Com o anúncio de sua dupla de pilotos, a McLaren fecha o grid da F-1 de 2015. Início de um trabalho duro para tornar o time vencedor novamente. |
E
a McLaren encerrou oficialmente sua novela da dupla de pilotos para a temporada
de 2015 da Fórmula 1. Como todos já vinham esperando, Fernando Alonso está de
volta ao time de Woking, com a missão de capitanear a nova fase da escuderia
inglesa em sua retomada da parceria com a Honda, que tantos títulos e vitórias
deu ao time entre os anos de 1988 e 1992. E, até surpreendendo um pouco, Jenson
Button permanece no time por mais um ano, e Kevin Magnussen, que era tido como
favorito a manter a vaga de titular, vai para a reserva da escuderia, onde
terá, quem sabe em 2016, a
chance de voltar a ser titular.
O
título desta coluna, a última do ano, por conta do tradicional descanso de
Natal e Ano Novo, pode parecer até estranho, mas o fato é que o anúncio do time
inglês, em sua essência, é um verdadeiro festival de frases de efeito para
inglês ver, pois o ambiente aparentemente festivo do comunicado passa longe da
realidade. Em outras palavras, todo mundo deu a maior cara de pau nesta
"solenidade", que pode até passar uma imagem completamente equivocada
a quem não anda em dia com o noticiário de automobilismo.
A
maior delas é o sorriso de Ron Dennis e Fernando Alonso pela
"retomada" da parceria. Parecem grandes amigos e parceiros, que
estiveram separados pelas escolhas do destino e que novamente lutarão juntos
para a glória da escuderia. Voltando a 2007, quando Alonso defendeu o time, é
verdade que ambos acertaram uma separação "amigável", mas porque a
convivência se tornara insuportável para ambos. Alonso chegou ao time com
status de bicampeão vigente, e queria ter, de direito, todas as regalias no
time. A seu lado, estava Lewis Hamilton, que estreava na categoria, e chamava
atenção por ser o primeiro piloto negro da história da F-1. Parecia o cenário
perfeito: Alonso comandava o time, enquanto Hamilton, em seu ano de estréia, se
limitaria a comboiar o espanhol na luta pelo título. Esqueceram de combinar com
o novato, que para surpresa de muitos, e especialmente do próprio Alonso,
começou a andar mais do que todo mundo imaginava, e não demorou para começar a
fazer poles, e até a vencer corridas, deixando Fernando totalmente
desconcertado. O asturiano perdeu as estribeiras em algumas corridas, e
aproveitando o escândalo do roubo de segredos técnicos da Ferrari por parte de
seu projetista Mike Coughlan em parceria com o ferrarista Nigel Stepney, tentou
tirar proveito da situação, ameaçando denunciar o próprio time se Ron Dennis
não "enquadrasse" Lewis em seu devido lugar. Tentar chantagear Ron
Dennis...que piada. Nem é preciso saber qual foi a resposta do dirigente, e
Fernando tratou de ir à forra efetivando sua ameaça. Deu uma zica dos diabos,
com a McLaren excluída do campeonato de construtores e multada em US$ 100 milhões.
Foi permitido ao time seguir na competição, apenas pelo campeonato de pilotos,
e o clima de Alonso ficou insuportável, a ponto de Dennis afirmar
categoricamente em determinado GP que o objetivo do time era derrotar seu
próprio piloto, o espanhol. Lewis Hamilton era apadrinhado por Ron Dennis, que
vinha conduzindo sua carreira nas categorias de base para chegar à F-1, depois
de ver a atitude do jovem e confirmar seu talento em potencial. Daí a liberdade
que o inglês teve para peitar o espanhol no time de Woking.
Resultado:
a McLaren perdeu o título de pilotos para a Ferrari, que chegou a seu último
caneco com Kimi Raikkonen. Alonso perdeu a parada nas corridas em que subiu
pelas paredes, desconcertado com a performance de Hamilton, e este, bem, tinha
tudo para ganhar seu primeiro título em seu ano de estréia, e jogou tudo a
perder nas duas últimas etapas, quando o noviciado pesou e cometeu erros de
principiante. Com o clima de guerra declarada entre os pilotos, era melhor
mesmo cada um seguir seu caminho. Alonso voltou para a Renault, e no que
dependesse de Ron Dennis, nunca mais correria pela McLaren. E de seu lado, o
espanhol também nunca mais queria ver Woking...mas o destino prega algumas
peças curiosas...
