sexta-feira, 6 de março de 2015

HORA DE PEGAR A ESTRADA!



A pista montada no Albert Park, em Melbourne, está pronta para dar início à temporada 2015 da F-1.

            Está chegando ao final a espera. No próximo fim de semana, terá início o campeonato 2015 da F-1, com a promessa de muita disputa pelo segundo escalão nas corridas da temporada. Ninguém duvida que a Mercedes é o time a ser batido novamente, o problema é que, pelo que se viu na pré-temporada, o time alemão está mais preparado do que no ano passado, quando todo mundo apostava no noviciado dos novos sistemas de energia e motores turbo para tentar contar com algumas surpresas. Agora, testados e mais bem conhecidos, o ponto positivo é que os carros já voltaram a ficar mais rápidos, sendo pelo menos 2s mais velozes do que em 2014. No ano passado houve uma enxurrada de reclamações de fãs exaltados praguejando que a categoria havia ficado mais lenta, e que isso era inaceitável por ser a F-1, ignorando amplamente que os carros haviam ficado mais pesados, e perdido um grau considerável de sustentação aerodinâmica.
            Mas a categoria segue em frente, e aos trancos e barrancos da crise financeira que está tirando o sono de pelo menos quase metade do grid, todo o pessoal está embarcando neste fim de semana rumo à Oceania, onde o Grande Prêmio da Austrália dá a largada para mais um campeonato mundial. O Albert Park, no centro de Melbourne, está pronto para receber todo o circo da categoria, e como já é de conhecimento geral, os australianos fazem uma das melhores promoções de GPs da temporada, que ajuda a disfarçar a tensão da estréia da disputa. E teremos 20 carros na Austrália: a Manor/Marussia conseguiu que seu carro de 2014, adaptado às novas regras técnicas deste ano, fosse aprovado, e vai iniciar o certame junto da demais escuderias, além de ter conseguido sair da administração judicial em que estava desde o fim do ano passado. Se eles vão conseguir largar, porém, é outra história: se no ano passado, com um carro projetado e construído nos conformes, eles largaram quase sempre nas últimas filas, iniciar a competição com um carro antigo, mesmo que adaptado, enquanto os concorrentes estão bem mais velozes, vai ser um desafio se manterem dentro do limite de 7% do tempo do pole-position de diferença para terem o direito de alinhar no grid. A escuderia deve ter seu modelo 2015 pronto para o início da temporada européia, espera-se.
            Enquanto isso, a F-1 dá sua tradicional excursão pelo outro lado do mundo. Depois da Austrália, no próximo final de semana, todos seguem para a Malásia, no circuito de Sepang, próximo a Kuala Lumpur, capital do país, no dia 29 de março. O palco seguinte, novamente duas semanas depois da Malásia, no dia 12 de abril, é a China, em Shanghai, onde o pessoal terá pouco tempo para ficar, pois apenas uma semana depois já terão de disputar a prova do Bahrein, no dia 19 de abril. Essas quatro primeiras corridas marcam a primeira fase do mundial, e enquanto os carros correm nestas etapas, as equipes técnicas nas fábricas das escuderias trabalham fervorosamente analisando os dados de pista enviados diretamente dos boxes em tempo real para a Europa, onde os engenheiros e projetistas estarão concebendo as atualizações que os modelos irão receber na etapa da Espanha, no dia 11 de maio, que dará início à fase mais apreciada por todos, a "temporada" européia da competição, com os times a exibirem seus famosos motor homes. Não dá para negar, por mais que seja interessante ver a F-1 em provas pelo mundo, é na Europa que a categoria ainda vive o melhor de seu carisma e fascinação. E nada como a corrida de Mônaco, em Monte Carlo, para respirarmos um pouco o antigo ar dos "grand prix", numa pista que só sobrevive na categoria realmente pelo charme e prestígio dos velhos tempos, e que lá, se permite reviver momentaneamente.
Monte Carlo ainda conserva o charme dos antigos tempos da F-1: Mônaco é a prova mais famosa do calendário da categoria.
