Barrichello chegou ao título da Stock Car pela equipe Full Time e comemorou efusivamente em Curitiba: "É Campeão!" |
Demorou, mas enfim ele
chegou lá. Rubens Gonçalves Barrichello, aos 42 anos, novamente é campeão. Não
da F-1 ou da IRL, mas da Stock Car nacional, onde o piloto passou a competir no
final de 2012. E neste ano, com duas vitórias na competição, a primeira delas
na Corrida do Milhão, no dia 3 de agosto, disputada em Goiânia. Depois ,
veio o segundo triunfo, no dia 17 do mesmo mês, em Cascavel. A partir
dali, o recordista de GPS disputados na F-1 entrou firme na disputa pelo título
da categoria, algo que só teve mesmo chance de fazer em uma única temporada na
F-1, nos seus 19 anos em que permaneceu na categoria.
O brasileiro assumiu a
liderança na etapa de Tarumã, e não a largou mais, chegando para a prova final,
domingo passado, no autódromo de Curitiba, com 14,5 pontos de vantagem na
classificação. Mas, como a prova final tinha pontuação dobrada para os pilotos,
Rubinho não podia cantar vitória antecipada, uma vez que o lance da pontuação
dava chances matemáticas a nada menos do que 7 pilotos. Bastava ao piloto da
Full Time um 4º lugar para liquidar a fatura não importasse quem chegasse à sua
frente, mas o paulista começou o fim de semana com o pé direito no acelerador e
conquistou a pole-position para a derradeira etapa. Bastaria pilotar com
cuidado e evitar problemas que o título viria.
De fato, Barrichello
largou bem, deixando a confusão para os concorrentes, mas pegou um ponto
escorregadio na curva 3, saindo da pista e perdendo a liderança, caindo para
4º, justamente a posição que não poderia perder. Mas Rubinho manteve-se calmo e
ficou firme na corrida, e ainda teve a sorte de ver um dos postulantes, Thiago
Camilo, abandonar a corrida. Firmando-se em 3º lugar na corrida, não precisava
fazer mais nada, e assim foi até a bandeirada, que recebeu com 1s782 de
diferença para Daniel Serra, o vencedor. Áthila Abreu bem que tentou, mas mesmo
que vencesse a corrida, não conseguiria tirar o título de Rubens. Ficou mesmo
em 2º lugar.
A comemoração foi
entusiasmada como poucas vezes se viu na categoria, com Barrichello comemorando
enfim um título, com a companhia dos dois filhos e da mulher. Rubinho, aliás,
subiu ao pódio com os garotos, que tomaram junto com o pai o banho de champanhe
dos vencedores. Um título mais do que justo, e uma conquista para lavar a alma
de Barrichello, que não comemorava algo assim desde o campeonato da F-3
inglesa, em 1991, quando derrotou na disputa da competição nomes como Gil de
Ferran e David Couthard. Antes, Rubinho havia sido campeão apenas da F-Opel, em
1990. Em 1992, o piloto disputou a F-3000 Internacional, último passo para
chegar à F-1, mas terminou apenas em 3º lugar no certame.
As coisas andavam bem,
e Barrichello já era considerado o sucessor das vitórias brasileiras na
categoria máxima do automobilismo. Em 1993, o paulistano já estreava na Jordan,
um time médio promissor, que dava a ele a chance de mostrar seu talento sem a
cobrança imediata por resultados. Nem era preciso, afinal, Ayrton Senna estava
no seu auge como piloto, e tinha tudo para assim permanecer ainda por várias
temporadas, tempo que todos esperavam, daria a Rubinho a chance de mostrar seu
talento, e ir para um time de ponta.
Estréia na F-1 pela Jordan, em 1993, dava esperanças aos torcedores de ser um novo campeão em potencial, mas as coisas não foram bem assim... |
Não surgiu um carro
vencedor para Barrichello. Mas as expectativas da torcida, alimentadas pela TV
Globo, que precisava mais do que nunca de um brasileiro vencedor na F-1,
jogaram toda a cobrança nas costas de Rubinho. Christian Fittipaldi tinha
partido para a F-Indy, então era carta fora do baralho. Para piorar a situação,
na pré-temporada de 1995, o carro da Jordan parecia ter um desempenho
surpreendente, que acreditava poder dar ao time a condição de vencer corridas.
Tudo isso fez Barrichello aceitar o rótulo de “sucessor” de Ayrton Senna. Deu
tudo errado.
