Domingo passado
tivemos a melhor corrida do campeonato deste ano na F-1, com a realização do
Grande Prêmio da Hungria, que chegou à sua 30ª edição, estando presente no
calendário da categoria desde a sua estréia no certame, no já distante ano de
1986, um feito que não é de se desprezar, ainda mais pelo fato de que esta
corrida muitas vezes carrega a fama de monótona, por causa do travado circuito
de Hungaroring, próximo à capital do país, a bela cidade de Budapeste.
Sebastian Vettel e seu
companheiro Kimi Raikkonem aproveitaram as péssimas largadas de Lewis Hamilton,
o pole-position, e Nico Rosberg, da poderosa favorita destacada Mercedes, para
assumirem o comando da prova e lá se manterem firmes, com a vitória de Vettel,
e que só não teve dobradinha para a equipe de Maranello porque o sistema de
recuperação de energia do carro de Kimi deu problemas e o finlandês foi forçado
a abandonar a prova. Enquanto Vettel seguir firme na liderança, atrás acontecia
de tudo um pouco: Hamilton errava a torto e a direito, disputava-se posição com
toques roda a roda, roda com pneu, roda com bico de carro, etc. Não por acaso,
a FIA distribuiu suas tradicionais punições a rodo para vários pilotos; só
Pastor Maldonado levou 3, recheando o seu currículo de confusões na pista. Ao
final, a Red Bull colocou seus dois pilotos no pódio, e quem também comemorou
foi a McLaren, colocando seus dois pilotos na zona de pontos, amenizando um
pouco aquela que tem sido a pior temporada da escuderia desde 1980. O melhor de
tudo é que não foi preciso a chuva para bagunçar o panorama da corrida, mas
teve um safety car em virtude da batida de Nico Hulkenberg ao fim da reta dos
boxes devido à quebra do bico de seu carro, deixando vários detritos na pista,
e rejuntando o pelotão que estava meio disperso, e ajudando a apimentar a
competição. E depois, ainda tecem cobras e lagartos sobre a pista, por ser
muito travada, e não ter pontos de ultrapassagens - exceção óbvia à reta dos
boxes...
Essa corrida já chamou
atenção antes mesmo da realização de sua primeira edição, em meados dos anos
1980. Através de negociações de Bernie Ecclestone, na época dono da escuderia
Brabham e presidente da FOCA - Associação dos Construtores da Fórmula 1, o
astuto dirigente já vinha cortejando os países do bloco comunista, que
começavam a se liberalizar um pouco, e abrandar a imagem da "Cortina de
Ferro". A idéia era realizar um GP em Moscou, sede da União Soviética, mas
foram os húngaros os mais receptivos à idéia de sediarem um Grande Prêmio de
F-1, e o acordo foi fechado com vistas ao GP fazer sua estréia no campeonato de
1986.
Os húngaros souberam
trabalhar: construíram o circuito de Hungaroring, e efetuaram um trabalho de
logística e promoção impecáveis. O resultado foi a realização da primeira
corrida de Fórmula 1 em um país comunista, em 10 de agosto de 1986, e com um
público recorde de praticamente 200 mil pessoas no circuito, vindo de todos os
países do Leste Europeu, ávidos para conhecer a categoria máxima do automobilismo,
e um dos expoentes máximos do capitalismo, regime que os comunistas geralmente
desprezavam.
E os húngaros tiveram
chance de assistir a um duelo memorável entre dois brasileiros pela vitória.
Ayrton Senna, defendendo a Lotus/Renault, largou na pole, e fez valer a posição
de honra na corrida, sendo acossado desde o início pelas Williams/Honda, com
seu conterrâneo Nélson Piquet a manter-se firme na sua traseira durante mais da
metade da corrida. Piquet chegou a tomar a liderança, mas na troca de pneus no
box, Ayrton retornou à ponta, e o duelo entre os dois recomeçou com tudo,
culminando na famosa ultrapassagem de Piquet a Senna na freada do retão dos
boxes, com Nélson a fazer a curva com uma derrapagem controlada de seu
Williams, fechando a porta para impedir Senna de retomar a ponta, como
acontecera na tentativa de ultrapassagem anterior. A manobra é considerada por
muitos até hoje como a mais espetacular ultrapassagem da história da categoria,
e tanto Senna quanto Piquet ofereceram um espetáculo para o público presente. Piquet
vencia a corrida, com Senna em segundo lugar, e Nigel Mansell fechando o pódio
em 3°. Aliás, não por outra razão que domingo passado Bernie Ecclestone e
Nélson Piquet foram homenageados durante o fim de semana da prova húngara por
ocasião da comemoração dos 30 anos da corrida, com ambos a desfilarem em carro
pela pista, sendo aplaudidos pelo público. Homenagem mais do que justa para
quem conseguiu viabilizar a prova, e para o seu primeiro vencedor.