Insatisfeito
com a falta de progressos da Ferrari em lhe dar um carro capaz de disputar o
título, Alonso já vinha manifestando desejo de se mandar de Maranello desde o
ano passado. Visivelmente contrariado em ver um piloto muito jovem tendo um
carro muito melhor e ganhando tudo, tentou sem sucesso cavar um lugar em outros
times. Red Bull e até mesmo Mercedes foram sondadas pelo asturiano, até meio
sem cerimônias, na tentativa de conseguir para si o carro que lhe desse o
direito de lutar novamente por um título. Deu em nada. E este ano, com um carro
horroroso e um motor que perdeu dos Mercedes em todos os parâmetros, o clima
azedou definitivamente em Maranello. Na prática, a cúpula principal do time
rodou inteira, e a mudança radical acabou comandada pela Fiat, que quer
resultados a todo custo, e demitiu até mesmo Luca de Montezemolo. Cientes do
egocentrismo do espanhol, eles trataram de atrair o tetracampeão Sebastian
Vettel, e com isso, Alonso que fosse passear, se continuasse com seu mimimi. E
o mandaram passear mesmo. Só não falaram na cara dura que o espanhol foi
demitido por questão de imagem e contrato. E dentre as opções possíveis, a
McLaren, de onde saiu há 8 temporadas, tornou-se a única opção plausível. E em
condições de negociação piores do que imaginava, pois sem opções viáveis, seria
aceitar as condições de Ron Dennis, com quem havia brigado, ou simplesmente
sair da F-1, o que poderia ser catastrófico para sua carreira.
Tão amigos que nós somos...qual dos dois é mais cara-de-pau nestes sorrisos forçados? |
Do
outro lado, Ron Dennis também seria o último a permitir a volta de Alonso à
McLaren. Mas, a nova parceria com a Honda, esperança de ressuscitar os tempos
de vitória e luta pelo título, exige que se tenha os melhores pilotos
disponíveis. E os japoneses fazem questão disso sem falta. Sabem que com um
piloto de grande capacidade, seu caminho de volta ao topo na categoria será
mais fácil e os resultados podem surgir mais rapidamente. E somente 3 nomes
atendiam os requisitos dos nipônicos. Mas Lewis Hamilton, feliz da vida na
Mercedes, dificilmente voltaria à McLaren, pelo menos a curto prazo; Sebastian
Vettel resolveu encarar o desafio da Ferrari. Sobrou mesmo Fernando Alonso. E
depois de encarar tempos de vacas magras nos últimos dois anos, Ron Dennis sabe
que, egocentrismo do piloto espanhol à parte, Fernando é garantia de resultado
na pista, mesmo com um carro que não seja tão competitivo quanto os demais. O
dirigente sabe que a parada em 2015 será árdua, e por mais que deteste ter de
engolir Fernando de novo em seu time, sabe que isso será imprescindível para
agradar aos japoneses, que certamente começariam a parceria já descontentes se
não tivessem o espanhol no time sabendo estar disponível.
Alonso,
por sua vez, sabe que ficou sem saída. O projeto da parceria McLaren-Honda tem
tudo para fazer sucesso, mas só a partir, no mínimo, de 2016. O ano que vem
marca o retorno dos nipônicos, depois de pularem fora ao fim de 2008, onde o
regulamento técnico era completamente diferente. E a unidade de força japonesa
vai precisar de muito trabalho para se tornar competitiva: o primeiro teste de
pista, feito em Abu Dhabi, após o encerramento do mundial deste ano, foi pífia,
com problemas a rodo, e apenas 5 voltas realizadas. Nada teoricamente
impossível de superar, pelo menos em parte, como se confirma pelo que a Renault
enfrentou na pré-temporada deste ano, quando os carros equipados com suas
unidades mal conseguiam até sair dos boxes, e conseguiu fazer enormes
progressos, mas sem conseguir ameaçar os poderosos propulsores da Mercedes. Só
resta ao espanhol torcer pelo sucesso da empreitada, o que vai depender também
de seu empenho e esforço na pista. Outra opção para Alonso seria a Lotus, mas
lá as garantias de sucesso seriam ainda menores, sem falar que o salário seria
infinitamente menor... Daí então o semblante sorridente do asturiano no anúncio
de seu retorno ao time, evocando até memórias de Ayrton Senna como ídolo, etc,
não passam de conversa para inglês ver mesmo. Não quer dizer que eles continuem
se odiando, Ron Dennis e Alonso, mas que ambos tiveram que engolir um ao outro,
e trabalhar novamente juntos, isso tiveram. Agora, resta a cada um deles
esperar que a convivência seja menos tumultuada do que a de 2007. E quem sabe
até amigável...é, o futuro costuma pregar peças nas pessoas.
