sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

CERIMÔNIA DA CARA DE PAU



Com o anúncio de sua dupla de pilotos, a McLaren fecha o grid da F-1 de 2015. Início de um trabalho duro para tornar o time vencedor novamente.

            E a McLaren encerrou oficialmente sua novela da dupla de pilotos para a temporada de 2015 da Fórmula 1. Como todos já vinham esperando, Fernando Alonso está de volta ao time de Woking, com a missão de capitanear a nova fase da escuderia inglesa em sua retomada da parceria com a Honda, que tantos títulos e vitórias deu ao time entre os anos de 1988 e 1992. E, até surpreendendo um pouco, Jenson Button permanece no time por mais um ano, e Kevin Magnussen, que era tido como favorito a manter a vaga de titular, vai para a reserva da escuderia, onde terá, quem sabe em 2016, a chance de voltar a ser titular.
            O título desta coluna, a última do ano, por conta do tradicional descanso de Natal e Ano Novo, pode parecer até estranho, mas o fato é que o anúncio do time inglês, em sua essência, é um verdadeiro festival de frases de efeito para inglês ver, pois o ambiente aparentemente festivo do comunicado passa longe da realidade. Em outras palavras, todo mundo deu a maior cara de pau nesta "solenidade", que pode até passar uma imagem completamente equivocada a quem não anda em dia com o noticiário de automobilismo.
            A maior delas é o sorriso de Ron Dennis e Fernando Alonso pela "retomada" da parceria. Parecem grandes amigos e parceiros, que estiveram separados pelas escolhas do destino e que novamente lutarão juntos para a glória da escuderia. Voltando a 2007, quando Alonso defendeu o time, é verdade que ambos acertaram uma separação "amigável", mas porque a convivência se tornara insuportável para ambos. Alonso chegou ao time com status de bicampeão vigente, e queria ter, de direito, todas as regalias no time. A seu lado, estava Lewis Hamilton, que estreava na categoria, e chamava atenção por ser o primeiro piloto negro da história da F-1. Parecia o cenário perfeito: Alonso comandava o time, enquanto Hamilton, em seu ano de estréia, se limitaria a comboiar o espanhol na luta pelo título. Esqueceram de combinar com o novato, que para surpresa de muitos, e especialmente do próprio Alonso, começou a andar mais do que todo mundo imaginava, e não demorou para começar a fazer poles, e até a vencer corridas, deixando Fernando totalmente desconcertado. O asturiano perdeu as estribeiras em algumas corridas, e aproveitando o escândalo do roubo de segredos técnicos da Ferrari por parte de seu projetista Mike Coughlan em parceria com o ferrarista Nigel Stepney, tentou tirar proveito da situação, ameaçando denunciar o próprio time se Ron Dennis não "enquadrasse" Lewis em seu devido lugar. Tentar chantagear Ron Dennis...que piada. Nem é preciso saber qual foi a resposta do dirigente, e Fernando tratou de ir à forra efetivando sua ameaça. Deu uma zica dos diabos, com a McLaren excluída do campeonato de construtores e multada em US$ 100 milhões. Foi permitido ao time seguir na competição, apenas pelo campeonato de pilotos, e o clima de Alonso ficou insuportável, a ponto de Dennis afirmar categoricamente em determinado GP que o objetivo do time era derrotar seu próprio piloto, o espanhol. Lewis Hamilton era apadrinhado por Ron Dennis, que vinha conduzindo sua carreira nas categorias de base para chegar à F-1, depois de ver a atitude do jovem e confirmar seu talento em potencial. Daí a liberdade que o inglês teve para peitar o espanhol no time de Woking.
            Resultado: a McLaren perdeu o título de pilotos para a Ferrari, que chegou a seu último caneco com Kimi Raikkonen. Alonso perdeu a parada nas corridas em que subiu pelas paredes, desconcertado com a performance de Hamilton, e este, bem, tinha tudo para ganhar seu primeiro título em seu ano de estréia, e jogou tudo a perder nas duas últimas etapas, quando o noviciado pesou e cometeu erros de principiante. Com o clima de guerra declarada entre os pilotos, era melhor mesmo cada um seguir seu caminho. Alonso voltou para a Renault, e no que dependesse de Ron Dennis, nunca mais correria pela McLaren. E de seu lado, o espanhol também nunca mais queria ver Woking...mas o destino prega algumas peças curiosas...