O carro da Jordan não
era tão competitivo como se imaginava, e a pressão da torcida por vitórias,
acabou por deixar o piloto em descrédito, e até a comprometer a continuidade de
sua carreira na categoria. Ao fim de 1996, o piloto era forte candidato a ser
mais um que não vingaria na F-1 por falta de resultados. E ainda tinha visto
seu companheiro de equipe Eddie Irvinne ser contratado pela Ferrari. Foram
precisas 3 temporadas competindo para Jackie Stewart para Rubens reconquistar
sua estima e seu respeito pela F-1. Claro, para os brasileiros, continuava tudo
do mesmo jeito: o “sucessor” de Senna ainda era um fracasso, em que pese o fato
de muitos ignorarem que ele não tinha carro para corresponder às expectativas.
Foi a pior conseqüência deter assumido o papel em 1995. E isso lhe faria
carregar o estigma de “fracassado” por muito tempo ainda. E isso ainda iria
piorar, quando o brasileiro, enfim, teria um carro vencedor nas mãos.
Contratado pela
Ferrari a partir de 2000, renasceram as esperanças de vitórias brasileiras e
disputa de título na F-1, depois de praticamente quase uma década da última
conquista de Senna, em 1991. Ledo engano: a Ferrari nunca permitiu que o
brasileiro disputasse o título. Todas as atenções do time italiano eram
concentradas em
Michael Schumacher , e não raro foram as vezes que Barrichello
teve de jogar a favor do alemão. E, curiosamente, o brasileiro nunca conseguiu
iniciar bem a temporada, o que dava suspeitas de favorecimento mais do que
explícito ao piloto alemão, que é bom ressaltar, sempre foi um talento muito
maior do que Barrichello. Só não dá para se ter idéia de quão melhor era
exatamente, em virtude da política da Ferrari de sempre olhar primeiro
Schumacher, e depois, Barrichello, e isso se anda fosse conveniente.
A pecha de
“fracassado” ficou ainda mais forte em Rubinho, pelas derrotas freqüentes no
confronto com Schumacher. Barrichello conseguiu apenas 9 vitórias e dois
vice-campeonatos. Cresceu bastante como piloto, a ponto de ser o companheiro
mais forte que Schumacher já teve em um time, mas também cometeu vários erros,
especialmente quando voltou a prometer vitórias e até disputa de títulos quando
se tornou piloto da Ferrari. De fato, Barrichello acreditava que sua chance no
time chegaria. Em 2005, a paciência acabou, e Rubens resolveu procurar outros
ares. Na Honda, o fracasso do time arrastou o brasileiro junto para o fundo do
poço, e ele, assim como Jenson Button, só renasceram para a categoria com a
Brawn GP, em 2009, que deu a ambos um carro vencedor. Foi a única vez em que Barrichello
teve liberdade para disputar o título, ou pelo menos, uma liberdade que nunca
teve na Ferrari. Mas, no fim, ele perdeu a parada para Jenson Button. Ficaram
daquele ano as últimas vitórias e poles brasileiras na F-1 até hoje:
Barrichello venceu em Valência e Monza, e foi pole no GP do Brasil, em
Interlagos.
Na Brawn GP, Barrichello pôde enfim lutar pelo título, mas perdeu o duelo para Jenson Button. |
Mais do que isso, o
piloto está em fim em
paz. Reencontrou a paz de espírito que tanto lhe faltou em
grande parte das quase duas décadas de permanência na F-1. Com a oportunidade
de competir na Stock, Barrichello viu a chance de enfim voltar a viver no
Brasil, junto da família, permanecer competindo, e ser mais presente no
crescimento dos dois filhos, e encerrar sua fase da vida de nômade, correndo o
mundo inteiro para competir de algo. Como o calendário da Stock não tem provas
a todo instante, e praticamente um quarentão, era mesmo hora de mudar de ares.
E ele se deu bem com os carrões da categoria. Apanhou no princípio, como
acontece com todos, mas era questão de tempo até se aclimatar e entrar no
ritmo. E os resultados começaram a aparecer, especialmente neste ano.
