Com uma parada a menos nos boxes, Sebastian Vettel e a Ferrari surpreenderam a favorita Mercedes na Malásia, dando esperança de um pouco mais de disputa ao campeonato. |
Disputadas as primeiras
etapas do campeonato deste ano da Fórmula 1, podemos fazer um pequeno balanço
das impressões sentidas até aqui com relação à disputa na pista este ano. A
primeira delas, a mais óbvia de todas, é que a Mercedes é o carro a ser batido,
e apesar dos sustos iniciais vistos nos testes da pré-temporada, e na etapa da
Austrália, os carros alemães poderão ter alguns percalços pelo caminho, como
visto na Malásia, onde o forte calor e a degradação dos pneus os fizeram perder
a vitória para a Ferrari, numa agradável surpresa logo no início do calendário,
dando a esperança de que isso possa acontecer outras vezes durante o ano. Se
isso vai significar um campeonato mais disputado do que o do ano passado, em se
tratando de título, só esperando para ver, pois ainda é cedo para dizer que os
carros prateados perderam o seu favoritismo destacado na competição.
A corrida da Austrália
foi a pior dos últimos anos. Poucas disputas, e o menor número de carros em
prova dos últimos tempos. A Manor nem conseguiu ligar o motor, embora para
muitos, ter conseguido construir o carro, ainda que seja basicamente o mesmo
modelo do ano passado, já foi uma proeza e tanto. Com isso, tivemos dois carros
a menos no grid, de um total inicial de 20, e no domingo, outros dois pilotos
foram a nocaute antes mesmo de alinharem para a prova. Menos outros dois
carros. Largariam apenas 16, ou melhor, 15, já que Valtteri Bottas acabou
vetado pelos médicos por causa das dores nas costas, que se mostraram piores do
que o esperado após as pancadas sofridas durante a classificação. E, como
costuma acontecer em Melbourne, as curvas após a largada são pródigas em confusões
e incidentes, e por ali ficaram Pastor Maldonado, na primeira batida em corrida
do ano. Ao fim da primeira volta, novo abandono, de Romain Grossjean, e com
isso, a corrida acabou disputada na prática por apenas 13 carros.
De negativo, tivemos a
confusão extra-pista causada pela ação movida por Giedo Van Der Garde contra a
Sauber, por ainda possuir um contrato válido para ser piloto titular da
escuderia suíça, o que a fez passar por uma tremenda saia justa com a justiça
australiana, que a fez perder o primeiro treino livre, e até a correr o risco
de ter seus bens apreendidos. Por fim, chegou-se a um acordo, mas com sua
popularidade levando alguns sobressaltos, a F-1 certamente podia passar sem
essa, já tendo os problemas da crise econômica que afeta meio grid algo
suficiente para tirar o sono de muita gente.
De positivo, a boa
impressão de que a Ferrari recuperou-se totalmente do mau ano de 2014, tendo
produzido de fato um excelente carro, e corrigido os problemas na sua unidade
de potência. E também teve a excelente corrida de Felipe Nasr, que
aproveitou-se das oportunidades da corrida para chegar num excelente 5° lugar,
fazendo uma prova competente e firme. Também se confirmou que a Red Bull terá
um ano mais difícil do que se imaginava, além de que a McLaren terá muito
trabalho em seu primeiro ano da retomada parceria com a Honda.
Como a pista do Albert
Park geralmente não reproduz exatamente o perfil que se vê em toda a temporada,
devido às suas características particulares, e também pelo fato de, na primeira
corrida, alguns times adotarem um grau conservador, quando não estão ainda
tentando descobrir os melhores acertos de seus equipamentos, sempre se espera
pela prova seguinte, geralmente na pista de Kuala Lumpur, um autódromo de
verdade, para vermos uma expressão mais exata do que o campeonato pode nos
mostrar. E, confirmando a teoria, tivemos uma corrida muito mais interessante e
disputada do que em Melbourne.