Aliás, a corrida
húngara teve forte presença brasileira desde o seu início. Tamas Rohonyi,
húngaro radicado no Brasil desde os anos 1950, e que já atuava no Grande Prêmio
do Brasil, foi um dos homens escolhidos por Ecclestone para ensinar aos seus
compatriotas os macetes de organização do GP. E o domínio brasileiro na
competição seguiu em 1987, com nova vitória de Piquet, com Senna novamente em
2° lugar. Nigel Mansell vinha firme para a vitória, mas perdeu uma porca de uma
das rodas de sua Williams a poucas voltas do final, abandonando a corrida. Em
1988, foi a vez de Ayrton Senna manter a supremacia brasileira, em uma prova
onde travou um forte duelo com seu companheiro na McLaren, Alain Prost.
Somente em 1989 o
domínio brasileiro na Hungria seria quebrado: Nigel Mansell, com uym show de
pilotagem, saiu da 12ª posição no grid para a vitória em um GP marcado por
várias disputas. Aliás, a fama de circuito travado, e que favorece corridas
chatas e sem atrativos, é até certo ponto injusta com o Hungaroring. Tivemos
realmente corridas monótonas e chatas na pista, mas também tivemos corridas
sensacionais e bem disputadas, com direito a performances e duelos antológicos,
e resultados inesperados. As etapas de 1986, 1987, 1988, e 1989 foram bons
exemplos. E a prova de 1990 também não fugiria à regra: a pole foi do belga
Thierry Boutsen, então na Williams/Renault, que largou bem, e manteve-se firme
para conquistar sua 3ª e última vitória na categoria, tendo sempre atrás de si
a corrida inteira vários outros pilotos, em disputa ferrenha para tomar-lhe a
dianteira, e com direito a alguns duelos que não terminaram da melhor forma
para seus contendores.
Outras corridas
interessantes foram as etapas de 1991 e 1992. A Williams assumia sua posição de equipe
dominante na categoria, mas em 91, depois de 5 provas arrasando a concorrência,
foi Ayrton Senna quem comandou uma reação magistral justamente na prova
húngara, iniciando ali sua arrancada para o tricampeonato, que conquistaria no
fim do ano, em Suzuka, no Japão. Já em 1992, o brasileiro foi novamente
vencedor na corrida húngara, em um ano onde a Williams foi mais dominadora do
que nunca, mas teve novamente seus azares em Hungaroring, com o pole Riccardo
Patrese a abandonar com motor quebrado. Mas Nigel Mansell, em uma corrida calma
e sem sobressaltos, satisfez-se com o 2° lugar, conquistando ali o seu único
título na categoria, na única vez em que a prova húngara viu a definição de um
título de pilotos.
Com a modesta Arrows-Yamaha, Damon Hill deu show na Hungria em 1997, por pouco não vencendo a corrida, no que prometia ser a maior zebra da temporada... |
Um novo show seria
mostrado em 1997, quando Damon Hill, então campeão do ano anterior, e defendendo
a fraca Arrows/Yamaha, exibiu uma performance espetacular, por pouco não
vencendo a corrida, terminando apenas em 2° lugar porque seu carro enfrentou
uma pane hidráulica a 2 voltas do fim, permitindo que fosse ultrapassado por
Jacques Villeneuve, que venceu a corrida. Em 2006, uma chuva providencial
ajudou a bagunçar as estratégias de equipes e pilotos, e quem venceu foi Jenson
Button, obtendo então sua 1ª vitória na F-1, tendo largado em 14° lugar. No ano
passado, a chuva também foi responsável por agitar a corrida, obrigando os
pilotos a alterar seus planos em virtude da precipitação que caíra antes da
largada e molhara fortemente a pista. E, claro, a batida de Marcus Ericsson
ajudou a terminar de bagunçar as estratégias e planos de todos, com uma intervenção
do safety car. No fim, vitória de Daniel Ricciardo, com uma disputa feroz pela
liderança nas voltas finais, onde até mesmo Fernando Alonso, com uma Ferrari
meio capenga, conseguiu lutar pela vitória e conseguiu o melhor resultado da
escuderia italiana em 2014. E sobre domingo passado, tivemos a melhor corrida
do campeonato até aqui...
Desde a estréia, a
pista de Hungaroring passou por algumas mudanças pontuais, sempre objetivando
deixá-la, se não mais veloz, com pelo menos alguns pontos mais favoráveis de
ultrapassagem. É verdade que a corrida ficou um pouco mais veloz, mas também
teve seu número de voltas reduzido, e a pista não ficou mais fácil no que tange
às ultrapassagens, nem mesmo com o uso do atual DRS, a asa móvel traseira, com
seus pontos de utilização na grande reta dos boxes e no pequeno trecho logo a
seguir após a curva n° 01 do circuito. A primeira corrida deveria ter tido 77
voltas, mas com o limite de duas horas atingido, a prova foi encerrada com 76
voltas. No seu início, o circuito contava com um traçado de 4,014 Km de extensão. Em
1989, o circuito teve sua primeira alteração: foi suprimida uma curva que
existia entre as atuais curvas 3 e 4, criando uma pequena reta, que
infelizmente não se converteu em um novo ponto de ultrapassagem. A curva está
lá até hoje, mesmo nunca mais tendo sido usada. Com isso, o traçado encolheu
para 3,968 Km,
e o percurso da prova mudou para as 77 voltas previstas inicialmente. Um pouco
menor, a prova ficou mais rápida com uma curva a menos, e mesmo com uma volta a
mais, a corrida de 1989 terminou com aproximadamente 1h50min de duração,
praticamente 10min a menos que a primeira corrida, em 1986.