            Insatisfeito com a falta de progressos da Ferrari em lhe dar um carro capaz de disputar o título, Alonso já vinha manifestando desejo de se mandar de Maranello desde o ano passado. Visivelmente contrariado em ver um piloto muito jovem tendo um carro muito melhor e ganhando tudo, tentou sem sucesso cavar um lugar em outros times. Red Bull e até mesmo Mercedes foram sondadas pelo asturiano, até meio sem cerimônias, na tentativa de conseguir para si o carro que lhe desse o direito de lutar novamente por um título. Deu em nada. E este ano, com um carro horroroso e um motor que perdeu dos Mercedes em todos os parâmetros, o clima azedou definitivamente em Maranello. Na prática, a cúpula principal do time rodou inteira, e a mudança radical acabou comandada pela Fiat, que quer resultados a todo custo, e demitiu até mesmo Luca de Montezemolo. Cientes do egocentrismo do espanhol, eles trataram de atrair o tetracampeão Sebastian Vettel, e com isso, Alonso que fosse passear, se continuasse com seu mimimi. E o mandaram passear mesmo. Só não falaram na cara dura que o espanhol foi demitido por questão de imagem e contrato. E dentre as opções possíveis, a McLaren, de onde saiu há 8 temporadas, tornou-se a única opção plausível. E em condições de negociação piores do que imaginava, pois sem opções viáveis, seria aceitar as condições de Ron Dennis, com quem havia brigado, ou simplesmente sair da F-1, o que poderia ser catastrófico para sua carreira.
Tão amigos que nós somos...qual dos dois é mais cara-de-pau nestes sorrisos forçados?
            Do outro lado, Ron Dennis também seria o último a permitir a volta de Alonso à McLaren. Mas, a nova parceria com a Honda, esperança de ressuscitar os tempos de vitória e luta pelo título, exige que se tenha os melhores pilotos disponíveis. E os japoneses fazem questão disso sem falta. Sabem que com um piloto de grande capacidade, seu caminho de volta ao topo na categoria será mais fácil e os resultados podem surgir mais rapidamente. E somente 3 nomes atendiam os requisitos dos nipônicos. Mas Lewis Hamilton, feliz da vida na Mercedes, dificilmente voltaria à McLaren, pelo menos a curto prazo; Sebastian Vettel resolveu encarar o desafio da Ferrari. Sobrou mesmo Fernando Alonso. E depois de encarar tempos de vacas magras nos últimos dois anos, Ron Dennis sabe que, egocentrismo do piloto espanhol à parte, Fernando é garantia de resultado na pista, mesmo com um carro que não seja tão competitivo quanto os demais. O dirigente sabe que a parada em 2015 será árdua, e por mais que deteste ter de engolir Fernando de novo em seu time, sabe que isso será imprescindível para agradar aos japoneses, que certamente começariam a parceria já descontentes se não tivessem o espanhol no time sabendo estar disponível.
            Alonso, por sua vez, sabe que ficou sem saída. O projeto da parceria McLaren-Honda tem tudo para fazer sucesso, mas só a partir, no mínimo, de 2016. O ano que vem marca o retorno dos nipônicos, depois de pularem fora ao fim de 2008, onde o regulamento técnico era completamente diferente. E a unidade de força japonesa vai precisar de muito trabalho para se tornar competitiva: o primeiro teste de pista, feito em Abu Dhabi, após o encerramento do mundial deste ano, foi pífia, com problemas a rodo, e apenas 5 voltas realizadas. Nada teoricamente impossível de superar, pelo menos em parte, como se confirma pelo que a Renault enfrentou na pré-temporada deste ano, quando os carros equipados com suas unidades mal conseguiam até sair dos boxes, e conseguiu fazer enormes progressos, mas sem conseguir ameaçar os poderosos propulsores da Mercedes. Só resta ao espanhol torcer pelo sucesso da empreitada, o que vai depender também de seu empenho e esforço na pista. Outra opção para Alonso seria a Lotus, mas lá as garantias de sucesso seriam ainda menores, sem falar que o salário seria infinitamente menor... Daí então o semblante sorridente do asturiano no anúncio de seu retorno ao time, evocando até memórias de Ayrton Senna como ídolo, etc, não passam de conversa para inglês ver mesmo. Não quer dizer que eles continuem se odiando, Ron Dennis e Alonso, mas que ambos tiveram que engolir um ao outro, e trabalhar novamente juntos, isso tiveram. Agora, resta a cada um deles esperar que a convivência seja menos tumultuada do que a de 2007. E quem sabe até amigável...é, o futuro costuma pregar peças nas pessoas.
