sabe, com direito a brilhar na temporada de estréia na
categoria, dependendo de como conseguir evoluir e desenvolver seu carro, que
conta com boa parte dos sistemas fornecidos pela Ferrari, inclusive a unidade
de potência.
Ainda é cedo para
dizer onde Sauber e Manor estarão. Esta última, agora com uso da unidade de
força da Mercedes, e contando com assistência técnica dos alemães em alguns
setores, conseguiram fazer o novo carro rodar 5s mais rápido em Barcelona do
que em 2015. Uma evolução notável, mas que precisa ser relativizada pelo fato
de que no ano passado o time correu com o modelo 2014 apenas adaptado, e ainda
com o problemático motor Ferrari do ano anterior, que não tinha a mesma
eficiência da unidade 2015. Mas com a perspectiva de desenvolvimento do carro,
a Manor já se sente no direito de sonhar a, pelo menos, não ser candidata certa
à última fila do grid. Se irá além disso, vai depender de como os concorrentes
se comportarão. Assim como a Sauber ainda precisará mostrar onde poderá se
colocar este ano. Sem ter o novo carro pronto para esta semana, o time suíço
testou os sistemas do novo monoposto no carro de 2015, o que não dá uma idéia
certa de qual será o incremento de performance que o novo carro poderá oferecer.
Mas como o orçamento pelos lados de Hinwill continua apertado, é bom que eles
consigam acerta com o novo carro logo de cara, para poderem capitalizar no
início da temporada, antes que fiquem novamente para trás pela impossibilidade
de conseguirem desenvolvê-lo a contento, como aconteceu em 2015, quando o
modelo C34 só foi receber atualizações dignas do nome na parte final da
temporada, e que mesmo assim não deram os resultados esperados.
Mais do que nunca,
será preciso esperar para ver os resultados da segunda sessão coletiva de
testes, na semana que vem, para termos uma idéia mais precisa, ou menos
equivocada, do que o times poderão apresentar nesta temporada da F-1. A única certeza mesmo é que
Mercedes e Ferrari deverão comandar o pelotão, com alguma vantagem para o time
alemão, que alguns estimam que pode ser de até 1s por volta, baseada em algumas
observações do que se viu em Barcelona nesta semana. Seria um balde de água
fria nas expectativas de todos que esperam um campeonato mais equilibrado se
isso se confirmar. No restante do grid, poderemos ter algumas boas disputas e
até equilíbrio de forças, mas mesmo que isso venha a acontecer, não irá
compensar totalmente a falta de disputa que poderá ocorrer na dianteira das
provas. Será que a F-1 resiste a mais um ano de possível domínio da Mercedes?
Eu diria que resiste,
se tomasse algumas atitudes que ajudariam a categoria a ser menos careta, menos
arrogante, e menos prepotente, , ajudaria muito, mas infelizmente as decisões
que andam tomando para tentar revigorar sua imagem até o momento me parecem
mais furadas que pneu estourado...