Em 2003, ocorreram as
últimas mudanças no traçado de Hungaroring: a reta dos boxes ficou um pouco
mais longa, e o trecho entre as curvas 11 e 13 foi modificado, criando-se um
novo trecho de reta, finalizado por uma curva mais fechada. O objetivo era,
obviamente, tentar oferecer mais pontos de ultrapassagem na travada pista
húngara, mas os resultados não frutificaram como o esperado: a reta dos boxes,
maior, não ofereceu mais facilidades de ultrapassagem do que antes; e o novo
trecho de reta entre as curvas 11 e 12, a exemplo do trecho entre as curvas 3 e 4,
criado anos antes, também de reta, não ajudou a facilitar as disputas de
posição. Foi neste ano também que a prova teve seu percurso reduzido, das 77
voltas, para 70, configuração que permanece até hoje.
O circuito próximo a Budapeste continua tão travado quanto em sua estréia, 30 anos atrás, mas tem conseguido ser palco de boas corridas em várias oportunidades. |
Se a pista, apesar de
tudo, continua travada, e sempre ameaçando ser palco de uma corrida engessada e
sem atrativos, apesar das boas provas que sediou, fora da pista as coisas
mudaram muito nestes últimos 30 anos. Em primeiro lugar, a Cortina de Ferro,
que já dava alguns sinais leves de corrosão em 1986, caiu de vez em 1989. Os
regimes comunistas do Leste Europeu foram substituídos por democracias.
Restaurou-se a liberdade, e alguns países, como a Iugoslávia, desapareceram,
desmembrando-se. O Muro de Berlin, maior símbolo da divisão do mundo entre
capitalistas e comunistas (ou socialistas, dependendo da opinião), caiu. A
Alemanha reunificou-se. A própria Hungria hoje é um país mais próspero do que
jamais foi em seus tempos comunistas. Há dificuldades, claro, que em certos
tempos até colocaram a corrida de F-1 em perigo de deixar o calendário, em prol
de corridas em lugares mais atrativos. Mas o GP conseguiu resistir a tudo, e
segue firme no calendário, por mais que haja críticos defendendo sua extinção
em defesa do retorno de outras provas européias, como a da França, que há anos
perdeu seu GP, assim como Portugal.
A manutenção de uma
corrida na F-1 por vezes resulta de uma equação delicada, entre interesses dos
organizadores, do país anfitrião, da FOM, e do interesse do público. Nem sempre
a equação fica equilibrada, mas se a prova húngara conseguiu sobreviver até hoje,
para comemorar 30 anos de realização, é um sinal de que conseguiu equilibrar os
requisitos necessários para a manutenção da prova. E, enquanto a Hungria
continuar conseguindo sediar corridas como as do último domingo, os fãs do
esporte a motor certamente terão motivos para comemorar sua manutenção no
calendário da F-1. Então, vida lona ao GP da Hungria!
A Formula-E continua seus
preparativos para o seu segundo campeonato, com início para o dia 17 de
outubro, em Pequim, na China, e esta semana a direção da categoria confirmou
que os 10 times presentes no primeiro campeonato, vencido pelo brasileiro
Nelson Ângelo Piquet, continuarão firmes na próxima temporada da competição. No
próximo dia 10 de agosto, a categoria terá sua primeira sessão coletiva de testes
para a nova temporada, a ser realizada no circuito inglês de Donington Park.
Com a entrada de novos grupos no fornecimento dos motores elétricos que
impulsionam os carros, está sendo avaliado a possibilidade de um incremento de
potência para as disputas, visando tornar os bólidos mais rápidos. É algo a ser
conferido, que deve deixar as corridas mais disputadas ainda, esperam todos.
Começam hoje os treinos para a
antepenúltima etapa do campeonato 2015 da Indy Racing League, que entra em sua
reta final, restando ainda as etapas de Pocono e Sonoma para fechar a
competição. O palco é o circuito de Mid-Ohio, em Lexington. Juan Pablo Montoya
é o líder da competição, e contou com a sorte de seus principais rivais não
terem tido um bom resultado na última corrida, em Iowa, para se manter firme
ainda na liderança, mesmo com o abandono no pequeno circuito oval, o seu
primeiro no ano. Mas a disputa na vice-liderança segue embolada, e agora com a
presença de Graham Rahal, que aparece como possível candidato ao título,
estando 42 pontos atrás de Montoya. Será que o filho do tricampeão da F-Indy
original Bobby Rahal vai conseguir surpreender e ameaçar efetivamente Montoya? Temos
3 corridas para verificar isso, e a disputa promete ser interessante...