            E o que dizer da, na minha opinião, maior declaração no sentido cara-de-pau da cerimônia, feita justamente por Ron Dennis, ao afirmar que os problemas da passagem anterior de Alonso no time foram culpa da...imaturidade de Lewis Hamilton? Conta outra, Ron Dennis, que essa nem inglês acredita. Quem perdeu o rebolado naquele ano foi Alonso mesmo. Se Hamilton fez burrada, foi no fim do ano, cometendo erros de estratégia e pilotagem até justificáveis para um novato que disputava o título logo em seu primeiro ano. Mas o clima entre Dennis e Hamilton não é mais o mesmo: o dirigente não engoliu a ida de seu ex-protegido para a Mercedes, e foi até um dos poucos personagens do paddock que não se mostrou simpático ao bicampeonato do inglês em Abu Dhabi, portanto, não é de se surpreender que agora ele jogue a culpa em Lewis pela confusão daquele ano, sendo que na época seu maior desejo era fazer o então novato ser campeão em cima de Fernando como vingança pela chantagem do espanhol.
            Dessa maneira, que ninguém se espante também com a cara-de-pau de Ron Dennis quando afirma que com a manutenção de Jenson Button sua escuderia terá a dupla mais forte da categoria, melhor até do que a da Ferrari, que também terá dois campeões como titulares em 2015. Há pouco tempo atrás, Dennis estava criticando publicamente Button, alegando que o inglês, campeão de 2009, estava fazendo corpo mole no time e não trazia resultados. Button tratou de mostrar ao dirigente quem estava desestimulado no time: nas últimas 5 corridas, Jenson marcou 54 pontos, enquanto Kevin Magnussem marcou apenas 16. Button terminou o ano em 8° lugar, com 126 pontos, enquanto o dinamarquês foi 12°, com 55 pontos. Dennis queria manter Magnussem por ele sair bem mais em conta do que Button. Mas seus planos deram errado, e as recentes tentativas de atrair patrocinadores dinamarqueses interessados em apostar no sucesso do conterrâneo deram em nada. O resultado é que o dirigente perdeu esta queda de braço interna no time, e quem conhece Ron Dennis sabe que ele não gosta de sair perdendo quando o assunto é mostrar quem manda. E Dennis já teve muito o que engolir por esta temporada, onde retomou as rédeas do time depois de demitir Martin Whitmarsh pela fraca temporada de 2013. De volta ao comando da escuderia, de onde andava afastado nos últimos anos, dedicando-se à gerência do McLaren Group, contratou Eric Bouiller para comandar o time na pista, mas os resultados continuaram títmidos, sem perspectivas de melhoras. E o time ficou em 5° lugar no campeonato, com 181 pontos. Melhor que a mesma 5ª posição de 2013, quando acumulou apenas 122 pontos, mas ainda distante do time campeão, no caso deste ano, a Mercedes, com 701 pontos, pra não falar das 16 vitórias e 18 poles.
            Por este prisma, o sorriso de Jenson era bem mais legítimo, e tirando as tradicionais frases de efeito para o momento, tinha mesmo motivos para estar contente, afinal, ganhou mais uma temporada na categoria, e ainda calou seu patrão com suas últimas performances na pista este ano. Mostrou que ainda tem lenha para queimar, e que merece pelo menos o respeito por ser um campeão da categoria, ao invés de ser dispensado sem maiores considerações. Magnussem terá muito a aprender nos bastidores com a dupla de pilotos titular no próximo ano. Que faça bom uso dessa experiência. Neste ano, ele não foi mal, mas a exemplo de Sérgio Pérez em 2013, andou arrumando algumas brigas durante a temporada, mas em disputados com outros pilotos na pista, por conta de seu excesso de agressividade, o que o fez tomar várias punições. E, quando você corre por um time grande, a tolerância com certos erros é bem pequena. Kevin terá muito a oferecer ao time quando voltar a ser titular, provavelmente em 2016.