E
o que dizer da, na minha opinião, maior declaração no sentido cara-de-pau da
cerimônia, feita justamente por Ron Dennis, ao afirmar que os problemas da
passagem anterior de Alonso no time foram culpa da...imaturidade de Lewis
Hamilton? Conta outra, Ron Dennis, que essa nem inglês acredita. Quem perdeu o
rebolado naquele ano foi Alonso mesmo. Se Hamilton fez burrada, foi no fim do
ano, cometendo erros de estratégia e pilotagem até justificáveis para um novato
que disputava o título logo em seu primeiro ano. Mas o clima entre Dennis e
Hamilton não é mais o mesmo: o dirigente não engoliu a ida de seu ex-protegido
para a Mercedes, e foi até um dos poucos personagens do paddock que não se
mostrou simpático ao bicampeonato do inglês em Abu Dhabi, portanto, não é de se
surpreender que agora ele jogue a culpa em Lewis pela confusão daquele ano,
sendo que na época seu maior desejo era fazer o então novato ser campeão em
cima de Fernando como vingança pela chantagem do espanhol.
Dessa
maneira, que ninguém se espante também com a cara-de-pau de Ron Dennis quando
afirma que com a manutenção de Jenson Button sua escuderia terá a dupla mais
forte da categoria, melhor até do que a da Ferrari, que também terá dois
campeões como titulares em 2015. Há pouco tempo atrás, Dennis estava criticando
publicamente Button, alegando que o inglês, campeão de 2009, estava fazendo corpo
mole no time e não trazia resultados. Button tratou de mostrar ao dirigente
quem estava desestimulado no time: nas últimas 5 corridas, Jenson marcou 54
pontos, enquanto Kevin Magnussem marcou apenas 16. Button terminou o ano em 8°
lugar, com 126 pontos, enquanto o dinamarquês foi 12°, com 55 pontos. Dennis
queria manter Magnussem por ele sair bem mais em conta do que Button. Mas seus
planos deram errado, e as recentes tentativas de atrair patrocinadores
dinamarqueses interessados em apostar no sucesso do conterrâneo deram em nada. O
resultado é que o dirigente perdeu esta queda de braço interna no time, e quem
conhece Ron Dennis sabe que ele não gosta de sair perdendo quando o assunto é
mostrar quem manda. E Dennis já teve muito o que engolir por esta temporada,
onde retomou as rédeas do time depois de demitir Martin Whitmarsh pela fraca
temporada de 2013. De volta ao comando da escuderia, de onde andava afastado
nos últimos anos, dedicando-se à gerência do McLaren Group, contratou Eric
Bouiller para comandar o time na pista, mas os resultados continuaram títmidos,
sem perspectivas de melhoras. E o time ficou em 5° lugar no campeonato, com 181
pontos. Melhor que a mesma 5ª posição de 2013, quando acumulou apenas 122
pontos, mas ainda distante do time campeão, no caso deste ano, a Mercedes, com 701
pontos, pra não falar das 16 vitórias e 18 poles.
Por
este prisma, o sorriso de Jenson era bem mais legítimo, e tirando as
tradicionais frases de efeito para o momento, tinha mesmo motivos para estar
contente, afinal, ganhou mais uma temporada na categoria, e ainda calou seu
patrão com suas últimas performances na pista este ano. Mostrou que ainda tem
lenha para queimar, e que merece pelo menos o respeito por ser um campeão da
categoria, ao invés de ser dispensado sem maiores considerações. Magnussem terá
muito a aprender nos bastidores com a dupla de pilotos titular no próximo ano. Que
faça bom uso dessa experiência. Neste ano, ele não foi mal, mas a exemplo de Sérgio
Pérez em 2013, andou arrumando algumas brigas durante a temporada, mas em
disputados com outros pilotos na pista, por conta de seu excesso de
agressividade, o que o fez tomar várias punições. E, quando você corre por um
time grande, a tolerância com certos erros é bem pequena. Kevin terá muito a
oferecer ao time quando voltar a ser titular, provavelmente em 2016.