            A parada seguinte é no Canadá, no dia 7 de junho, e Montreal, assim como Melbourne, sabe muito bem como aproveitar sua semana de Grande Prêmio, para não mencionar que as corridas no circuito Gilles Villeneuve estão longe de serem monótonas: sempre tem alguma coisa interessante para agitar a etapa. Em 2014, foi vermos a primeira vitória de Daniel Ricciardo na categoria, ao volante da Red Bull. O australiano repetiria o feito mais duas vezes na temporada, tornando-se o único piloto a vencer fora a dupla da Mercedes. Foi em Montreal também que se viu a última vitória de Nélson Piquet na categoria, em 1991, em uma cena inimaginável: Nigel Mansell, que dominava a corrida com a Williams, desacelerou demais na última volta, acenando para a torcida, e seu carro "morreu" a menos de meia volta para a bandeirada de chegada. Piquet, que era o 2° colocado, viu a vitória cair no seu colo, mas não se fez de rogado nem um pouco, como era de seu caráter, ainda mais por faturar em outro azar de eu rival de tempos de Williams.
            De Montreal para a cidade de Zeltweg, no dia 21 de junho, e o renovado circuito da Áustria, agora rebatizado de Red Bull Ring. O visual das montanhas em volta é espetacular, mas nunca curti a versão "reduzida" da pista montada nos anos 1990. A pista era mesmo boa quando dava a volta no morro ao lado, e era de alta velocidade, e com bons pontos de ultrapassagens, o que não se vê hoje em dia. Seguimos então para o mês de julho, com nada menos do que 3 corridas em solo europeu. O primeiro fim de semana de julho abriga o GP da Inglaterra, capital mundial do automobilismo, no belo circuito de Silverstone, onde a categoria nasceu, em 1950. A próxima parada deverá ser na Alemanha, no dia 19 de julho, mas esta etapa está enrolada: o autódromo de Nurburgring, que deve sediar a corrida este ano, está praticamente sem fundos para honrar os compromissos financeiros que a etapa demanda, pondo em risco a realização do GP alemão. Hockenhein, a outra pista que sedia a prova, em esquema de revezamento, poderia assumir o lugar, não fosse o fato de declarar também estar sem dinheiro para tanto, ainda mais depois da corrida do ano passado ter sido um fiasco de público, mesmo com o domínio da Mercedes, um time alemão, no campeonato, e da liderança e vitória de Nico Rosberg em casa. A própria Mercedes está em negociação para assumir a realização da corrida, e assim, salvar o GP da Alemanha e mantê-lo no campeonato. Todos torcem para que dê certo.
            No dia 26 de julho é a vez do GP da Hungria, no travado circuito de Budapeste, que alterna corridas monótonas com grandes provas quando São Pedro costuma dar o ar da graça, como aconteceu no ano passado, em novo baile das interpéries que bagunçou com as estratégias dos times e viu a segunda vitória de Daniel Ricciardo no ano, um pódio de Fernando Alonso com uma Ferrari pouco competitiva, e uma reviravolta nas expectativas dos pilotos da Mercedes com o resultado da corrida depois de uma classificação onde tudo correu bem para Nico Rosberg e tudo deu errado para Lewis Hamilton. Mas foi o piloto inglês que acabou se dando melhor na bandeirada final.
            Entramos então na pausa do campeonato, para as "férias" européias, e depois de no mínimo duas semanas de descanso (acredite quem quiser que as equipes realmente param todos os seus trabalhos), estamos de volta no dia 23 de agosto para uma das etapas mais apreciadas por todos, torcedores, equipes, imprensa: o GP da Bélgica, no belíssimo circuito de Spa-Francorchamps, onde o clima costuma ser tão firme quanto gelatina, e o desafio das curvas de alta velocidade, como a Eau Rouge, e a Blachmont testam os limites dos pilotos mais audazes. O esplendoroso visual das Ardenhas compensa até pegar chuva no fim de semana, e ninguém reclama do tempo, exceto, claro, os pilotos e as equipes, quando suas estratégias de corrida vão pelo ralo com as intervenções de São Pedro, quase sempre inesperadas e imprevisíveis.