            Falando de forma objetiva, a McLaren fez sua melhor escolha de pilotos para 2015. A temporada exigirá muito trabalho de ambos os lados da parceria. Os japoneses terão de trabalhar muito em sua nova unidade de potência, enquanto os concorrentes já terão um ano de experiência prática de pista, com todos os benefícios que isso traz. E de seu lado, a McLaren terá de apresentar um carro que seja vários passos à frente do modelo deste ano, desafio que também não será dos mais fáceis. A área técnica da escuderia passou por várias mudanças, e o novo MP4/30, a cargo de Peter Prodromou, que era dos auxiliares diretos de Adrian Newey na Red Bull, terá muito a provar. Jenson Button, que já trabalhou com os japoneses nos tempos da BAR e Honda, terá também toda a sua experiência para ajudar no desenvolvimento e estabelecimento de uma sintonia fina com os engenheiros nipônicos. De seu lado, Fernando Alonso tem muito a contribuir também especialmente pela sua capacidade de muitas vezes andar mais do que o carro em corrida, e apontar diretrizes do desenvolvimento do monoposto. É uma dupla fortíssima, à altura dos talentos das duplas de Mercedes e Ferrari. Se Alonso mantiver a cabeça no lugar e ter a paciência necessária para desenvolver o trabalho exigido a contento, terá muito a ganhar, assim como Button, que terá a chance de se medir com o espanhol na pista sem necessariamente entrar em conflito com ele, como fez quando dividiu a McLaren com Hamilton, chegando a superar o inglês campeão de 2008 várias vezes. Se o novo carro mostrar potencial, eles poderão cumprir a missão que lhes será atribuída com total competência, bastando apenas que os japoneses façam sua parte.
            Todos sabem o que os esperam em 2015. Se irão ser bem-sucedidos ou não, nem eles próprios sabem. A única certeza é que o desafio será mesmo grande e difícil. E isso pelo menos poderia ter sido melhor dito na confirmação da dupla de pilotos para a próxima temporada, onde o tom sempre foi de um otimismo até exagerado, enaltecendo parcerias e relacionamentos que estavam estremecidos e rompidos. Um pouco mais de sinceridade faria bem a todos, mas na F-1 atual, onde as aparências valem mais do que a realidade nua e crua, prometer mundos e fundos não é nenhuma novidade. Nem ter cara-de-pau. Mas podiam ter exagerado um pouco menos. Veremos o que dirão daqui a um ano, dependendo dos resultados...


Os carros elétricos da F-E chegam à América do Sul para sua terceira corrida. O campeonato é liderado pelo brasileiro Lucas Di Grassi.
A Fórmula-E chegou a Punta del Este, no Uruguai, para sua terceira etapa, que será disputada neste sábado. Os carros elétricos irão acelerar pelo circuito montado no balneário do país vizinho, em um traçado de 2,8 Km de extensão que já está sendo chamado pelo pessoal de "Monte Carlo" da América do Sul, pelas similaridades encontradas com o circuito monegasco, em especial a pista com poucos pontos de ultrapassagens, paddock apertado, e inúmeros iates ancorados próximos ao circuito. Lucas Di Grassi, com 43 pontos, defende a liderança da competição, mas recusa o rótulo de favorito, afirmando que muita coisa pode acontecer na pista durante as atividades do fim de semana. Lucas também manifestou preocupação com o circuito, ao afirmar que ele possui alguns pontos irregulares, como zebras em pontos inadequados e saída de box que ele não considerou das melhores. Nelsinho Piquet e Bruno Senna, os outros brasileiros na competição, esperam ter nesta corrida menos problemas e mais sorte do que nas etapas anteriores, quando demonstraram performance muito superior à de vários pilotos, mas não tiveram sorte e/ou cometeram erros que comprometeram suas provas. E quem estréia na competição é Jean-Éric Vergne, ex-piloto da Toro Rosso na F-1, que irá pilotar um dos carros do time de Michael Andretti. O acordo é apenas para a etapa uruguaia da competição, mas Vergne busca usar a chance para garimpar vaga na F-E ou mesmo na Indy Racing League, após ficar sem lugar na F-1. A etapa terá seus dois treinos livres neste sábado, no horário das 08:15 às 09:00 Hrs. (1° treino) e 10:30 às 11:00 Hrs. (2° treino). A classificação será das 12:00 às 12:55 Hrs., com a largada prevista para as 16:00 Hrs., e o canal pago Fox Sports transmitirá o VT integral da corrida às 21:00 Hrs. A prova terá 31 voltas de duração. Depois da etapa uruguaia, a F-E se reunirá novamente aqui nas redondezas para a etapa de Buenos Aires, marcada para o dia 10 de janeiro de 2015.

A bela cidade balneária de Punta del Este, no Uruguai, é o palco da nova etapa da F-E, em um circuito que lembra Mônaco não apenas no traçado (abaixo), mas também no visual glamuroso, cheio de iates à beira-mar junto ao circuito.


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