Falando
de forma objetiva, a McLaren fez sua melhor escolha de pilotos para 2015. A temporada exigirá
muito trabalho de ambos os lados da parceria. Os japoneses terão de trabalhar
muito em sua nova unidade de potência, enquanto os concorrentes já terão um ano
de experiência prática de pista, com todos os benefícios que isso traz. E de
seu lado, a McLaren terá de apresentar um carro que seja vários passos à frente
do modelo deste ano, desafio que também não será dos mais fáceis. A área técnica
da escuderia passou por várias mudanças, e o novo MP4/30, a cargo de Peter Prodromou,
que era dos auxiliares diretos de Adrian Newey na Red Bull, terá muito a
provar. Jenson Button, que já trabalhou com os japoneses nos tempos da BAR e
Honda, terá também toda a sua experiência para ajudar no desenvolvimento e
estabelecimento de uma sintonia fina com os engenheiros nipônicos. De seu lado,
Fernando Alonso tem muito a contribuir também especialmente pela sua capacidade
de muitas vezes andar mais do que o carro em corrida, e apontar diretrizes do
desenvolvimento do monoposto. É uma dupla fortíssima, à altura dos talentos das
duplas de Mercedes e Ferrari. Se Alonso mantiver a cabeça no lugar e ter a paciência
necessária para desenvolver o trabalho exigido a contento, terá muito a ganhar,
assim como Button, que terá a chance de se medir com o espanhol na pista sem
necessariamente entrar em conflito com ele, como fez quando dividiu a McLaren
com Hamilton, chegando a superar o inglês campeão de 2008 várias vezes. Se o
novo carro mostrar potencial, eles poderão cumprir a missão que lhes será
atribuída com total competência, bastando apenas que os japoneses façam sua
parte.
Todos
sabem o que os esperam em 2015. Se irão ser bem-sucedidos ou não, nem eles próprios
sabem. A única certeza é que o desafio será mesmo grande e difícil. E isso pelo
menos poderia ter sido melhor dito na confirmação da dupla de pilotos para a próxima
temporada, onde o tom sempre foi de um otimismo até exagerado, enaltecendo
parcerias e relacionamentos que estavam estremecidos e rompidos. Um pouco mais
de sinceridade faria bem a todos, mas na F-1 atual, onde as aparências valem
mais do que a realidade nua e crua, prometer mundos e fundos não é nenhuma
novidade. Nem ter cara-de-pau. Mas podiam ter exagerado um pouco menos. Veremos
o que dirão daqui a um ano, dependendo dos resultados...
Os carros elétricos da F-E chegam à América do Sul para sua terceira corrida. O campeonato é liderado pelo brasileiro Lucas Di Grassi. |
A Fórmula-E chegou a Punta del Este, no Uruguai, para sua terceira
etapa, que será disputada neste sábado. Os carros elétricos irão acelerar pelo
circuito montado no balneário do país vizinho, em um traçado de 2,8 Km de extensão que já
está sendo chamado pelo pessoal de "Monte Carlo" da América do Sul,
pelas similaridades encontradas com o circuito monegasco, em especial a pista
com poucos pontos de ultrapassagens, paddock apertado, e inúmeros iates
ancorados próximos ao circuito. Lucas Di Grassi, com 43 pontos, defende a
liderança da competição, mas recusa o rótulo de favorito, afirmando que muita
coisa pode acontecer na pista durante as atividades do fim de semana. Lucas
também manifestou preocupação com o circuito, ao afirmar que ele possui alguns
pontos irregulares, como zebras em pontos inadequados e saída de box que ele não
considerou das melhores. Nelsinho Piquet e Bruno Senna, os outros brasileiros
na competição, esperam ter nesta corrida menos problemas e mais sorte do que
nas etapas anteriores, quando demonstraram performance muito superior à de vários
pilotos, mas não tiveram sorte e/ou cometeram erros que comprometeram suas
provas. E quem estréia na competição é Jean-Éric Vergne, ex-piloto da Toro
Rosso na F-1, que irá pilotar um dos carros do time de Michael Andretti. O
acordo é apenas para a etapa uruguaia da competição, mas Vergne busca usar a
chance para garimpar vaga na F-E ou mesmo na Indy Racing League, após ficar sem
lugar na F-1. A
etapa terá seus dois treinos livres neste sábado, no horário das 08:15 às 09:00
Hrs. (1° treino) e 10:30 às 11:00 Hrs. (2° treino). A classificação será das 12:00
às 12:55 Hrs., com a largada prevista para as 16:00 Hrs., e o canal pago Fox
Sports transmitirá o VT integral da corrida às 21:00 Hrs. A prova terá 31
voltas de duração. Depois da etapa uruguaia, a F-E se reunirá novamente aqui
nas redondezas para a etapa de Buenos Aires, marcada para o dia 10 de janeiro
de 2015.
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