O melhor de tudo foi
vermos outro carro que não a Mercedes a vencer, surpreendendo os atuais campeões
do mundo, que certamente imaginavam poder desfilar com muito mais calma e
vantagem. Sebastian Vettel, que saíra da Red Bull meio desacreditado,
reencontrou sua melhor forma no time italiano, e já tinha dado prova disso na
Austrália, subindo ao pódio e sendo o melhor do "resto" do grid,
vencendo o duelo com Felipe Massa pelo lugar restante do pódio. O modelo
SF-15T, de autoria de James Allison, mostrou a que veio, e embora esteja ainda
abaixo do modelo W06 da Mercedes em performance absoluta, é bom o suficiente
para apresentar algumas surpresas com um bom talento ao volante. Aliás, Allison
tinha produzido este tipo de característica positiva nos modelos da Lotus de
2012 e 2013, que permitiram naqueles anos a Kimi Raikkonem terminar o
campeonato em 3° lugar, até conseguindo vencer algumas corridas, pelo trunfo do
chassi ser extremamente dócil com os pneus, permitindo em inúmeras
oportunidades economizar uma parada de box em relação aos rivais, o que foi
decisivo para a vitória de Vettel em Sepang, além da excelente boa performance
do próprio Raikkonem, que caiu para último, e veio fazendo uma excelente prova
de recuperação, terminando em 4° lugar com o outro carro da Ferrari.
Felipe Massa perdeu o duelo não só com as Ferraris em Sepang, mas também com o próprio companheiro de equipe Valtteri Bottas, que o superou na última volta da corrida da Malásia. |
A corrida em Sepang
também mostrou que Williams e Red Bull não estão com a bola toda que
imaginavam. O time de Frank Williams foi amplamente superado pela Ferrari na
Malásia, mostrando que já ficou para trás em relação ao time de Maranello como
principal força da temporada depois da Mercedes, tendo terminado ambos os
pilotos com mais de 1 minuto de desvantagem para o vencedor Vettel, diferença
alta demais para ser atribuída apenas a uma parada a menos durante a prova. Fica
pior ainda quando se vê que tanto Valtteri Bottas quanto Felipe Massa terminaram
a prova malaia atrás de Kimi Raikkonem, que havia caído para último lugar por
um pneu furado por um toque e veio passando todo mundo à sua frente, incluídos
os dois carros da Williams. É verdade que em 2014 a escuderia também
esteve abaixo das expectativas nas primeiras corridas, mas a perspectiva para
este ano era de evolução em relação ao ano passado, e se não reagirem logo,
podem perder a chance de terminarem melhor do que em 2014. No caso da Red Bull,
a situação foi ainda pior, com o time principal sendo superado pela time satélite,
que tem menos recursos e, teoricamente, um carro não tão bom quanto o time
principal.
Aliás, o clima entre a
Red Bull e a Renault esquentou da Austrália para cá, com algumas farpas e
trocas de acusações pouco levianas por parte do time dos energéticos, o que fez
com que levassem algumas reprimendas públicas da Renault, cansada de ser
acusada de todos os problemas. Para azar do time principal, a Toro Rosso fez
uma corrida bem melhor com seus dois pilotos na Malásia, mostrando que os
problemas não são apenas da unidade de potência. Mas foi decepcionante mesmo o
clima de falta de esportividade exibido pela Red Bull, chegando a ameaçar até
deixar a F-1 se não tiver condições de vencer corridas. Se todos os times
tivessem este tipo de atitude quando tem problemas, não teríamos mais categoria
alguma. Pelo visto, os anos de sucesso fizeram muito mal à escuderia, que já
esqueceu que foi um time médio um dia, de 2005 até 2008, vencendo suas
primeiras provas apenas em 2009.