            Tudo que é bom dura pouco, e a "temporada" européia infelizmente chega ao fim no primeiro fim de semana de setembro, e num palco que não poderia ser melhor: Monza, sede do GP da Itália, no mais veloz circuito do campeonato. Além do clima de um autódromo "tradicional", os italianos ainda respiram o clima dos "grand prix", para não falar da devoção à Ferrari, uma verdadeira instituição nacional, com direito a invasão da pista ao fim da prova para todos mostrarem seu fervor e amor declarado pelo automobilismo, e desenrolar sempre uma gigantesca bandeira da Ferrari em homenagem aos carros do time criado por Enzo Ferrari em 1947. Também é uma corrida para se comprar tudo e mais um pouco de produtos ligados ao automobilismo. Passar nas barraquinhas de vendas atrás do paddock é um pecado mortal para aqueles que não resistem a comprar o que vêem pela frente, com resultados trágicos para a carteira ou o cartão de crédito no mês seguinte: sempre se acaba comprando alguma coisa.
Monza: ao fim da corrida, ocorre a famosa "invasão" da pista, para uma comemoração como não se vê nas outras corridas.
            Da Europa, a F-1 volta para o Oriente, começando pela prova de Cingapura, que tem seu charme único por ser uma prova exclusivamente noturna, disputada no circuito de rua montado próximo ao centro da cidade-estado asiática. O circuito não é exatamente um primor, mas está longe de ser ruim, e o visual dos arranha-céus e da gigantesca roda gigante ao lado da pista cativam os visitantes. E, por ser um circuito de rua, intervenções do Safety Car quase são frequentes, uma vez que os muros à beira da pista raramente perdoam erros de pilotagem.
            Da cidade-estado passamos para o Japão, no último fim de semana de setembro, e chegamos a Suzuka, uma das pistas mais desafiadoras do campeonato, e onde o fervor pela F-1 continua firme, mesmo sem a intensidade dos anos de domínio da Honda e da idolatria por Ayrton Senna - menor somente do que a do Brasil. Sempre gostei desta pista, que tem uma boa variedade de  curvas - chega a passar por cima de si mesma, e que exige um bom compromisso de acerto entre estabilidade e velocidade de reta, pra não falar que vez ou outra o clima fica instável e promove algumas confusões nas expectativas de prova de pilotos e escuderias.
            No dia 11 de outubro, a F-1 retorna a Sochi, para o GP da Rússia, que promete ser uma etapa tensa no plano político, em virtude das encrencas do país com a vizinha Ucrânia, e que no ano passado ainda brindou os fãs com uma visão constrangedora de puxa-saquismo de Bernie Ecclestone ao presidente russo Vladimir Putin, totalmente desnecessária e que só ajudou a depreciar a categoria, que fala em "não misturar política com esporte"... Tá, vou fingir que acredito nessa conversa fiada...
            Felizmente, as etapas seguintes são bem mais prazeirosas:no dia 25 de outubro, a F-1 desembarca em Austin, para o GP dos Estados Unidos, no belo circuito de Austin, que até agora infelizmente não teve a chance de assistir a uma grande corrida, desde que estreou na categoria, uma vez que teve poucas disputas pela vitória, e até mesmo por várias posições intermediárias. Mas o público é garantido, mostrando que a categoria parece ter encontrado definitivamente um lar na maior potência econômica do planeta. Mas não haverá tempo para ficar muito no Texas: no fim de semana seguinte todo mundo já estará novamente na pista, na grande novidade da temporada, o retorno do GP do México ao calendário, onde esteve pela última vez em 1992. A parada mexicana só não é totalmente comemorada porque nesse meio tempo em que o circuito esteve ausente, "podaram" a curva Peraltada, o grande atrativo do circuito Hermanos Rodriguez, colocando uma curva de 90° no meio dela, que já foi usada há anos atrás pelas etapas da F-Indy original, e que tirou o charme da Peraltada. Mas o maior perigo para os pilotos não vem da pista, mas da comida mexicana, que fortemente apimentada, costuma levar a nocaute estômagos mais sensíveis. Riccardo Patrese que o diga: em 1992, o italiano não conseguia parar de ir ao banheiro com dor de barriga, e diz que fez a pole-position para a corrida sem dar chance a ninguém porque precisava correr para o banheiro rapidinho, antes que seu cockpit sofresse as consequências...