A Stock também ganhou
com sua presença. Muito criticado por vários “torcedores” para os quais piloto
bom só é piloto campeão, Rubinho atraiu uma parcela considerável de novos fãs
para a Stock. E, mas importante, tornou-se o mais bem-sucedido ex-piloto
brasileiro de F-1 a competir no certame nacional, onde já correm vários outros
nomes que um dia estiveram presentes na F-1, como Luciano Burti, Antonio
Pizzonia, e Ricardo Zonta. E todos eles até agora não conseguiram chegar ao
título na Stock. Quem teve melhor sorte também na Stock foi Max Wilson, que não
teve chance efetiva de pilotar na F-1, e acabou sendo campeão da categoria
nacional em 2010. Diferenças de oportunidade e problemas variados, devidamente
avaliadas, Barrichello mostra o quanto é um bom piloto. Sempre foi. Cometeu
vários erros em sua longa carreira, mas hoje fala sem arrependimentos que não
mudaria nada do que fez todos estes anos. E agora isso pouco importa. Claro que
seus detratores continuarão a lhe tirar os méritos, mesmo desta conquista
obtida. É verdade que, como categoria, a Stock não é nenhuma maravilha, mas é o
que sobrou do automobilismo nacional, ao lado da F-Truck, como opção para
nossos pilotos, em virtude da ineficiência da CBA, que há anos não passa de uma
entidade decorativa que só sabe cobrar taxas das carteiras dos pilotos, e quase
nada faz pelo automobilismo nacional.
Mas o que importa é
que Rubinho enfim voltou a ser campeão. E está feliz com isso. E seus fãs
também. E quem sabe não vêm outros títulos nos próximos anos? Barrichello já
tirou um grande peso das costas, e agora, mais leve e descompromissado, ainda
pode continuar acelerando por um bom tempo. Parabéns, Rubens! Você merece.
Na Indy Racing League, Rubinho teve uma estréia razoável, mas as solicitações de patrocínio o levaram a voltar para o Brasil, e se dedicar à Stock Car. |
A Porshe retornou este ano às
competições de Esporte-Protótipos no Mundial de Endurance, de onde andava
ausente há um bom tempo, e encerrou o ano com vitória nas 6 Horas de São Paulo,
mostrando que veio mesmo para ser novamente uma força neste tipo de competição.
Mas por pouco o triunfo da marca alemã não vira uma tragédia no autódromo
paulistano: Mark Webber, piloto de um dos carros da fábrica, e que largara na
pole-position da corrida, sofreu um forte acidente na Curva do Café, após um
toque com outro carro. O modelo 919 pilotado pelo australiano bateu forte,
ficou parcialmente destruído, e houve até um princípio de incêndio, mas Webber
foi retirado dos restos do carro aparentemente ileso, e levado ao centro médico
de maca para os exames de praxe neste tipo de situação. Felizmente, tudo não
passou de um forte susto, e Mark já recebeu alta. Curiosamente, o australiano
sofreu um violento acidente nesse mesmo local em 2003, quando corria pela
Jaguar, nas voltas finais do GP do Brasil de F-1 daquele ano. Como o local da
corrida ficou cheio de destroços de carro, a prova foi interrompida antes do
final, procedimento que também foi adotado na etapa final do Mundial de
Endurance, depois de várias voltas com o Safety Car na pista para atendimento
médico do piloto. Webber corria em parceria com os pilotos Brendon Hartley e
Timo Bernhard. A Porshe venceu a corrida com seu outro carro, pilotado pelo
trio Romain Dumas, Neel Jani, e Marc Lieb, ao fim de 249 voltas. A Toyota
garantiu a 2ª posição com a dupla Anthony Davidson e Sébastien Buemi, enquanto
a Audi, com o trio Loic Duval, Lucas Di Grassi, e Tom Kristensen, em sua última
corrida na carreira, fecharam o pódio. Émerson Fittipaldi, que competiu pela
equipe AF Course, com uma Ferrari F458 Italia, na categoria GTE-Am, ficou na
21ª posição geral, e 6º colocado na categoria.
Em sua terceira temporada na
competição, a Toyota sagrou-se campeã do Mundial de Endurance. A escuderia
nipônica já tinha garantido o título de pilotos, mas faltava definir o campeonato
de construtores, o que veio a acontecer em Interlagos. A Audi, vencedora dos
dois últimos campeonatos, terminou o ano na 2ª colocação, mas na pista, os
modelos E-tron Quattro perderam até para os Porshe, que só não superaram a
marca das 4 argolas por terem tido um péssimo começo de campeonato. A disputa
para 2015 promete, com a Porshe vindo mais forte, e a Audi determinada a
recuperar o seu trono, frente a uma Toyota que enfim comemora um campeonato que
gostaria de ter conseguido na F-1 quando lá esteve, mas que agora não sente um
pingo de saudade sequer. Que venha 2015...
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