A Toro Rosso está na frente da Red Bull no campeonato, o que não acontecia desde 2008: menos reclamação e mais trabalho na pista... |
Sauber, Lotus e Force
India mostraram que tem carros com potencial, mas que precisam ser
desenvolvidos para efetuarem um bom campeonato e marcar pontos com
regularidade. Todos eles mostram que os percalços financeiros comprometeram
suas expectativas de performance, em maior ou menor grau. Por azares diversos,
a Lotus ainda não conseguiu pontos, enquanto a Sauber aproveitou os azares
alheios na Austrália para faturar bons pontos com sua dupla de pilotos, que não
teve a mesma sorte na Malásia. Já os carros da Force India sempre costumavam
iniciar o ano com boas performances, o que não é o caso deste ano, onde colheu
apenas alguns pontos pingados em Melbourne. Com a Toro Rosso mostrando mais
performance do que eles imaginavam, e se levarmos em conta que as primeiras
colocações serão ocupadas por carros da Mercedes, Ferrari, Williams, e Red
Bull, as chances de aqueles 3 times pontuarem se resumirão às oportunidades
onde enfrentem algum problema, liberando "vaga" nos lugares pontuáveis.
Portanto, que tratem de desenvolver seus carros o quanto antes for possível,
sob o risco de irem ficando mais para trás, com sérias consequências no
campeonato de construtores.
Enquanto isso, a
McLaren confirma os prognósticos preocupantes da pré-temporada, com os
japoneses da Honda enfrentando mais problemas do que imaginavam na sua unidade
de potência e sistemas de recuperação de energia. Mas o modelo MP4/30 mostra
ter potencial, e em Sepang, já conseguiu demonstrar uma evolução capaz de
deixar Sauber, Lotus e Force India para trás a curto prazo, se conseguir
melhorar a fiabilidade. E se levarmos em conta que, para evitar quebras, a
unidade de potência nipônica está rodando muito abaixo do limite permitido, dá
para especular que o salto de performance, tão logo adquiram a fiabilidade
necessária, deverá ser bem significativo, embora seja impossível precisar
exatamente onde possam chegar ainda este ano. Se conseguirem voltar a pontuar
regularmente, já será uma grande façanha.
Aos trancos e barrancos, a McLaren/Honda mostra que pode crescer bastante se conseguir maior fiabilidade no equipamento, especialmente na unidade de potência nipônica. |
Tudo indica que o
campeonato pode oferecer algumas boas surpresas, talvez nem tanto quanto se
possa esperar efetivamente, mas certamente mais do que se imaginava a princípio,
quando tudo o que parecia restar seria ver qual dos pilotos da Mercedes seria o
campeão, e quando. Ainda é uma questão de tempo saber quando isso vai
acontecer, mas a corrida da Malásia oferece a esperança de que os campeões
mundiais possam vir a ter alguns problemas, mesmo que ocasionais, pelo seu
caminho rumo ao bi consecutivo. E isso já ajuda a encarar as próximas provas
com expectativa renovada de pelo menos vermos esperança de melhores disputas. Sigamos
então para a China, próxima etapa, para conferirmos se a esperança se confirmará.
Até Shangai...
A F-E volta à pista neste sábado,
para sua segunda etapa em solo estadunidense. O palco é o circuito de Long
Beach, na Califórnia, que já sediou provas da F-1, da F-Indy, e atualmente faz
parte do calendário da Indy Racing League. A pista que será utilizada pela
categoria de carros elétricos, contudo, será bem menor que a utilizada pelos
monopostos Indy, contando com 2,1
Km de extensão, com 7 curvas, incluindo o famoso
cotovelo que dá acesso à reta dos boxes, palco onde os competidores costumam se
estranhar na disputa de posições nas corridas já disputadas naquela pista. O
traçado terá vários trechos de retas, o que deve proporcionar bons pontos de
ultrapassagens, especialmente na reta dos boxes, em curva, onde os pilotos
poderão efetuar seus ataques. E, ao contrário da pista de Miami, bem estreita,
as ruas do balneário californiano são bem mais largas, e deverão realmente
facilitar as tentativas de ultrapassagem, prometendo muita disputa entre os
competidores. A liderança da competição está com o francês Nicolas Prost, da
equipe e.Dams, o vencedor da última corrida, em Miami, seguido pelo brasileiro
Lucas Di Grassi, que corre pela equipe Audi ABT, que foi o vencedor da primeira
etapa, em Pequim, e que vinha liderando o certame até a corrida da capital do
Estado da Flórida, onde teve um mal resultado e perdeu a liderança da
competição. Prost está com 67 pontos, contra 60 de Lucas. Na 3ª colocação está
o inglês Sam Bird, da Virgin, com 52 pontos. Nelsinho Piquet, da China Racing,
vem subindo de produção nas últimas corridas, e é o 4° colocado na competição,
com 49 pontos. Bruno Senna, por sua vez, continua enfrentando problemas e é
apenas o 13° colocado, com 18 pontos. O canal pago Fox Sports transmite a
corrida ao vivo, às 16 horas, com reprise da prova às 23 horas.