            E aí chegamos enfim à etapa brasileira, marcada para o dia 15 de novembro, em Interlagos, que deverá estar com seu paddock inteiramente reformado e com mais espaço, se não acontecerem imprevistos pelo caminho. A etapa brasileira também costuma ter a presença de São Pedro em várias ocasiões, e não adiantou muito tirarem a etapa do início do campeonato para o final, pois volta e meia chove do mesmo jeito. Interlagos é uma pista tradicional e clássica, e todos os pilotos gostam do traçado, algo que infelizmente não podem dizer do que veem no entorno, com favelas e perigo de violência dos bandidos, o que certamente não ajuda na imagem de nosso país no resto do mundo.
            O campeonato fecha em 29 de novembro, com a etapa de Abu Dhabi. O circuito de Yas Marina é fabuloso no visual, mas na pista costuma ser um pesadelo para os pilotos quando o assunto é disputa de posição, e a corrida praticamente só se salva pelo visual da corrida começando ainda com a luz do dia, passando pelo pôr do sol no deserto e terminando à noite, além dos dólares parrudos que caem na conta da FOM e de Bernie Ecclestone, que nunca se faz de rogado quando o assunto é governos interessados em pagar tudo o que ele pede para a realização de um GP.
O circuito de Yas Marina, em Abu Dhabi, encerra o calendário, mas o traçado da pista não ajuda a ter boas corridas...
            É uma grande maratona para todo mundo, acompanhar estas 20 corridas que farão este ser o campeonato mais longo da história da F-1, ao lado da temporada de 2012, quando também foram disputadas 20 provas. O pessoal das escuderias sofre para manter o ritmo em tantas viagens. A diferença do fuso horário da Austrália para a Europa é grande, por isso, todo mundo chega com quase uma semana de antecedência, para se ajustar ao horário local, pra não mencionar o trabalho de desempacotar todo o equipamento que segue em dois aviões Jumbo da Inglaterra e Itália rumo a Melbourne. E ao fim de cada GP, é empacotar novamente tudo, enfiar nos aviões, e partir para a próxima, onde tudo se repete. Para o pessoal da imprensa, o ritmo também é frenético, chegando sempre na quarta-feira, e indo embora segunda de manhã, numa correria que envolve entrevistas oficiais, acompanhar treinos e corridas, e sair a campo para garimpar notícias e escrever as matérias da pauta e enviar tudo pronto para ser publicado.
            Na Europa, o ritmo continua o mesmo, com o diferencial de que as escuderias transportam seus equipamentos nos motorhomes até os locais das provas, e tem o trabalho de montar e desmontar tudo. Antigamente era um pouco mais fácil, pois as estruturas eram menores; hoje em dia, com times ostentando estruturas impensáveis há anos atrás, como o enorme "Energy Station" da Red Bull, pode-se ver que o trabalho nunca diminui, só parece aumentar...
            Para não falar na burocracia que acompanhar tudo isso exige: passagens, carimbos nos passaportes, vistos, despachos aduaneiros pela entrada de material (e de saída também), credenciais, reservas de hotéis, carros, etc. Se antigamente falavam que pilotos não precisavam ser atletas para aguentar o ritmo da F-1, hoje todo integrante do "circo" precisa de um preparo de maratonista literalmente, do mais simples funcionário de uma escuderia ao menos requisitado profissional de imprensa, pois o tempo parece sempre estar mais curto do que nunca.
            Mas, é uma correria que muitos adoram. Ficamos sempre cansados depois do fim de semana, mas após acompanhar mais um GP, estamos sempre prontos para o próximo. Acho que somos todos meio malucos nisso. É a paixão pela velocidade, que tal qual um vírus implacável, nos acomete há tempos, e que para muitos, não fazem nem um pouco questão de se "curar" deste "mal". E assim, lá vamos nós de novo para mais uma temporada...é hora de pegar a estrada, o avião, etc, e viver novamente essa paixão que nos move, sejamos o que formos.
            Que venha a F-1 2015!

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