Sobre a corrida em Long Beach,
aliás, é preciso fazer uma importante lembrança: na última segunda-feira, 30 de
março, fez exatamente 35 anos da primeira vitória de Nélson Piquet na F-1,
exatamente em Long Beach, que naquela época sediava o GP-Oeste dos EUA,
enquanto Watkins Glen sediava o GP-Leste. Era a segunda temporada completa de
Nelson, que havia estreado em 1978, no meio da temporada, no GP da Alemanha, correndo
pela Ensign, até ir parar na Brabham onde disputaria toda a temporada de 1979.
Com a primeira "aposentadoria" de Niki Lauda, o brasileiro assumiu a
liderança do time, que em 1980 voltaria finalmente a disputar um título depois
de muitos anos. Piquet terminou o ano como vice, depois de uma luta árdua
contra Alan Jones, que conquistava o primeiro título de pilotos para a equipe
Williams. Mas a vitória de Nélson em Long Beach foi emblemática por ter sido
também o último pódio de Émerson Fittipaldi, que terminou a corrida em 3°
lugar, conseguindo ali o último resultado positivo da equipe comandada por ele
e seu irmão Wilsinho. Era uma passagem de geração, à qual Piquet deu seguimento
nas conquistas brasileiras na F-1, que depois seria sucedido por Ayrton Senna.
E, não por acaso, Nelsinho Piquet, que disputa amanhã a etapa de Long Beach da
F-E, já mencionou que seria antológico vencer a corrida na mesma pista onde seu
pai triunfou pela primeira vez na F-1, em 1980. Nelsinho vem andando bem nas
últimas corridas, quem sabe ele consegue este feito? Nelsão pai certamente iria
gostar, e muitos torcedores também.
Juan Pablo Montoya iniciou o
campeonato 2015 da IRL na frente. O colombiano travou uma luta ferrenha com
Will Power na parte final da corrida, disputada no circuito de rua em São
Petesburgo, e voltou a vencer uma corrida de monopostos depois de praticamente
10 anos. A última vez que Juan Pablo vencera uma prova com este tipo de carro
foi em Interlagos, em 2005, no GP Brasil de F-1 daquele ano. Na época, o
colombiano corria pela McLaren. Numa categoria Indy, o jejum era ainda mais
longo: Montoya havia vencido numa pista de rua em 1999, na etapa de Vancouver,
pelo campeonato da F-Indy original, defendendo a Chip Ganassi, onde terminaria
o ano como campeão da categoria. No ano seguinte, ainda defendendo o time de
Chip Ganassi, ele ainda venceria 3 provas no campeonato, mas todas em circuitos
ovais. Além de Montoya, quem fez mesmo a festa em São Petesburgo foi a Penske:
a escuderia colocou seus 4 pilotos nas 4 primeiras posições do grid, com o
atual campeão, Will Power, na pole-position, tendo a seu lado o francês Simon
Pagenaud, novo reforço do time de Roger. Hélio Castro Neves foi o 3°, e Juan
Pablo o 4°. Takuma Sato, da Foyt, foi o primeiro colocado dos "demais"
times. Na bandeirada, Montoya ficou em 1°, com Power em 2°. Helinho foi o 4°
colocado, à frente de Pagenaud, atestando o domínio da Penske na corrida,
interrompido apenas pelo 3° lugar do brasileiro Tony Kanaan, da Chip Ganassi,
que se intrometeu na festa particular que o time de Roger Penske estava
fazendo. Ainda é cedo para dizer que a Penske vai monopolizar o campeonato, mas
é melhor que a concorrência abra o olho, se não quiser ficar apenas comendo
poeira na pista...
Juan Pablo Montoya iniciou o ano vencendo na Indy, em São Petesburgo. |
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